Ainda estamos perplexos com a dimensão dos recentes ataques terroristas em Paris. Além do tamanho desses atos, assusta-nos a frequência com que têm ocorrido e as péssimas perspectivas para o futuro próximo. Estamos numa hora de sensibilidade e emotividade, o que dificulta a reflexão lógica sobre os eventos. É provável que, otimistas, saudosistas e românticos, não estejamos psicologicamente dispostos a refletir sobre a realidade de nosso tempo e sobre o período transicional da Civilização Ocidental, mas a negação dos fatos não nos trará nenhum benefício. Precisamos entender o que está acontecendo, e para além das respostas simplistas e comerciais apresentadas por nossas mídias: urge dedicarmos algum tempo para o discernimento do espírito de nosso século, transcendendo as manchetes e meras informações sobre dados pontuais. Há algo existencial a ser perscrutado e uma análise histórica a ser desenvolvida. E é justamente isso, caro leitor, que proponho com esse artigo, obviamente considerando as minhas limitações de pesquisa e de cognição. Espero, contudo, que essa leitura lhe seja proveitosa.
A gênese da desrazão:
Outubro
de 732 d.C.: os francos, liderados por Carlos Martel, avô de Carlos Magno, se
digladiam com os berberes maometanos entre Tours e Poitiers, no coração da
França. O destino da grande nação cristã e, com isso, de toda a cristandade,
esteve por um fio: se Martel não saísse vitorioso, os sarracenos, que já
dominavam a Península Ibérica, abririam as portas para possível a subjugação de
toda a Europa. O cenário que os atacantes encontraram pelo caminho lhes era
propício: as nações bárbaras que sucederam o Império Romano Ocidental ainda
estavam num lento processo de organização, e as bases civilizatórias
preservadas pela Igreja, fragilizadas. Apesar das condições práticas, contudo,
os anfitriões eram aguerridos - e não estavam dispostos a repetir o erro dos
romanos, que subjugaram alguns séculos antes.¹
Roma,
no limiar da Queda: "As poucas casas nas quais o culto da inteligência
ainda recebia homenagens foram invadidas pelo gosto dos prazeres, filhos da
preguiça (...). Os cantores expulsaram os filósofos, e os professores de
oratória cederam lugar aos mestres da voluptuosidade. Cerram-se as bibliotecas
como se fossem túmulos. Os artesãos não se dedicam senão a fabricar órgãos e
liras colossais, flautas e outros instrumentos de música gigantescos, para
acompanhar em pleno palco a pantomima dos bufões" (Amiano Marcelino, Res
gestae, XIV, 6, 18).²
Costuma-se
dizer que o estágio estético geralmente representa os momentos finais de uma
civilização, sendo esse correspondente ao momento que Kierkegaard definiu para
a etapa existencial do homem que não atenta para a Lei e para Deus, sem o qual
não é capaz de sustentar a moralidade que sustém a Lei, e, por isso, se lança
em banalidades e aparências, numa vida regidas pelas sensações. Era assim que
Roma estava nos seus últimos suspiros: os bárbaros só derrubaram seus muros
rochosos depois de a Cidade Eterna perder a sua solidez intelectual, cultural e
religiosa. As classes senhoriais, imersas nesse espírito, também se entregaram
às banalidades e corrupções, despreocupadas com o destino do Império,
envolvidas de tal forma por seu discurso fantasioso, que já não percebiam a
real condição e vulnerabilidade de Roma. Não era agradável abrir mão do estilo
de vida pomposo que os incontáveis anos de conquistas e enriquecimento do
Império lhes renderam, e a entrega aos prazeres ilimitados, assim como a
distribuição de "pão e circo" à plebe, produziu um contexto de centralização
na fisiologia, no impulso biológico e emocional. Roma caía enquanto os nobres
se entregavam aos bacanais.³
"A não ser que os homens creiam que têm um aliado todo-poderoso fora do tempo, eles inevitavelmente abandonarão o ideal de um progresso moral sobrenatural ou antinatural e farão o melhor do mundo como o encontram, conformando-se às leis de interesse próprio e de autopreservação que governam o resto da natureza." Christopher Dawson.4
Luiz
Felipe Pondé, no artigo "Putin Contra o Sexo dos Anjos", disponível
no site da Folha, fala dos dramáticos suspiros finais da escolástica medieval,
da baixa escolástica, que, tal como os sofistas gregos, desinteressados nas
grandes questões levantadas pelos primeiros filósofos, ocupavam-se em debater
frivolidades, como a sexualidade dos anjos. Enquanto isso, os muçulmanos
estavam derrubando Constantinopla.
