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Quem é o Verdadeiro Deus?

-> Apresentação e Índice
Um argumento ateísta comumente lido na internet afirma que é impossível sabermos qual é o "Deus Verdadeiro", uma vez que existem, literalmente, centenas de milhões de divindades e que todas possuem a mesma possibilidade de existência. Será que esse argumento procede? Vou responder a questão sem recorrer aos esquemas de resposta prontos que tenho em alguns livros ou que li em sites, pois não me parece produtivo publicar mais do mesmo. Espero que o material que segue seja esclarecedor.

Observação: esse texto foi pensado para ser lido de uma vez só ou em momentos segundo os tópicos numerados. Ele pode ser examinado brevemente ou explorado exaustivamente, pois foram indicados ao longo de sua redação diversos outros artigos do EOMEAB. É interessante salientar que cada tópico numerado é completo em si mesmo, sendo possível a leitura de qualquer um dentro ou fora da ordem e compreensível a repetição de determinados argumentos. O texto foi escrito livremente, alguns dos princípios trabalhados ganham corpo conforme ele se desenvolve.

Índice: 1 - As divindades em duas categorias e as cosmogonias antigas; O "Deus Verdadeiro", Criador de tudo, precisa ser; Qual divindade é mais coerente?; 2 - As três principais visões religiosas mundiais; 3 - Fé racional versus fideísmo; 4 - As categorias das religiões; 5 - A singularidade de Jesus Cristo; 6 - A singularidade da Bíblia; - As profecias bíblicas; - A historicidade da Bíblia; - A confiabilidade do texto bíblico; - Um livro singular e universal; - Um livro transformador; Resumo e conclusão.

1 - As divindades em duas categorias e as cosmogonias antigas:
Me parece interessante iniciar a argumentação considerando dois tipos básicos de divindade: as criadas por divindades superiores e aquelas que são criadoras eternas. Quando falamos do "Deus Verdadeiro", Aquele que criou o Universo e tudo o que nele há, necessariamente devemos descartar as divindades criadas, que são a maioria absoluta. Um massivo número de deuses das religiões politeístas originou-se da atividade criativa de um ente superior, sem origem, de modo que tais divindades não podem ser consideradas no debate sobre o "Deus Verdadeiro" - elas mesmas, de certo modo, possuem um deus sobre elas.

O "Deus Verdadeiro", Criador de tudo, precisa ser:
- Espiritual e imaterial, pois Ele é o próprio criador da matéria.
- Atemporal e eterno, pois Ele criou tudo e não pode ter um deus sobre Ele. Se tivesse, não seria o "Deus Verdadeiro" - e esse "deus sobre Ele" seria o "Deus Verdadeiro".
- Onipotente, onisciente e onipresente, considerando o Seu domínio, o Seu conhecimento e a Sua presença sobre aquilo que criou e que é menor do que Ele.
Isso combina com o conceito de Causa e Efeito, que afirma que o efeito nunca pode ser maior do que a causa - ele não pode ter mais energia e complexidade que aquilo que lhe deu origem. E combina com a Primeira e a Segunda Leis da Termodinâmica: nada se cria por si mesmo e a energia da matéria sempre decai, de modo que um ser eterno para além da matéria deve ter dado origem ao universo material, que é finito. Como a Causa sempre é maior que o Efeito, o Causador do Universo precisa ser maior do que ele em todos os aspectos: superior em elemento e natureza. A complexidade da natureza e a moralidade humana sugerem uma Causa intelectual e moral.

Existem mitologias, como a nórdica, que nem sequer cogitam a existência de alguma divindade eterna - tudo começa com o Caos, compreendido em três reinos: o Ginnungagap (Grande Vazio), Musspell (Reino do Fogo) e Niflheim (Terra da Neblina). A origem de tudo se dá com a mistura dos ares quentes de Musspell com os ventos gélidos de Niflheim no Ginnungagap. O processo de origem é impessoal e independe de qualquer divindade - originando-as e, portanto, formando deuses de natureza inferior, contidos no Universo e submetidos às limitações da carne, como os mitos nórdicos deixam claro. Temos aqui e noutros politeísmos algo como um ateísmo: são criaturas humanas buscando favores de criaturas divinas - assim como buscam favores de outras criaturas humanas. Trata-se de uma relação entre o ser biológico humano e o ser biológico divino, que é apenas mais poderoso e sábio do que o homem. Mas, no final das contas, não há nenhuma entidade de instância superior a quem se submetem os seres divinos e os seres humanos - há apenas criatura e não Criador. Há apenas Efeito e nunca Causa Primeira. 

Os gregos, por sua vez, não puderam evitar a crença em seres primordiais volitivos - e não apenas  em regiões cósmicas. Também encontramos na cosmogonia grega o caos primordial, que aparece no Gênesis, mas os gregos inseriram algo de pessoal nas figuras do Céu, filho da Terra que, unido à mãe, gerou os titãs. Ocorre que Gaia, a Mãe-Terra, simplesmente brota desse Caos Primordial, acompanhando o pensamento nórdico sobre as origens: no final das contas, não existe uma divindade criadora e eterna. O Caos desprovido de qualquer Deus é a origem de tudo e, portanto, todos os deuses são criação, como os seres humanos. Isso foi corrigido posteriormente com a ideia de uma divindade desconhecida e inacessível, estritamente espiritual. As limitações das divindades gregas ficam bastante claras quando percebemos que elas precisam se alimentar das orações dos homens - há uma relação de interdependência, como se as duas partes precisassem acreditar uma na outra. É o homem sustentando os deuses e os deuses sustentando o homem. São criaturas associando-se com criaturas. Aqui retornamos ao conceito de ateísmo trabalhado no parágrafo anterior.

Na Babilônia também se encontram alguns dos aspectos até aqui trabalhados: no começo havia dois mares - esse Oceano Primordial aparece em Gênesis -, um de água doce e outro de água salgada, Apsu e Tiamat, habitados pela névoa, Mummu. Foi a união entre Apsu e Tiamat que originou dois grandes deuses, Anu, o deus do céu, e Ea, o deus da Terra e da água. Como acontece nas outras mitologia até então trabalhadas, segue um conflito entre as criaturas divinas e muitos dos elementos que constituem a Terra são apenas corpos de deuses e criaturas primordiais que definharam - os elementos materiais são reconhecidos como divindades em si mesmos. Apesar de os babilônicos dotarem de certa volição os mares de Apsu e Tiamat, não temos aqui alusões diretas a uma divindade eterna e de uma instância superior, que fuja do elemento natural.

Há diversas percepções sobre a origem do Universo entre os egípcios, mas todas concordam em alguns aspectos: o combate entre a ordem e o caos e entre criação e destruição, no Oceano Primevo e no Criador que descansava nele sob a forma de uma "serpente cósmica" - Rá, o deus-sol, Atum, "o tudo", ou Nebertcher, "o senhor sem limites". No Princípio há um grande oceano, Nun, "não-ser", e nele Rá tomou consciência, criando os demais deuses através de sua masturbação - das narinas fez nascer Chu, e da sua boca emanou Tefnut. Usando três princípios - poder criativo, percepção e afirmação -, Rá criou todos os elementos conforme os nomeava. Cogitando em seu coração, Rá fez surgir em Nun todas as plantas, aves e animais da Terra. Apesar de mais sofisticada, os egípcios antigos não conseguiram se distanciar suficientemente das demais cosmogonias antigas: temos uma entidade inanimada que contem a divindade volitiva, que, mesmo sendo eterna e incriada, desperta a sua consciência em determinada ocasião. Nos egípcios encontramos a primeira divindade que pode entrar na gama de opções para ser o "Deus Verdadeiro", considerando sua "ausência de limites" e a sua "eternidade" - a dificuldade em considerá-la está no fato de a sua consciência estar ativa em um espaço limitado de tempo e no fato de ter sido contida por Nun. De qualquer forma, pela primeira vez há um ser que pode ser descrito como pertencente à uma instância superior, desprendida da matéria. Aqui fugimos da espécie de ateísmo presente nos demais cultos politeístas.

Talvez a percepção antiga que mais pode encaixar-se no que esperamos do "Deus Verdadeiro", além daquela que aparece no Gênesis, está no deus supremo da mitologia hindu, Prajapati, uma divindade eterna e não-concebida que existe antes de tudo, sendo o criador de Brahma, o deus criador. 

É justamente nesse tipo de divindade que devemos nos concentrar: ela precisa ser eterna, não-concebida e preexistente. O "Deus Verdadeiro" não pode ter nenhuma divindade sobre ele, uma divindade que o criou e a quem precisa se submeter, e não pode ser cativo do mundo e da humanidade, não pode pertencer à mesma instância de elementos materiais, inanimados e biológicos, a que pertencem as outras criaturas. Ele não pode ser criatura.

Em religiões como o hinduísmo, que fundem o politeísmo e o monoteísmo, geralmente os deuses não passam de manifestações inferiores, aparentes, projetadas ou míticas de um único Deus Verdadeiro.

Não podemos cair no erro de crer em divindades imersas na matéria, que venham a compor o próprio mundo material. O politeísmo e o panteísmo não são respostas. Se "tudo é Deus", então Deus não é nada, Deus não existe, e regressamos ao mesmo tipo de ateísmo que existe nos politeísmos que não sustentam a divindade criadora eterna. O Universo material não pode ser eterno. Recomendo a leitura do seguinte artigo do EOMEAB: Nós Somos Deus? Tudo é Deus?

O politeísmo é, portanto, uma enganação: ou não existe nenhuma divindade verdadeira, no sentido de situar-se numa instância superior de natureza e elemento, culminando numa espécie de ateísmo, ou existe apenas uma divindade verdadeira, criadora de todas as demais - se os deuses menores são monoteístas, creditando existência ao único ser divino que os criou, por qual motivo havemos de depositar devoção em alguma divindade que não seja essa? O que os pagãos geralmente faziam era apenas trocar coisas com os deuses menores, dando-lhes o que queriam para a obtenção de favores ou para apaziguar sua ira, da mesma forma que faziam com outras pessoas. Todo o politeísmo possui um Deus Maior e alguns realmente creem numa divindade atemporal e criadora. Nalguns casos, essa Divindade Suprema está presente, como no teísmo, e noutros, está ausente, como no deísmo. Em diversos cultos pagãos, a ausência de adoração ao Deus Supremo se dava por uma compreensão errônea de Sua natureza, estando Ele totalmente inacessível e, logo, exigindo o culto à divindades de instâncias inferiores, que serviriam como intermediárias. Na busca do "Deus Verdadeiro" devemos, portanto, fugir do "deus vento", do "deus pedra" e do "deus corvo", também devemos fugir do "deus da guerra", do "deus da morte" e de quaisquer divindades criadas e corpóreas. Sobra-nos apenas uma gama limitadíssima de deuses possíveis, dentre os quais Iavé, Prajapati e Rá. Nós precisamos nos focar no "Deus dos deuses" e não nos "deuses de Deus".

Observemos que nos politeísmos existe uma associação irredutível de divindades, com uma dependência muito estreita entre uma e outra, de modo que a exclusão de determinadas divindades centrais anula a possibilidade de crença em qualquer outra - ou a incoerência na própria cosmogonia, como a inexistência de uma divindade eterna preexistente, descarta qualquer possibilidade de tal mitologia preservar algo do "Deus Verdadeiro".
Fontes: As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica, A. S. Franchini e Carmen Seganfredo, Artes e Ofícios, 2006, pg 9; As 100 Melhores Histórias da Mitologia, A. S. Franchini e Carmen Seganfredo, L&PM, 2006, pg 13; Mitologia, Philip Wilkinson e Neil Philip, Zahar, 2010, pgs 36, 114, 141, 156, 226-228; Em Defesa da Fé Cristã, Dave Hunt, CPAD, 2012, pgs 45-46; Manual de Defesa da Fé, Peter Kreeft e Ronald K. Tacelli, Central Gospel, 2013, pg 540.

Observando a lógica acima retratada, parece natural ter no monoteísmo a configuração religiosa primordial, começando com uma entidade eterna e incriada, para depois cogitar numa família divina e, então, num panteão formado pelos filhos desse casal. A verdade é que o monoteísmo, ou ao menos a existência de uma Divindade Suprema, com traços presentes em diversos politeísmos, parece ser a forma mais antiga da religião - há registros antiquíssimos de monoteísmo ou monolatria e honoteísmo nas mais diversas regiões do mundo, como a China, a Grécia, o Egito, o Oriente Médio e a América.

O chinês Lao-Tzé disse, do século VI a.C., certa vez disse: "Antes do tempo, e durante o tempo, tem existido um Ser com existência própria, eterno, infinito, completo e onipresente... Para além deste Ser, antes do início, não havia nada."
Fonte: Lao-Tzé. Teo-te-ching, tr. Léon Weiger. Versão inglesa por Derek Bryce. 1991. Llanerch Publishers. Lampeter. p. 13.

Um antigo texto encontrado em Hierápolis, no Egito, afirma: "Eu sou o criador de tudo o que existe... que surgiu a partir de minha boca. Os céus e a terra não existiam, nem tinha sido criada a erva do campo nem as coisas que rastejam. Eu as fiz surgir do abismo primordial, a partir de um estado de não existência..."
Fonte: Paráfrase de Bill Cooper B. A. Hons da tradução literal de Wallace Budge em The Gods of the Egyptians. Vol. 1. Dover. New York. 1969. pp. 308-313.

O filósofo pagão Hesíodo declarou, no século oitavo a.C., que "Antes de tudo veio à existência o Vazio... em seguida, a Terra. ... Do Vazio veio a escuridão... e da Noite veio a Luz e o Dia...", sendo refletido por Xenófanes: "Homero e Hesíodo deram aos deuses todos os atributos que entre os homens são vergonhosos e censuráveis - roubo, adultério e mentira. ... [Porém] existe um Deus, maior entre os deuses e homens, não semelhante aos mortais quer em forma quer em pensamento... que vê como um todo, pensa como um todo, ouve como um todo. ... Ele permanece sempre no mesmo estado, sem qualquer mudança... E longe de se fadigar, governa tudo com sua mente."
Fonte: Hesíodo. Thogony. tr. Norman Brown. 1953. Bobbs-Merril Co. New York. p. 15; Fonte: Barnes, Jonathan. 1987. Early Greek Philosophy. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 42.

O grande filósofo Platão também nutria uma visão de divindade bastante próxima do monoteísmo:
"Ressaltemos, portanto, a razão pela qual o grande modelador desde universo dinâmico realmente o modelou. Ele era bom, e o que é bom não possui em si qualquer partícula de cobiça; sendo, portanto, isento de cobiça, ele desejada que todas as coisas fossem tão semelhantes a ele quanto possível. É este um princípio válido para a origem de um mundo dinâmico tanto quanto podemos descobrir a partir da sabedoria humana..."
Fonte: Platão. Timaeus and Criteas. tr. Desmond Lee. 1965. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 42.

