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O Cânon do Novo Testamento foi Escolhido no Concílio Niceno?

-> Apresentação e Índice
Noutro dia, tomando para ler novamente uma antiga edição da Superinteressante, "Os Maiores Mistérios dos Livros Sagrados", Julho, 2008, Editora Abril, deparei-me, na página 37, com as seguintes declarações: "As igrejas maiores e mais influentes tentavam impor seus textos, o que as menores não aceitavam. (...) A peleja continuou até o século 4, quando tudo indicava que o cristianismo apostólico iria prevalecer sobre os outros cristianismos. (...) Foi quando o imperador de Roma, Constantino, entrou em cena e interveio no impasse. (...) Os cristãos deixaram de ser perseguidos em 313 e apenas 12 anos depois seus bispos foram convocados para o Concílio de Nicéia, primeiro passo dado para a criação do Novo Testamento. (...) os evangelhos de Marcos, Lucas, Mateus e João foram escolhidos (...) por uma razão muito simples: expressavam a visão dominante na Igreja. E todos os demais foram considerados apócrifos, falsos e perigosos para o estabelecimento do novo livro."

Não precisamos nos esforçar muito para perceber alguns dos vários erros históricos contidos nessas alegações da Super, mas, ainda assim, há muita gente que acredita nessa história e que tem tal revista como uma fonte de autoridade no assunto, por isso é importante trabalhamos a questão com alguma profundidade. Comecemos com algumas perguntas, que nortearão o estudo que segue:

- Existiam mesmo vários cristianismos no início da Era Cristã?
- Foi no Concílio de Nicéia que se iniciou a criação do Novo Testamento e a seleção do seu cânon?
- O motivo que determinou a escolha dos livros que hoje compõem o Novo Testamento estava em sua afinidade com a visão teológica dos bispos comandados por Constantino?
- O principal motivo para a rejeição de diversos livros foi o seu potencial de atrapalhar os negócios do imperador?

1 - Existiam mesmo vários cristianismos no início da Era Cristã?
Vamos às evidências arqueológicas: o que temos de mais antigo em termos de cristianismo é o cristianismo apostólico. A confecção dos apócrifos, que vieram a sustentar doutrinas heréticas, é posterior à conclusão do Novo Testamento e há uma porção considerável de livros neotestamentários mais antigos do que qualquer manuscrito ou artefato que indique a existência de "outros cristianismos" - na verdade, as mais antigas referências ao principiar de movimentos heréticos estão no próprio Novo Testamento, como o proto-gnosticismo que aparece na Primeira Epístola de João e o cristianismo judaizante que aparece em Atos e nalgumas epístolas paulinas. Mas nenhum deles precede o cristianismo apostólico. Como já é dito há um bom tempo: a Bíblia é a raiz de todas as heresias, e não o contrário.

Vamos aos fatos: 
- Há quatro fragmentos do evangelho de Marcos que datam, no máximo, da década de 50 d.C., contendo os trechos: 4:28, 6:48, 6:52-53 e 12:17. Há também um fragmento de Atos (27:38) datado da década de 60 d.C.; um de Romanos (5:11-12) da década de 70 d.C.; um de 1 Timóteo (3:16; 4:1-3), da década de 70 d.C.; um de 2 Pedro (1:15) da década de 70 d.C.; e um de Tiago (1:23-24), também da década de 70 d.C. Todos esses fragmentos de manuscrito foram encontrados nas cavernas de Qumran, nas proximidades do Mar Morto, obstruídas e abandonadas na década de 70 d.C.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 49.
- Há um manuscrito do Evangelho de João (18:31-33 e 37 e 38), o Papiro John Rylands, datado do ano 125 d.C. Considerando que o Evangelho de João foi escrito em Éfeso e que tal manuscrito foi desvendado no Egito, devemos esperar, pelo menos, uns vinte anos entre a confecção do original e o espalhar de cópias até terras tão distantes, indicando que esse documento pode ter sido redigido partindo do próprio autógrafo de João. Há ainda outros papiros de grande antiguidade: o Papiro Chester Beatty I, contendo 30 folhas (originalmente 220) e abrangendo partes de Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos, é datado do início do século III; o Papiro Chester Beatty II, contendo 86 folhas (originalmente 104), abrangendo partes de Romanos, Hebreus, 1 e 2 Coríntios, Efésios, Gálatas, Filipenses, Colossenses e 1 e 2 Tessalonicenses, é datado do final do século II ou início do século III; o Papiro Bodmer II abrange todo o Evangelho de João, especialmente os capítulos 1 a 14, que ocupam 104 folhas, com fragmentos dos capítulos 15 a 21 em outras 46, e é datado do final do século II ou do início do século III.
Fonte: Crítica Textual do Novo Testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, 2008, pgs 44-46.
- Segundo Amy Orr-Ewing, com os manuscritos datados de 180-225 d.C., como o Papiro Chester Beatty e o Papiro Bodmer II, XIV e XV, é possível reconstruir de forma completa os Evangelhos de Lucas e João, os livros de Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, Hebreus, parte dos Evangelhos de Mateus e Marcos e parte dos livros de Atos e Apocalipse.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 44.
- Temos algo entre 10 e 15 manuscritos neotestamentários que foram escritos nos primeiros cem anos após a conclusão do Novo Testamento, abrangendo grandes trechos dos Evangelhos e das cartas de Paulo. Em dois séculos, o número aumenta para cerca de quarenta ou mais manuscritos. Até antes do ano 400 d.C., temos em mãos 99 manuscritos neotestamentários, incluindo o Novo Testamento completo encontrado no Códice Sinaítico. Há algo entre 20 e 25 mil manuscritos antigos do Novo Testamento e cerca de um milhão de citações do Novo Testamento da parte dos Pais da Igreja - só com elas é possível reconstruir todo o texto neotestamentário.
Fonte: Origem, Confiabilidade e Significado da Bíblia, organizado por Wayne Grudem, C. John Collins e Thomas R. Schreiner, Vida Nova, 2013, Capítulo 12 por Daniel B. Wallace, pg 113.
- O manuscrito antigo mais importante do Novo Testamento é datado de 300 anos após o texto original, mas há dois papiros importantes que estão 100 anos perto do autógrafo. Segundo John Blanchard, o Papiro John Rylands pode ser datado entre 117 e 138 d.C. Além disso, há três fragmentos de papiro guardados em Oxford que foram datados como sendo do terceiro quarto do primeiro século.
Fonte: Por que Acreditar na Bíblia?, John Blanchard, Fiel, 2006, pg 9.
- A epístola de Clemente aos coríntios (95 d.C.) cita os Evangelhos, Atos, Romanos, 1 Coríntios, Efésios, Tito, Hebreus e 1 Pedro; as cartas de Inácio (115 d.C.) citam Mateus, João, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, 1 e 2 Timóteo e Tito.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 45.
- As epístolas de Clemente, Inácio e Policarpo, datadas de 95 a 110 (ou 115) d.C., citam 25 dos 27 livros do Novo Testamento. Somente Judas e 2 João não foram citados, mas já haviam sido escritas, pois Judas era familiar de Jesus e 3 João foi escrita depois de 2 João.
Fonte: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateus, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, pg 241.
- Existem cerca de 75 fragmentos de papiro datados desde 135 d.C. até o século VIII, contendo partes de 25 dos 27 livros do novo Testamento, totalizando 40% do texto.
Fonte: A Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Mundo Cristão, 2007, pg 1302.

Somente com as epístolas paulinas, escritas até pouco depois da segunda metade da década de 60 d.C., é possível fundamentar toda a teologia cristã ortodoxa, incluindo a divindade de Cristo e a existência da Trindade. As interpretações heréticas vieram desses textos originais. Leia mais sobre o assunto: A Magnífica História da Vida e da Obra de PauloOs Mais Antigos Testemunhos do Novo TestamentoAs Fontes Documentais do Novo Testamento.

A datação dos apócrifos:
- O Evangelho de Maria Madalena: século II d.C..
- O Evangelho de Pedro: século II d.C.
- O Evangelho dos egípcios: segunda metade do século II d.C.
- O Evangelho de Filipe: a partir de 120 d.C.
- O Evangelho de Bartolomeu: entre os séculos II e III d.C.
- O Evangelho de Tomé, o Dídimo: século III d.C.
Fonte: Bíblia Apologética com Apócrifos, ICP, 2014, pgs 860-862.

Com base nas evidências até aqui levantadas, podemos constatar que os documentos canônicos do Novo Testamento, em sua grande maioria, encontram respaldo arqueológico para sua proeminência por sobre os apócrifos, indicando constituírem a primeira percepção completa do cristianismo. É claro que interpretações errôneas de alguns aspectos da fé cristã podem ter surgido ainda no período apostólico, mas não podemos dizer que já existiam "diferentes cristianismos" nesse período, cosmovisões cristãs singulares e coesas para além da principal. Além disso, tais interpretações se limitavam a indivíduos e pequenos grupos, geralmente se isolando em comunidades específicas, o que destoa totalmente da visão genuína da fé cristã, extraída diretamente das obras apostólicas, que era crida pela grande maioria dos cristãos de todas as regiões onde havia presença cristã. E isso não foi imposição dos apóstolos, de forma alguma: a Igreja, no início da Era Cristã, não tinha força política, econômica e numérica para impor qualquer coisa, tanto que, num primeiro momento, não conseguiu impedir que grupos minoritários disseminassem heresias. Se havia a proeminência de uma visão cristã, a mais antiga, é porque a maioria dos cristãos concordava livre e sinceramente com a autoridade e o testemunho dos apóstolos e porque muitos dos primeiros missionários cristãos foram testemunhas oculares do ministério de Cristo, sabendo com clareza aquilo que Jesus realmente disse e quem Ele foi.

