Na tentativa de entender melhor o dualismo conforme apresentado por Francis Schaeffer nA Morte da Razão, desenvolvi uma pesquisa em Dooyeweerd (Raízes da Cultura Ocidental) e na dialética hegeliana (Uma Breve História da Filosofia Moderna, Roger Scruton). Entender Hegel e Dooyeweerd não é lá muito fácil, mas vamos ver no que isso pode dar.
- Absoluto e Relativo:
Por Absoluto, temos a base ateórica do conhecimento. O ponto de chegada e o de partida de toda a reflexão, que só pode ser descrito em termos de Alegoria. O Absoluto, por seu caráter Universal, assenta-se na base do conhecimento e não pode ser elucubrado pela limitada mente humana. Fala das Origens e é a matriz basilar de toda a reflexão. Por essa razão, Dooyeweerd considera que todo o Absoluto só existe dentro do espectro religioso. Seria a base epistemológica pressupocional - e depende exclusivamente da fé.
Por Absoluto, temos a base ateórica do conhecimento. O ponto de chegada e o de partida de toda a reflexão, que só pode ser descrito em termos de Alegoria. O Absoluto, por seu caráter Universal, assenta-se na base do conhecimento e não pode ser elucubrado pela limitada mente humana. Fala das Origens e é a matriz basilar de toda a reflexão. Por essa razão, Dooyeweerd considera que todo o Absoluto só existe dentro do espectro religioso. Seria a base epistemológica pressupocional - e depende exclusivamente da fé.
"Tudo começa e termina no mitopoético.” José Monir Nasser
Por Relativo, temos o conhecimento teórico, aquilo que pode ser perscrutado pela dialética. A filosofia, enquanto sistema, limita-se a lidar e elaborar os Relativos, pois, por seu caráter Particular, estão acessíveis à racionalidade humana. O Sentido último de todo o Relativo depende de este encontrar-se no Absoluto.
Para Sartre, a questão mais difícil da filosofia é a comprovação de que "algo existe". De fato, o Ser, em última instância, não pode ser explicado ou vislumbrado - apenas posso avaliar os Relativos que "estão". O Ser precisa ser pressuposto.
- A Lógica Clássica:
Schaeffer advoga que a lógica de Antítese imperou no pensamento ocidental até, mais ou menos, Kant. Esse método é bastante simples e pressupõe absolutos: A não é Não-A. Dessa perspectiva, sempre que eu penso em determinado conceito, preciso me assegurar de seu oposto, de sua antítese - quando cogito sobre a "Verdade", sou levado à categoria da "Mentira", antítese que propicia o entendimento teórico de Verdade. Noutras palavras, é inescapável o fato de que, ao suscitar a ideia de "Mentira", eu também eleve o conceito de "Verdade" - a Afirmação carrega a Negação; a Presença de um, supõe a Ausência do outro. A Verdade, enquanto pressuposto absoluto, contudo, é incomunicável com a Mentira: se algo é Verdadeiro, não pode ser igualmente Mentiroso. A lógica clássica, portanto, ocupa-se basicamente no "É não é não-É", possibilitando a disputa acerca dos Absolutos, dos Universais.
Pode-se pensar nos termos de lógica clássica, ainda, em Matéria não sendo Imatéria, em Vida não sendo Morte, em Tudo não ser Nada, em Dia não ser Noite. Não é possível extrair um ponto em comum entre Absolutos Opostos (não há intermediário entre Verdade e Mentira), mas pode-se discernir algo partilhado entre Relativos Opostos (para entender o "Rápido", preciso saber o que é "Lento", e entre eles há a necessidade primeira de "Movimento", por exemplo). A seguir desenvolveremos esse tópico.
Schaeffer advoga que a lógica de Antítese imperou no pensamento ocidental até, mais ou menos, Kant. Esse método é bastante simples e pressupõe absolutos: A não é Não-A. Dessa perspectiva, sempre que eu penso em determinado conceito, preciso me assegurar de seu oposto, de sua antítese - quando cogito sobre a "Verdade", sou levado à categoria da "Mentira", antítese que propicia o entendimento teórico de Verdade. Noutras palavras, é inescapável o fato de que, ao suscitar a ideia de "Mentira", eu também eleve o conceito de "Verdade" - a Afirmação carrega a Negação; a Presença de um, supõe a Ausência do outro. A Verdade, enquanto pressuposto absoluto, contudo, é incomunicável com a Mentira: se algo é Verdadeiro, não pode ser igualmente Mentiroso. A lógica clássica, portanto, ocupa-se basicamente no "É não é não-É", possibilitando a disputa acerca dos Absolutos, dos Universais.