Paris,
13 de novembro de 2015: a capital do país que teve seu rumo determinado, há
mais de mil anos, por Carlos Martel na batalha de Poitiers, mais uma vez é o
núcleo do choque entre dois mundos. Contudo, os descendentes dos francos que se
confrontaram com os berberes no Século VIII, não mais se parecem com aquele
povo guerreiro, da juventude das nações em processo de cristianização que
despontavam das ruínas do Império Romano, mais práticas, ocupadas com questões
sólidas, como um maior domínio da agricultura e das tecnologias para a construção de
paredes maiores e a alfabetização de parcelas da população. A Paris de hoje,
assim como boa parte das grandes cidades ocidentais, está mais para uma Roma
nos últimos batimentos civilizacionais: chegamos ao estágio estético. Discutimos
se bebês têm sexo, tal como os últimos escolásticos discutiram o sexo dos anjos,
e questionamos a objetividade do nosso corpo. Isso enquanto nossas
"Constantinoplas" são alvejadas. Perdemo-nos das questões práticas,
adentrando um mundo de delírios sofismáticos. Mas as explosões são reais. Os
corpos que se explodem são reais. E qual a reação que muitos têm sugerido, em
"retaliação" ao terrorismo? Bacanais e demais "atos
simbólicos".
"Quanto
ao populacho, que não tem residência fixa ou bens, passa a noite nos cabarés,
ou dorme sob o abrigo desses toldos (...). Ou bem a ralé se entrega, com furor,
ao jogo de dados, prendendo a respiração, que ela libera em seguida com um
estrondo que choca as orelhas; ou ainda (e é esse o gosto dominante) pode-se
vê-la de manhã à noite, enfrentando sol e chuva, esgotando-se em debates sem
fim às menores circunstâncias de mérito ou da inferioridade relativa de um tal
cavalo ou de um tal condutor. Estranha inclinação de todo um povo que mal ousa
respirar à espera do resultado de uma corrida de carros! São essas as
preocupações às quais Roma se entrega, e que não deixa lugar para nada
sério" (Res gestae, XIV, 6, 25-26).5
As
similaridades com os eventos que levaram ao final de outras civilizações são
gritantes. As explosões no centro de Paris não aconteceram antes de muitos dos
fundamentos da Civilização Ocidental terem sido dinamitados por nós mesmos. A
frivolidade e superficialidade da nossa civilização, adoentada por um
presentismo vil, açoitada pelo relativismo, pela Pós-Modernidade, pelo medo de
suas próprias tradições e de seu passado recente, abrem um vazio sobre a qual
toda a sua megaestrutura, especialmente grande em tempos estéticos e
hedonistas, há de ruir. A tentativa de associar mecanicamente aquilo que é
incompatível organicamente, de ter em total unidade toda a diversidade e
antagonia, juntamente com a consequente urgência histérica de silenciar os
movimentos "politicamente incorretos" e "inimigos do
progresso", só pode acarretar numa configuração civilizatória aparente,
por demais artificial, que entra em rota de colisão com qualquer ameaça de
realidade. Fez de si uma medusa, mas evita ver a realidade de si mesma, sob
pena de esfacelar-se. Teme virar sal se olhar atentamente para a própria
desgraça.