Repare que os fragmentos mais antigos que temos, de Marcos, João, Atos, Romanos e doutras epístolas de Paulo, de Pedro e de Tiago, além de outros autores neotestamentários, sustentam basicamente todo o Novo Testamento: em Marcos é possível encontrar o essencial sobre Cristo, incluindo alusões à Sua divindade, assim como nas obras de Paulo, que concentram o fundamental da teologia cristã. Mas é no texto de João que encontramos aquilo que de mais profundo há em termos de cristologia, com indicações diretas da eternidade e da divindade de Cristo. Também é interessante notar que há uma comunicação entre os autores de alguns desses documentos, como ocorre quando Pedro considera os escritos paulinos como "escritura", ou seja, como "divinamente inspirados" (2 Pedro 3:16). Além disso, há evidências claríssimas de que Mateus e Lucas utilizaram Marcos como base para a confecção de seus evangelhos, o que evidencia uma concordância de testemunho entre os evangelistas mais antigos, destoando daquilo que aparece nos apócrifos, posteriores e mais míticos. Há uma inquestionável unanimidade de pensamento entre - e exclusivamente - os documentos neotestamentários tidos como canônicos.

Ao ler o artigo "Uma Análise das Evidências Extra-Bíblicas sobre Jesus", perceba como os testemunhos pagãos e judaicos acerca de Cristo geralmente apontam para aspectos da visão ortodoxa acerca de Cristo, como, por exemplo, a Sua vinda em carne e a Sua morte na Cruz, a Sua ressurreição dos mortos, a Sua sabedoria, o fato de realizar sinais e milagres e o fato de Seus discípulos o considerarem salvador e Deus. Esses antiquíssimos testemunhos nos ajudam a interceptar a visão mais antiga e disseminada de cristianismo no início da Era Cristã, de modo a ser a mais bem, ou talvez a única, conhecida pelos não cristãos. Esses relatos não concordam com as perspectivas heréticas que ganharam força do século II em diante.

2 - Foi no Concílio de Nicéia que se iniciou a criação do Novo Testamento e a seleção do seu cânon?
Depois de trabalhado o assunto do tópico anterior, a resposta para essa pergunta é óbvia. É claro que o Novo Testamento já estava devidamente estabelecido e consolidado antes do Concílio Niceno, havendo evidente e especial interesse da parte dos cristãos para com os livros considerados canônicos. É interessante perceber que NÃO FOI no Concílio Niceno que a configuração atual do cânon neotestamentário começou a ser cogitada, segundo os interesses de Constantino - esse era um debate de séculos, dos tempos nos quais a Igreja não tinha poder político e numérico para impor qualquer coisa tanto a hereges quanto a pagãos.

A verdade é que não foi nem no Concílio Niceno que os 27 livros do cânon Novo Testamento foram oficializados, mas no Concílio de Cartago, em 397 d.C., sem a tutela de Constantino. Só que isso não significa que já não havia uma discussão anterior sobre o assunto. A diferença é que nos primeiros concílios a Igreja não estava mais sendo perseguida, podendo reunir-se com tempo e em grupos numerosos de discussão, além disso, nesses concílios o que se fez foi apenas oficializar o conjunto dos livros neotestamentários, não significando que esses livros não tenham sido reconhecidos como canônicos separadamente antes desses grandes encontros (2 Pe 3:16; 1 Tm 5:18). O fato é que a maioria dos livros do Novo Testamento foi aceita como canônica no século posterior ao dos apóstolos - houve alguma controvérsia quanto aos livros Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas. A seleção do cânon foi um processo que continuou por séculos até que cada livro provasse seu valor, concordando com os critérios de autenticidade, que são:

- Se o livro foi escrito ou influenciado por algum apóstolo.
- Se o livro desse uma prova intrínseca de seu caráter peculiar, inspirado e aprovado por Deus. O material deveria apresentar algo diferente de qualquer outro livro ao transmitir a revelação de Deus.
- O consenso entre as igrejas. O livro deveria ser reconhecido e utilizado pela grande maioria das igrejas cristãs - e, de fato, houve grande consenso entre as primeiras igrejas sobre quais livros mereciam um lugar no cânon. Nenhum livro cuja autenticidade foi questionada por um número expressivo de igrejas entrou no cânon.
Fonte: A Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Mundo Cristão, 2007, pg 1301.

Um resumo do debate sobre o cânon neotestamentário:
Não há uma forma simples de explicar a formação do cânon neotestamentário. Mesmo que as heresias tenham levado os cristãos a selecionar os livros canônicos, elas não foram a única força motivadora. Mediante a perseguição, os cristãos tinham a necessidade de saber por quais livros estariam morrendo, quais deveriam ser postos à disposição das autoridades imperiais e, além disso, era da maior importância definir com clareza quais documentos poderiam ser usados nas igrejas e para a edificação pessoal - esse desejo se intensificou quando os apóstolos começaram a morrer.
Fonte: Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, pg 36.

É fato que foram os líderes cristãos que oficializaram o cânon, mas não foram eles os maiores responsáveis pela resolução da questão. O que eles fizeram foi apenas oficializar uma decisão que a Igreja já havia tomado de forma gradual. Esse processo de escolha começou com a leitura de litúrgica de textos de pessoas próximas a Jesus - os apóstolos e os discípulos dos apóstolos -, ao lado da proclamação das Escrituras judaicas. Os escritos mais respeitados, que se alinhavam aos ensinamentos mais tradicionais da Igreja e que eram mais úteis para a igreja local, acabaram sendo os mais lidos - ou seja, as tradições herdadas ajudaram a selecionar os textos, não tendo sido os textos os responsáveis pelas primeiras tradições.

No início do terceiro século, Orígenes fez uma pesquisa entre as igrejas cristãs para saber quais livros elas estavam usando. Como resultado de seu trabalho, Orígenes formulou uma lista com três grupos de livros: os livros aceitos, os questionados e os não confiáveis. Os amplamente aceitos eram: os quatro Evangelhos, as 13 Cartas de Paulo, Atos, 1 Pedro, 1 João e Apocalipse; os questionados eram outros seis livros que completam o NT: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas; aqueles que a maioria das igrejas tinha como não confiáveis eram: o Evangelho de Tomé, o Evangelho dos Egípcios e o Evangelho de Matias.
Fonte: A Bíblia e Sua História, Stephen M. Miller e Robert V. Huber, SBB, 2006, pg 94.

Segundo F. F. Bruce, "os livros do Novo Testamento não se tornaram escritos revestidos de autoridade para a Igreja porque foram formalmente incluídos em uma lista canônica; pelo contrário, a Igreja incluiu-os no cânon porque já os considerava divinamente inspirados, reconhecendo neles o valor inato e, em geral, a autoridade apostólica, direta ou indireta." Sobre os primeiros concílios canônicos, que se realizaram no Norte da África, em Hipona Régia (393 d.C.) e em Cartago (397 d.C.), Bruce afirma que eles "não objetivavam impor algo novo às comunidades cristãs, pelo contrário, o intuito era sistematizar o que já era uma prática comum."
Fonte: Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, pg 36.

- Clemente de Roma, 96 d.C.: demonstra conhecer Mateus, Romanos, 1 Coríntios e Hebreus.
- Inácio, de Antioquia (116 d.C.), Policarpo, de Esmirna (69-155 d.C.), e Papias, de Hierápolis (80-155 d.C.), atestaram Mateus, João, as epístolas paulinas, 1 Pedro, 1 João e Atos.
- O Didaquê, 120 d.C.: destaca Mateus e conhece a maioria dos livros do NT.
- Justino Mártir, 100-165 d.C.: atestou Apocalipse, Hebreus e Marcos.
- Marcião, 140 d.C.: o heresiarca em questão reconheceu Lucas e dez epístolas de Paulo.
- Hermas, 150 d.C.: autentica Mateus, Efésios, Apocalipse e, aparentemente, Hebreus e Tiago.
- Teófilo de Antioquia, 115-188 d.C.: adotou a maior parte dos livros do NT.
- Clemente de Alexandria, 155-215 d.C.: aceitou todos os livros do NT.
- Melito, de Sardes, 170 d.C.: citou trechos de todos os livros do NT, exceto Tiago, Judas e 2 e 3 João.
- Vulgata Latina, antes de 170 d.C.: atesta todos os livros do NT, menos Tiago e 2 Pedro. Hebreus foi acrescentada antes dos tempos de Tertuliano.
- O Fragmento Muratoriano, 172 d.C.: autentica os quatro Evangelhos, Atos, nove epístolas de Paulo às igrejas e quatro pessoais, as cartas de Judas, 1 e 2 Pedro e 1 e 2 João e Apocalipse. Acrescenta o Pastor de Hermas, mas observa que, embora seja um livro digno de ser lido nas igrejas, não possui a mesma autoridade que os canônicos.
- Irineu, 140-203 d.C.: o discípulo de Policarpo, que fora discípulo de João, reconheceu os quatro Evangelhos, Atos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, 1 Pedro, 1 João e Apocalipse.
- Tertuliano, 150-222 d.C.: atesta os quatro Evangelhos, treze epístolas paulinas, Atos, 1 Pedro, 1 João, Judas e Apocalipse. Rejeitou Hebreus por acreditar que o autor era Barnabé.
- Orígenes de Alexandria, 185-253 d.C.: aceitou, inclusive, os livros que eram mais contestados, como Hebreus, 2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago, Judas e Apocalipse.
- Cipriano, 200-258 d.C.: não atestou Hebreus e não citou Filemom, Tiago, 2 e 3 João e Judas.
- Dionísio de Alexandria, 200-265 d.C.: autenticou Hebreus e reconheceu Apocalipse, Tiago e 2 e 3 João.
- Papiros de Chester Beatty, século III: autenticam os quatro evangelhos, Atos, as epístolas paulinas, Hebreus e Apocalipse.
- Atanásio de Alexandria, 298-373 d.C.: considerou canônicos os 27 livros que hoje compõem o NT.
- Basílio da Capadócia, 329-378 d.C., e Gregório de Nazianzo, 330-390 d.C., reconhecerem todos os livros do NT, menos Apocalipse, mesmo tendo-o citado como obra de João.
- Jerônimo, 340-420 d.C.: atestou todos os livros do NT.
- João Crisóstomo, 347-407 d.C.: aceitou todos os livros do NT, menos 2 Pedro, 2 e 3 João e Apocalipse.
- Teodoro de Mopsuéstia, 350-428 d.C.: rejeitou as epístolas universais e Apocalipse, seguindo o Cânon de Constantinopla.
- Agostinho, 354-430 d.C.: aceitou todos os livros, inclusive os 7 que eram questionados.
- A Peshita, 411-435 d.C.: também seguiu o Cânon de Constantinopla.
- Os Concílios: a delimitação do cânon do NT não foi obra dos concílios, mas do valor intrínseco de cada livro. O Terceiro Concílio de Cartago, 397 d.C.: a primeira decisão oficial sobre o cânon, determinando que só os livros canônicos poderiam ser lidos nas igrejas - atestou os 27 do NT atual. O Concílio de Hipona (420 d.C.), confirmou o de Cartago. A seleção do cânon foi, portanto, um processo espontâneo que se desenrolou na Igreja ao longo dos séculos, até que cada livro fosse autenticado.