Pode-se pensar nos termos de lógica clássica, ainda, em Matéria não sendo Imatéria, em Vida não sendo Morte, em Tudo não ser Nada, em Dia não ser Noite. Não é possível extrair um ponto em comum entre Absolutos Opostos (não há intermediário entre Verdade e Mentira), mas pode-se discernir algo partilhado entre Relativos Opostos (para entender o "Rápido", preciso saber o que é "Lento", e entre eles há a necessidade primeira de "Movimento", por exemplo). A seguir desenvolveremos esse tópico.
- A Dialética Hegeliana:
Entre A (Tese) e Não-A (Antítese), temos a Síntese, sustenta Hegel em sua dialética. Assim sendo, no pensamento hegeliano procura-se chegar a um consenso dialético entre dois opostos, algo tido em comum, um ponto mais elevado na natureza das coisas. Essa modalidade de pensamento é útil para a análise dos Relativos. A universalização desse sistema de lógica, precisamente o que Hegel advoga, contudo, ao tentar promover a diatélica também entre os Absolutos, relativiza todas as coisas, anulando os Universais ao submetê-los ao nível dos Particulares, uma vez que o Absoluto e sua Antítese são forçadamente condensados numa Síntese.
Tomando a partícula cartesiana do "Penso, logo existo", que consolida a ideia de que o Ser Pensante existe, a dialética hegeliana propõe uma síntese: o oposto de Ser é Não-Ser, e a Síntese está em "tornar-se", uma vez que o Ser surge do Nada e imerge no Nada. Assim sendo, o pressuposto absoluto de que Algo É, é abolido e tornado relativo na figura do "Processo". Uma vez que a partícula primeira de toda a reflexão, que é a pressuposição do Ser que Pensa, perde consistência enquanto Absoluto, todo o mais é relativizado e nenhum outro Absoluto pode ser vislumbrado. Apenas os Particulares transitórios.
Entre A (Tese) e Não-A (Antítese), temos a Síntese, sustenta Hegel em sua dialética. Assim sendo, no pensamento hegeliano procura-se chegar a um consenso dialético entre dois opostos, algo tido em comum, um ponto mais elevado na natureza das coisas. Essa modalidade de pensamento é útil para a análise dos Relativos. A universalização desse sistema de lógica, precisamente o que Hegel advoga, contudo, ao tentar promover a diatélica também entre os Absolutos, relativiza todas as coisas, anulando os Universais ao submetê-los ao nível dos Particulares, uma vez que o Absoluto e sua Antítese são forçadamente condensados numa Síntese.
Tomando a partícula cartesiana do "Penso, logo existo", que consolida a ideia de que o Ser Pensante existe, a dialética hegeliana propõe uma síntese: o oposto de Ser é Não-Ser, e a Síntese está em "tornar-se", uma vez que o Ser surge do Nada e imerge no Nada. Assim sendo, o pressuposto absoluto de que Algo É, é abolido e tornado relativo na figura do "Processo". Uma vez que a partícula primeira de toda a reflexão, que é a pressuposição do Ser que Pensa, perde consistência enquanto Absoluto, todo o mais é relativizado e nenhum outro Absoluto pode ser vislumbrado. Apenas os Particulares transitórios.
- A Tensão Dialética:
O Absoluto sempre exigirá a hegemonia. É impossível que o Absoluto e sua antítese formem um todo monolítico - a Verdade Absoluta não pode coexistir com a Mentira Absoluta. Pela lógica clássica, é impossível encontrar uma síntese entre as duas promovendo a dialética entre Verdade e Mentira. Assim como seria impossível dialogar o Ser e o Não-Ser, uma vez que se Algo Há, ele não pode ter em si nenhuma partícula de inexistência.