Muitos
dos mesmos bárbaros que saquearam Roma, como Alarico, em 410 d.C., foram
adotados e produzidos pelo Império em crise.6 A Cidade Eterna criou
e empoderou os próprios algozes, que viram a soma de seu poder ampliar-se
conforme as massas migratórias povos bárbaros inteiros penetravam nas frágeis
fronteiras do Império.7 A França, especialmente nesse ano de 2015,
tem sido atacada de modo particular por muitos dos filhos da Civilização
Ocidental: numerosos terroristas são franceses. O próprio Estado
Islâmico tem sido o destino de muitos jovens ocidentais revoltados contra o
mundo no qual nasceram. São jovens sem raízes: foram postos num berço que já
não mais é capaz de definir nem a sexualidade ou a própria humanidade de um
feto. Eles são filhos da pós-modernidade, da conjugação e entrelaçamento de
contraditórios, da Morte da Razão. Os que não fogem para seus computadores e
jogos virtuais, os que não fogem para a vida cínica e hedonista, os que não
fogem do Ocidente abraçando filosofias e religiões orientais, os que não
procuram subverter os "antigos valores" adotando como dogmas as
ideologias que preencheram o vácuo deixado pela queda da URSS, estão procurando
solidez entre os extremistas. Eles são filhos do niilismo, são filhos de um
insólito e confuso mundo de abstrações e verdades individuais, contra o qual
reagem como os deuses do Olimpo diante de Cronos, que comia os seus filhos
vivos.8
O Ocidente tem enfrentado um doloroso processo de secularização e de paganização ao longo dos últimos séculos. O retorno vigoroso do aristotelismo com a escolástica deu início a uma ênfase maior no mundo dos particulares e relativos do que no mundo dos universais e absolutos, uma ênfase maior na criatura do que no Criador9. Isso, no contexto do dualismo platônico já estabelecido, levou a uma secularização e consequênte paganização da arte, da política e da vida cotidiana, com a reserva de "algum tempo para Deus" no templo aos domingos. É esse o movimento que vemos no Renascimento, com o retorno às raízes pagãs greco-romanas, e no Iluminismo, que foi anti-romano desde a gênese. Com Deus excluído do entendimento geral da vida, a visão de mundo se construiu com ênfase naquilo que se podia obter das coisas, mas, sem universais dando significado aos entes em suas categorias, o mundo perdeu sua objetividade, restringindo-se às percepções do indivíduo que observa. Essa perspectiva vai se encorpando em pensadores como Descartes, Locke, Hume, Kant, Hegel, Schopenhauer e Nietzsche.10 Daqui pro relativismo pós-moderno o caminho é plano e largo.
A
perda dos ideais, dos significados e da objetividade fica explícita nas artes, com
o advento de movimentos como o impressionismo, que retrata aquilo que o
observador sente com relação ao objeto externo, e o expressionismo, no qual já
não há mais uma conexão perceptível do observador com a realidade extrínseca.
Nessa configuração, a morte do conceito de Belo é mais do que esperada - se não
há definidores para além da subjetividade, não pode haver padrão sobre qualquer
assunto. A beleza, a moral, a religião e todo o mais se relativiza. Não há nada
fixo a favor do qual o homem pós-moderno pode se mover: resta obedecer ao fluxo
do organismo e procurar algum escape existencial. Se Deus não define o homem, o
homem deve definir-se a si mesmo, mas será que ele é capaz de fazê-lo? Essa
exaustiva empreitada comumente leva ao desespero e à desistência hedonista, da
rendição ao fluxo e do abandono da Razão, que apenas gera desconforto
existencial - é doloroso pensar demais sobre a própria desgraça.
A
Inglaterra dos Séculos XVII e XVIII experimentou as consequências práticas da
desventurada sequência de eventos que a acometeram: o que começou com a adoção
de ideais deístas advindos do dualismo platônico, caminhou para racionalismo,
acarretando no ceticismo, no ateísmo e, por fim, no cinismo. Nesse
período, com os clérigos silenciados e a Bíblia fechada, o tráfico de escravos
de intensificou, o trabalho passou a ser visto como indigno, a corrupção se
alastrou em todos os setores da sociedade, passou a haver severa exploração da
classe dominante por sobre os mais pobres, houve piora no cuidado das crianças
e maior mortalidade infantil, presenciou-se o alastrar do alcoolismo, da
jogatina, da prostituição, da violência, dos assaltos e do assassinato,
percebeu-se a ocorrência de fornicação inclusive em locais públicos e durante o
dia, desencadeou-se a popularização de lutas entre homens e rinhas de animais,
incluindo leões e ursos, testemunhou-se a deterioração da vida acadêmica... o
fechamento da Bíblia, portanto, produziu apenas impiedade, ignorância e
selvageria. Isso se comprovou, pois John Wesley, ao reapresentar as Escrituras
para o povo e pros acadêmicos ingleses, levou a Inglaterra a um reavivamento