Assim como Tales de Mileto (625-545 a.C.):
"Das coisas existentes, Deus é a mais antiga - pois ele não é gerado. O mundo é a mais bela, pois é criação de Deus... A mente é a mais veloz, pois tudo perscruta."

Há outras frases que merecem estar aqui, mas me parece que essas já servem ao propósito da postagem. A lógica de uma entidade máxima a criar tudo foi percebida mesmo entre os pagãos.
Fontes: Depois do Dilúvio, Bill Cooper B. A. Hons, SCB, 2008, pgs 13-27.

É interessante notar que a palavra "Theos", usada por Platão e Xenófanes como referência ao Eterno Criador, serviu de bases para Zeus (note a semelhança com "Deus"), que deixou de ser usado como designação para a Divindade Suprema por resultado de uma corrupção mitológica da entidade. El Elyon era a designação da Divindade Suprema dada pelos cananeus - "Elyon" também aparece entre os fenícios. Alá, o Deus Único dos muçulmanos, encontra sua origem em "El" e "Elohim", que indica o Único Deus dos hebreus. Entre os incas pré-colombianos havia uma divindade eterna e criadora que precedia o politeísmo, chamada Viracocha - divindade semelhante a Thakur Jiu, na Índia, Magano, na Etiópia, Koro, também na África, Shang Ti, na China, e Hananim, na Coreia.
Fontes: O Fator Melquisedeque, Don Richardson, Vida Nova, 2013, pgs 13-75; Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet, Globo, 2002, pg 92.. Uma discussão mais completa sobre o assunto você encontrará no seguinte artigo do EOMEAB: Origens: A Religião.

É curioso como há um rastro monoteísta na maioria dos politeísmos antigos e perceber o quanto o monoteísmo se mostrou a melhor opção em momentos de intensa atividade idólatra. Para justificar esse posicionamento, vou citar duas ocasiões nas quais governantes, percebendo as incoerências da crença múltiplos deuses, optaram pelo resgate da fé numa única divindade:

Na tentativa de remover o entulho de mitologias e superstições que havia sido depositado por sobre a ideia de um Criador, o faraó Aknhathon procurou persuadir todo o Egito de que havia somente uma única divindade, Atum, e não as muitas que os egípcios adoravam. Tal faraó tentou concentrar todo o culto ao Único Deus na cidade de Amarna. Por questões de poder político e econômico, uma vez que a quantidade de deuses e templos movimentava um intenso comércio, o clero logo resgatou o politeísmo tradicional.

Certa vez, o rei inca Pachacuti, que reinou entre 1438 e 1437 d.C., percebeu que a divindade máxima de seu povo, o Sol, não correspondia aos requisitos do Deus Supremo: ele era obrigado a seguir sempre o mesmo caminho e a sua glória era bloqueada por qualquer nuvem. Certo de que o Sol não poderia ser o Deus Verdadeiro, Pachacuti procurou entre as tradições antigas dos incas alguma divindade que pudesse corresponder aos atributos do Eterno. Após longa busca, o rei se deparou com Viracocha, que descreveu da seguinte forma, segundo o dr. B. C. Brundage, Universidade de Oklahoma, EUA: "Ele é antigo, remoto, supremo e não criado. Também não necessita da satisfação vulgar de uma consorte. Ele se manifesta como uma trindade quando assim deseja,... caso contrário, apenas guerreiros e arcanjos celestiais rodeiam sua solidão. Ele criou todos os povos pela sua 'palavra', assim como todos os huacas (espíritos). Ele é o Destino do homem, ordenando seus dias e sustentando-o. É, na verdade, o princípio da vida, pois aquece os seres humanos através de seu filho criado, Punchao (o disco do sol, diferente de Inti). É ele quem traz a paz e a ordem. É abençoado em seu próprio ser e tem piedade da miséria humana. Só ele julga e absolve os homens, capacitando-os a combater suas tendências perversas."
Fontes: Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet, Globo, 2002, pg 20; O Fator Melquisedeque, Don Richardson, Vida Nova, 2013, pgs 37-46.

Note que, mesmo entre os politeístas, há um forte senso moral. A moralidade é uma característica humana ímpar e universal, sem fontes naturais perceptíveis, exigindo uma causa moral. Mas o politeísmo geralmente não responde ao clamor moral do ser humano, considerando que as divindades, limitadas pelo corpo e vulneráveis às mesmas paixões e desvios que acometem o homem, são comumente mais depravadas que nós, abusando de seu poder em massacres e manipulação e com incontrolável apetite sexual. Não havendo nenhuma Divindade Suprema para definir um padrão moral claro, nem os supostos deuses menores e nem os homens encontram uma moralidade objetiva - mesmo que a sua consciência grite coisas como "é certo" e "é errado". Quando os filósofos e eruditos antigos falavam da Divindade Suprema, quase sempre a associavam à perfeição e à bondade, coisa que não tinham como fazer com as divindades menores.

Ora, o Universo, construído com intrincada ordem para possibilitar a vida, sugere a existência de um Criador benigno, que visa a perpetuação da existência. Isso não combina com divindades adeptas da carnificina e do caos.

O panteísmo também não apresenta respostas para a moralidade humana, que inquestionavelmente existe. Para o panteísta, que afirma que Deus é tudo - e logo, que Deus é nada -, a divindade está acima do Bem e do Mal - ela não pode servir de base para a definição de uma moral objetiva, que é realidade em nossa mente, e o Bem e o Mal, que são reais, passam a ser vistos apenas como ilusões. De certa forma, o panteísmo - que é ateísta no sentido de afirmar que Deus não é nada -, concorda com o ateísmo no que se refere à moralidade: é impossível discernir de modo objetivo o que é certo e o que é errado.

A moralidade humana se observa na religião principalmente através dos atos de sacrifício e disciplina que sempre se mostraram presentes na tentativa do homem de relacionar-se com o Criador. Um relacionamento com uma Divindade relacional fora quebrado e precisava ser reatado. O sacrifício de animais, objetivando atrair favor divino e apaziguar a divindade, evidenciam um sentimento de culpa e desmerecimento que o homem sempre nutriu: uma culpa por algo que tenha feito de errado, pela transgressão, pelo burlar de um padrão moral que uma Mente superior definiu como correto. Mesmo não encontrando nos deuses menores a origem dessa moralidade, ainda assim os pagãos realizavam esses sacrifícios expiatórios.

Dentro do espectro da moralidade, o politeísmo também não consegue responder aos anseios humanos pelo que denominamos como "perfeição". A própria ideia de que algo é imperfeito sugere a existência de outro que é perfeito - mas aquele que é perfeito não é conhecido pelo homem senão em sua mente e de modo abstrato, pois é não existe perfeição no Universo conhecido e observável. Diante de divindade imorais, é impossível encontrar bases para a certeza de que há algo perfeito por detrás de nosso anseio pela perfeição. Para adentrar mais profundamente nesse debate, leia os seguintes artigos do EOMEAB: Grandes Textos - O Perfeito Precisa Existir, Parte 1Grandes Textos - O Perfeito Precisa Existir, Parte 2.

O politeísmo também dificilmente responde aos anseios de eternidade que habitam o coração humano. O homem evita a morte por tê-la como algo completamente antinatural - existe o germe da eternidade em nosso ser. Nós estranhamos a passagem do tempo como se ele não devesse passar e como se nós não devêssemos mudar. É por isso também que o ser humano tende a procurar por uma divindade eterna - a verdade é que uma das únicas razões para termos em nós um senso tão forte de eternidade está na própria existência do Eterno. Incríveis monumentos foram erigidos para fugir do término da vida, incontáveis sacrifícios foram realizados em prol disso.
Fonte: Em Defesa da Fé Cristã, Dave Hunt, CPAD, 2012, pgs 45-46 e 231-232; Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis, Martins Fontes, 2014, pgs 21-35; Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis, Martins Fontes, 2014, pg 48. Leitura recomendada: Apologética Contemporânea, William Lane Craig, Vida Nova, 2012, pgs 61-83. Leia o seguinte artigo do EOMEAB: Origens: O Sentimento de Culpa.

E quanto ao pluralismo religioso?
O pluralismo, ou relativismo religioso, sustenta que todas as religiões e divindades levam à mesma realidade eterna, que são qualitativamente iguais e devem coexistir. A coexistência no sentido de saber conviver é essencial, mas nenhuma pessoa pode crer em duas religiões diferentes ou pensar que diversas religiões podem ser complementares: se todas as religiões estão certas, então todas estão erradas, da mesma forma que se tudo é Deus, então Deus é nada, ou, se tudo é verdade, então nada é verdadeiro. É impossível crer que religiões antagônicas levem para o mesmo lugar, que crenças que partem de premissas opostas cooperem para um objetivo comum - é impossível que todos os deuses e apenas um Deus sejam realidades simultâneas, é inconcebível que duas religiões exclusivistas estejam certas ao mesmo tempo, embora seja provável que o Deus Verdadeiro, por ser moral e, por isso, relacional, tenha se apresentado ao homem e inspirado uma religião específica. Também não me parece que a "religião da colher de madeira" seja tão viável quanto o cristianismo - existe toda uma gama de observações filosóficas, teológicas, científicas, experimentais e históricas que podem sustentar a veracidade de uma religião.
Leia mais sobre o assunto no seguinte artigo do EOMEAB: As Religiões não se Completam?

Qual divindade é mais coerente?
O monoteísmo é a única perspectiva religiosa que faz sentido com a ideia de uma Divindade Suprema, eterna, perfeita e moral. Por ser moral e ter criado seres relacionais, essa divindade também é relacional. Nesse caso precisamos verificar qual das divindades salientadas até aqui se faz mais crível. Não citarei todas as Divindades Supremas, por desconhecer - e é muito provável que muitas delas reflitam o mesmo Deus, como uma memória primordial do monoteísmo primevo, com variações decorrentes do tempo:

- Atum: a divindade egípcia combina com os atributos de eternidade, mas ela não foi a primeira a movimentar a roda da existência, tendo a sua consciência despertada num ambiente preexistente, no Oceano Primordial. Depois de desperta, Rá se torna uma divindade de comportamento semelhante às demais, sem evidenciar perfeição e oferecer respostas para a moralidade humana.
- Prajapati: a Divindade Suprema do hinduísmo se apresenta sob a forma dos demais deuses, tornando-a incoerente, no sentido de revelar-se dentro de padrões imperfeitos e moralmente questionáveis, entrando em discordância com o que se espera do Deus Verdadeiro. Além disso, Prajapati em pessoa é inacessível, misteriosa, distante, entrando em atrito com a necessidade de o Deus Verdadeiro ser relacional.
- Iavé: como nas demais cosmogonias antigas, no relato de Gênesis há o Caos, o atrito entre a desordem e a ordem e o Oceano Primordial, mas Iavé é o único que não está contido nesse Oceano - Ele também não luta contra o Caos como um oponente, sendo Ele o próprio criador da desordem, que modela para produzir a ordem. Ele é o agente ativo e criativo de todo o processo, existindo em Si mesmo antes de qualquer outra coisa e criando tudo à partir do Vazio Absoluto, da inexistência. Isso combina com as exigências da Causa e Efeito e da Termodinâmica. Desde a criação de Adão e Eva, Ele se mostra relacional e moralmente reto - e a evidência da Trindade desde Gênesis reforma a Sua natureza relacional e amorosa (A Trindade na Bíblia). Temos aqui bases para a moral, o anseio pela eternidade e a perfeição. Recomenda-se a leitura dos primeiros três capítulos do Gênesis.

Tão interessante quanto o relato de Gênesis, é a própria religião que Iavé entregou aos hebreus. Mesmo havendo um padrão moral reconhecido universalmente pelo homem, nenhum ser humano cogitaria num livro de leis tão complexo e condenatório quanto a Torá - são centenas de ordenanças religiosas, sociais, sanitárias, políticas, econômicas e militares bastante singulares e de dificílimo cumprimento. Quem estipularia tão sofisticadas e complicadas normas para propiciar a própria condenação em caso de inevitável tropeço? O judaísmo também é oficialmente considerado o mais antigo monoteísmo da história humana, tendo brotado de um universo politeísta completamente incompatível, como que por revelação, juntamente com as Leis. Os hebreus revolucionaram por terem sido os primeiros a registrar a história de seu povo no próprio livro sagrado, assim como foram os primeiros a desenvolver o Direito escrito no Oriente Médio - sua organização política, religiosa e social divergiam largamente daquilo que era comum entre os outros povos da região. Um dos exemplos mais dramáticos da singularidade do judaísmo está na existência de um único templo em Jerusalém: naquela época o monoteísmo por si só já era considerado difícil de engolir - não racionalmente, mas política e economicamente -, mas a existência de um único templo em toda a nação era uma loucura, algo que apenas dificultava o controle político, atrapalhava a economia e propiciava o sincretismo nas fronteiras. Essa exclusividade judaica não parece ter razão de ser em termos de ganho para a nação - está mais para uma revelação cumprida penosamente.

A organização do Livro Sagrado dos hebreus e a prática de seus preceitos religiosos destoa daquilo que comumente se observa em praticamente todos os demais livros sagrados e religiões, que são fruto natural do desenvolvimento de tradições tribais, completamente dentro da esfera de vontade humana: os hebreus inovaram em quase tudo, não havendo profunda influência de seus vizinhos. O que aconteceu foi o surpreendente encorpar de um monoteísmo que estranhamente foi apresentado a Abraão, primeiro pelo próprio Deus na politeísta Ur e, depois, por Melquisedeque, rei de Salém, na Palestina.
Fontes: Almanaque Ilustrado de Símbolos, Mark O’Connell e Raje Airey, Edit. Livros Escala, pgs 44-45; Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet, Edit. Globo, pags 19-24, 26 e 38-40.