A dialética hegeliana, como já dito, é salutar quando trabalhamos com Relativos: Movimento (Tese) - Repouso (Antítese) = Ser (Síntese), uma vez que para algo mover-se ou entrar em repouso, é necessário que Exista. Tanto Movimento quanto Repouso, por não serem Absolutos Opostos, conversam entre si e pressupõem-se. O que não pode acontecer entre Absolutos. Não pode haver um Núcleo Final de Verdade e, ao mesmo tempo, Nada ser Verdadeiro.
O erro da dialética hegeliana, nesse sentido, está em procurar uma Síntese entre o Absoluto e a sua Antítese. O único universal que sobra, aqui, é a própria dialética.
O Absoluto sempre exigirá a hegemonia. É impossível que o Absoluto e sua antítese formem um todo monolítico - a Verdade Absoluta não pode coexistir com a Mentira Absoluta. Pela lógica clássica, é impossível encontrar uma síntese entre as duas promovendo a dialética entre Verdade e Mentira. Assim como seria impossível dialogar o Ser e o Não-Ser, uma vez que se Algo Há, ele não pode ter em si nenhuma partícula de inexistência.
A dialética hegeliana, como já dito, é salutar quando trabalhamos com Relativos: Movimento (Tese) - Repouso (Antítese) = Ser (Síntese), uma vez que para algo mover-se ou entrar em repouso, é necessário que Exista. Tanto Movimento quanto Repouso, por não serem Absolutos Opostos, conversam entre si e pressupõem-se. O que não pode acontecer entre Absolutos. Não pode haver um Núcleo Final de Verdade e, ao mesmo tempo, Nada ser Verdadeiro.
O erro da dialética hegeliana, nesse sentido, está em procurar uma Síntese entre o Absoluto e a sua Antítese. O único universal que sobra, aqui, é a própria dialética.
- Paganismo e Idolatria:
O paganismo, em Dooyeweerd, acontece quando se Absolutiza o Relativo, quando uma Parte do Todo é retirada de sua posição e elevada ao nível Totalizante, fazendo-se um ídolo que exigirá a conformação da complexa realidade ao seu sistema simplista - uma vez que o Particular não pode, em hipótese alguma, conter o Sentido Último de toda a realidade.
O que temos no paganismo, portanto, é o Dualismo: dois polos antagônicos em tensão dialética. Sem possibilidade de Síntese, a tendência é a aniquilação da Tese ou da Antítese.
O paganismo, em Dooyeweerd, acontece quando se Absolutiza o Relativo, quando uma Parte do Todo é retirada de sua posição e elevada ao nível Totalizante, fazendo-se um ídolo que exigirá a conformação da complexa realidade ao seu sistema simplista - uma vez que o Particular não pode, em hipótese alguma, conter o Sentido Último de toda a realidade.
O que temos no paganismo, portanto, é o Dualismo: dois polos antagônicos em tensão dialética. Sem possibilidade de Síntese, a tendência é a aniquilação da Tese ou da Antítese.
- A Tensão Pagã:
Pela lógica da Antítese, todo o conceito suscita um contrário, um "não-ser". Entre Absolutos, não pode haver síntese dialógica, entre Relativos, sim. Quando, contudo, eu Absolutizo o Relativo, elevo ao nível de Absoluto também a sua Antítese - e aquilo que, dentro do sistema, da rede da existência, conseguia dialogar, agora invariavelmente irá se anular. Assim, todo o paganismo se constitui na Tensão Dialética entre Absolutos Opostos, consumando uma distorção da realidade.
Um exemplo está no dualismo platônico: a percepção de que toda a realidade é constituída de formas e princípios matemáticos, supõe que a Matemática e as Formas sejam normas que transcendem o próprio mundo, acessíveis apenas pela Razão humana. Uma vez elevado o aspecto Imaterial, ou Racional, ao nível de Absoluto, imediatamente se Absolutiza o seu oposto, que é a Matéria, o ente Irracional. Antes de elevada a Razão ao nível universalizante e totalizante, como veículo capaz de clarear o Sentido de todas as coisas, a racionalidade articulava-se ao mundo natural numa relação de interdependência - não se pode pensar sem perceber "aquilo que está aí". Essa troca pode ser chamada de Dualidade, que é diferente de Dualismo: na Dualidade, duas substâncias Relativas distintas conseguem se encadear num Todo, Dialogar numa Síntese mais Elevada.