moral e espiritual que a privou de acabar com uma revolução como a francesa
que, sem uma base moral sólida, culminou no extermínio cerca de 40 mil pessoas
dentro de apenas um ano.11
Os
antigos gregos também experimentaram algo parecido nos seus últimos dias. A
desistência das grandes questões cosmológicas levantadas pelos filósofos levou
ao florescimento do pensamento dos sofistas: ao invés de se ocuparem tanto com o
entendimento das origens, da composição e do funcionamento do Universo, os
sofistas desejavam se projetar em questões mais práticas, usando da argumentação
para angariar benefícios imediatos. Os particulares foram enfatizados. Ao lado
dos sofistas, cresceram os céticos, que questionavam a própria possibilidade de
o ser humano saber algo com algum grau de certeza. O questionamento da
validade da Razão e o uso da Razão como recurso meramente utilitarista, culminou no esquecimento do conceito de Logos e, com isso, os sofistas e os céticos
quase destruíram a filosofia. É notável perceber o decorrente crescimento
antigo politeísmo naturalista grego, desapegado da Moral, nesse cenário de
morte da Razão12. Esse período, com a perda de bases objetivas para
a moralidade, levou a um cenário hedonista, cínico. Não fosse gente como os
apóstolos João e Paulo, e os pais apostólicos Agostinho e Boécio, o conceito de
"Razão" ter-se-ia perdido.13
É
notável, dentro da lógica até aqui trabalhada, que o retorno do paganismo
pontua a transição entre a Civilização Ocidental cristã e pagã. Vivemos o
que se pode chamar de Era Pós-Cristã, que vivencia o crescimento do
neo-paganismo. Há um interesse religioso monista por detrás desse movimento,
que tem sido abraçado por dezenas de nações ocidentalizadas, como uma reação
traumática aos devaneios nacionalistas do Século XX: para o bem da humanidade,
deve-se construir a mais plena unidade entre todos e sobre todos os assuntos,
mesmo os incompatíveis. A rejeição do Projeto Iluminista de um modelo de
civilização uniforme, que propiciou as atrocidades vislumbradas nas Duas
Grandes Guerras e nos regimes totalitários do século passado, tem favorecido o
ressurgimento das tradições culturais e religiosas locais, com prontas reações
aos produtos externos, como narrativas de dominação, discursos de poder - e,
nisso, os paganismos europeus e americanos têm ganhado novos adeptos como
fundamentos de identidade local, em detrimento do cristianismo, associado ao
Mundo Moderno e seu projeto de poder, ainda que o Mundo Moderno não tenha sido
construído por sobre ideais cristãos - na verdade, o próprio Iluminismo se
justificou demonizando a Europa cristã da Idade Média.
Sabemos,
contudo, que nenhuma forma de paganismo, por sua profunda dependência de
culturas, singularidades e comunidades locais, resiste por muito tempo às
influências externas. São sistemas de pensamento com pouco teor lógico, o que
combina com a anti-intelectualidade anti-Moderna da pós-modernidade,
profundamente dependentes de elementos relativos e desprovidos, em si mesmos,
de uma significação maior, que lhes dê sentido para fora do saudosismo e da
perpetuação de suas práticas ritualísticas. A "significação maior"
que tem sido proposta para essas incontáveis religiosidades e idolatrias, que
surgem do vazio deixado pelo abandono de Deus, está em algo que tem sido
chamado de "Aldeia Global": todas as crenças, todas as verdades,
todas as culturas, devem cooperar para o bom funcionamento do
"organismo" universal, de Gaia, da "Mãe Terra", da humanidade
e seu progresso catártico em prol da tão sonhada Paz, na sua desesperada fuga
dos fantasmas do próprio passado. Então, o culto à Mãe Natureza, uma espécie de
panteísmo regido pelo conceito totêmico da Força Vital da qual todos fazem
parte, tem sido colocado como uma fé unificadora de toda a diversidade
antagônica. Cada religião e cultura corresponde a uma pequena janela de onde se
vislumbra uma parte de "Deus".
Na
antiga Roma, por questões de ordem e expansão, as culturas e religiões eram
facilmente assimiladas, com os panteões de cada povo conquistado sendo
inseridos no panteão romano. Contudo, para não haver o esfacelamento do Império
na diversidade de crenças, uma religião universal foi proposta e imposta a
todos: a divinização de Roma e do imperador. Contanto que todos os povos
conquistados adorassem ao imperador romano, seus cultos locais poderiam ser
realizados sem intervenções. Qualquer sistema de fé que não se submetesse à
adoração da figura imperial era tido como "inimigo da Civilização",
opositor do progresso e responsável pelas desgraças.14 Os
cristãos, por exemplo, se recusaram a adorar ao imperador e a incluir Cristo no
panteão romano e, por isso, foram severamente perseguidos. Isso faz sentido,
pois todo o monoteísmo é incompatível com o sistema de fé do qual temos falado,
uma vez que o monoteísmo sempre é exclusivista.