2 - As três principais visões religiosas mundiais:
Existem três visões religiosas principais: o teísmo, o panteísmo e o ateísmo. Analisar essas três raízes principais é outra forma de interceptar o Deus Verdadeiro - um Criador pessoal que tudo fez, mas não faz parte da obra; nenhum Criador, sendo a divindade o próprio Universo - um ente impessoal; não existe divindade alguma. Retomemos a análise anterior do panteísmo:

No panteísmo Deus é tudo e tudo é Deus. Como já trabalhado, essa percepção é extremamente errônea, pois se Deus é tudo, então Deus não é nada - Deus não existe. Na verdade, podemos perceber no panteísmo algo como o ateísmo, pois nos dois casos a divindade é o mesmo que nada. Para o panteísta, o Universo como divindade é eterno e imutável - pois a divindade precisa ser imutável -, não possui origem e é auto-existente, o que combina com a percepção ateísta: ao afirmarem que já havia existência antes do Big Bang, os ateus não falam da origem do Universo, mas de uma transformação, e são obrigados a cogitar numa realidade eterna para a matéria. Os dois posicionamentos não se sustentam, pois é cientificamente evidente que o Universo passou a existir da inexistência, considerando a Causa e Efeito e a Termodinâmica e é óbvio que toda a matéria está em constante mutação. Racionalmente falando, também é impossível que exista um tempo eterno para o elemento material, pois se o passado é um tempo sem fim, o presente momento nunca poderia chegar. A conclusão lógica, considerando o decaimento da energia, é que a existência precisou brotar da inexistência, o tempo da atemporalidade, a matéria da imaterialidade, o espaço do Vazio Absoluto, o ser do não-ser - absurdos, a não ser que acreditemos em Deus. Tudo leva a crer que existe um Deus atemporal, imaterial e infinito. O Universo veio da ausência do Universo, mas não pode ter vindo da ausência da existência. De algum lugar ele veio, mas nunca de si mesmo. Ora, havendo um princípio para o Universo, deve haver um Principiador; havendo evidências de um intrincado projeto na Criação, temos de cogitar a existência de um Projetista. A eternidade da matéria é inviável e, portanto, tanto o panteísmo quanto o ateísmo não se sustentam - há um Deus eterno, espiritual, infinito, todo-poderoso, onisciente e onipresente por detrás de tudo, o modificador imutável, Aquele que é feito de Si mesmo, que está contido apenas em Si.

Outra forma de observar a validade do teísmo está na observação da moralidade objetiva: o Mal é a ausência do Bem, assim como o Caos é a ausência da Ordem e a Morte é a ausência da Vida - não existiria Mal se não existisse Bem, seria impossível definir o Caos se não existisse a Ordem e nada morreria se já não houvesse Vida, assim como não se discerne a Escuridão sem conhecer-se a Luz. Isso significa que há um Bem Primeiro, uma Ordem Primeira, uma Vida Eterna, uma Luz Inacessível. Significa que o Criador é Plenamente Bom, e não Mal - o Mal é a redução do Bem, de modo que o Bem precisa ser criado e o Mal não. Há o Sumo Bem, Aquele que é Perfeito - sendo a imperfeição apenas a redução de uma obra perfeita -, mas também existe o Mal no Universo. Como o Sumo Bem não pode conter o Mal inquestionável que está alojado no Universo, então esse Bem Eterno precisa estar separado da Criação. Há uma separação entre Deus e o mundo. Leia mais sobre isso no EOMEAB: Grandes Textos - O Deus Evidente

O teísmo mostra-se coerente com a observação racional do Universo, portanto o Deus Verdadeiro existe e não está no panteísmo e nem no politeísmo - ainda mais porque há politeísmos panteístas (a materialidade do Universo provém de deuses) e ambos se aproximam do ateísmo. A origem do Universo também impossibilita o panenteísmo, que afirma que a matéria é uma das partes de Deus - mas o Deus imutável não combina com a ideia de que parte de Si passou a existir em determinado momento. Lembre que a matéria mutante não combina com a imutabilidade divina.

Tudo leva a crer que o Universo brotou de uma divindade que não faz parte dele, que pertence à outra instância, que é ela mesma. A própria existência das religiões pode sugerir que essa Divindade Suprema é um ser relacional, que revelou-Se ao homem e que pode ser interceptada parcialmente em diversas perspectivas religiosas, mas que cuidou para ser encontrada especificamente num determinado segmento religioso, proveniente não de uma descoberta humana, mas de uma revelação que veio a combinar com os anseios mais primordiais da humanidade - ou seja, uma religião que realmente faz sentido para os nossos clamores mais profundos, de um Deus que nos conhece. Como já falamos, esse Deus é relacional também pela consideração de nossa moralidade - Ele incutiu em nós um padrão de conduta que O agrada com o objetivo de propiciar um relacionamento em conformidade com a Sua natureza -, o que combina com a Sua vontade criativa e centrada na preservação da vida. Se Deus existe, Ele não está inacessível - o deísmo simplesmente não se encaixa nessas exigências.
Fontes: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, pgs 22-33; Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis, Martins Fontes, 2014, pg 50. Leia mais no EOMEAB: O Panteísmo Faz Sentido?A Religião Ateísta.

Não nos sobram muitas opções. Parece que aqui Iavé se mostra evidente. Principalmente quando consideramos que a religião do Deus Verdadeiro precisa ter um apelo universal, não podendo limitar-se a uma determinada região geográfica, como no caso de ramos tradicionais do hinduísmo; a um determinado grupo étnico; limitando a tradução e distribuição de Suas Escrituras Sagradas, como é o caso do Islamismo; ou inspirando a formulação de um livro sagrado cujo texto é incompreensível, como é, mais uma vez, o caso do hinduísmo. Para compreender melhor o que é o Islã e a sua origem, observando as diversas influências religiosas que se fundiram para a formulação dessa religião, leia o seguinte artigo do EOMEAB: Entendendo o Islamismo. Uma análise interessante sobre a natureza do texto do Alcorão você pode encontrar no livro "Por que Confiar na Bíblia?, de Amy Orr Ewing, Ultimato, 2008, pgs 72-83. Há um artigo bem fundamentado sobre os livros sagrados das religiões aqui no EOMEAB: A Bíblia não é Igual aos Outros Livros Sagrados?

O fato é que Alá não se apresenta como um Deus relacional, conforme nos informa Werner Gitt:
1 - No Islã, Deus não se revela, permanecendo distante e inacessível. A exclamação "Alá é grande!" demonstra que não se pode estabelecer um relacionamento pessoal dom Ele.
2 - O muçulmano acha incompreensível afirmar que Deus é nosso Pai - isso é uma blasfêmia, pois Alá está totalmente separado desse mundo.
3 - A encarnação de Deus em Jesus Cristo, ápice do amor de um Deus relacional, é incompreensível para o Islã. No islamismo também é impossível entender como Deus pode derramar-se na humanidade através do Espírito Santo.
4 - No Islã, a misericórdia de Alá não lhe cobra um preço. Ele é arbitrário em Seus julgamentos.

Uma análise cuidadosa entre Iavé e Alá demonstra que, embora existam semelhanças de nomenclatura, não se tratam do mesmo Deus. São divindades incompatíveis.
Fonte: Perguntas Que Sempre São Feitas, Werner Gitt, Actual, 2005, pgs 110-111.

Nós estamos falando de Deus como o Sumo Bem, o Amor, Aquele que preserva a vida, sendo a própria Vida Eterna, e o criador de seres vivos que militam pela sobrevivência, a Causa relacional das criaturas relacionais. Esse Criador, que é Perfeito, é também plenamente justo e não pode aplicar juízos de modo arbitrário. Ele sempre coopera com a Vida, seja extinguindo da existência aquilo que destrói o viver, seja restaurando aqueles que estão definhando - aqueles que morrem espiritualmente pelo afastamento da Fonte de Vida, que é Ele. Esse Bem Supremo mais uma vez se mostra relacional e pessoal. Repito que, com base nessas considerações, não podemos observar divindades menores que sejam imorais e destruidoras da existência, nem divindades maiores inacessíveis e muito menos divindades impessoais. Leia mais sobre isso no EOMEAB: Grandes Textos - A Origem do MalGrandes Textos - As Fontes de DeusA Simplicidade do Cristianismo - 7: O Que é Certo e o Que é ErradoA Simplicidade do Cristianismo - 10: A Lógica do Juízo de Deus.

3 - Fé racional versus fideísmo:
Espera-se que a religião do Deus Verdadeiro transmita verdades verificáveis cientifica e filosoficamente. Essa religião também precisa encontrar raízes na história humana, não limitando-se a mitos de tempos remotos, de terras fantásticas e envolvendo divindades inacessíveis. O Deus Verdadeiro, que é relacional, revelou-Se no tempo histórico e interagiu com pessoas reais. Aqui entram em conflito os politeísmos, que não procuram responder o mundo, as filosofias e religiões orientais, as seitas e os três principais monoteísmos, dentre os quais destaco o cristianismo.

Nas filosofias e religiões orientais, segundo Vishal Mangalwadi em diversas passagens da sua obra, O Livro que Fez o Seu Mundo, publicado pela Editora Vida em 2013 (capítulo 6), os mantras servem para esvaziar a mente - e o estágio mais pleno da mente humana é a completa irracionalidade e impessoalidade. Não se procura explicar nada. Além disso, os livros sagrados dessas religiões não foram escritos para serem lidos ou entendidos, pois é o texto em si mesmo que tem um significado religioso, não a sua mensagem - é disso que brotam as orações mecânicas dos budistas. Ao contrário do que acontece nessas religiões, a Bíblia estimula o cristão a estar com a mente sempre ativa ao máximo e a própria oração é uma conversa bastante racional com Deus. Observe algumas passagens bíblicas sobre a questão da racionalidade e das bases histórias da Palavra: Provérbios 1:22; 2:10; 8:5 e 9; 10:14; 12:1; 14:15 e 18 e 22:3; João 8:32; 19:35 e 21:24; 1 Timóteo 1:4; 4:7; 2 Timóteo 4:3-4; Tito 1:14; Atos 26:25-26; 2 Pedro 1:16 e Lucas 1:1-4.

É com base na perspectiva singular que a Bíblia tem da natureza, destoando do paganismo, que a ciência pôde desenvolver-se. Os pagãos acreditavam que os elementos naturais representavam divindades e que, portanto, não se submetiam a regras que mereciam ser estudadas - além disso, quem era o homem para explorar "os deuses"? A ideia de que o mundo é separado de Deus foi essencial para o surgimento do pensamento científico.
Fontes: Perguntas que Sempre São Feitas, Werner Gitt, Actual, 2005, pg 62; Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, Robert J. Hutchinson, pgs 147-151. Leia mais no seguinte artigo do EOMEAB: A Bíblia e a Ciência

O cristianismo está plenamente situado na história humana e a Bíblia, mesmo que não seja científica, apresenta verdades verificáveis sobre a natureza e a vida.
Fonte: 20 Evidências de que Deus Existe, Kenneth D. Boa e Robert M. Bowman Jr., CPAD, 2012, pg 18. Sobre percepções científicas da Bíblia, leia os seguintes artigos do EOMEAB: A Bíblia: Falhas Matemáticas, Biológicas e Geográficas?As Prescrições Sanitárias do Antigo Testamento.

4 - As categorias das religiões:
Considerando que Deus é Sumo Bem, Ele não deixaria de revelar-Se ao homem e, portanto, há uma religião verdadeira. Uma religião só, pois é impossível que percepções antagônicas de mundo sejam verdades simultâneas. Essa religião verdadeira, por sua vez, deve ser revelada e não cogitada, precisa ser diferente das demais e não mais do mesmo. O homem imperfeito seria capaz de descobrir sozinho como retomar o relacionamento rompido com o Deus Perfeito? Todos os seres humanos de todos os tempos perceberam que tal relacionamento foi quebrado e o que vemos se resume em três posicionamentos: negligência, tentativas baseadas no esforço humano pelo reatar com o Criador ou a iniciativa do Sumo Bem de aproximar-Se do homem para retomar o relacionamento com Ele. No segundo caso é o homem tentando retomar o relacionamento com o Criador e no terceiro, o Sumo Bem almejando reiniciar Suas relações com o homem. É esperado que o Sumo Bem se aproxime do homem e não o contrário. Apenas uma única religião se encaixa no terceiro.

a - Religiões primitivas: 
Animismo, totemismo e outras percepções já descartadas.

b - Religiões Sapienciais: 
Resume todo o tipo de religião que se baseia na sabedoria humana e na experiência de vida. Geralmente as religiões dessa categoria mostram ao homem um caminho a seguir - o homem desenvolve uma jornada em busca do Paraíso. Quase sempre se enaltece a meditação, as ascese, a contemplação e o autoconhecimento. Dentro dessa categoria não raramente ocorre uma confusão sobre o que é filosofia e o que é religião. Exemplos: hinduísmo (Séc. XV a.C.), budismo (Séc. VI a.C.), jainismo (Séc. VI a.C.), taoismo (Séc. VI a.C.) e confucionismo (Séc. VI a.C.).

c - Religiões Proféticas:
São as religiões que têm como origem um profeta, alguém que comunicou a revelação recebida de Deus. É interessante notar que todas as religiões proféticas do mundo, em maior ou menor grau, consideram a sua origem (ao menos alguns de seus fundamentos mais primitivos), na pessoa de Abraão - levando em conta todas as crenças que brotaram das religiões maiores que, por sua vez, encontram no Patriarca a semente da sua fé. Das religiões proféticas, praticamente todas brotaram de três crenças principais: o judaísmo, mais antigo monoteísmo da história, o cristianismo, como uma continuação bastante precisa da revelação veterotestamentária, e o islamismo, o movimento mais tardio dos três, que reinterpretou tanto o Velho, quanto o Novo Testamento, para compactuar com sua proposta. Exemplo: judaísmo, samaritanos, islamismo e cristianismo.

d - Religiões Espiritualistas:
São todas aquelas que têm como fonte a revelação dos espíritos. Exemplos: espiritismo e religiões afro-brasileiras.

e - Místicas Filosóficas:
Resume todo o tipo de opção de vida que assume caráter religioso, uma forma de crença. Exemplos: gnosticismo, teosofia, cabala e Nova Era.

f - Superstições:
Podem ser entendidas como o falso culto prestado a Deus ou o excesso de religião. Exemplos: magia, quiromancia e tarô.

Verifiquemos as categorias: 
As Religiões Sapienciais propõe um caminho pelo qual o fiel deve seguir para achar o Divino. As Religiões Proféticas se baseiam nas mensagens do profeta, tradicionalmente consideradas advindas da mente do próprio Deus. As Religiões Espiritualistas possuem sua base de autoridade nas palavras dos espíritos. As Místicas Filosóficas sacralizam costumes e pensamentos humanos. As Superstições podem ser consideradas como remanescentes das Religiões Primitivas, com poder emanando de objetos, astros e diversas outras criaturas. As Religiões Sapienciais, Espiritualistas, Filosóficas e as Superstições consideram o homem capaz de atingir a Plenitude por conta própria, obedecendo às regras do jogo e manipulando os recursos materiais e espirituais do universo. Em essência, todas elas se combinam: é do homem que parte o poder ou, se não o poder, pelo menos a iniciativa - são todas, sem exceção, bastante humanistas: é o homem o centro da fé, é ele que percorre o caminho e manipula o universo para conquistar, por mérito, a Glória. Essas religiões se combinam tanto nos fundamentos, que quase todos os seus adeptos costumam afirmar: "todos os caminhos levam a Deus", que "basta fazer o bem". Ou seja: quase nenhuma delas faz uso de um discurso exclusivista, do tipo: "fora desse sistema não há salvação". É esse tipo de pensamento otimista que o homem gosta de ouvir - é muito fácil seguir qualquer crença desse tipo. Alguns poderiam citar o hinduísmo como exceção, mas tal religião é tão descentralizada que muitos acham melhor considerá-la no plural: "os hinduísmos". São quase quatrocentas milhões de divindades e uma absurda quantidade de pensamentos doutrinários - muitos, inclusive, antagônicos entre si, em teoria incapazes de coexistir. Mas coexistem nesse emaranhado de deuses particulares, crenças e mitologia.