Em suma: para definir-se Razão, suponho o Irracional. Se Absolutizo a Razão, necessariamente Absolutizo sua Antítese. Se a Razão se propor totalizante, requisita a aniquilação do Irracional - ou o Irracional, a supressão da Razão. É impossível que a Razão Totalize enquanto sua Antítese Dualizar, contudo, é igualmente inviável a conceituação de Razão sem seu Oposto.
Pela lógica da Antítese, todo o conceito suscita um contrário, um "não-ser". Entre Absolutos, não pode haver síntese dialógica, entre Relativos, sim. Quando, contudo, eu Absolutizo o Relativo, elevo ao nível de Absoluto também a sua Antítese - e aquilo que, dentro do sistema, da rede da existência, conseguia dialogar, agora invariavelmente irá se anular. Assim, todo o paganismo se constitui na Tensão Dialética entre Absolutos Opostos, consumando uma distorção da realidade.
Um exemplo está no dualismo platônico: a percepção de que toda a realidade é constituída de formas e princípios matemáticos, supõe que a Matemática e as Formas sejam normas que transcendem o próprio mundo, acessíveis apenas pela Razão humana. Uma vez elevado o aspecto Imaterial, ou Racional, ao nível de Absoluto, imediatamente se Absolutiza o seu oposto, que é a Matéria, o ente Irracional. Antes de elevada a Razão ao nível universalizante e totalizante, como veículo capaz de clarear o Sentido de todas as coisas, a racionalidade articulava-se ao mundo natural numa relação de interdependência - não se pode pensar sem perceber "aquilo que está aí". Essa troca pode ser chamada de Dualidade, que é diferente de Dualismo: na Dualidade, duas substâncias Relativas distintas conseguem se encadear num Todo, Dialogar numa Síntese mais Elevada.
Em suma: para definir-se Razão, suponho o Irracional. Se Absolutizo a Razão, necessariamente Absolutizo sua Antítese. Se a Razão se propor totalizante, requisita a aniquilação do Irracional - ou o Irracional, a supressão da Razão. É impossível que a Razão Totalize enquanto sua Antítese Dualizar, contudo, é igualmente inviável a conceituação de Razão sem seu Oposto.
- Os Motivos Religiosos da Cultura Ocidental:
Dooyeweerd elenca quatro Motivos Básicos da Cultura Ocidental, constituídos, todos, de Absolutos:
1 - O Bíblico: Criação-Queda-Redenção (não dualístico)
2 - O Grego: Forma x Matéria (dualístico)
3 - O Católico-Romano: Graça x Natureza (dualístico)
4 - O Humanista: Liberdade x Natureza (dualístico)
Dooyeweerd elenca quatro Motivos Básicos da Cultura Ocidental, constituídos, todos, de Absolutos:
1 - O Bíblico: Criação-Queda-Redenção (não dualístico)
2 - O Grego: Forma x Matéria (dualístico)
3 - O Católico-Romano: Graça x Natureza (dualístico)
4 - O Humanista: Liberdade x Natureza (dualístico)
O Motivo Bíblico não é dualístico, pois não eleva nenhum Relativo ao nível de Absoluto e, portanto, não Absolutiza a Antítese de nenhum Relativo. Ele parte, simplesmente, do Princípio da Origem, do Deus Criador que dá sentido para todas as coisas. Esse é o pressuposto das Escrituras.
- A Tensão Dialética na História:
Quando os gregos elencaram as Formas, atingíveis pela Razão, como Absoluto, deram origem às tensões perenes da filosofia. O dualismo grego desprezou a Matéria ao enfatizar a Forma (a Matéria seria o estágio mais baixo das irradiações da Pura Luz - o Concreto é o ponto mais distante do Núcleo de Sentido). Nessa etapa, a Tensão Dialética promoveu uma considerável aniquilação da Matéria.