Tal
como na Roma dos últimos suspiros, o espírito de nosso século, aqui no
Ocidente, tem enfatizado o relativismo de tudo em favor de uma unidade forçada
pelo interesse instintivo e hedonista por sobrevivência: no caso, a punição por
não adorar Gaia está nas profecias cataclismáticas do dito "Aquecimento
Global", e a consequênte perseguição de todos os infratores desse culto. O
Politicamente Correto é a ferramenta de silenciamento e higienização mais
eficaz nesse contexto de incerteza, de medo do passado e de medo do futuro: em
teoria, todas as tuas crenças individuais devem ser respeitadas, pois não
existe nenhuma objetividade e verdade através das quais medi-las, mas, na
realidade, qualquer posicionamento que ameace a estabilidade frágil e forçada
dessa associação mecânica de ideias antagônicas será repelida judicial ou
socialmente. Estamos tentando equilibrar o que restou de dois mil anos de
civilização na ponta de uma agulha: o menor sopro pode fazer tudo desmoronar.
Num
contexto de crescente rejeição do monoteísmo cristão, e de qualquer teísmo, em
favor de um monismo panteísta, alimentado pelo contato com as filosofias
orientais nesse mundo globalizado, objetivando a Paz universal e uma relação
menos pecaminosa com a "Mãe Terra", em oposição à exploração do mundo
natural pelo jazido Homem Moderno, não pode haver nada de sólido em termos de
moralidade e Razão. Para manter a estabilidade num mundo desabrigado de um
senso de moral objetivo, num mundo hedonista, estético, de multidões ocupadas essencialmente
com a satisfação de seu sistema sensorial, numa bestialização, barbarização da
civilização, faz-se necessário o constante alimentar de bilhões de egos
absolutos, para os quais as próprias opiniões são a verdade total e fechada do
mundo inteiro e, por isso, qualquer posicionamento que outorgue para si o posto
de Verdade, declarando ter por inverdades os demais discursos, é imediatamente
dado por ofensivo e desestabilizante, "inimigo da Civilização", sendo,
ainda que tenha em si uma boa base argumentativa, é expurgado como inoportuno,
arrogante, perigoso e academicista.
O
cristianismo, enquanto neotestamentário, tem passado justamente por isso: sua
fundamentação total no Deus Criador, em Cristo Jesus, e sua insistência em não
permitir que Cristo seja absorvido por Gaia, sustentando a pregação de uma
moral absoluta e objetiva, assim como de uma Verdade final sobre o Universo,
sobre o ser humano e todas as demais coisas, apontando para a ideia de que,
havendo finalidade, há uma maneira correta de o homem funcionar, tem levantado
forte oposição dentro do hemisfério que já fora chamado de "Mundo
Cristão". Por um lado, têm-se tentado "domesticar",
pós-modernizar o cristianismo, e muitos líderes cristãos têm sido angariados
para as fileiras místicas e liberais, gnósticas e ateísticas da religião
universal, se tornando "teólogos da corte" e sacerdotes de Gaia. A
esses, as mídias têm coroado como representantes "dignos" da fé
cristã, seguidores genuínos de um suposto Cristo fabricado, mais parecido com
um xamã do que com o Messias apresentado pelas Escrituras. Dos que resistem, a
patrulha do Politicamente Correto tem conseguido calar social e judicialmente
os mais temerários e inconsequêntes, que ousam questionar os dogmas e totens
vigentes em nossos dias, enquanto os demais têm sido entregues ao silêncio e à obscuridade.
As
próprias Escrituras cristãs têm sido tratadas como fontes para as
"heresias monoteístas" que os cristãos insistem em sustentar. É
evidente que a Bíblia, ainda que absolutamente fundamental para o surgimento e
desenvolvimento da Civilização Ocidental, será posta em xeque: ela é anti-pagã
por natureza, enquanto o paganismo é, por natureza, anticristão. A instrução
bíblica de evangelismo implica, literalmente, no abandono de quaisquer práticas
religiosas que não encontrem respaldo bíblico e no início de uma vida moldada
inteiramente pela pessoa de Cristo - não se trata de uma mera absorção pagã do
cristianismo e de uma tentativa de harmonizar mecanicamente os dois. Não
surpreende que, em nossos dias de contestação, o material gnóstico, tardio,
mais místico e pagão, tem sido posto como biblicamente mais excelente que a
própria Bíblia. A ortodoxia virou heresia.