"O cânon do NT formou-se espontaneamente, e não pela ação dos concílios da igreja. A inspiração e a autoridade intrínseca foram os fatores determinantes em seu reconhecimento e efetiva canonização. Em 200 d.C., o NT já continha essencialmente os mesmos livros que temos hoje. (...) Antes do final do século III, praticamente todos os livros extracanônicos já haviam sido expurgados das listas autorizadas. (...) Durante o século IV, praticamente cessou no Ocidente o debate sobre as questões do status canônico de determinados livros, isso graças à influência de Jerônimo e de Agostinho."
Fonte: Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, Vida Nova, 2006, pgs 709-714.

3 - O motivo que determinou a escolha dos livros que hoje compõem o Novo Testamento estava em sua afinidade com a visão teológica dos bispos comandados por Constantino?
Como vimos, as motivações que levantaram o debate sobre os livros que deveriam ser incluídos no cânon foram a necessidade de saber quais documentos poderiam ser usados nas igrejas, qual material deveria ser apresentado às autoridades romanas, por quais livros os cristãos estavam morrendo e para combater as heresias, que vieram depois do cristianismo ortodoxo. A escolha desses livros precedeu o tempo de Constantino e foi concluída depois de sua morte. Os critérios de escolha não eram essencialmente as afinidades teológicas do material com o interesse dos bispos, pois muitos livros teologicamente viáveis, como o Pastor de Hermas, 1 e 2 Clemente, o Didaquê e a Epístola de Barnabé, e alguns politicamente interessantes, como Atos de Pilatos, que poderia angariar mais aceitação dos romanos, foram excluídos do cânon simplesmente por não concordarem com os critérios de autenticidade anteriormente trabalhados. A questão não era estritamente ideológica, mas centrava-se também em coerência histórica.

4 - O principal motivo para a rejeição de diversos livros foi o seu potencial de atrapalhar os negócios do imperador?
Conforme vimos, os livros que ficaram de fora do cânon passaram por um criterioso filtro e diversas obras com grande potencial de edificação, que concordavam com a teologia ortodoxa, também foram excluídas. Isso já é suficiente para evidenciar que os livros descartados do cânon não eram somente os "inconvenientes". A verdade é que, por ocasião do uso dos critérios de autenticação, até livros considerados inconvenientes por muitos séculos foram inclusos, como Hebreus e Tiago. A questão, portanto, não está em conveniência ou inconveniência, mas no resultado das observações, muitas delas imparciais, que cristãos de vários séculos fizeram acerca do material neotestamentário.

A verdade é que os livros excluídos por seu conteúdo eram tardios demais, não tinham autoria apostólica ou associação com algum apóstolo, não apresentavam coerência com os livros já considerados, não traziam aspectos teológicos significativos, nunca foram aceitos por uma parte significativa da Igreja e se mostravam como nada mais do que leituras piedosas e, muitas vezes, fictícias, cuja inautenticidade era facilmente reconhecida pela leitura do material e pela comparação com os livros mais prestigiados. Além disso, havia uma tradição muito mais forte, com muito mais evidências documentais, para os 27 livros que hoje compõem o NT.

O testemunho de Eusébio de Cesaréia, 263-340 d.C.:
"(...) entre os primeiros, deve ser colocada a santa tétrade dos Evangelhos; esses são seguidos pelo Livro de Atos dos Apóstolos; depois deste deve-se mencionar as epístolas de Paulo, as quais são seguidas pelas reconhecidas primeira Epístola de João, bem como a primeira de Pedro, a ser de igual modo aceita. Após esses, devem ser colocados (...) o Apocalipse de João (...). Esses, portanto, são reconhecidos como genuínos. Entre os livros questionados, (...) ainda que sejam aproveitados por muitos, são reputados aquele chamado Epístola de Tiago e de Judas. Também a Segunda Epístola de Pedro e os chamados a Segunda e a Terceira de João (...). Entre os espúrios devem ser alistados ambos os livros chamados Atos de Paulo e aquele chamado Pastor e o Apocalipse de Pedro. Além desses, os livros chamados a Epístola de Barnabé e as chamadas Instituições dos Apóstolos.
(...)
Assim, teremos condições de conhecer esses livros e os citados pelos hereges sob o nome dos apóstolos (...) o caráter e o estilo em si [dos apócrifos] é muito diferente do dos apóstolos, e os sentimentos, e o propósito dessas coisas que são neles apresentadas, desviando-se ao máximo da ortodoxia sadia, provam evidentemente seres ficções de homens heréticos".
Fonte: História Eclesiástica, Eusébio de Cesaréia, CPAD, 2000, pgs 103-104 (Livro 3, capítulo XXV).

Conclusão: tornou-se óbvio que o debate sobre o cânon do Novo Testamento existiu desde as primeiras décadas da Era Cristã e que não foi o Concílio de Nicéia que oficializou o cânon neotestamentário - foram outros, como o de Cartago. Na verdade, os próprios cristãos, natural e universalmente, é que reconheceram os 27 livros que constituem o NT atual, que os concílios apenas promulgaram. Vale notar que as maiores influências para a diminuição dos debates acerca dos documentos neotestamentários foram autoridades cristãs, como Jerônimo e Agostinho, e não imperadores como Constantino ou, mesmo, os concílios.

Não esqueça que livros que teriam sido muito úteis para a Igreja foram retirados do cânon, como o Pastor de Hermas, e que livros com potencial de gerar complicações foram incluídos, como Hebreus e Tiago.

A Superinteressante, definitivamente, foi infeliz em suas declarações.

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:
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Os Mais Antigos Testemunhos da Divindade de Cristo

Algumas das mais mirabolantes teorias (quase conspiratórias) sobre Cristo é a que afirma que o Império Romano, na pessoa de Constantino, foi o responsável por inventar Jesus ou, pelo menos, cobrir uma obscura figura histórica de mitos favoráveis ao imperador, estando a divindade de Cristo entre eles. Tal teoria sugere que os cristãos não tinham Jesus como Deus antes de Constantino, sendo este mais um famoso curandeiro e sábio cínico. Sobre as suposições anti-históricas de que Cristo foi apenas um sábio ou curandeiro, falarei noutro artigo, cabendo aqui apenas mostrar que havia uma crença na divindade do Messias anterior ao Credo Niceno, de 325 d.C.

1 – A datação dos Evangelhos:
Gary Habermas, J. P. Moreland e Craig Bloomberg, um grupo de apologistas modernos letrados e assertivos, nos oferecem satisfatórias evidências de que os Evangelhos, especialmente os sinóticos, tenham sido escritos, no máximo, até 60 d.C. Para tal, eles apresentam uma tripla omissão que é verificável em todos os livros do Novo Testamento: Atos não menciona a destruição de Jerusalém (70 d.C.), a perseguição de Nero aos cristãos após o grande incêndio de Roma (64 d.C.) e o martírio de Pedro e Paulo (65 d.C. ou antes). Tais eventos foram da maior importância histórica para a Igreja Primitiva – a profética destruição da cidade onde Cristo foi crucificado, estimulando o espalhar dos cristãos e uma maior cisão entre o cristianismo e o judaísmo, a ferrenha perseguição de Nero e a morte dos principais líderes do período necessariamente apareceriam em Atos dos Apóstolos, caso este documento tivesse sido redigido posteriormente. Como Lucas e Atos configuram um único registro disposto em ordem, o Evangelho de Lucas teve que ser escrito antes de Atos – o segundo foi escrito em 64 ou até 62 d.C. e o primeiro, provavelmente, em 60 d.C.