O Catolicismo-Romano herdou esse elemento dualístico. Schaeffer atribui a Tomás de Aquino a maior responsabilidade pela alteração na Tensão Dialética, sendo ele o principal divulgador escolástico da filosofia aristotélica, que enfatiza mais os Particulares do que os Universais. Para Platão, em seu racionalismo, é impossível chegar aos Universais pelo esforço próprio da Razão numa coleta de informações entre os Particulares (o Mundo das Ideias precisa penetrar na mente do filósofo para dar-lhe esclarecimento). Em Aristóteles, contudo, a autonomia da Razão humana ganha destaque: o discípulo de Platão considera possível a ascensão aos Universais pela análise empírica dos Particulares. Tomás de Aquino, ao assimilar esse conceito, considerou a Queda como, num certo sentido, "parcial": o homem teve a sua racionalidade preservada, podendo elevar-se na compreensão do Criador por meio da análise da natureza.
Perceba: na Tensão Dialética grega, a Matéria foi consumida pela Forma. A Forma, "sobrevivente" na Tensão, elevou a sua própria Antítese: entendida na teologia cristã como Graça, a Forma absolutizou a Natureza, o Espiritual absolutizou o Material, iniciando um novo conflito dialético.
No pensamento escolástico, com a disseminação da ideia de que Deus escreveu Sua Palavra em dois livros, a Bíblia e a Natureza, a mensagem bíblica fez-se desinteressante para todos os aspectos da vida cotidiana e para os avanços da filosofia e das ciências, que contentaram-se em lidar meramente com os Particulares do Mundo Natural. Nessa Tensão Dialética, portanto, gradativamente a Natureza acabou consumindo a Graça, e anulando o acesso aos Universais como via de Sentido à existência Particular.
O Racionalismo, ao advogar a ideia da Razão Autônoma como veículo de análise da Natureza e vislumbre da Verdade, automaticamente elevou a sua Antítese, a Natureza, ao nível Absoluto. Ora, é impossível encontrar uma Síntese entre Razão Autônoma e Natureza Autônoma: ou a Natureza e seu Mecanismo concentra toda a realidade (naturalismo), ou a Razão humana é capaz de arbitrar sobre tudo.
Uma vez que a Natureza "aniquilou" a Graça, o mundo perdeu a Essência. A Natureza Autônoma, ao consumir a Razão Autônoma, mergulhando toda a existência no mundo fechado do naturalismo e do determinismo químico, transmutou-se em Prisão para o homem, instantaneamente desencadeando a Antítese "Liberdade". É aqui que se adentra no Motivo Humanista.
Uma análise cuidadosa dos pensamentos de Hobbes, Rousseau, Locke, Berkeley, Hegel, Nietzsche... evidencia o esforço Dialético Humanista de, na Tensão Liberdade x Natureza, destruir a Natureza, eliminar a Matéria aprisionante e absorver toda realidade na substância do Pensamento.
Quando os gregos elencaram as Formas, atingíveis pela Razão, como Absoluto, deram origem às tensões perenes da filosofia. O dualismo grego desprezou a Matéria ao enfatizar a Forma (a Matéria seria o estágio mais baixo das irradiações da Pura Luz - o Concreto é o ponto mais distante do Núcleo de Sentido). Nessa etapa, a Tensão Dialética promoveu uma considerável aniquilação da Matéria.
O Catolicismo-Romano herdou esse elemento dualístico. Schaeffer atribui a Tomás de Aquino a maior responsabilidade pela alteração na Tensão Dialética, sendo ele o principal divulgador escolástico da filosofia aristotélica, que enfatiza mais os Particulares do que os Universais. Para Platão, em seu racionalismo, é impossível chegar aos Universais pelo esforço próprio da Razão numa coleta de informações entre os Particulares (o Mundo das Ideias precisa penetrar na mente do filósofo para dar-lhe esclarecimento). Em Aristóteles, contudo, a autonomia da Razão humana ganha destaque: o discípulo de Platão considera possível a ascensão aos Universais pela análise empírica dos Particulares. Tomás de Aquino, ao assimilar esse conceito, considerou a Queda como, num certo sentido, "parcial": o homem teve a sua racionalidade preservada, podendo elevar-se na compreensão do Criador por meio da análise da natureza.
Perceba: na Tensão Dialética grega, a Matéria foi consumida pela Forma. A Forma, "sobrevivente" na Tensão, elevou a sua própria Antítese: entendida na teologia cristã como Graça, a Forma absolutizou a Natureza, o Espiritual absolutizou o Material, iniciando um novo conflito dialético.