De todas as categorias a única realmente diferente é a das Religiões Proféticas. É o único sistema verdadeiramente teocêntrico: o homem é absolutamente incapaz de atingir a divindade por seu próprio esforço e entendimento, sendo Deus quem precisa se revelar e aproximar-se do ser humano. Uma peculiaridade já citada é que basicamente todas as Religiões Proféticas partem da mesma raiz histórica: Abraão. Não existe nenhuma concordância histórica entre as religiões das demais categorias, resultantes exclusivamente da experiência humana moldada pelo contexto histórico, cultural e geográfico. Sendo Abraão a raiz histórica das Religiões Proféticas, podemos entender que a Torá é o livro mais fundamental desse segmento religioso e que o judaísmo foi a primeira experiência profética da história humana de que temos conhecimento. Já na Torá presenciamos o mais característico aspecto das Religiões Proféticas: Deus precisou se revelar porque o Seu padrão moral é tão perfeito que o homem jamais conseguiria absorvê-lo em sua experiência entre si e com o mundo natural. Uma rápida leitura da Lei já é suficiente para mostrar a profundidade da moral Divina, absolutamente inatingível para o homem comum - o que, por si só, justifica a necessidade de Deus se revelar. O homem jamais conseguiria atingir Deus com base em si mesmo - sabemos que o imperfeito é infinitamente menor que o Perfeito, que o limitado é infinitamente menor que o Ilimitado, que o temporal não pode penetrar no Atemporal, que a matéria não pode adentrar na Imaterialidade. Isso afasta tremendamente as Religiões Proféticas de todas as demais formas de religião.

As três principais religiões proféticas:
Dos três pilares religiosos mais comuns das Religiões Proféticas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo todas tendo como figura primeira Abraão), dos quais brotaram quase todas as formas de religiosidade profética que hoje temos, o mais singular, sem dúvida, é o cristianismo. O cristianismo tem como fundador uma figura histórica que conserva em si mesma a excelência moral, sapiencial e espiritual, sendo vastamente considerada o maior revolucionário, líder, educador e psicólogo de todos os tempos. São cerca de 24 mil manuscritos antigos do Novo Testamento relatando a Sua existência (alguns desses documentos datam de vinte a trinta anos depois de Sua Ressurreição), mais de 86 mil citações antigas dos Pais da Igreja sobre o Novo Testamento e uma porção de citações sobre Sua pessoa da parte de historiadores e líderes antigos. Os cristãos, sem alterar o texto veterotestamentário, conseguiram encontrar todas as evidências possíveis para ver em Cristo o ápice da história humana: a Lei mostrou que o homem comum é absolutamente incapaz de suprir o padrão moral de Deus, mas não apresentou uma solução clara para esse problema, de modo que havia uma expectativa messiânica de libertação física e espiritual, como bem relata Isaías 53. Cristo era necessário para cumprir a Lei, sem Ele não faria sentido Deus revelar o Seu padrão moral: seria irônico mostrar ao homem o quão errado e condenado ele está se não fosse para apontar uma solução - provocaria uma angústia gratuita, uma vez que, sem nenhuma salvação, seria melhor nem tomar consciência da insuficiência humana, Isso não combinaria com o Sumo Bem. No mais, foram identificadas cerca de 300 profecias messiânicas veterotestamentárias que se cumpriram em Cristo, o que cria uma sequência perfeita, enquanto surpreendente, entre o Velho e o Novo Testamento e entre o judaísmo e o cristianismo.

Digamos que, se houvesse um caminho para o homem percorrer para chegar até Deus, Jesus cobriu, sendo Ele moralmente perfeito e, portanto, compatível com o Pai, igualmente perfeito. Com status divino, o Deus Encarnado veio ao encontro do homem, não apenas em revelação moral e verbal, mas em carne e osso. Na verdade, Deus preparou o homem com uma revelação escriturística e, então, fez-se presente através de uma figura histórica - poucos entenderiam a necessidade da vinda de Cristo se não tivesse sido criada uma expectativa antes dela. A experiência e a teologia cristãs posteriormente evidenciaram outra singularidade do cristianismo: enquanto as demais formas de religião apontam para o poder que, partindo do imperfeito homem, possibilitava a sua ascensão até a Perfeita Divindade, o cristianismo prega que, tendo Cristo feito o homem aceitável para Deus, o Espírito Santo pode habitá-lo e, assim, o próprio Deus está no homem, não mais em prédios, livros, músicas, magos ou rituais - aí é Deus no homem que mantém o homem perto de Deus. Nesse caso, o homem chega até Deus sem ao menos ter saído do lugar - é o Eterno que, por pura Graça, toma o homem para si sem que ele tenha mérito algum, até porque o homem, imperfeito, nunca poderia obter qualquer espécie de mérito diante de Deus, Perfeito. Faço questão, ainda, de afirmar que o cristianismo é a única religião do mundo que tem como origem histórica eventos inquestionáveis, não palavras e vislumbres imaginativos, mas a morte, a ressurreição e a ascensão da pessoa histórica chamada Jesus.

Alguns séculos depois do cristianismo surge o islamismo, atualmente a segunda maior religião do mundo (sabemos que o cristianismo é a primeira). O islamismo se considera uma continuação da Torá, do Antigo Testamento, embora não possua muitas afinidades com as Escrituras veterotestamentárias e seja bem menos compatível com o Antigo Testamento do que o Novo Testamento cristão, com quem em parte rivaliza e em parte compactua. Várias reinterpretações islâmicas da história veterotestamentária comprovaram-se arqueologicamente insustentáveis e a posição do fiel perante Deus, Alá, é praticamente idêntica ao que o Antigo Testamento já considerava: ele continua refém de uma série de leis. Na verdade, a salvação do muçulmano ainda é baseada no mérito, ou seja, apesar da revelação divina, é o homem que, cumprindo as prescrições da divindade e pertencendo à comunidade religiosa garante o seu lugar no Paraíso. Nesse sentido, o islamismo não satisfaz adequadamente as expectativas geradas pelos escritos judaicos.

Como conclusão, verificamos que, das Religiões Proféticas, a única realmente pura e plena é o cristianismo: havendo necessidade de revelação divina em todas, o judaísmo evidencia a incapacidade humana de atingir o Divino e o islamismo enaltece tal capacidade, enquanto o cristianismo conclui o judaísmo e se opõe ao islamismo, afirmando que, além de ser necessário que Deus se revele ao homem, é necessário que o Altíssimo se aproxime do ser humano, pois, se o homem é incapaz de perceber o Eterno adequadamente (carecendo da Sua revelação), também é incapaz de chegar até Ele por conta própria.
Fonte: Religiões, Crenças e Crendices, de Urbano Zilles, EdiPUCRS, 2012. Extraído da postagem do EOMEAB: As Religiões em Categorias

5 - A singularidade de Jesus Cristo:
Segue um breve texto sobre a singularidade de Cristo. Trata-se de uma reflexão minha publicada no facebook.com no dia 21 de dezembro de 2014:

Foi no monoteísmo mais antigo e rígido da história que apareceu um cara afirmando ser Deus e Se sustentando em diversas profecias dos séculos anteriores. Porém esse homem não era louco: Sua sabedoria e perspicácia cativaram os mais simples, mas deixaram as autoridades perplexas - quando um governante romano decidiria fazer perguntas de cunho filosófico para um mero judeu, camponês da Galileia? Ele também não era um mentiroso, pois Sua pregação até hoje é tida como detentora da mais elevada moralidade. Esse homem singular pregava o cumprimento de algo que começara em Gênesis 3:15 - e fazia todo o sentido -, sustentando Suas palavras com feitos extraordinários, realizados de modo incomum: sem o uso de apetrechos, medalhões, soluções ou rituais, e sem recorrer a ninguém além de Si mesmo, simplesmente falando e fazendo as coisas acontecerem - pessoas eram curadas, voltavam da morte, eram alimentadas, a tempestade se acalmava, a água tornava-se caminho sólido para Sua caminhada e até os demônios reconheciam a Sua autoridade. Seu nome foi tão poderosamente reconhecido por todo o mundo, que até pagãos o declamavam, sem conhecimento, em seus exorcismos.

Todos os movimentos de Cristo pareciam ser pensados - Ele sabia exatamente onde tudo iria dar e, por isso, falava com grande coragem e autoridade. Quem, além do Messias prometido, poderia considerar-Se o próprio "Eu Sou"? Nunca ninguém em Israel havia usado esses termos para falar de si mesmo. Quem, além do Messias, poderia citar a Lei, mas revisá-la com base na Sua própria autoridade e testemunho? Quem, além do Ungido, teria a audácia de chamar Iavé de "Paizinho"? Referir-se ao Pai com tamanha intimidade era inaceitável para os judeus, que mal tinham coragem de pronunciar ou escrever o nome de Deus.

Quem foi esse homem que não precisou bajular ninguém para dar início ao movimento mais poderoso de toda a história humana? Que não precisou se colocar como um revolucionário dos pobres, nem um conselheiro dos reis? Que não precisou inflamar o exacerbado nacionalismo judaico e nem curvar-se de modo interesseiro aos invasores romanos? A Sua vida, mensagem, morte e ressurreição eram escândalo para os judeus e os gentios, mas a evidência era forte demais para ser ignorada. O legionário romano precisou curvar-se diante da cruz, reconhecendo que Ele era o Filho de Deus, pois os fundamentos do mundo se abalaram quando "tudo se consumou" e as trevas cobriram a região. E o que aconteceu no terceiro dia, que fez dos discípulos amedrontados e escondidos, os mais corajosos e incansáveis evangelistas de que temos conhecimento, sustentando a verdade inconveniente da Ressurreição até o martírio? Sim, Ele ressuscitou! E nem os judeus e nem os romanos foram capazes de mostrar alguma evidência do contrário. Aqueles que presenciaram Sua morte também declararam Seu retorno - e mais de 500 pessoas O viram de uma única vez.

Quem foi esse homem que dividiu a História? Que em três anos mudou para sempre os alicerces da Civilização? Cujo exemplo e cuja pregação sustentaram as mais significativas revoluções? Quem foi esse homem que ainda hoje é seguido por 2,2 bilhões de pessoas, sendo o centro do livro mais amado - ou odiado - e lido de todos os tempos? Que serviu de base para os mais importantes passos da humanidade nos últimos dois milênios? Mais estudos foram feitos sobre Cristo do que sobre qualquer outro tema! Como já reconheceu o cético: seria necessário um Jesus para inventar Jesus. Ninguém teria uma inteligência tão completa e sublime para criar uma figura tão surpreendente, que até hoje é considerada por muitos como o maior educador, o maior líder, o maior psicólogo, o maior dos sábios e uma das pessoas mais inteligentes que já pisaram na face da Terra. Ele é tão espetacular que evitamos incluí-Lo nas listas das pessoas importantes de nossa história - pois Ele é o próprio centro da História. Como não agir como o ex-ateu, Lew Wallace, que, ao ler o Novo Testamento com o objetivo de destruí-lo, não encontrou opção senão a de se curvar diante da magnitude daquele que realmente é o Salvador do Mundo? E que definitivamente foi elevado aos céus diante dos olhos daqueles que se submeteram às mais terríveis privações e torturas em amor ao Seu nome? Como pode alguém que esteve entre nós há tanto tempo ainda ser considerado como o maior responsável pelas mais significativas mudanças de vida, curas e despertamentos, sejam intelectuais, sejam espirituais, de pessoas do mundo inteiro? Coisas incríveis continuam acontecendo com o simples evocar do Seu nome! A estadia de Cristo entre nós, vindo da Eternidade como Divindade e voltando para lá, foi mais do que uma estrela iluminada na constelação das figuras históricas que mudaram o mundo: Ele foi mais como um cometa, que encheu o céu noturno de luz e que colidiu com a Terra de modo violento e profundo, deixando marcas indeléveis e alterando para sempre a sua configuração. Nenhum lugar desse mundo seria o mesmo sem a Sua presença. E é por isso que eu sou cristão.
Fonte: Jesus Cristo: O Centro da História. Para uma melhor compreensão da Trindade, leia o seguinte artigo do EOMEAB: O Mistério da Trindade. Sobre a maior evidência da divindade de Cristo, a Ressurreição, leia o seguinte artigo do EOMEAB: Existem Evidências da Ressurreição de Cristo?

A verdade é que em diversas religiões há uma expectativa messiânica - o homem sempre reconheceu a sua incapacidade de chegar até Deus e sonhou com semi-deuses e divindades enfrentando o Mal em seu lugar para resgatá-lo. Essa temática se repete na mitologia: no mito nórdico, Thor, filho de Odin, e representante dos deuses diante dos homens, enfrenta ferozmente a Serpente do Mundo, Nodhogg, que se enrola entorno da Árvore da Vida, alimentando-se dela. Fonte: As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica, A. S. Franchini e Carmen Seganfredo, Edit. Artes e Ofícios, pgs 12, 165-168 e 178. Na mitologia grega, a figura de Thor como enfrentador da Serpente se transfere para Apolo, deus ligado às faculdades humanas –Fonte: Guia Ilustrado Zahar, Mitologia, Philip Wilkinson e Neil Philip, pg 319-, que se digladia ferozmente com Píton, conforme pode ser lido no livro As 100 Melhores Histórias da Mitologia, A. S. Franchini e Carmen Seganfredo, Edit. L&PM, pgs 27 e 28. Podemos, ainda, nos lembrar de Hércules, maior semideus, que no penúltimo dos seus 12 Trabalhos enfrenta o dragão que protegia os frutos dourados do Jardim de Hespérides. Fonte: As 100 Melhores Histórias da Mitologia, A. S. Franchini e Carmen Seganfredo, pgs 200; Guia Ilustrado Zahar, Mitologia, Philip Wilkinson e Neil Philip, Edit. Zahar, pg 61. Note a associação da Serpente e do Fruto com o Mal. A verdade é que diversas histórias aparecem repetidamente em mitos dos quatro cantos do mundo, indicando uma memória ancestral comum a toda a humanidade. Leia mais sobre isso no seguinte artigo do EOMEAB: As Mitologias Indicam um Passado Comum?

Sobre a presença de uma figura messiânica redentora nos mitos antigos, C. S. Lewis desfere a seguinte declaração:
 “O coração do cristianismo é um mito que é também um fato. O velho mito do Deus Que Morre, sem deixar de ser um mito, desce do céu da lenda e imaginação para a terra da história. Ele acontece numa data determinada, num lugar determinado, seguido de consequências históricas definíveis. Passamos de um Balder ou de um Osíris, que morrem ninguém sabe onde nem quando, para uma Pessoa histórica que é crucificada... sob Pôncio Pilatos. Tornando-se fato, o mito não deixa de ser mito: eis o milagre. [...] Deus é mais do que deus, não menos: Cristo é mais do que Balder, não menos. Não devemos nos envergonhar da auréola mítica presente em nossa teologia. Não devemos ficar nervosos com ‘paralelos’ e ‘Cristos pagãos’: eles precisam estar ali – seria um empecilho se não estivessem.” Fonte: Fé e Descrença, Ruth Tucker, Edit. MundoCristão, pg 64.