É sabido que o Evangelho de Marcos serviu de fonte para Lucas e isso torna provável que tal documento tenha sido redigido em meados dos anos 50 d.C. – é certo que não foi escrito após 60 d.C. Marcos, cuja redação se deu entre 25 e 30 anos após a crucificação, surgiu, no máximo, uma geração depois dos eventos que descreve – centenas, ou milhares, de testemunhas da verdade dos fatos ocorridos na Palestina ainda estavam vivas para concordar com o texto em circulação ou, se fosse o caso, apontar seus erros. Nem os judeus da classe sacerdotal, muitos desejosos por acabar com a mensagem cristã, conseguiram apontar erros históricos em documentos como Marcos, sendo que eles também foram testemunhas. Como o povo de Jerusalém, que, por exemplo, viu a morte de Cristo e presenciou muitas de suas ações e mensagens, acreditaria num relato mentiroso escrito duas ou três décadas depois dos eventos? Os inimigos do cristianismo do período jamais questionaram a historicidade de Cristo, alegando que, na verdade, os milagres eram realizados por intervenções demoníacas – muitos nem questionam a ressurreição, sugerindo que a mesma se deu por encantamento.

2 – Uma Igreja incapaz de impor e censurar:
Sabemos que existia Igreja antes de Constantino e sabemos que essa Igreja acreditava em Cristo. Mas tal era uma Igreja relativamente pequena, principalmente nas primeiras décadas, e mais preocupada em sobreviver do que em se impor. Os cristãos não tinham força para disseminar pelo Império Romano uma mensagem inventada, forçando-o a aceitá-la – como alguns estudiosos afirmam sobre clérigos malévolos e sedentos por poder. Perseguida, dispersa e ameaçada, a Igreja não tinha poder para sustentar uma descarada mentira. Na verdade, os evangelistas nem poderiam sê-lo se tivessem sede de poder: as únicas coisas que os cristãos encontraram com a insistência em pregar Cristo e Sua divindade foram a tortura, a perseguição, diversas privações sociais e a própria morte. Geralmente as pessoas mentem quando desejam obter, com isso, algum privilégio: que benefício os primeiros cristãos encontraram? Que lucro teve Paulo, que jogou fora todo o seu prestígio na comunidade judaica, como aluno de Gamaliel e perseguidor dos cristãos, ao lançar-se nos braços de Cristo? A única coisa que encontrou foi uma morte, em semelhança com o que aconteceu com aquele sobre quem pregava. Paulo foi decapitado e todos os demais discípulos e apóstolos, com exceção de João, encontraram destino semelhante. 

3 – A veracidade da Mensagem:
Josh McDowell, Lee Strobel e outros apologistas argumentam que as provas apresentadas nos Evangelhos seriam aceitas em qualquer tribunal da Terra. Um dos pontos mais interessantes dessa argumentação está no fato de que temos testemunhas (os evangelistas) que corroboram umas com as outras, sugerindo a veracidade dos fatos relatados, mas que não são tão exatamente idênticas para sugerir uma conspiração. Pessoas diferentes escreveram coisas parecidas, mas em lugares distantes e momentos particulares – os apóstolos não se reuniram num comitê para, nalguns dias, produzirem um evangelho unificado. Como já falado, até os inimigos da fé acabaram contribuindo, já que não negam a ocorrência dos fatos da vida de Jesus, mas consideram-no blasfemo, insano ou possesso.

Qualquer sugestão de que os Evangelhos estão repletos de mitos formulados ao longo das gerações cai por terra quando concebemos que sua redação se deu até, no máximo, o ano 60 d.C., quando já estavam em circulação, pois uma geração entre o evento e a redação não é tempo suficiente para a inserção de conteúdos lendários. No mínimo três gerações são necessárias para que isso aconteça – podemos perceber isso com os relatos mais míticos dos apócrifos neotestamentários, escritos do Século II em diante.

A verdade é que os Evangelhos demonstram que brotado das penas de indivíduos sóbrios e antissensacionalistas – isso fica evidente quando o apóstolo João fez questão de desmentir um falso (lendário) rumor de que Jesus teria dito ao evangelista que ele não morreria até o Seu retorno (Jo 21:23). Os redatores do Novo Testamento se mantiveram fiéis a detalhes que só lhes trouxeram prejuízo ou que enfatizavam a resistência do povo e dos religiosos a Jesus. Fatos embaraçosos e até difíceis de explicar foram preservados.  

4 – As mais antigas declarações da divindade de Cristo:
As cartas de Paulo, muitas escritas antes dos Evangelhos, pelo menos dos sinóticos, já que ele morreu, no máximo, em 65 d.C., trazem fortíssimas declarações da divindade de Cristo, como Filipenses 2:5-11 e Colossenses 1:15-20. O detalhe mais espantoso desses trechos é que eles se parecem com antigos hinos da Igreja Primitiva, aprendidos por Paulo quando este visitou Jerusalém no final dos anos 30, menos de uma década depois da morte e ressurreição de Jesus. O prólogo poético de João também soa como um hino da Igreja Primitiva sobre a divindade de Cristo – Jo 1:1-5. Nem o maior dos profetas do Antigo Testamento é descrito nesses termos. Temos aqui um conjunto de declarações do Primeiro Século sobre o Messias como sendo o próprio Deus!

Além dessas passagens, também temos antigas declarações extra-bíblicas sobre a divindade de Cristo, como ocorre nas primeiras cartas de Clemente (96 d.C.) e Inácio (100 d.C.) e nos escritos de Justino e Irineu, no Segundo Século.

5 – O Concílio de Nicéia:
O Concílio de Nicéia, ocorrido em 325 d.C., atesta, de fato, a divindade de Cristo, mas o que ele fez não foi inovar, apenas confirmar um ensino ortodoxo de longa data. Era necessário emitir um credo oficial sobre a doutrina da Igreja, particularmente a doutrina da encarnação, já entendida pela maioria dos cristãos há muito tempo. Tal credo foi formulado também como resposta ao desenvolvimento de ensinos heréticos, especialmente aqueles que questionavam a humanidade ou a divindade de Jesus, como o arianismo, o gnosticismo e o docetismo.

Uma prova de que o Concílio de Nicéia, através do Credo Niceno, apenas tornou mais claro aquilo que os cristãos anteriores já concebiam, está no credo batismal de 150 d.C., que diz: "Creio em Deus, o Pai, e em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor, nascido do Espírito Santo e da virgem Maria, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos e sepultado, ressuscitou no terceiro dia de entre os mortos, subiu aos céus, está assentado à direita do Pai, de onde virá para julgar os vivos e mortos; E no Espírito Santo, a santa Igreja, a remissão dos pecados, a ressurreição da carne."

Conclusão: é impossível que Cristo e o cristianismo tenham sido inventados pelos romanos depois de 70 d.C. ou depois de 325 d.C., já que temos diversas evidências sobre os cristãos e a vida de Cristo datadas até mesmo da década de Sua morte e ressurreição. Não havia força e nem motivação para que os cristãos mentissem e impusessem tal mentira. Também é impossível que a divindade de Jesus tenha sido inventada e forçada pelo Império Romano por advento do Concílio de Nicéia, uma vez que há fortíssimas declarações da divindade de Cristo já dos anos 30 d.C. e que o Concílio de Nicéia tenha sido conclamado apenas para oficializar um entendimento cristão anterior.

Uma palavrinha aos que sugerem que o cristianismo foi forjado pelos romanos depois de 70 d.C.: é impossível encontrar uma resposta para as menções aos cristãos e ao Messias de antes dessa data e não há como explicar os motivos que levaram o Império Romano a perseguir tão ferozmente a religião que eles mesmos inventaram. Por qual motivo o Imperador iria sugerir a criação de algo que feria a própria ideia que sustentava o seu trono, sobre o fato de ele, o dirigente de Roma, ser descendente dos filhos dos deuses e merecidamente digno de adoração? Tal sugestão seria absurda, pois, de fato, levou muitos cristãos a evitar o culto ao imperador, a negar o serviço militar e ao afastamento dos costumes romanos, sendo interpretados como inimigos do pensamento, da religião, da cultura e do Imperador romano. Apaziguar os judeus, sempre transtornados com o domínio romano da Palestina, através de uma mensagem de amor, também não parece válido: depois de 70 d.C. não havia motivo para ter nos judeus uma ameaça digna de tal maquinação que, no máximo, os manteria distantes do culto ao Imperador. Inventar e inserir o cristianismo na Palestina para suprimir pequenos distúrbios em cidades de fora da região também não me parece uma alegação satisfatória.