No pensamento escolástico, com a disseminação da ideia de que Deus escreveu Sua Palavra em dois livros, a Bíblia e a Natureza, a mensagem bíblica fez-se desinteressante para todos os aspectos da vida cotidiana e para os avanços da filosofia e das ciências, que contentaram-se em lidar meramente com os Particulares do Mundo Natural. Nessa Tensão Dialética, portanto, gradativamente a Natureza acabou consumindo a Graça, e anulando o acesso aos Universais como via de Sentido à existência Particular.
O Racionalismo, ao advogar a ideia da Razão Autônoma como veículo de análise da Natureza e vislumbre da Verdade, automaticamente elevou a sua Antítese, a Natureza, ao nível Absoluto. Ora, é impossível encontrar uma Síntese entre Razão Autônoma e Natureza Autônoma: ou a Natureza e seu Mecanismo concentra toda a realidade (naturalismo), ou a Razão humana é capaz de arbitrar sobre tudo.
Uma vez que a Natureza "aniquilou" a Graça, o mundo perdeu a Essência. A Natureza Autônoma, ao consumir a Razão Autônoma, mergulhando toda a existência no mundo fechado do naturalismo e do determinismo químico, transmutou-se em Prisão para o homem, instantaneamente desencadeando a Antítese "Liberdade". É aqui que se adentra no Motivo Humanista.
Uma análise cuidadosa dos pensamentos de Hobbes, Rousseau, Locke, Berkeley, Hegel, Nietzsche... evidencia o esforço Dialético Humanista de, na Tensão Liberdade x Natureza, destruir a Natureza, eliminar a Matéria aprisionante e absorver toda realidade na substância do Pensamento.
- As Ideologias e a Tensão Dialética:
David Koyzis, no Visões e Ilusões Políticas, interpreta a Ideologia nos termos da Idolatria pagã. Eric Voegelin o faz no escopo do gnosticismo e de uma revolta contra a Criação. Analisando o encadeamento lógico de nossa reflexão, essa associação está evidente: a Ideologia, por exemplo, racionalista, desloca a Razão de sua posição na "teia da realidade" para o posto de Absoluto, procurando, nem que seja pela destruição da Matéria, assentar toda a realidade às suas exigências. O liberalismo o faz com a ideia de Indivíduo. O empirismo, com o Método Científico. A existência é amputada para se encaixar na abstração reducionista. Voegelin está absolutamente certo quando declara que a Ideologia está a serviço de uma destruição da Criação.
David Koyzis, no Visões e Ilusões Políticas, interpreta a Ideologia nos termos da Idolatria pagã. Eric Voegelin o faz no escopo do gnosticismo e de uma revolta contra a Criação. Analisando o encadeamento lógico de nossa reflexão, essa associação está evidente: a Ideologia, por exemplo, racionalista, desloca a Razão de sua posição na "teia da realidade" para o posto de Absoluto, procurando, nem que seja pela destruição da Matéria, assentar toda a realidade às suas exigências. O liberalismo o faz com a ideia de Indivíduo. O empirismo, com o Método Científico. A existência é amputada para se encaixar na abstração reducionista. Voegelin está absolutamente certo quando declara que a Ideologia está a serviço de uma destruição da Criação.
Pensemos no Marxismo enquanto resultado da dialética hegeliana, fechada para os Universais e, por consequência lógica, materialista: ao elevar ao nível de Absoluto o Proletariado, imediatamente elevo, como Antítese Absoluta, a Burguesia, feita determinadora da realidade por via da manipulação linguística, vindo a ocupar o posto da Natureza no Motivo Humanista. Dois Absolutos opostos, como já dissemos, são incomunicáveis, de maneira que a resposta para a Tensão Dialética, segundo Marx, é a Revolução, a aniquilação do "mundo burguês". Uma vez, contudo, efetuado esse movimento revolucionário, cria-se uma nova Tensão Dialética: o grupo que encabeçou a Revolução posta-se no nível aristocrático, o "Povo" faz-se "Elite", demandando um novo ciclo aniquilatório. Lembro-me, aqui, dA Revolução dos Bichos, de George Orwell: quando a Revolução dos Bichos contra os homens é consumada, os porcos, líderes do movimento, logo se elevam ao lugar outrora ocupado pelos homens, dando cor à máxima: "Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros". Esse sistema binário, tipicamente pagão, portanto, é incapaz de encontrar uma Síntese Dialógica com o "Oposto Absoluto".