As mais diversas religiões primitivas demonstram esse forte desejo pela redenção, mas foi apenas no cristianismo que esse anseio antiquíssimo e universal encontrou a sua resolução.

Jesus Cristo é tão singular que muitas religiões ainda hoje querem incluí-Lo de alguma forma:
- Os Hindus acreditam que Jesus foi um tipo de avatar de Vishnu.
- Muitos budistas creem que Jesus foi uma reencarnação do próprio Buda ou um grande Bodhisttva.
- Nos islamismo Jesus aparece como um grande profeta, isso porque, no Dia do Julgamento, ficará ao lado de Alá na Balança.
- O cristianismo, porém, com base na sua veracidade histórica, consiste naquilo que Jesus falou sobre si mesmo e seus demais ensinamentos e atitudes. Se muitas religiões O querem, e isso é um fator comum entre elas, por qual motivo não haveria de escolher a única religião que O tem como Centro?! Fonte: DVD As 12 Maiores Mentiras, apresentado por Kevin Sorbo, BV Films.

É interessante encerrar esse tópico citanto C. S. Lewis uma última vez, quando ele descreve o desenvolvimento da religião ao longo da caminhada humana, culminando em Cristo:

“A humanidade está dividida entre ‘a maioria que acredita em algum tipo de Deus ou deuses, e a minoria que não acredita’.” E, daqueles que acreditam: “... Um grupo é o dos hindus, que acredita ‘que Deus está além do bem e do mal’; outro, o grupo dos judeus, maometanos e cristãos, que acredita que ‘Deus é definitivamente ‘bom’ e ‘justo’ , um Deus que toma partido, que ama o amor e odeia o ódio.”

“Primeiro, Ele nos deu uma consciência, o senso de certo e errado. E por toda a história humana, as pessoas tentavam... segui-lo. Nenhuma delas foi completamente bem-sucedida. Em segundo lugar, Deus deu à raça humana histórias “disseminadas por todas as religiões pagãs sobre um deus que morreu e voltou a viver e, com sua morte, de alguma forma, deu vida ao homem.” Em terceiro lugar, Deus selecionou um povo particular – os judeus – para instruí-los sobre o tipo de Deus que Ele era, "que havia um só Deus e que Ele se preocupava com a conduta certa". As Escrituras judaicas registram esse período de instrução.
Então algo chocante aconteceu. "Entre esses judeus, de uma hora para outra, levantou-se um homem que saiu por aí dizendo que era Deus". Lewis escreve que se esse homem tivesse surgido entre hindus ou outros panteístas, onde as pessoas muitas vezes dizem que são um com Deus ou uma parte de Deus, sua alegação pareceria razoável. Mas esse homem era judeu, para quem Deus "significava o Ser externo ao mundo por Ele criado". Lewis argumentava que, nesse contexto, a reivindicação desse homem de ser Deus "era a coisa mais chocante que jamais havia sido pronunciada por lábios humanos".
Fonte: C.S. Lewis, Deus em Questão, Armand M. Nicholi, Jr, Ultimato, 2005, pgs 49-50.

Temos um Deus Perfeito e relacional. Perfeição é o auge, o ápice positivo das características e do Ser. Jesus é inevitável, pois Ele é o máximo, em Sua vinda, morte e ressurreição, daquilo que entendemos por relacionamento. Considerando o problema real do pecado, Cristo é inescapável para um Deus que ama perfeitamente. E a Sua vinda não fere em nada os atributos inescapáveis da Divindade Suprema.

Para entender os motivos que levaram Cristo a morrer pela humanidade, leia o seguinte artigo do EOMEAB: A Simplicidade do Cristianismo - 3: A Lógica do Sacrifício de Cristo

6 - A singularidade da Bíblia:
Um dos maiores argumentos em favor do cristianismo e, logo, do Deus cristãos, está na própria Bíblia. Não necessariamente em suas declarações, mas propriamente em sua natureza, que supera de longe qualquer outro livro sagrado ou literatura secular. Analisemos algumas informações:

- As profecias bíblicas: 3268 dos 6408 versículos bíblicos com indicações proféticas já se cumpriram. Existem cerca de 300 profecias messiânicas no Antigo Testamento que se cumpriram em Jesus Cristo.
Fontes e leitura complementar: Perguntas que Sempre São Feitas, Werner Gitt, Actual, 2005, pg 33; Bíblia de Estudo das Profecias, John C. Hagee, Atos, 2005, pg 987A Autoridade Profética da Bíblia.
- A historicidade da Bíblia: a Bíblia é, definitivamente, um livro histórico e, portanto, a fé cristã se baseia, acima de tudo, em eventos que realmente se desenrolaram em nosso mundo - nós interpretamos ocorrências históricas! Vejamos algumas frases sobre a historicidade da Palavra:
Nelson Glueck, maior arqueólogo bíblico do mundo, responsável pela escavação de mais de 1000 sítios arqueológicos no Oriente Médio, incluindo o achado das Minas do Rei Salomão, após meticulosa pesquisa, disse: “sobre a quase inacreditável precisão histórica da Bíblia e, particularmente, quando ela é fortificada por fatos arqueológicos”. (...) “Pode ser dito categoricamente que nenhuma descoberta arqueológica jamais colocou em dúvida uma referência bíblica”.
Fonte: Por que Acreditar na Bíblia, John Blanchard, Edit. Fiel, edição virtual autorizada, pg 24.
William Ramsay, um dos maiores arqueólogos de todos os tempos e fundador da Academia Britânica, com a intenção de desacreditar os escritos do autor bíblico Lucas, viajou por todo o Mediterrâneo analisando as referências que o evangelista faz de 32 países, 54 cidades e 9 ilhas, porém não encontrou nenhum erro! Por fim, reconheceu que Lucas era “um historiador de primeira grandeza” e que “deveria ser colocado ao lado dos maiores historiadores”.
Fonte: Dr. Rodrigo P. da Silva sobre Sir William Ramsay; Por que Acreditar na Bíblia, John Blanchard, Edit. Fiel, edição virtual autorizada, pgs 23 e 24. Leia mais no EOMEAB: A Exatidão Histórica da Bíblia
- A confiabilidade do texto bíblico: 
"Aproximadamente um oitavo de todas as variações textuais [dos manuscritos bíblicos] tem alguma importância, a maioria é apenas uma questão de mecanismos de ortografia ou estilo, por exemplo. No total, apenas um sessenta avos pode não ser considerado como 'trivialidade' ou pode ser entendida de alguma forma como uma 'variação substancial'". Norman Geisler.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 60.
"Reconstruir o original (...) [do] Novo Testamento [é fácil] - com uma precisão acima de 99 por cento, com as incertezas restantes sendo insignificantes. (...) Existem 5.300 manuscritos grego e porções, 10.000 da Vulgata Latina, e 9.300 de outras versões. (...) [somando] mais de 24.000 porções de manuscritos (...) sendo que os fragmentos mais antigos datam entre 50 e 300 anos após o manuscrito original ter sido escrito. (...)
É essa abundância de material que tem permitido a estudiosos como Westcott e Hort, Ezra Abbott, Philip Shaff, A. T. Robertson, Norman Geisler, e William Nix colocarem a restauração do texto original com uma precisão acima de 99 por cento." A estimativa de "variações circunstanciais" de Hort é de um décimo de 1 por centro, e a de Abbot é de um quarto de 1 por cento - os números de Hort que incluem as "variações triviais" ainda é inferior a dois por cento do texto.
"O número de manuscritos do Novo Testamento... é tão grande que é praticamente certo que a leitura verdadeira de cada passagem duvidosa é preservada em uma ou outra dessas autoridades antigas. Isto não pode ser dito de nenhum outro livro do mundo." Sir Frederic Kenyon.
Fonte: Os Fatos Sobre a Bíblia, John Ankerberg, John Weldon e Dilon Burroughs, Actual, 2011, pgs 23-24. Leia mais sobre isso no EOMEAB: Posso Confiar no Texto Bíblico Atual?
- Um livro singular e universal: 
Há uma unidade imutável entre os 66 livros bíblicos: são mais de 40 autores, das mais diversas classes sociais –de reis a pescadores-, contextos culturais –do Egito à Roma-, geográficos –três continentes-, linguísticos -do grego ao hebraico-, literários –de poesia à narrativa, do aramaico ao grego- e históricos -1600 anos de redação- trabalhando com um assunto central, único, em perfeita coesão, sem contradição, de modo que é impossível inserir outros documentos nessa ordem impecável e nitidamente alcançada pela observação de seu único real autor, responsável pela unidade temática assombrosa: o próprio Deus. Fontes: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pg 41 e 42; Bíblia de Estudo das Profecias, John C. Hegee, pg 1420; Perguntas que Sempre São Feitas, Werner Gitt, Actual, 2005, pgs 38-39; Defenda Sua Fé, Joe Coffey, Série Cruciforme, VidaNova, 2012, pg 47.
A Bíblia mais antiga tem 1600 anos de idade. A mais recente deve ter menos de 1 minuto. Nos últimos 50 anos 3,9 bilhões de bíblias foram lidas, sendo o livro mais lido do mundo nesse período, seguido por Citações do Presidente Mao Tse Tung, com 820 milhões de leituras, quatro vezes menos. Fonte: squidoo.com/mostreadbooks. São vendidas, anualmente, 100.000.000 de bíblias, estando a Bíblia sempre no topo de preferência. Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pg 41. Entre 1997 e 2002, as Sociedades Bíblicas Unidas, distribuíram 2.979.000.000 de exemplares e porções da Bíblia. Em 2002 tínhamos a Bíblia traduzida para 2203 línguas diferentes (90% da população mundial) e, quatro anos depois, mais de 600 projetos de tradução, 500 para línguas ainda não atingidas, estavam em andamento. Fonte: Por que Acreditar na Bíblia, John Blanchard, Fiel, 2006, pg 5.
- Um livro transformador:
A Bíblia foi responsável por 75% de todas as revoluções sociais que varreram o Ocidente entre os séculos XVIII e XIX, como o movimento antiescravagista, as reformas prisionais, a melhora no tratamento de deficientes mentais, educação infantil, feminina... O Livro do Conhecimento, acerca da Bíblia, diz: “Considerada simplesmente como literatura, a Bíblia, em qualquer idioma, tem impressionado de forma mais profunda a mente humana que qualquer outro livro em todo o mundo, e não se pode calcular a extensão com que ela tem moldado as ideias do mundo, e desta forma a humanidade.” Fonte: Por que Acreditar na Bíblia, John Blanchard, pg 42.

Temos aqui, portanto, um livro extremamente singular, divinamente embasado em profecias certeiras, plenamente histórico e confiável, de caráter universal e profundamente transformador, cooperando com as exigências do Livro Sagrado do Verdadeiro Deus, apresentado minuciosa e perfeitamente no relato escriturístico.

Resumo e conclusão:
Então, quem é o Deus Verdadeiro? Por quais motivos?
O Deus Verdadeiro é Iavé, o Único Deus, o Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo. E essa conclusão é bem fundamentada. O Deus Verdadeiro é o Sumo Bem, pois é necessário existir o Bem para o Mal aparecer, o Perfeito para a imperfeição surgir, a Ordem para ocasionar a desordem, a Vida para acarretar na morte e a Luz para se discernir o que são as trevas. Ele é Perfeito. Esse Deus Criador é a Causa Primeira do Universo, em conformidade com a lei da Causa e Efeito e as leis da Termodinâmica - nada pode vir do nada, porém o Universo não pode ser eterno em si mesmo. Esse Criador está, portanto, acima do tempo, da matéria e do espaço, sendo atemporal, imaterial e infinito, onipotente, onipresente e onisciente.

Segundo essas definições, precisamos excluir as divindades menores dos politeísmos, pois são criaturas. Devemos atentar apenas para os deuses maiores, os criadores eternos. Sobram poucos, dentre os quais Iavé, Alá, Rá e Prajapati. Por ser o Sumo Bem, criador e mantenedor da vida e originador da moralidade humana, esse Deus precisa ser relacional e acessível, restando-nos Iavé.

Outra forma de chegar no Deus Verdadeiro é analisar o que faz mais sentido: o teísmo, o panteísmo ou o ateísmo. Tanto o panteísmo quanto o ateísmo apontam para a inexistência de Deus, logo, o teísmo, que inclui o cristianismo, é a percepção religiosa verdadeira. O teísmo, que percebe um Deus criador que está fora da Criação, também se sustenta quando consideramos a moralidade humana: se Ele é o Sumo Bem e existe o Mal no Universo, Ele precisa estar fora do Universo. O deísmo não é válido, pois esse Deus precisa ser relacional.

Uma terceira forma de encontrar o Deus Verdadeiro está na consideração dos tipos de religião: apenas uma categoria religiosa, a profética, tira do homem, finito e imperfeito, a responsabilidade por reatar o relacionamento que foi quebrado com o Deus Infinito e Perfeito. Nesse caso, é mais provável que alguma das religiões proféticas seja a verdadeira. Todas as principais vieram de Abraão e tomam como base primeira a Torá: a Lei judaica mostrou ao homem a sua condição de condenação, mas não lhe apresentou uma salvação. O Islamismo manteve o interesse nas obras, não vindo a solucionar o problema apresentado na Torá. Apenas o cristianismo resolve perfeitamente bem o problema do pecado, descrevendo a vinda do próprio Deus para nos aproximar dEle.

Outra forma de considerar o Deus Verdadeiro, está na separação entre as religiões que apoiam a racionalidade e encontram raízes na história daquelas que rejeitam a razão, pois o Deus Verdadeiro nos apresentaria verdades verificáveis e, por ser relacional, nos visitaria dentro da história. Isso exclui o politeísmo pagão e as religiões orientais.

Uma quinta forma de verificar qual é o Deus Verdadeiro é atentar para Jesus Cristo, a consumação de uma expectativa salvífica universal. Jesus agiu como Deus, morreu e ressuscitou dos mortos. Esse é um evento histórico e, portanto, inquestionável. Temos aqui a figura central do mais coerente teísmo, da mais coerente religião profética, do mais profundo monoteísmo.

A sexta forma de encontrar o Deus Verdadeiro está na verificação da Bíblia. Esse livro descreve exatamente como deve ser o Criador e está totalmente sustentado em profecias cumpridas e em eventos históricos, possui um texto plenamente confiável e singular e verdadeiramente transformou a humanidade. É evidente que o Verdadeiro Deus apresenta-se nesse livro espetacular.