Fonte: Apologética Cristã Para o Século XXI, Louis Markos, Ph.D., Central Gospel, 2013, pgs 186-189 e 223-225; O Jesus Fabricado, Craig Evans, Cultura Cristã, 2009, pg 94; Mosaico Teológico, Rodrigo Bibo de Aquino, Alexander Stahlhoefer, Maurício Machado e Alexandre Milhoranza, BTbooks, 2013, pg 12

Natanael Pedro Castoldi

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Os Evangelhos - Autoria, Data e Confiabilidade

Os críticos sempre se focam mais nas porções iniciais do Antigo e do Novo Testamento, pois se derrubarem os fundamentos, não precisarão se deter no restante do material. Das porções da Bíblia, sem dúvida o Pentateuco e os Evangelhos são as mais atacadas, sendo também as mais importantes e poderosas. O Pentateuco recebeu sua defesa nas postagens "O Antigo Testamento Originou-se de Religiões Pagãs?" e "Merece Confiança o Antigo Testamento?", restando iniciar uma empreitada em prol dos Evangelhos. Assisti e li diversos materiais de contestação do Novo Testamento, alguns alegando que os Evangelhos foram escritos tardiamente, outros que os primeiros Evangelhos, Mateus, Marcos e Lucas, assim como as Cartas Paulinas, não apresentam nenhuma declaração explícita sobre a divindade de Cristo, sendo João o fruto do "intensificar do mito messiânico", alguns afirmando que o material neotestamentário foi forjado em Roma com objetivos de controle e enriquecimento, alguns mais loucos bradando que a Bíblia foi uma invenção medieval e que Jesus nunca existiu, um certo número falando que a ideia de "Jesus" foi copiada de mitos mediterrânicos e, por fim, outros afirmando que houve uma corrupção incalculável do material do Novo Testamento ao longo do tempo. Pretendo, embora a correria de final e início de ano me impossibilite, escrever uma série de artigos sobre essas questões, a começar por hoje. Se o leitor tiver interesse em introduzir os assuntos que trabalharei com mais ênfase futuramente, pode ler os seguintes artigos: A Idade dos Manuscritos da BíbliaO Número de Manuscritos da BíbliaA Preservação do Texto BíblicoComo o Novo Testamento foi Escrito?Como o Cânon das Escrituras foi Escolhido?Jesus Realmente Existiu? Fontes SecularesCristo Realmente Morreu? Fontes SecularesExistem Evidências da Ressurreição de Cristo?Sobre os Primeiros CristãosJesus e Agbaro: Uma Troca de Cartas?Posso Confiar no Texto Bíblico Atual?

- Mateus:
Autoria: a designação "O Evangelho Segundo Mateus" aparece pela primeiramente por volta do início do Século II. Irineu, bispo de Lyon, considerou esse evangelho como de autoria de Mateus, o apóstolo, por volta de 180 d.C., afirmando que "Mateus publicou também um evangelho entre os hebreus em seu próprio dialeto, enquanto Pedro e Paulo pregavam em Roma e punham os fundamentos da Igreja". Aparentemente Irineu obteve tal conhecimento das afirmações de Papias, um bispo da Ásia Menor, que escreveu por volta de 130 d.C. Fica claro que a Igreja Primitiva tinha como unânime que Mateus foi o primeiro a escrever o Evangelho - desde tempos remotos Mateus é considerado o autor dessa obra.

No Século IV, Eusébio, historiador da Igreja, declara que Papias escreveu que "Mateus organizou as palavras de Jesus em hebraico e aramaico e as interpretou da melhor forma que pôde", ou "Mateus colecionou os oráculos [logia] no idioma hebraico [hebraidi dialekto]". A possibilidade levantada por tal dizer causou grande discussão, dando a entender que Mateus foi apenas um organizador do material disponível, escrito originalmente em hebraico e posteriormente copiado para o grego, mas uma interpretação correta dessa afirmação sugere outra coisa: Logia provavelmente significa "um evangelho" e hebraidi dialekto pode sugerir algo como "no estilo judaico", não no "idioma judaico". Desse modo, "Mateus escreveu um evangelho no estilo judaico", tendo, portanto, feito-o segundo o grego que hoje dispomos nos manuscritos antigos - não temos nenhum vestígio de um original aramaico, a linguagem do evangelho não dá nenhuma evidência de ter sido uma tradução grega e fruto de tradições misturadas, conforme se pode extrair da afirmação de Papias. Isso dificilmente resultaria num grego tão bom quanto o apresentado por Mateus. Mesmo assim, é possível que Mateus tenha escrito, separadamente, duas versões do seu evangelho, uma em aramaico e hebraico e outra em grego, devido à demanda das igrejas gentílicas e, como as igrejas dos gentios rapidamente superaram em termos de número e importância, foi inevitável a supremacia da versão grega e o abandono da aramaica e hebraica - até porque os próprios judeus palestinos falavam o grego comum, koiné.

Jerônimo, tradutor da Bíblia em latim por volta de 380 d.C., insistiu que teve acesso ao documento hebraico original de Mateus, que estava sob a posse dos nazarenos, uma seita judaico-cristã.

Tendo em vista que Mateus era um discípulo obscuro, sendo pouco citado nas Escrituras, não há razões para que um farsante desejasse usar o seu nome como autógrafo para um falso evangelho, até porque, como publicano, Mateus não era o tipo mais agradável de gente. Existem, ainda, evidências claras de que esse documento foi escrito por alguém que lidava muito com dinheiro, já que na discussão sobre os tributos, Mt 22:19, o autor usa o termo técnico "nomisma" para para falar da moeda, enquanto a palavra mais comum era "denarion", usada por Marcos e Lucas (Mc 12:15 e Lc 20:24) - tal singularidade combina bem com a profissão de Mateus, que fora cobrador de impostos.

Muitos questionam a validade de Mateus, sendo que o documento evidentemente tomou como base quase a totalidade do evangelho de Marcos, mas não podemos ignorar a possibilidade de que Mateus achou o texto de Marcos tão preciso e coerente com a sua própria lembrança, que achou pertinente utilizá-lo como parâmetro.

Data: conforme Irineu relatou, a redação de Mateus foi tida nos tempos de Nero, "enquanto Paulo e Pedro estavam em Roma", indicando que existiram versões desse evangelho, pelo menos, na década de 60 d.C. É improvável que o livro tenha sido escrito depois de 70 d.C., já que a profecia de Mt 24:1-28, sobre a queda de Jerusalém, é apresentada como um fato ainda não consumado - e, se tal evento já tivesse ocorrido, Mateus claramente aproveitaria a oportunidade para engrandecer Cristo através do sucesso da predição. O fato é que as palavras de Cristo (Mt 22:7; 24:15) são tão genéricas que poderiam ser facilmente interpretadas como indicando nenhuma espécie de conhecimento da destruição de Jerusalém. Devemos considerar que alguns episódios de Mateus estão intimamente ligados à perspectiva de antes da queda da cidade, como a discussão a respeito do imposto no Templo, Mt 17:24-27, o que exigiria, no mínimo, um cometário de esclarecimento e contextualização por parte do autor caso a obra fosse posterior.
Como Inácio citou Mateus por volta de 110 d.C. (talvez 15 anos antes, em I Clemente), é improvável que o documento tenha sido redigido muito depois de 90 d.C. Há, portanto, boas razões para crer que Mateus tenha sido escrito entre 50 e 60 d.C., o que combina com a percepção de muitos estudiosos.

A divindade de Cristo: se Mateus foi escrito antes de 70 d.C., temos uma distância de, no máximo, quatro décadas entre a morte e ressurreição do Messias e a confecção desse documento. Dentro dos padrões antigos, tal distância entre o evento e a escrita é absurdamente pequena, havendo, geralmente, um afastamento de séculos entre o ocorrido e o pincelar do evento da parte do historiador. Se Mateus, sendo tão antigo, apresenta com clareza a divindade de Cristo, não havendo tido tempo para uma deturpação mítica típica, então vemos que não houve uma mudança de mentalidade até a produção do Evangelho de João, mas apenas um amadurecimento de ideias. As maiores evidências da divindade explícita de Jesus em Mateus são os seus milagres relatados, como: cura de doenças, entre as quais a lepra, a paralisia, a febre, o fluxo de sangue e a cegueira (8:1-17; 9:2-8, 20-22, 27-31), a expulsão de demônios (8:28-34; 9:32-34) e o controle da natureza e da morte (8:23-27; 9:18 e 23-26). Jesus transcende a Lei, o que está acima do direito de qualquer autoridade humana (5:21-22) - o critério de justiça apresentado por Cristo está em ouvir e praticar os Seus ensinos (7:23-24). Nas suas parábolas, Jesus aparece como um soberano da terra, não um reformador judaico! Além das declarações messiânicas evidentes, Jesus aplica a si próprio o título de Filho do Homem (26:64), que em Daniel 7:13-14 era aplicado a um ser celestial, e quando, no capítulo 14, verso 27, Jesus afirma “Sou eu”, a construção original sugere a expressão “Eu Sou”, a forma como Deus se apresentou a Moisés em Êxodo 3:14. Mateus 1:23 chama Cristo de Emanuel, que significa "Deus conosco", evidenciando os ares divinos do Messias.
- Marcos:
Autoria: os mais antigos manuscritos gregos existentes que incluem o título "Segundo Marcos" vêm do Século III, embora seja provável que tal título tenha sido acrescentado quando os evangelhos foram coletados pela primeira vez, entre 100 e 130 d.C. Papias é o responsável pela mais antiga menção a Marcos como o autor desse evangelho, isso por volta de 130 d.C. Eusébio, o historiador da igreja, citou as palavras de Papias, que disse que Marcos, como seguidor de Pedro, registrou histórias sobre Jesus que Pedro usou em sua pregação e que, embora não na ordem apropriada, essas histórias eram precisas. Papias afirmava ter recebido tal tradição de alguém que denominava como "ancião", que era, provavelmente, o apóstolo João. É improvável que Papias, ou quem quer que seja, tivesse inventado que o autor desse evangelho foi Marcos, uma vez que tal figura é bastante obscura - teria sido mais fácil indicar diretamente Pedro ou, pelo menos, Silas, mencionado em 1 Pedro 5:12 como secretário de Pedro e alguém muito mais influente na Igreja Primitiva. Por volta de 150 d.C., Justino Mártir citou esse evangelho como "as memórias de Pedro". Não há nenhuma tradição que rivalize com a predominante.