Como outro exemplo, podemos citar o Movimento Feminista, como um desmembramento do tipo de mentalidade iluminista que desencadeou o marxismo. Não importa tanto de que lado colocamos Tese e Antítese, mas importa saber que nesse binarismo se coloca, por exemplo, a Mulher Absoluta (Tese), considerada historicamente oprimida, e o Homem Absoluto (Antítese), encarado como um determinador histórico de toda a realidade. Gera-se, aqui, uma falsa dicotomia, uma cisão literalmente Absoluta entre Homem e Mulher. Nessa Tensão Dialética, uma reedição do Motivo Humanista - o Homem ocupa o lugar de "Natureza" (o Velho Totalizante que Aprisiona) -, demanda-se uma Fuga para a Liberdade pelo ato de rebeldia contra toda a limitação supostamente imposta pelo Homem por sobre o Corpo e a Vida da Mulher. A lógica Absolutizante invariavelmente colocará até a Maternidade como um produto vil da "Imposição Patriarcal". A solução para a Tensão Dialética, dentro da radicalidade desse movimento, seria, portanto, uma "Aniquilação do Homem". Mesmo que o movimento em questão não esteja consciente disso, essa é a única solução lógica para o sistema binário erigido.
Perceba ainda o seguinte: numa Dialética de Relativos, há Síntese entre Homem e Mulher, uma vez que ambos partilham "Humanidade". A Absolutização de um dos dois, porém, necessariamente acarretá na desumanização - primeiro de um e depois do outro. Sem a Antítese, é impossível sustentar a Tese, e o desaparecimento do primeiro, anulará o segundo.
Perceba ainda o seguinte: numa Dialética de Relativos, há Síntese entre Homem e Mulher, uma vez que ambos partilham "Humanidade". A Absolutização de um dos dois, porém, necessariamente acarretá na desumanização - primeiro de um e depois do outro. Sem a Antítese, é impossível sustentar a Tese, e o desaparecimento do primeiro, anulará o segundo.
Parece-me suficiente, para finalizar o raciocínio, elencar apenas mais um outro exemplo da Dicotomia: o Igualitarismo. Aqui adentramos tanto em absoluta igualdade econômica, quanto na uniformização de gêneros - a busca pela "multiplicidade de formas" que acaba culminando na "deformidade" e, portanto, dando em indeterminação absoluta. Quando eu elevo a Abstração Igualitarista ao nível Absoluto, automaticamente absolutizo a ideia de Desigualdade. A Desigualdade, na Antítese, se coloca como fator único para se explicar todos os problemas da realidade, e a Igualdade Absoluta se faz a única alternativa possível para a Redenção do Mundo. Não pode haver Síntese. No jogo narcisista que torna inadmissível haver alguém ou alguma Lei acima de mim na hierarquia da Realidade, urge rebaixar toda a existência ao meu nível. Assim, qualquer alusão a determinado orgulho de classe ou pátria, é encarada como uma profanação do Sacro intento de uniformalização - e o Politicamente Correto trata de promover o policiamento necessário. Contudo, podemos esperar que essa Abstração absurda, totalmente deslocada da Realidade, da concretude do homem e do mundo, nunca se consumará por completo, pois a supremacia da Igualdade (somente obtida pela Força, nunca pela Síntese Dialética), invariavelmente produzirá uma nova Antítese. René Girard está plenamente correto ao afirmar que o Igualitarismo só faz intensificar violências sem precedentes. A ideia totalizante de Tolerância x Intolerância entra nesse Motivo Religioso: em nome da Tolerância, se justifica a Violenta Intolerância contra todos os Intolerantes.
- A Ideologia e a Morte do Homem:
Diria eu, vislumbrando a ideia de Pulsão de Morte, conforme teorizada por Freud, que isso tudo não passa de um movimento de fuga das contradições da realidade e da responsabilidade do ser humano enquanto ente racional, para a indiferenciação na matéria bruta e inerte, onde o fardo de Ser Humano inexiste, diluído no Todo e no Nada.