Por eliminatória e utilizando uma variedade de recursos e lógicas diferentes, conseguimos interceptar aquele que é o Verdadeiro Deus: o Deus judaico-cristão, o Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo! O fato de existirem centenas de milhões de divindades não significa que todas estejam no mesmo nível de coerência. Não é ilógico ser cristão.

Natanael Pedro Castoldi

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Origens: A Religião

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De onde vem a religião? Da natureza ou de um mundo espiritual? Qual foi o primeiro tipo de religião? Existe uma religião primeira, que era a única a ser conhecida no primeiro núcleo da humanidade, e que ainda pode ser conhecida e encontrada dentro das religiões mais recentes? A resposta para tais questões é de grande relevância para quem deseja compreender melhor o ser humano e vislumbrar uma razão para existir. O que o entendimento sobre as bases mais primitivas da religião pode nos ensinar sobre Deus? Me acompanhe nessa jornada.

Índice: 1 - A religião não pode ter vindo da natureza; 2 - O monoteísmo foi a primeira experiência religiosa?; a - O conhecimento de Deus no paganismo da Antiguidade; b - O Deus Desconhecido; - Theos; - Zeus; - Logos; - El Elyon; - Alá; - Viracocha; - Thakur Jiu; - Magano; -  Koro; - Shang Ti e Hananim; 3 - O desastre da Antiguidade; 4 - A mitologia indica um passado comum; Conclusão.

1 - A religião não pode ter vindo da natureza:
Segundo C. S. Lewis, a religião chegou até nós por meio da descoberta - não se trata de algo que foi criado e que tenha evoluído ao longo da história humana. Para começar, a vida do ser humano nunca foi fácil - vivemos em um universo vasto, no qual reside a morte e o sofrimento e nós, humanos, parecemos especialmente orientados para sofrer, já que temos consciência e razão para prever e intensificar a dor. Uma análise fria do universo em sua atual configuração, partindo do testemunho de Lewis sobre como pensava enquanto ateu, não parece apontar para o amor e a bondade - mas os seres humanos, as criaturas com mais potencial para sofrer, vivendo em uma natureza agressiva e padecendo dos mais terríveis abusos, ainda assim insistem em sustentar a existência de uma divindade plenamente amorosa, tendo-a como criadora daquilo que existe, e reconhecem que deve-se praticar aquilo que é moralmente correto. Para além do "quero", o ser humano afirma que "deve". Pense nos judeus, um dos povos mais sofridos: são ex-escravos, foram atacados continuamente por imensos impérios, acabaram exilados, chegaram a perder suas terras, padeceram das maiores atrocidades já cometidas em guerras e, ainda assim, sustentam que o universo é produto de um Criador Perfeito. É lógico que, nesse caso, a religião não pode ter vindo da experiência humana e da observação do mundo! Mas de onde, então, ela veio?

Muitas pessoas defendem que a religião encontra sua fonte no medo da natureza, mas Lewis discorda: para ele, equiparar o medo do perigo físico ao medo do desconhecido é brincar com a palavra "medo". Existem diferentes categorias de medos: o medo natural, como o temor diante de um tigre, não é quantitativamente, mas qualitativamente distinto do medo que temos de fantasmas - o primeiro não poderia ter se transformado no segundo. Há os que afirmam que o medo de "tigres" evoluiu para o medo de fantasmas por meio da influência e do respeito por chefes tribais, mas isso não resolve a questão principal: de onde veio tal reverência? Imagine que há um tigre no cômodo ao lado e verifique que tipo de medo você sentirá. Agora imagine que há um fantasma... e agora imagine um fantasma ainda mais poderoso - o medo pela entidade pode ser chamado de "horror". Tal terror não está baseado em algo lógico, no conhecimento do potencial mortal do objeto de repulsa - o fantasma é temido por ser um "estranho", não um "perigoso". Podemos chamar isso de "Numioso", em referência ao aspecto irracional da religião. Um fato inquestionável é que o homem, por algum motivo, sempre acreditou que o universo fosse habitado por fantasmas - um lugar verdadeiramente assombrado.

O Numioso aparece em diversos relatos da nossa história, como quando o apóstolo João, no Apocalipse, caiu "como que morto" diante dos pés do Cristo ressurreto; no relato pagão de Ovídio, que retrata o bosque de Aventino como um "local assombrado", afirmando que "há uma presença ali"; na descrição de Virgílio do palácio de Latino, tido como "horrendo com os bosques e a santidade dos tempos antigos"; num fragmento de manuscrito atribuído a Ésquilo que descreve a terra, o mar e a montanha estremecendo sob o "terrível olho de seu Mestre." Por fim, um dos exemplos mais claros pode ser encontrado no testemunho de Jacó que, após uma visão celestial acorda em desespero, bradando: "Temível é este lugar!" O Numioso fascina o ser humano - é diferente parar para assistir um documentário de vida selvagem e um filme de terror. A fera selvagem está longe, mas a presença demoníaca perece estar para além da televisão. As pessoas sentem uma verdadeira e inexplicável atração pelo Numioso, pelo Estranho - sentem um arrepio na espinha, um frio na barriga e um nó na garganta, o ar fica pesado e a visão distorcida. É uma experiência verdadeiramente irreal e jamais poderia ter brotado do mesmo medo que temos da natureza, por mais grandiosa e desconhecida que ela possa ser - tal ocasião não é resultado de uma ideia, de uma má compreensão, mas uma experiência muitíssimo real e experimentada individual e coletivamente em diversos eventos ao longo da jornada humana por esse mundo. Como o homem imaginou seres sobrenaturais e como esses seres foram capazes de produzir tais sentimentos?

É provável que o assombro Numioso seja tão antigo quanto a própria humanidade - e mesmo que seja impossível determinar a sua origem, a questão é que esse sentimento veio a existir, acha-se difundido e não abandonou a mente humana mediante os avanços científicos. O que se sabe é que esse assombro não pode ser resultado de uma inferência do Universo visível - é impossível, partindo do simples perigo, desenvolver um argumento até chegar ao estranho, menos ainda ao Numioso pleno. 

O raciocínio de Lewis prossegue afirmando que a verdadeira origem da religião está plenamente situada no temor divino do sobrenatural - coisa que só os seres humanos possuem. Os seres humanos são as únicas criaturas do mundo que temem os próprios mortos - quando, como e por qual motivo esse medo veio a existir? De que forma os mortos atraíram esse sentimento peculiar? C. S. Lewis insiste na ideia de que o horror e o assombro pertencem a uma categoria distinta da do medo - "nenhuma descrição factual de qualquer ambiente humano seria capaz de incluir o estranho e o Numioso, nem sequer sugeri-los." Há apenas dois pontos de vista que podemos assumir acerca do espanto: ou ele é apenas uma peculiaridade da mente humana, que não corresponde a nada objetivo e que não serve para nenhuma função biológica (e estranhamente persiste em não desaparecer); ou verdadeiramente se trata de uma experiência direta com o sobrenatural. 

Devemos considerar que o Numioso não é moralmente bom - é mais provável que o ser humano, espantado, tenha o Numioso como algo "além do bem e do mal". É aqui que entra um outro aspecto fundador da religião: todos os seres humanos de todos os tempos reconhecem a existência de algum tipo de moralidade - a ideia de que "eu devo fazer algo" é semelhante ao Numioso pelo motivo de não existir nenhuma base natural para a sua existência. A moralidade, assim como o assombro, é um salto - aqui o ser humano vai além de qualquer coisa que possa ser mostrada pela experiência natural. Até podem haver distinções morais entre as diferentes culturas humanas, mas todas nutrem algo em comum: elas prescrevem um comportamento que as pessoas que o adotam não conseguem colocar em prática e, assim, todos os seres humanos reconhecem que estão condenados. Apesar disso, a experiência moral e a experiência Numiosa podem coexistir por muito tempo sem terem contato uma com a outra. Diversas culturas desenvolveram profundas filosofias e, ao mesmo tempo, mantiveram religiões tribais focadas em rituais propostos para suprimir o medo e apetecer a entidade.

O terceiro aspecto que se encontra na base das religiões está no fundir da experiência moral e da experiência numiosa: o Poder Numioso perante o qual sentem um assombro acaba se tornando o guardião da moralidade, gerando um grande senso de obrigação moral. Tal passo também não é óbvio, pois o verdadeiro comportamento de nosso universo, assombrado pelo Numioso, não guarda semelhança alguma com o comportamento que a moralidade exige de nós - o primeiro é implacável, devastador e injusto, enquanto o segundo impõe qualidades opostas. O Numioso já é aterrorizante, mas tê-lo como juiz, o impassível incentivador de um sistema moral impossível de cumprir plenamente, está para além de qualquer coisa que o ser humano pudesse sugerir ou desejar. Talvez essa seja a descoberta mais assustadora de toda a nossa história - como se o universo por si só já não fosse terrível o suficiente.

De todas as religiões, C. S. Lewis termina citando a única que dá o quarto passo que é, inclusive, um acontecimento histórico, tornando tudo mais aceitável: houve um homem nascido entre os judeus que afirmou ser o Algo que é ao mesmo tempo aquele que assombra de modo temível a natureza e quem fornece a lei moral. Sobre a figura de Cristo cabe falar noutra postagem.

A questão é que, para passar das religiões primitivas baseadas no medo para as religiões monoteístas mais sofisticadas (judaísmo, cristianismo e islamismo), deve ocorrer um salto qualitativo para o qual não há qualquer comando evolutivo. O verdadeiro monoteísmo só virá à tona quando Deus instilar em nós um temor espiritual que esteja unido ao Deus que tudo criou e que dirige a moralidade.

O que, por fim, deve ficar claro nesse primeiro tópico do estudo é que a origem primeira da religião precisa ser espiritual - a descoberta da religião, que despertou um interesse antinatural, precisou vir de fora da natureza. A posterior variedade de religiões pode ter vindo de experiências espirituais diversas e das menores variações nos conceitos morais - é claro que, uma vez sentido o Numioso e principiada a religião, muitos movimentos religiosos podem ter surgido como interpretações diferentes de experiências e ensinamentos anteriores. O fato é que o requisito básico para a existência de uma crença religiosa é a existência do sobrenatural que, por sua vez, só pode ser cogitado por ter se revelado primeiro - muitas religiões primitivas tomam base apenas nisso, realizando todo o tipo de ritual. A coexistência da moral e do numioso e o fundir da moralidade com o espanto podem ser passos posteriores, mas nunca se pode imaginar um pensamento religioso dissociado da experiência com o desconhecido.
Fontes: O Problema do Sofrimento, C. S. Lewis, Vida, 2013, pgs 17-31; Apologética Cristã Para o Século XXI, Louis Markos Ph.D., Central Gospel, 2013, pgs 34-35.

2 - O monoteísmo foi a primeira experiência religiosa?
É claro que existe uma lógica do Numioso, para o Numioso e moral separados e para os dois aglutinados, mas isso não necessariamente significa que a primeira experiência religiosa tenha se centrado apenas no Numioso - assim como a experiência com o Numioso pode, ainda hoje, produzir religiões destituídas de moral, orientadas apenas pelo medo. Uma vez que a religião precisou da revelação do sobrenatural, nada mais óbvio do que pensar que o próprio Deus tenha sido o primeiro a fazê-lo, acompanhando a aparição com uma revelação moral - bom, o próprio Gênesis pós-queda demonstra uma certa gradação na formação do judaísmo, tendo homens como Abraão e Jacó vivendo com a moral e o espanto parcialmente separados até que, preparado o povo, o próprio Deus pudesse dar o sofisticado passo que viera a fundir os dois, isso lá no Monte Sinai, por advento da entrega das Tábuas da Lei. A questão que fica é: "existe alguma evidência de que o próprio Deus tenha se revelado na mais longínqua antiguidade?" É possível argumentar nesse sentido, embora não se possa ter certeza. Apresentarei algumas evidências - tire as suas próprias conclusões.

a - O conhecimento de Deus no paganismo da Antiguidade:
Ao contrário daquilo que comumente se pensa, é possível interceptar um profundo conhecimento sobre Deus na Antiguidade Clássica. A ideia de um Criador Todo-Poderoso, Perfeito e Pai da humanidade aparece nos escritos de vários historiadores do mundo antigo e nos ensinamentos dos mais antigos filósofos. A concepção de Deus chegou a ser tão profunda em certos círculos pagãos, em particular no mundo greco-romano, que chegou a ter início uma controvérsia entre os que pregavam a lógica criacionista e os que procuravam evidências para uma espécie de materialismo - é surpreendente verificar a semelhança que há entre esses debates e os atuais, dados por criacionistas e evolucionistas. Verifique o seguinte dizer de Lao-tzé, proveniente da China do sexto século a.C.:

"Antes do tempo, e durante o tempo, tem existido um Ser com existência própria, eterno, infinito, completo e onipresente... Para além deste Ser, antes do início, não havia nada."
Fonte: Lao-Tzé. Teo-te-ching, tr. Léon Weiger. Versão inglesa por Derek Bryce. 1991. Llanerch Publishers. Lampeter. p. 13.

É óbvio que Lao-tzé refletiu sobre o tema sem ter tido influência do livro do Gênesis. Na verdade, considerando os dizeres de diversos outros filósofos pagãos da antiguidade, não é preciso sugerir que o livro do Gênesis tenha sido necessário para a produção de tais convicções - elas simplesmente existiam, de alguma forma, preservadas em diversas culturas do mundo, como se toda a humanidade encontrasse bases numa religião primordial. Mas, assim como ocorre hoje, tal perspectiva tinha os seus inimigos, como Kuo-Hsiang, oponente das ideias de Lao-tzé:

"Aventuro-me a perguntar se o Criador existe ou não. Se não existe, como poderia criar as coisas? ... A criação das coisas não obedece a qualquer Senhor; tudo se cria por si mesmo."
Fonte: Clarke, John. 1993. Nature in Question. Earthscan. p. 24.

A verdade é que exceções assim acabam confirmando a regra: para que a existência do Criador seja negada por um filósofo, ela primeiramente deveria ter sido exposta por outro. No caso de ter sido exposta antes de questionada, de onde teria vindo esse conhecimento? Não das Escrituras e nem de missionários - mesmo sendo imperfeito, o conhecimento de Deus estava bastante vivo entre os povos pagãos da Antiguidade, segundo Bill Cooper B. A. Hons, "somente poderia ter-se fundamentado sobre um corpo de conhecimentos que houvesse sido preservado entre as raças antigas a partir de um determinado ponto na história". Segue um antigo texto de Hierápolis, no Egito:

"Eu sou o criador de tudo o que existe... que surgiu a partir de minha boca. Os céus e a terra não existiam, nem tinha sido criada a erva do campo nem as coisas que rastejam. Eu as fiz surgir do abismo primordial, a partir de um estado de não existência..."
Fonte: Paráfrase de Bill Cooper B. A. Hons da tradução literal de Wallace Budge em The Gods of the Egyptians. Vol. 1. Dover. New York. 1969. pp. 308-313.