João Marcos é mencionado 10 vezes no Novo Testamento - em Atos como um jovem cuja casa era usada para as reuniões da igreja e alguém que acompanhou Paulo e Barnabé, seu primo, na Primeira Viagem Missionária; em Colossenses e Filemon, Marcos aparece acompanhando Paulo em sua primeira prisão em Roma; em 1 Pedro, Marcos é indicado como alguém amado por Pedro e que estava com ele em Roma. Mesmo que o nome "Marcos" fosse popular no período, é improvável que mais de um "Marcos" estivesse com os apóstolos sem que se tivesse feito uma distinção clara entre eles.

O autor desse evangelho cresceu na Judeia e em uma família urbana e rica, tendo sido educado sob os ensinamentos dos 12 Apóstolos, que ele bem conhecia. Maria, sua mãe, era amiga dos apóstolos; Pedro foi para a sua casa quando se libertou da prisão; é possível que nessa mesma residência tenha ocorrido a Última Ceia e, também, o advento do Pentecostes. Apesar de ter sido escrito em grego, o evangelho de Marcos deixa evidente uma matriz distintamente semita, indicando um autor judeu que tinha o grego como segundo idioma. É evidente a presença de traços da teologia Paulina no evangelho em questão; fica claro testemunho obtido por uma testemunha ocular, provavelmente Pedro (o que fica óbvio nas observações sobre Jesus diante do Sinédrio, nos capítulos finais do livro); o evangelho apresenta uma perspectiva relativamente negativa dos discípulos, coisa que só teria sido possível com a sanção dos apóstolos; também é perceptível que o esquema de Marcos é semelhante ao esquema das pregações de Pedro, em Atos. Fico claro que Marcos esteve na igreja desde o seu princípio e era alguém bastante ativo desde Jerusalém a Roma, isso entre 30 e 65 d.C. Segundo Eusébio, Marcos fundou as igrejas de Alexandria.

Marcos foi escrito para os romanos pelos seguintes motivos: é uma obra concisa e clara, combinando com a mentalidade romana, que não se agradava de relatos abstratos e fantasiosos; o evangelho insiste pouco nos costumes e na lei judaica e, quando os menciona, explica-os com mais profundidade do que os demais evangelhos sinóticos; apresenta expressões latinas para deixar o leitor mais familiarizado, como "modius" para "vasilha" (4:21), "census" para "imposto" (12:14), "speculator" para "carrasco" (6:27) e "centurio" para "centurião" (15:39, 44-45).

Data: os testemunhos mais antigos acerca do evangelho de Marcos o ligam a pregação de Pedro em Roma, por volta da sétima década da Era Cristã. Papias (115 d.C.), segundo Eusébio (325 d.C.), diz:

"E o presbítero João, também disse isso, sendo Marcos o intérprete de Pedro, escreveu tudo que dá registro com grande exatidão, mas não, no entanto, na ordem em que foi falado ou realizado por nosso Senhor, pois ele nem ouviu nosso Senhor nem andou com ele, mas, como foi dito antes, estava na companhia de Pedro, que lhe deu as instruções necessárias, mas não lhe deu a história dos discursos de nosso Senhor; por conseguinte, Marcos não errou em nada, ao escrever algumas coisas, como as registrou, pois era muito atento a uma coisa: não omitir nada do que ouvia, ou afirmar algo falso em seus relatos."

Eusébio também citou Clemente de Alexandria (180 d.C.), ao observar o fato de que os ouvintes de Pedro insistiram com Marcos para que deixasse um material da doutrina que Pedro transmitira oralmente. Orígenes, sucessor de Clemente (225 d.C.), disse que Marcos escreveu seu evangelho à medida que Pedro lhe explicava. Irineu confirmou essa tradição dizendo que Marcos, depois da morte de Pedro e Paulo, deixou registradas as coisas pregadas por Pedro.

Todas as antigas tradições associam o livro de Marcos ao apóstolo Pedro e a sua pregação. O prólogo anti-marcionista e Irineu (ambos de 180 d.C.) concordam que o texto foi escrito por volta de 65 e 68 d.C., depois da morte de Pedro e Paulo, enquanto Clemente e Orígenes afirmam que o evangelho foi escrito quando Pedro ainda vivia, tendo sido autorizado por ele, o que teria se dado por volta de 45 d.C. De qualquer forma, é evidente que o autor é do período apostólico: 1 - foi criado na atmosfera religiosa do judaísmo; 2 - aparentemente foi testemunha ocular de alguns fatos por ele registrados; 3 - foi cooperador íntimo dos dirigentes da Igreja Primitiva; 4 - ele próprio participou do trabalho de pregação e testemunhou o início das missões gentílicas. É interessante notar que Marcos pode ter sido o rapaz mencionado em Macros 14:51-52, sendo essa uma passagem exclusiva desse evangelho; Marcos faz referência a Simão Cirineu "pai de Alexandre e Rufo", indivíduos que não têm parte na narrativa e que, portanto, devem ter sido mencionados porque faziam parte do grupo de conhecidos do autor e de seus leitores; se compararmos a pregação de Pedro em Atos 10:34-43 com o evangelho, vemos que a pregação é um esboço do conteúdo de Marcos, que aparece como ajudante de Pedro em 1 Pedro 5:13, colocando esse documento como fruto direto do testemunho oral do grande apóstolo. Todas essas evidências fazem desse documento algo remanescente das primeiras décadas depois da morte e ressurreição de Cristo.

Com base na estreita semelhança de Mateus e Lucas para com Marcos, evidenciando que os dois primeiros tomaram Marcos como base (Mateus e Lucas se parecem no que parecem com Marcos e possuem mais informações que o referido evangelho), podemos trabalhar a sua data para antes da confecção de Mateus, por entre 50 e 60 d.C., e para antes dos escritos de Lucas (Lucas e Atos) que, tendo seu último registro dado por volta de 60 d.C., joga Marcos para a década de 50 d.C., colocando-o 20 ou 30 anos depois da vida de Cristo - totalmente dentro do tempo de vida das testemunhas oculares de Jesus. Até os críticos acadêmicos são obrigados a admitir uma data anterior a 69 d.C., já que o livro não apresenta nenhum conhecimento da destruição de Jerusalém promovida em 70 d.C. Parece provável, portanto, que Marcos seja de 50-60 d.C.

A divindade de Cristo: sendo um documento preferencialmente da década de 50 d.C., as alusões messiânicas de Marcos, apontando para a divindade de Cristo, comprovam que os cristãos, desde, no mínimo, as primeiras duas décadas da Era Cristã, já estavam plenamente conscientes da natureza celestial de Jesus.

Desde o início desse evangelho nos deparamos com a expressão "Jesus Cristo, o Filho de Deus". Assim como ocorre em Mateus, Marcos apresenta diversos milagres messiânicos (2:1-12; 3:1-6; 3:11, 20-30; 5:1-20; 4:35-41; 5:21-24, 35-43); Jesus aqui também aparece como alguém que transcende a Lei (2:23-28). É claro que o relato da ressurreição de Cristo é a maior evidência da Sua divindade, apresentado em Marcos de modo claro e objetivo, sem os característicos floreios e exageros de maquinações mitológicas. Assim como em Mateus, Jesus aparece andando sobre as águas e declarando "Eu Sou" (Marcos 6:50) e, em diversas passagens, declarando-se como o "Filho do Homem" (por exemplo, Marcos 2:28), que, como já dito, usava-se como afirmação de divindade no Antigo Testamento. 
- Lucas:
Autoria: o evangelho de Lucas deixa claro que é a primeira parte de uma obra que incluía Atos, escrita pelo médico Lucas. O autor, já no prólogo do evangelho, evidencia o seu conhecimento sobre diversas fontes, escritas e orais, sobre a vida de Cristo, que possibilitaram que ele selecionasse o melhor material e redigisse a sua obra, totalmente enraizada no testemunho ocular de diversos indivíduos. O autor, por sobre o que leu e ouviu, desferiu "meticulosa investigação", para a qual certamente era capaz, já que demonstra ser grandemente culto, até porque o grego de sua obra assemelha-se ao grego clássico (Jerônimo o tem como o detentor do melhor grego das Escrituras) e a tradição o aponta como médico (ele nutre a linguagem e o estilo de outros médicos gregos da época) - a sua descrição do naufrágio de Atos 27 é o documento náutico mais preciso que nos resta sobre a navegação antiga; Lucas 8:43 deixa evidente o seu interesse pelo ponto de vista médico, cooperando com Colossenses 4:14. O próprio leitor primeiro da obra, Teófilo, é revelado como um nobre e culto romano ou grego, interessado em saber o que realmente era o cristianismo. O autor de Lucas provavelmente foi um gentio convertido à Cristo não mais do que 15 anos depois da Sua ressurreição, deixando clara a sua origem ao referir-se como "bárbaros" os habitantes de Malta somente porque não falavam grego (Atos 28:2). Lucas foi o primeiro historiador eclesiástico e apologista literário do cristianismo, a tradição também diz que ele era pintor.