Diria eu, vislumbrando a ideia de Pulsão de Morte, conforme teorizada por Freud, que isso tudo não passa de um movimento de fuga das contradições da realidade e da responsabilidade do ser humano enquanto ente racional, para a indiferenciação na matéria bruta e inerte, onde o fardo de Ser Humano inexiste, diluído no Todo e no Nada.
- O Motivo Bíblico:
Nesse ponto, é lúcido retornar ao Motivo Bíblico e sua natureza exclusiva, sem Dualismo e sem Tensão Dialética: reconhecendo que a Verdade de Deus, o Criador, reflete-se e mantém toda a Realidade Criada, posso me postar como parte do todo, da "teia do Cosmos", enquanto ente biológico, e vislumbrar o Sentido de minha Pessoalidade no Criador Pessoal. Se não encontro o Sentido de Ser Pessoa no Criador, acima da Natureza Impessoal, necessariamente procurarei minha Pessoalidade numa Tensão Dialética com aquilo que estiver abaixo dos meus pés: como único ser Pessoal, farme-ei Absoluto e entrarei em conflito com minha Antítese, a Impessoalidade, forçando uma Síntese Impossível que necessariamente acarretará na destruição, ou do Impessoal ou do Pessoal. Ao elevar o Ídolo Impessoal das entranhas da Natureza e postá-lo como fonte de Sentido, a tendência é que a minha própria Humanidade seja, aos poucos, consumida e rebaixada do nível do Ídolo, Impessoal. O ato de prescrutar o Impessoal pela via dialética, procurando a minha essência e elevação na substância com ele partilhada, necessariamente abolirá o qualificativo "Pessoa", que só existe em mim, e não no ente com quem Dialogo. Tão somente atestarei meu eu biológico.
Se há uma Pessoa Absoluta em Deus, de quem eu retiro a Essência de minha Pessoalidade, por outro lado, me situo no Mundo não como Pessoa Absoluta, promovendo a Tensão (Forma x Natureza / Liberdade x Natureza), mas como Parte - minha Identidade Última não precisa ser encontrada numa disputa dialética, mas na própria Origem Indisputada de todas as coisas. Assim, sou capaz de exercer de modo saudável a dualidade com o mundo, que também assenta-se, em última instância, no Criador.
Nesse ponto, é lúcido retornar ao Motivo Bíblico e sua natureza exclusiva, sem Dualismo e sem Tensão Dialética: reconhecendo que a Verdade de Deus, o Criador, reflete-se e mantém toda a Realidade Criada, posso me postar como parte do todo, da "teia do Cosmos", enquanto ente biológico, e vislumbrar o Sentido de minha Pessoalidade no Criador Pessoal. Se não encontro o Sentido de Ser Pessoa no Criador, acima da Natureza Impessoal, necessariamente procurarei minha Pessoalidade numa Tensão Dialética com aquilo que estiver abaixo dos meus pés: como único ser Pessoal, farme-ei Absoluto e entrarei em conflito com minha Antítese, a Impessoalidade, forçando uma Síntese Impossível que necessariamente acarretará na destruição, ou do Impessoal ou do Pessoal. Ao elevar o Ídolo Impessoal das entranhas da Natureza e postá-lo como fonte de Sentido, a tendência é que a minha própria Humanidade seja, aos poucos, consumida e rebaixada do nível do Ídolo, Impessoal. O ato de prescrutar o Impessoal pela via dialética, procurando a minha essência e elevação na substância com ele partilhada, necessariamente abolirá o qualificativo "Pessoa", que só existe em mim, e não no ente com quem Dialogo. Tão somente atestarei meu eu biológico.
Se há uma Pessoa Absoluta em Deus, de quem eu retiro a Essência de minha Pessoalidade, por outro lado, me situo no Mundo não como Pessoa Absoluta, promovendo a Tensão (Forma x Natureza / Liberdade x Natureza), mas como Parte - minha Identidade Última não precisa ser encontrada numa disputa dialética, mas na própria Origem Indisputada de todas as coisas. Assim, sou capaz de exercer de modo saudável a dualidade com o mundo, que também assenta-se, em última instância, no Criador.
Natanael Pedro Castoldi
Respostas ao ateísmo:
Clique na imagem e encontre as respostas para as principais alegações ateístas contra a Igreja.
Um Ministério da