A verdade é que não existe nenhum registro de que, em algum momento, o ponto de vista acima retratado tenha sido questionado no Egito antigo. Não parece ter havido um debate. Fica evidente uma consciência razoavelmente comum de que o Egito já havia experimento o monoteísmo e que traços do mesmo ainda residiam no seu famoso politeísmo - na tentativa de remover o entulho de mitologias e superstições que havia sido depositado por sobre a ideia de um Criador, o faraó Aknhathon procurou persuadir todo o Egito de que havia somente uma única divindade e não as muitas que os egípcios adoravam, coisa que, porém, não era um conceito ateísta ou materialista que pudesse negar a posição e a realidade de um Criador. A mesma ausência de ateísmo e materialismo se dá tanto na Mesopotâmia quanto no Israel antigo (exceto pelo Salmo 14:1), o que evidencia o quanto a visão de mundo criacionista era forte no Crescente Fértil. A verdade é que a grande maioria das culturas do mundo antigo (das quais temos algum registro escrito) nutria um abrangente consenso de que o universo havia sido criado por uma única divindade, usualmente suprema - isso se dá até mesmo em culturas politeístas. Além disso, cada cultura nutria a visão de um Criador destituído de perversidade - coisa que também ocorre nas culturas que floresceram em ambiente pagão agressivo e pervertido. Verifiquemos o dizer de Hesíodo na sua "Teogonia", oitavo século a.C.:

"Antes de tudo veio à existência o Vazio... em seguida, a Terra. ... Do Vazio veio a escuridão... e da Noite veio a Luz e o Dia..."
Fonte: Hesíodo. Thogony. tr. Norman Brown. 1953. Bobbs-Merril Co. New York. p. 15.

O relato de Hesíodo se assemelha ao Gênesis, embora evidentemente não encontre bases nele, visto que ele tem uma visão envilecida do Criador. Tal percepção também era compartilhada por Xenófanes, cerca de dois séculos depois de Hesíodo:

"Homero e Hesíodo deram aos deuses todos os atributos que entre os homens são vergonhosos e censuráveis - roubo, adultério e mentira. ... [Porém] existe um Deus, maior entre os deuses e homens, não semelhante aos mortais quer em forma quer em pensamento... que vê como um todo, pensa como um todo, ouve como um todo. ... Ele permanece sempre no mesmo estado, sem qualquer mudança... E longe de se fadigar, governa tudo com sua mente."
Fonte: Barnes, Jonathan. 1987. Early Greek Philosophy. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 42.

O interessante é que Xenófanes, conhecedor do nome de todos os deuses gregos, evitou nomear ou identificar o Deus de quem então falava. Não se tratava de Hermes ou Ares. A mesma ideia de um Criador inefável permeou o pensamento de Platão, conforme se percebe no dizer que segue:

"Ressaltemos, portanto, a razão pela qual o grande modelador desde universo dinâmico realmente o modelou. Ele era bom, e o que é bom não possui em si qualquer partícula de cobiça; sendo, portanto, isento de cobiça, ele desejada que todas as coisas fossem tão semelhantes a ele quanto possível. É este um princípio válido para a origem de um mundo dinâmico tanto quanto podemos descobrir a partir da sabedoria humana..."
Fonte: Platão. Timaeus and Criteas. tr. Desmond Lee. 1965. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 42.

É interessante perceber aqui outra semelhança com Gênesis: "E viu Deus que era bom". Também é observável que Platão tinha descoberto este conceito no discernimento de filósofos anteriores a ele - sem dúvida ele tomava bases em conceitos filosóficos bem anteriores aos de Hesíodo, além de serem mais profundos. Partindo de Platão, a visão criacionista de mundo ganharia ares mais lógicos e "científicos", sempre atestando para um único Criador. Tales de Mileto (625-545 a.C.) é o responsável por outra forte declaração:

"Das coisas existentes, Deus é a mais antiga - pois ele não é gerado. O mundo é a mais bela, pois é criação de Deus... A mente é a mais veloz, pois tudo perscruta."

Segue uma outra reflexão, pronunciada por Crísipo (280-207 a.C.):

"Se existe algo na natureza que a mente humana, a inteligência, a energia e a força humanas não podem criar, então o criador dessas coisas deve necessariamente ser um ente superior ao homem. Os corpos celestes em suas órbitas eternas certamente não poderiam ser criador pelo homem. Eles, portanto, devem ter sido criados por um ser superior ao homem. ... Somente um tolo arrogante imaginaria que nada houvesse no mundo todo maior que ele próprio. Logo, deve existir algo maior do que o ser humano. E esse algo deve ser Deus."

É estranho como o pensamento grego pôde chegar nesse patamar, indo das reflexões mais grotescas de Hesíodo para a simplicidade e profundidade de Crísipo - consideremos que o cristianismo ainda não tinha nascido e que a sua influência sobre o pensamento grego só seria perceptível séculos no futuro. Alguns sugerem que isso tenha se dado através da influência de judeus helenizados, mas Bill Cooper contesta: aparentemente o primeiro contato dos gregos com o judaísmo se deu em 587 a.C., quando mercenários gregos participaram do exército de Nabucodonozor durante o ataque a Jerusalém - é lógico que junto com os mercenários havia um contingente civil menor que, sem dúvida, deve ter ocupado o tempo livre com longas horas de conversa e reflexão, porém, ver nisso uma possibilidade de aceitação do judaísmo está fora dos limites do aceitável: os judeus eram vistos com muito desprezo pelos gregos, isso de tal forma que se viram obrigados a aceitar a cultura grega para sobreviver. Um marcante exemplo dessa hostilidade reside em Antíoco IV Epifânio (175-163 a.C.), que perseguiu os judeus e procurou erradicar o judaísmo da face da Terra. Outro fator que inviabiliza a influência judaica sobre o pensamento grego está na tardia tradução da Torá para o grego, dada em 250 a.C., dezessete anos antes de Crísipo se tornar o condutor da escola estóica  - desse modo, a notável tradução do Gênesis para o grego se deu 58 anos depois da fundação da escola estóica, 308 a.C., e, portanto, o estoicismo nenhuma relação teve com o livro de Gênesis. Sua percepção de Deus foi independente - resta saber de onde foram tiradas as suas ideias.

Seguindo a linha de raciocínio do estoicismo acerca do criacionismo, Cícero, um estóico posterior, é o autor dos surpreendentes parágrafos que seguem:

"Ao observarmos um gnomon (relógio de sol) ou uma clepsidra (relógio hidráulico), vemos que eles indicam o tempo de maneira propositada, e não por acaso. Como podemos imaginar, então, que o universo como um todo seja destituído de propósito e inteligência, ao abarcar tudo, incluindo esses próprios artefatos e seus artífices? Nosso amigo Possidônio, como sabemos, recentemente elaborou um globo que, em seu movimento de rotação, mostra o movimento do Sol, das estrelas e dos planetas, dia e noite, exatamente como eles aparecem no céu. Ora, se alguém tomasse esse globo e o mostrasse aos habitantes da Bretanha ou da Cítia, algum desses bárbaros deixaria de perceber que ele era o produto de uma inteligência consciente?"

"Nos céus nada há de acidental, nada arbitrário, nada fora de ordem, nada errático. Tudo é ordem, verdade, razão, constância... Não posso compreender essa regularidade das estrelas, essa harmonia do tempo e do movimento em suas imensas órbitas durante toda a eternidade, a não ser como a expressão da razão, mente e propósito... O seu movimento constante e eterno, maravilhoso e misterioso em sua regularidade, declara o poder inerente de uma inteligência divina. Se algum homem não pode sentir o poder de Deus ao olhar para as estrelas, então duvido que seja capaz de qualquer outro sentimento também."

"Não é, realmente surpreendente alguém pôr-se a acreditar que um número imenso de partículas sólidas e separadas, pudesse, mediante colisões aleatórias, e movidas tão somente pela força de seu próprio peso, trazer à existência um mundo tão belo e maravilhoso? Se alguém pensa que isso é possível, não vejo porque também não pensar que, se um número infinito de letras, dentre as vinte-e-uma do alfabeto, feitas de ouro ou de que quer que seja, fosse misturado e lançado no chão, pudessem elas cair de tal maneira que formassem, por exemplo, o texto completo dos 'Anais' de Ênio. De fato, duvido que o acaso permitisse que as letras formassem seque um único verso dos 'Anais'!"

Podemos citar ainda outro indivíduo da Antiguidade, Lucílius que, sem a ajuda de nenhum cristão ou judeu, atribuiu o universo ao trabalho e manutenção de um Criador que "é, conforme afirma Ennius, o pai tanto dos deuses como dos homens, um Criador presente e poderoso. Se alguém duvidar disso, tanto quanto posso discernir, poderia também duvidar igualmente da existência do Sol. Pois ambos são igualmente evidentes. E se isso não fosse claramente percebido e manifesto à nossa inteligência, a fé dos homens não teria permanecido tão constante, não se teria aprofundado com o correr do tempo, e jamais teria se enraizado tão firmemente através dos séculos em todas as gerações humanas."
Fontes: Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet, Globo, 2002, pg 20; Depois do Dilúvio, Bill Cooper B. A. Hons, SCB, 2008, pgs 13-27.

b - O Deus Desconhecido:
No livro "As Vidas de Filósofos Eminentes", de Diógenes Laércio, autor grego do terceiro século d.C., há um estranho relato sobre o famoso profeta Epimênides: num passado realmente distante, Atenas estava sendo julgada por uma terrível praga. Temendo que tal peste fosse resultado de um pecado que tivesse sido cometido contra algum deus, o povo sacrificou para todos os deuses, mas o mal não deixava a cidade. Então, por recomendação do Oráculo, Epimênides, um estrangeiro de Creta, foi chamado - um deus que não estava presente em todo o panteão grego precisava ser apaziguado pelo profeta. Tomando um rebanho de ovelhas pretas e brancas e soltando-o do topo da Colina de Marte, o estrangeiro desejou dar uma oportunidade para que o "Deus Desconhecido" se revelasse - a ideia era que cada lugar onde uma ovelha deitasse fosse marcado e, entendendo que as que se deitassem eram do agrado desse Deus, sacrificaria cada uma delas. Como era normal que as ovelhas se deitassem fora do horário habitual em que pastavam, o experimento se deu de manhã bem cedo, quando elas estavam todas famintas. As que deitaram foram sacrificadas diante de altares sem nome, erigidos especialmente para a ocasião. A praga abandonou a cidade. Mas quem era esse "Deus Desconhecido"? Seis séculos depois, o Apóstolo Paulo, encontrando um altar remanescente desse evento enquanto visitava Atenas, pregou o Deus de Israel - como vimos anteriormente, os gregos já estavam familiarizados com a ideia de um Deus Eterno e Criador, interpretado pelo Apóstolo como sendo o próprio "Deus Desconhecido".

É interessante que, quando Paulo cita uma poesia de Epimênides em Tito 1:12-13, chama-o de "profeta"!

Diógenes Laércio menciona que "em diferentes partes da Ática podem ser vistos altares sem qualquer nome gravado, servindo de memoriais para esta expiação". Dois outros escritores da Antiguidades - Pausânias e Filostrato - referem-se a "altares a um deus desconhecido", sugerindo que havia tal inscrição neles.

- Theos:
A pregação de Paulo em Atenas, registrada em Atos 17, é singular não somente pela raiz histórica no profeta Epimênides, mas também pela palavra usada para referir-se ao Criador: "Theos". Os gregos conheciam esse termo, mas não o empregavam para uma entidade específica, embora os filósofos possam ter sabido que Xenófanes, Platão e Aristóteles tenham usado "Theos" como um nome pessoal para um Deus Supremo. Tal termo foi tomado pelos tradutores da Septuaginta para referir-se à Elohim, pois era a única palavra grega direcionada à divindade que ainda guardava a pureza monoteísta: "Zeus" foi rejeitado, pois ele era filho de dois outros seres. O espanto dos gregos com a pregação de Paulo, afirmando que ele pregava "deuses desconhecidos", deve ter se dado ao emprego do nome "Jesus", não "Theos".

Aqui há algo surpreendente: Paulo afirma que o nome do "Deus Desconhecido" é Theos, o mesmo termo que os grandes filósofos gregos já tinham utilizado!

- Zeus:
Agora faça um exercício de comparação: Deus -> Theos -> Zeus. Fica evidente que as três palavras possuem a mesma raiz. Os três nomes começam com consoantes (Z, D e Θ -Th) que exigem que a ponta da língua esteja entre os dentes ou imediatamente por trás deles; eles três destacam o que os linguistas chamam de "vogal e média, aberta", no segundo espaço; os três nomes possuem no terceiro espaço as vogais "o" ou "u", "posteriores fechadas"; eles três possuem no quarto espaço o "s"; e todos eles partilham de um sentido semelhante.

O fato é que antes de o latim e o grego se separarem em línguas distintas, provavelmente "Deos" era o nome da Pessoa Divina. Com o passar do tempo, as seitas começaram a criar deuses menores, dando-lhes nomes pessoais, cada uma afirmando que a sua divindade era, na verdade, "Deos". Aos poucos, as mudanças de pronúncia levaram um grupo a utilizar "Deus", outro a falar "Θeos" e um terceiro a pronunciar "Zeus" - esses termos passaram a significar "deus" e não mais "Deus". Quando Platão, Xenofonte e Aritóteles procuraram inverter a tendência para a generalização, retornaram o uso de "Theos". "Zeus", uma terceira variação do "Deos" original, também sobreviveu à generalização, sendo utilizado como um nome pessoal específico - Epimênides utilizou "Zeus" como referência ao Deus Todo-Poderoso numa outra parte do mesmo poema que Paulo citou em Tito.

O problema com o uso de "Zeus" começou depois de Epimênides. Ao longo dos séculos os teólogos gregos manipularam o nome pessoal do todo-poderoso ("Zeus"), introduzindo significados inconsistentes com o conceito original. Esses teólogos passaram a sugerir que Zeus tivesse sido gerado por Kronos e Rhea e, fazendo isso, desqualificaram a palavra como indicadora da divindade eterna, auto-existente e onipotente. Como "Zeus" se tornou inutilizável, o termo "Theos" foi favorecido tanto pelos filósofos gregos já citados, quanto pelos judeus e cristãos.

- Logos:
O Apóstolo João chama Cristo de "Logos", o termo favorito dos estoicos. Heráclito usou pela primeira vez esse termo em 600 a.C., a fim de designar a razão ou plano divino que coordena um universo em mudança.

Fazendo uso das palavras "Theos" e "Logos" para referir-se a Elohim e Jesus, o cristianismo evidenciou-se como uma resposta aos anseios milenares dos gregos, não como algo proposto para arruinar a sua filosofia.