A introdução de Lucas (1:1-4) nos dá algumas informações sobre a sua confiabilidade: 1 - no tempo do autor já haviam várias obras sobre Jesus; 2 - seu trabalho tinha como objetivo fazer um arranjo sistemático dos fator disponíveis; 3 - os fatos com os quais iria trabalhar eram bem conhecidos e admitidos naquele período, independentemente das narrações; 4 - o autor se sentia capaz de escrever uma obra no mesmo nível, ou superior, aos outros relatos sobre a vida de Jesus; 5 - ele tinha como base de informações fontes oficiais fidedignas; 6 - o autor estava familiarizado com os fatos, por observação e inquirição - sem dúvida ele pertenceu à geração dos que vivenciaram os feitos de Cristo; 7 - seu evangelho é a narrativa mais representativa da vida de Cristo; 8 - ele afirmou que escreveria de forma lógica e acurada; 9 - "excelentíssimo", utilizado para referir-se à Teófilo, somente era usado para funcionários ou membros da aristocracia (Teófilo pode ter sido o patrocinador do trabalho de Lucas); 10 - Teófilo já tinha ouvido sobre Cristo, mas precisava de informações mais consistentes, para ser convencido da verdade; 11 - fica óbvio que o propósito de Lucas era dar a seu amigo o conhecimento sincero e completo da verdade.

O médico Lucas foi um companheiro de viagem de Paulo (At 16:10-16, 20:6-28; Cl 4:14; Fm 24; 2 Tm 4:11), sendo o maior candidato para o evangelho que hoje carrega o seu nome. É altamente improvável que uma obra greco-romana tenha sido escrita e publicada anonimamente - em geral, se o texto não apresentasse a assinatura do autor, haveria alguma etiqueta em anexo com a sua indicação. O mais antigo manuscrito com o título de "O Evangelho de Lucas" é datado do final do Século II, porém Marcião reconheceu a autoria do médico desde de 135 d.C. A partir de 160 d.C. há forte confirmação disso. O Cânone Muratoriano, 180 d.C., declara que o terceiro evangelho é de "Lucas, aquele médico que, depois da ascensão de Cristo, quando Paulo o levou consigo como companheiro de viagem, escreveu em seu próprio nome, com base nos relatos." Justino Mártir (160 d.C.) e Irineu (175-195 d.C.) também reforçam a sua autoria. Nenhuma tradição antiga contraria essa percepção.

Se alguém, senão Lucas, desejasse causar a impressão de ter acompanhado Paulo, certamente teria citado trechos claros das suas epístolas (por meio delas ele ficou mais conhecido), mas os textos de Lucas apresentam citações que, ainda que no estilo de Paulo, não são as mesmas apresentadas em suas cartas; o autor se inclui em alguns eventos escrevendo "nós", mas se fosse uma obra fraudulenta, certamente tal participação se estenderia a todo o relato, não somente a alguns momentos e de modo tímido. O termo "nós" nos devidos contextos, assim como o retrato de Paulo em Atos, evidencia um autor que conhecia o apóstolo e que viajou um pouco com ele, tendo, porém, escrito antes que as cartas paulinas fossem reunidas e reconhecidas como canônicas. Não havendo nenhuma outra tradição da Igreja Primitiva, devemos considerar a autoria de Lucas como confiável.

Data: a data mais tardia possível para esse evangelho é 80 d.C., já que temos evidências de seu uso já em 95 d.C. e que o livro de Atos não usa as epístolas paulinas. Tal evangelho, porém, não pode ter sido escrito antes do final dos anos 50 d.C., já que não foi redigido muito tempo antes de Atos que, por sua vez, tem 62 d.C. como a data do seu último evento. Alguns estudiosos afirmam que esse evangelho não poderia ter sido escrito antes de 70 d.C., pois registra a profecia de Cristo sobre a queda de Jerusalém ocorrida nesse ano, porém, mesmo sendo Jesus capaz de prever esse evento, a Sua linguagem é genérica, não detalhada, e Ele pode ter feito alusão ao Antigo Testamento - se o texto tivesse sido escrito depois da Queda da cidade, certamente apresentaria mais detalhes sobre o evento. Também é altamente improvável que Lucas, em Atos, deixasse de registrar a destruição de Jerusalém em 70 d.C., caso tivesse escrito depois dela, uma vez que tal evento é de imenso valor histórico e teológico para a Igreja, também seria improvável que não registrasse a perseguição desferida por Nero ou a morte de Paulo e Pedro - a melhor explicação para a omissão desses eventos importantíssimos é a de que o dito evangelho foi concluído antes de todos eles, não podendo, portanto, ser posterior a 62 d.C.

Lucas certamente foi escrito antes de Atos e depois do desenvolvimento do cristianismo, a ponto de atrair a atenção de um inquiridor gentio do nível de Teófilo. Sem dúvida o livro de Atos foi concluído antes do fim da primeira prisão de Paulo em Roma, já que termina de forma brusca nesse momento. O evangelho certamente foi escrito depois da morte de Cristo e, em seu prólogo, deixa evidente que muitos já tinham tentado escrever algo sobre Jesus, sendo a comunidade cristã do período já bastante grande. O ano 60 d.C. é uma data interessante para Lucas, sendo ele, nesse período, convertido há uns dez anos, e tendo tido condições de viajar para a Palestina para encontrar-se com muitas das testemunhas de Cristo. Sobre as semelhanças entre Lucas e Marcos, podemos entender que havia um padrão comum na pregação de Cristo que ambos vislumbraram e que Lucas provavelmente encontrou-se com Marcos em Antioquia, quando este acompanhou Paulo e Barnabé naquela cidade.

A divindade de Cristo: nesse evangelho Cristo é apresentado como Filho de Deus reconhecido por anjos (1:35), demônios (4:41) e pelo Pai (9:35). Jesus aparece como homem e Deus. Os cânticos que o livro apresenta, como o Magnificat (1:46-55), Benedictus (1:67-79), Gloria in Excelsis (2:14) e Nunc Dimittis (2:28-32), deixam evidente a natureza messiânica e divina apresentada para Jesus nesse livro. A expressão "Filho do Homem" se repete várias vezes nesse livro (12:8), além de expressões fortes, como "Filho do Altíssimo" (1:32). Cristo perdoando pecados também é evidência de divindade (7:48). Diversos milagres, cumprimentos de profecias e demonstrações de profunda sabedoria coroam o Messias como o próprio Deus entre os homens.
- João:
Autoria: João é considero o discípulo "a quem Jesus amava" (o próprio autor se considera assim no livro). Ele era irmão de Tiago e filho de Zebedeu, conforme a tradição da Igreja Primitiva. Tal tradição afirma que João viveu em Éfeso e nos arredores, servindo às Igrejas da Ásia Menor até a sua morte, em avançada idade, no final do Primeiro Século. Com base nisso, constatamos que o autor foi testemunha ocular dos eventos que descreveu, tendo participado ativamente do ministério de Cristo e, portanto, estava em posição de proporcionar informações exatas. É provável que a redação desse evangelho tenha se dado na década de 90 d.C.

Papias, mais uma vez citado por Eusébio, é a nossa fonte mais antiga sobre a autoria desse livro. Eusébio, ao interpretar Papias, alude a João, um dos discípulos do Senhor, e também a um ancião chamado João, discípulo de Jesus, concluindo que se tratavam de duas pessoas diferentes. Não podemos analisar o texto de Papias, apenas de Eusébio, mas é provável que ele tenha entendido errado as informações do antigo cristão: não há nenhuma razão para crer que um apóstolo não pudesse ser chamado de ancião - Papias parece ter se referido a João duas vezes, uma como presbítero e outra como discípulo, como fizera com outras figuras. A confusão se dá com a sugestão de que fora o "João ancião" o autor do evangelho, porém podemos entender que o "João ancião" é o mesmo que o "João discípulo" com base noutros testemunhos antigos, que corrigem qualquer falha de interpretação do texto de Papias:Teófilo de Antioquia (180 d.C.), Clemente de Alexandria (190 d.C.), Irineu (200 d.C.), Orígenes (220 d.C.), Hipólito (225 d.C.), Tertuliano (200 d.C.) e o fragmento muratoriano (170 d.C.) atribuem o evangelho ao discípulo João. Nem mesmo Porfírio e Juliano, o Apóstata, inimigos da fé, questionaram a autoria joanina - se fosse possível questionar a autoria de João, eles certamente o fariam, já que era oportuno abalar as estruturas de um documento que fala da divindade de Cristo de modo tão explícito.

A leitura do evangelho nos dá algumas evidências de quem foi o seu autor: ele era um judeu acostumado a pensar em aramaico, mesmo tendo escrito em grego - há muitas palavras hebraicas ou aramaicas inseridas nele, indicações da expectativa messiânica do povo judeu (1:19-28), conhecimento sobre a relação entre os judeus e os samaritanos (4:9) e a posição exclusivista do judaísmo (4:20), além de ele demonstrar familiaridade com as festividades judaicas; era um judeu palestino - há descrições muito precisas de Jerusalém e dos arredores (9:7; 11:18; 18:1), e familiaridade com as cidades da Galiléia (1:44; 2:1) e com o território de Samaria (4:5, 6 e 21);  o autor foi testemunha ocular dos eventos descritos - 1:14 e 19:35; ele observou detalhes, colorindo a narrativa como apenas uma testemunha muito observadora poderia fazer - Jesus sentando no parapeito do poço (4:6), o número e o tamanho das talhas nas bodas de Caná (2:6), o peso e o valor do perfume que Maria derrubou sobre os pés de Jesus (12:3-5) e os pormenores do julgamento de Cristo (caps 18-19). Certamente o autor de João andava com Jesus desde o começo do Seu ministério, uma vez que começa sua narrativa em momentos anteriores a todo o relato dos sinóticos; é muito provável que tenha pertencido ao grupo de discípulos que menciona; conforme o último capítulo, deve ser identificado como "o discípulo a quem Jesus amava", íntimo colaborador de Pedro e que estivera muito perto de Jesus na Última Ceia (13:23), no julgamento (18:15-16) e na cruz (19:26-27) - evidentemente um companheiro muito íntimo de Jesus. Como Tiago morreu muito cedo (At 12:2) e Pedro, Tomé e Filipe são sempre mencionados na terceira pessoa, nenhum deles poderia ser o autor desse livro - mesmo que o autor não tenha deixado seu nome explícito, sabia que seus primeiros leitores teriam certeza de quem ele era e João, filho de Zebedeu, é a melhor alternativa.