- El Elyon:
Quando Abraão, chamado por Deus, se aproximou de Salém, que posteriormente se tornou Jerusalém, foi recebido por Melquisedeque, seu rei. Era o "rei da justiça" que governava o "fundamento da paz", conforme os significados de "Melquisedeque" e "Jerusalém". O local foi identificado por Josefo como "vale de Salé", que é "vale do Rei", provavelmente uma homenagem ao próprio Melquisedeque. A questão é que o rei de Salém foi descrito como "sacerdote do El Elyon" - Deus Altíssimo. Quem poderia ser esse "Deus Altíssimo"? "El" e "Elyon" eram nomes cananeus para o próprio Javé - "El" foi bastante usado pelos hebreus descendentes de Abraão (Betel, El Shaddai e Elohim). Elohim, por sua vez, é uma forma plural de "El", cujo significado é misterioso. O termo "Elyon" aparece também em textos fenícios como um nome para Deus - o fenício é uma ramificação posterior da língua cananeia. A expressão chega a aparecer até numa antiquíssima inscrição aramaica encontrada na Síria.

Abraão provavelmente conhecia Deus como "Yahweh", não "El Elyon", mas o fato é que ele não protestou com Melquisedeque por este ser sacerdote de "El Elyon" - na verdade ele até deu o dízimo para Melquisedeque, posteriormente chamado de "grande profeta" na Carta aos Hebreus. A Bíblia, por sinal, considera Melquisedeque um autêntico profeta de Deus, da ordem sacerdotal da qual o próprio Cristo pertenceria - Sl 110:4.

Assim como Paulo aceitou "Theos" e João utilizou "Logos", Abraão reconheceu "El Elyon". A passagem em questão mostra claramente que havia um rei na Palestina que era sacerdote do Deus Altíssimo - isso é estranho, pois a tradição nos diz que todo o culto ao Verdadeiro Deus se iniciou com Abraão! Há mais de 4 mil anos, portanto, havia gente cultuando o Deus judaico-cristão. Aquilo que aconteceu com Melquisedeque também se repete com Jetro, sogro de Moisés, o que nos leva a pensar que houve uma classe de sacerdotes que, mesmo sem ter tido contato com a mensagem revelada ao patriarca Abraão, exaltava o Único Deus, como se fossem remanescentes de uma tradição religiosa mais antiga.

- Alá:
"Alá" é o equivalente árabe para "El" e "Elohim". Significa "O Deus". "El" -> "Elohim" -> "Alá". Tudo leva a crer que o termo que Maomé utilizou para denominar o seu único Deus encontra a sua raiz nos citados nomes para o Criador utilizados no Antigo Testamento.

- Viracocha:
Pachacuti, rei inca entre 1438 e 1437 d.C., foi o responsável por levar o Império Inca ao apogeu. Esse rei era um homem bastante culto e religioso - adorava o maior dos deuses, Inti, o sol. Porém, como descoberto em 1575 na cidade de Cuzco por Cristobel de Molina, colecionador de diversos hinos incas, ao analisar o trabalho de um cronista índio chamado de Yamqui Salcamayagua Pachacuti, o culto ao Deus-Sol teve os seus questionadores, sendo um deles o próprio rei já citado que, na sinceridade de louvar ao maior dos deuses, percebeu que Inti não preenchia os requisitos. Segue o comentário de Philip Ainswrth Means sobre o caso:

"Ele ressaltou que esses corpos luminoso segue sempre um caminho determinado, realiza tarefas definidas e mantém horas certas como as de um trabalhador (...) a radiação solar pode ser diminuída por qualquer nuvem que passe". Ora, se Inti é o "grande Deus", então como ele é obrigado a seguir um sistema e qualquer nuvem pode bloquear sua luz? O rei percebeu que sempre adorara um objeto e não o Criador. Foi então que, procurando entre as antigas tradições de sua própria cultura, Pachacuti encontrou uma divindade quase extinta da memória popular: Viracocha - o Senhor, o Criador onipotente. Somente havia restado um santuário inca para Viracocha. O culto ao Deus Criador Viracocha era, sem sombra de dúvidas, antiquíssimo - a adoração de Inti e outros deuses não passava de desvios recentes de um sistema de crença original mais puro. Don Richardson afirma que "Viracocha teve representantes proeminentes nas culturas indígenas 'desde o Alasca à Terra do Fogo'".

O dr. B. C. Brundage, Universidade de Oklahoma, EUA, resume aquilo que Pachacuti descobriu sobre Viracocha e deixou registrado: "Ele é antigo, remoto, supremo e não criado. Também não necessita da satisfação vulgar de uma consorte. Ele se manifesta como uma trindade quando assim deseja,... caso contrário, apenas guerreiros e arcanjos celestiais rodeiam sua solidão. Ele criou todos os povos pela sua 'palavra', assim como todos os huacas (espíritos). Ele é o Destino do homem, ordenando seus dias e sustentando-o. É, na verdade, o princípio da vida, pois aquece os seres humanos através de seu filho criado, Punchao (o disco do sol, diferente de Inti). É ele quem traz a paz e a ordem. É abençoado em seu próprio ser e tem piedade da miséria humana. Só ele julga e absolve os homens, capacitando-os a combater suas tendências perversas." Diante de tais esclarecimentos, o imperador determinou que as orações só deveriam ser dirigidas a Viracocha.

Pachacuti estava realizando uma verdadeira reforma religiosa no Império Inca, planejando conquistar as massas aos poucos, quando os espanhóis chegaram e anularam o serviço. O fato é que havia uma vaga profecia inca que afirmava que futuramente "Viracocha lhes traria bênção do Ocidente" - esperava-se missionários e não conquistadores. Aparentemente, assim como o Antigo Testamento preparou os judeus para Cristo, a tradição acerca de Viracocha serviria para preparar os Incas para o Evangelho.

- Thakur Jiu:
Quando o missionário norueguês Lars Skrefsrud, e seu colega, Hans Borreson, se puseram, tendo aprendido o idioma local, a evangelizar o povo santal, ao norte de Calcutá, Índia, em 1867, um dos sábios nativos comentou: "O que este estrangeiro está dizendo deve significar que Thakur Jiu não se esqueceu de nós depois de tanto tempo!" "Thakur" significa "verdadeiro" e "jiu", "Deus". Thakur Jiu é o mesmo que "Deus Verdadeiro", cujas características logo fizeram com que o povo santal  o associasse ao Deus pregado pelos missionários.

Segundo os estudos realizados por Lars e Hans, o conhecimento de Thakur Jiu era antiquíssimo e havia sido passado de geração em geração. Segundo as histórias do povo santal, Thakur Jiu, há muito tempo, criou o primeiro homem e a primeira mulher e colocou-os na terra de Hihiri Pipiri, onde foram tentados por um ser chamado Lita - depois de terem caído na tentação, eles descobriram que estavam nus e se envergonharam. As gerações posteriores se corromperam e negaram o chamado de retorno de Thakur Jiu, assim o Deus Verdadeiro escondeu um casal santo numa caverna no alto do monte Harata (note a semelhança com "Ararate") e eliminou o restante da humanidade. Os descendentes desse casal se multiplicaram e Thakur Jiu os dividiu e espalhou - um dos povos ali formados migrou pelas florestas e planícies, até ficarem presos diante de uma barreira de montanhas. Desanimados, aos poucos perderam a fé em Thakur Jiu, vendendo-se aos espíritos das montanhas, o que posteriormente os levou à prática da feitiçaria e até da adoração ao sol, mas não chegou a apagar completamente o nome de Thakur Jiu. Segundo as informações, os santal haviam migrado do monoteísmo para o politeísmo.

Quando Lars começou a utilizar o nome "Thakur Jiu" como uma referência a "Theos", entendendo que o termo era compatível com o Deus bíblico, a sua missão entre os santal prosperou imensamente.

- Magano:
Na região centro-sul da Etiópia milhões de pessoas compartilham da crença num ser benévolo chamado Magano, o Criador onipotente de tudo o que existe. Uma das tribos da região se chama Darassa e é parte do povo gedeo. Percebendo que aquela população, mesmo crendo num Deus soberano, se preocupava mais em livrar-se de Sheit'an, um ser maligno, Albert Brant questionou: "Vocês consideram Magano com tanta reverência, mas rendem sacrifícios a Sheit'an, por que isso?" A resposta que recebeu foi simples: eles não tinham comunhão suficiente com Magano para render-lhe culto.

Algum tempo antes, Warrasa Wange, um nativo, decidiu deixar de viver em função da luta contra Sheit'an e a se ocupar com Magano, a quem orou para que se revelasse ao seu povo. A resposta de Magano veio rapidamente: ele enviaria dois homens brancos para falar-lhes (me desculpe, caso você tenha caucasofobia). Algum tempo depois, em 1948, para encurtar a história, os missionários Albert Brant e Glen Cain chegaram à região. Os frutos das missões que disso principiaram são evidentes até hoje.

-  Koro:
"Koro" é o nome que recebe o Criador na língua banto da África. Foquemos nossa atenção na tribo banto dos mbaka, na República Centro-Africana: o missionário Eugene Rosenau, Ph.D., estranhou a prontidão com que os mbaka aceitaram o Evangelho e, questionando-os, se surpreendeu. O que, afinal, os tocou tanto? Eis a resposta que ouviu:

"Koro, o Criador, enviou uma mensagem a nossos antepassados há muito tempo, dizendo que Ele já mandara seu Filho realizar uma coisa maravilhosa em favor de toda a humanidade. Mais tarde, porém, nossos ancestrais afastaram-se da verdade sobre o Filho de Koro. Com o tempo, eles até esqueceram o que Ele havia feito pela humanidade. Desde a época do 'esquecimento', gerações sucessivas de nosso povo desejaram descobrir a verdade sobre o Filho de Koro. Mas tudo o que pudermos saber foi que mensageiros finalmente viriam para repetir esse conhecimento esquecido. De alguma forma, sabíamos também que os mensageiros provavelmente seriam brancos..." - Quem tem caucasofobia pode ficar tranquilo: dessa vez a vinda de brancos era apenas uma probabilidade.

Quando Eugene descobriu que o povo de uma aldeia chamada Yablangda era o "guardador das tradições de Koro", seguiu para lá. 75 a 90 por cento de todos os pastores africanos treinados por Eugene e sua equipe vieram dessa grande aldeia.

- Shang Ti e Hananim:
Para os chineses, Shang Ti é o Senhor do Céu - perceba a semelhança com "Shaddai". Na Coreia esse Deus é conhecido como Hananim, "O Grande". Shang Ti/Hananim é anterior ao confucionismo, taoísmo e budismo - segundo a Enciclopédia de Religião e Ética, a primeira referência a qualquer tipo de crença religiosa chinesa refere-se a Shang Ti e o aponta como o único Deus, isso por volta de 2600 a.C., dois mil anos antes do confucionismo!

Também é interessante perceber que havia, desde o início, uma compreensão entre os chineses e coreanos sobre a proibição de representar Shang Ti e Hananim por ídolos. O culto ao Criador, Shang Ti, parece ter sido realizado livremente na China até o começo da dinastia (1066-770 a.C.), quando seus traços de amor e misericórdia começaram a ser esquecidos, chegando ao ponto de somente o Imperador ser tido como digno de adorá-lo - e isso só uma vez por ano. Shang Ti, então, ficou virtualmente sem adeptos entre os chineses, dando espaço para a materialização de três religiões inteiramente novas e que vieram do nada, desejosas por preencher o vazio religioso - falo do confucionismo, do taoísmo e do budismo.

Muito mais tarde, Kublai Khan, fascinado com o que aprendera sobre o Evangelho com Marco Polo, pediu ao Papa para que enviasse missionários para o seu império, objetivando espalhar as boas novas de Jesus a todos os habitantes - o Papa demorou para responder e, quando respondeu, muitos dos missionários enviados acabaram morrendo ou desistindo da jornada. Convencido de que o monoteísmo era superior à idolatria, Khan, então, recorreu ao islamismo e é por isso que muitos mongóis se tornaram muçulmanos.

Sobre o uso de Hananim para o evangelismo, temos uma interessante observação feita em 1890:
"O nome Hananim é tão destacado e tão universalmente usado que não precisamos temer, em futuras traduções e pregações, os conflitos inconvenientes, ocorridos há muito tempo, entre missionários chineses a respeito do assunto, embora os romanistas tenham introduzido o nome que empregam na China." Hananim foi usado - hoje 10 novas igrejas são abertas diariamente na Coreia do Sul!
Fontes: O Fator Melquisedeque, Don Richardson, Vida Nova, 2013, pgs 13-75; Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet, Globo, 2002, pg 92.

Recomendo que você veja o que o arqueólogo e teólogo Rodrigo Silva tem a dizer sobre as origens do monoteísmo - Programa Evidência, TV Novo Tempo, publicado no dia 1º/06/2014 no youtube.com, sob o título "EVIDÊNCIAS - As Origens do Monoteísmo":
3 - O desastre da Antiguidade:
Se com base em um relativamente pequeno número de documentos e testemunhos conseguimos interceptar uma possível religião fundamental para a humanidade, refletindo a revelação pessoal de Deus nos primórdios, imagine quanto mais poderíamos saber se as grandes bibliotecas da Antiguidade tivessem sobrevivido ao desastre! Um exemplo claro está na destruição da famosa Biblioteca de Alexandria, no Egito, que tinha centenas de milhares de documentos recolhidos em todo o mundo conhecido. Outro triste evento se deu com a ordem do imperador chinês Chin Shih Huang Ti para que todos os livros escritos antes dele fossem destruídos - isso aconteceu em 212 a.C. O conhecimento escrito dos maias também foi quase completamente aniquilado quando os espanhóis puseram os pés em Yucatán.
Fonte: A Incrível Tecnologia dos Antigos, David Hatcher Childress, Aleph, 2013, pgs 18-21.

4 - A mitologia indica um passado comum:
Para finalizar, consideremos as mitologias dos povos antigos: há diversas temáticas e contos comuns em povos do mundo inteiro e de toda a história, como se uma memória coletiva dos primeiros eventos tivesse sido preservada e sido levemente alterada com o tempo. Sobre isso, leia o artigo "As Mitologias Indicam Um Passado Comum?"

Conclusão:
Com base em toda a vasta pesquisa aqui publicada, podemos concluir que a religião só pode ter brotado de uma experiência concreta com o sobrenatural e que provavelmente a religião mais antiga experimentada pela humanidade foi o monoteísmo, persistindo em monolatrias, em tradições comuns espalhadas pelo mundo e nos monoteísmos que conhecemos hoje. Tal antiquíssima, pura e profunda visão religiosa só pode ter sido experimentada pelo ser humano através da revelação do próprio Deus Verdadeiro - eis uma prova poderosa de que Deus existe!

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:
- Origens: A Moralidade Humana
- A Origem do Judaísmo e a Conquista de Canaã
- Primórdios: Autoria da Torá, Idade do Universo e Dilúvio