João era filho de um pescador chamado Zebedeu e de Salomé, provavelmente irmã de Maria, mãe de Jesus (Mc 1:19-20, 15:40; Mt 27:56; Jo 19:25). Ao crescer, João foi sócio de seu irmão, de André e de Pedro na pesca. Possivelmente foi discípulo de João Batista, nesse caso sendo o companheiro de André em João 1:40 e, portanto, acompanhou Jesus desde a sua primeira viagem pela Galiléia e, posteriormente, deixou da pesca para ir com ele em definitivo (Jo 2:2; Mt 4:21-22). São muitíssimos os eventos que João partilhou com Jesus: esteve com Ele em Jerusalém desde o início do ministério na Judéia; talvez a entrevista com Nicodemos tenha se dado em sua casa; posteriormente participou da Missão dos Doze (Mt 10:1-2); Jesus chamou João e André de "filhos do trovão" (Mc 3:17), indicando seu caráter explosivo, que fica explícito quando João repreende o homem que expulsava demônios, mas não seguia com eles (Lc 9:49) ou quando deseja que caia fogo do céu por sobre as aldeias samaritanas que não receberam Jesus (Lc 9:52-54) - tais comportamentos foram trabalhados por Cristo. Na Última Ceia, sentou em lugar de destaque (Jo 13:23); no julgamento, obteve acesso ao tribunal no sumo sacerdote, pois era seu conhecido (18:15-16); existe a possibilidade de que ele tenha sido representante em Jerusalém de sociedades de pesca de seu pai e, assim, se relacionado com todas as casas notáveis da cidade; é evidente que presenciou o julgamento e morte de Jesus e assumiu a responsabilidade por Sua mãe (19:26-27); João, ainda, andou com Pedro nos dias do funeral de Cristo e foi, junto com ele, um dos primeiros a ver o Túmulo vazio (20:8).
O epílogo desse evangelho sugere que o autor viveu por muito tempo depois do começo da Era Cristã, caso contrário não seria necessária qualquer explicação sobre a sua longa existência. Com base na sua biografia, vemos que João era veemente, que dedicou-se inteiramente a Cristo, tendo sua personalidade rude substituída pelo amor de Jesus, mas, mesmo assim, em toda a sua obra ainda exprime o ímpeto de sua natureza, quando, por exemplo, fala das censuras de Jesus aos incrédulos (8:44) ou chamando-lhes de "filhos do Diabo" (1 Jo 3:10).

É bem possível que João confiasse em fontes anteriormente escritas para obter parte das informações contidas na sua obra, principalmente nas narrativas sobre os milagres de Jesus, onde é possível detectar a intrusão de um vocabulário e um estilo diferentes. É quase certo que ele tivesse conhecimento dos outros três evangelhos, que podem ter sido consultados, mas é ainda mais evidente que ele desejou trabalhar em uma produção quase que totalmente independente, ressaltando temas diferenciados. Na época de João era perfeitamente aceitável apresentar os pensamentos e dizeres de outras pessoas nas próprias palavras do autor, como paráfrases, que se preocupava mais com aquilo que estava sendo transmitido, do que em transmitir as palavras exatas do que lera ou ouvira.

Data: discutiu-se a data desse evangelho de 40 até 140 d.C., não podendo ser mais tardio que o Diatessaron, de Taciano, escrito em meados do Século II. O fragmento de Rylands, que preserva uma parte do evangelho de João (18:31-33, 37 e 38), deixa evidente que esse documento já estava em uso, no mínimo, na primeira metade do Século II - sabendo que tal papiro fora encontrado no Egito e data de 135 d.C., entendemos que algumas décadas devem ter sido necessárias entre a redação original, a sua cópia e a sua circulação até um ponto tão distante quanto o Egito, encaixando o evangelho como advindo de 89-90 d.C. Alguns, também, sugerem que tenha sido escrito antes da destruição do Templo em 70 d.C., isso com base no texto de João 5:2. As descobertas de Qumran confirmaram a autenticidade do contexto e do padrão de raciocínio judaicos observados no livro. A data mais clara para a redação de João fica entre 85 e 90 d.C.

Sobre a datação mais tradicional temos algumas evidências claras: tal evangelho complementa os sinóticos e omite muito do que eles registram, bem como registra muito do que eles omitem, sendo completo quando eles são breves e breve quando eles são completos; mostra uma maturidade da consciência cristã que seria improvável nos primeiros dias; não faz referência à queda de Jerusalém em 70 d.C., nem como fato futuro e nem como evento passado, indicando ou que foi escrito antes ou que foi escrito bastante tempo depois do evento; a arqueologia situou a data de João num período posterior aos demais evangelhos, mas não muito tardio: a análise dos Manuscritos do Mar Morto tem dado pistas sobre a datação de Marcos entre 60-65 d.C. e, de João, não depois de 90 d.C. Esses manuscritos, tendo sido aos poucos abandonados e selados depois da queda de Jerusalém, em 70 d.C., dão um pano de fundo literário, histórico e cultural do Primeiro Século muito compatível com o texto de João, pano de fundo esse incompatível com o final Século II, de contexto mais gnóstico, desacreditando, portanto, as datas tardias para esse documento.

A divindade de Cristo: João é o mais explícito ao declarar a divindade de Cristo, sendo mais do que uma tentativa de narrar a vida de Jesus - o autor desejou compreender a profundidade de Jesus e, por isso, foi mais enfático no evidenciar da Sua natureza divina. Suas declarações desse tipo não são estranhas aos demais evangelhos, que já deixavam clara a questão de Cristo ser Deus, mas são mais numerosas e impactantes. Nele há sete referências a Cristo se considerando o "Eu Sou" (6:35; 8:12; 10:7 e 9; 10:11 e 14; 11:25; 14:6; 15:1 e 5); nele Jesus recebe os títulos de "Filho do Homem" (Jo 1:51), "Filho de Deus" (Jo 1:34), "Messias" (Jo 4:25), "Mestre" (Jo 13:13-14), "Senhor" (Jo 20:28) e "Salvador" (Jo 4:42); João selecionou sete milagres que Cristo para indicar a Sua soberania: o transformar de água em vinho (2:1-11), a cura do oficial do rei (4:46-54), a multiplicação de alimento (6:1-14), o andar sobre as águas (6:16-21), o restaurar da visão (9:1-41) e o ressuscitar de Lázaro (11:1-44). De todas as declarações de divindade messiânica, porém, as mais claras são a da eternidade de Cristo como Verbo Criador (1:1-14) e a Sua ressurreição ao final do livro.
Conclusão: depois de tão grande estudo, que ainda poderia ser maior, verificamos que as melhores possibilidades de data e autoria dos Evangelhos, com suas doutrinas totalmente compatíveis com outros documentos neotestamentários, são as tradicionais: entre a metade e o final do Primeiro Século e da parte dos apóstolos ou pessoas ligadas a eles. Qualquer outra teoria nunca terá o peso da principal, que se sustenta em farta evidência textual, arqueológica e da tradição, o que também eleva os Evangelhos como uma documentação superior aos documentos apócrifos do seu período. Também vimos que, como Lucas, por exemplo, escreveu por volta de 60 d.C., mas deixou claro que já havia forte tradição a respeito de Jesus, Cristo não pode ter sido uma invenção do Século I ou posterior, mas alguém que foi visto e sobre quem se falou com muita frequência daqueles dias em diante, levando Lucas apenas a organizar e trabalhar melhor toda a gama de informações disponíveis - do mesmo modo, fica evidente que os Evangelhos não foram produzidos tardiamente em Roma, ou onde quer que seja, como ferramenta de dominação. Outra coisa que podemos concluir com esse estudo é que a divindade do Messias era declarada explicitamente em literatura desde uns vinte anos depois da Sua morte, isso sem considerar que a literatura brotava de um testemunho ocular oral advindo do próprio convívio com Jesus. Consideremos a semelhança dos evangelhos com textos mais antigos, como a carta de Tiago, escrita entre 45 e 50 d.C., ou a epístola de Paulo aos Gálatas, escrita entre 49 e 55 d.C., que em tudo concordam com os Evangelhos - há evidências de que o relato da ressurreição de Cristo tido em 1 Coríntios 15:3-5 seja fruto de uma tradição cristã que existia desde 36 d.C.!

Fontes: A Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Charles C. Ryrie, Mundo Cristão, 2007, introduções dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2012, introduções dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, introduções dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; Manual Bíblico Unger, Merrill Frederick Unger, Vida Nova, 2006, introduções dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; O Novo Testamento, Sua Origem e Análise, Merrill C. Tenney, SHEDD Publicações, 2011, sobre Mateus, Marcos, Lucas e João; Guia Para Ler o Evangelho de Lucas, Pe. Luiz Miguel Duarte, Paulus, 2013, pg 7.

Natanael Pedro Castoldi

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