É
importante enfatizar que, no Ocidente, os movimentos que têm militado em favor
de Gaia são, basicamente, progressistas de Esquerda, que encontram
suas raízes no marxismo e na Revolução Sexual da metade final do Século XX. Não
é espantoso que o ideal de um "internacional comunismo" combine com a
ideia da Aldeia Global. Evidentemente, o que temos hoje em circulação não é um
comunismo como o soviético, mas uma infiltração gradativa e adaptada de ideais
marxistas na Civilização Ocidental, no que chamamos de Marxismo Cultural, que
tem cooperado, especialmente, na paganização da sexualidade e do corpo, e na
relativização da moral, da verdade e da religião. Presencia-se, especialmente
nos ambientes acadêmicos, uma erotização da vida e uma contestação aberta a
tudo o que constitui o cristianismo, se o mesmo não for reduzido ao aspecto
materialista e social.
O
renascimento pagão está evidente na crescente dualização de tudo, na lógica
binária de pensamento: tal como Heráclito, filósofo grego que voltou-se ao
paganismo, adotado por Nietzsche, que teve por discípulo Foucault, a realidade
inteira emana do Caos, do conflito de opostos.15 E, assim, faz-se o
"nós contra eles": a sociedade está dividida entre os diversos que
conseguem se harmonizar e aqueles que resistem ao discurso. Atualmente, a
maioria dos movimentos sociais sobrevive ideologicamente com a criação desse
tipo de espantalho, que legitima a sua empreitada contra o anti-Gaia, em última
instância, contra o monoteísmo cristão e os seus valores. Daí temos muito do
que é, por exemplo, o movimento feminista de nossos dias, e do que vemos na militância
neo-ateísta, também envolvida por uma espécie de mística panteísta. Todos
esses, no fundo, estão dando um salto de fé, um salto existencialista num mundo
que perdeu todo o sentido e no qual o exercício racional, dentro dos atuais
paradigmas, se tornou irrelevante e, até mesmo, nocivo, uma vez que só
evidencia a realidade da "medusa", que foge de si em entorpecimentos:
sem Deus, sobra o fatalismo, o niilismo, a máquina biológica e a ausência de
sentido. Nenhum ser humano é capaz de viver assim, e é por isso que o paganismo
é frágil.
É
no materialismo dialético de Marx, inspirado na ingenuidade de Rousseou sobre o
potencial de bondade inerente ao ser humano, que os atuais movimentos progressistas
têm alicerçado as suas apostas no desenvolvimento da humanidade com base no
conhecimento, na tecnologia e na tolerância. As três vias são boas, mas
insuficientes para garantir os progressos do ente humano e da própria Civilização - o único elemento novo com relação ao Projeto Iluminista é a
tolerância, que, em si, é valorosa, mas ganha ares de utopia quando se observa
que os próprios movimentos progressistas são intolerantes com relação aos
discordantes. Eles costumam justificar sua intolerância como uma via necessária
para o "mundo melhor" - quando os fins justificaram os meios, tivemos
as centenas de milhões de mortes presenciadas no Século XX, resultantes, em sua
maioria, justamente da busca por esse "mundo melhor".
O
cristianismo, em seus fundamentos, também encontra elevado grau de
incompatibilidade com o Projeto Iluminista e o ideal progressista: o cristão
acredita na Queda e na corrupção total do ser humano, que é incapaz de
construir um mundo ideal por si próprio, uma vez que o Pecado sempre o levará
ao tropeço. Aqui é que Cristo realmente encontra a Sua centralidade: o cristão
acredita que o sacrifício do Deus Filho na Cruz, somente ele, é suficiente para
sanar a corrupção humana, que só será devidamente revertida em sua totalidade
quando o cristão estiver nos Novos Céus e na Nova Terra com o Deus Trino. Por
isso os cristãos apostam no poder da comunidade, ainda que valorizem a
soberania do indivíduo, e é por isso que os cristãos, tendo Cristo como medidor
da realidade, não atribuem messianidade a nenhum líder político ou divinizam o
Estado.
Nenhum
tipo de paganismo regional tem poder, em si, para se tornar universal, e nenhum
tem substância existencial suficiente para encarar por longos períodos o
contato com a realidade do coração humano e do mundo real. Ou ele definha, como
na Grécia Antiga e em Roma, ou ele segue se atualizando indefinidamente, como
foi com Roma até sua queda. Geralmente, ele é absorvido por algum movimento
externo de imposição, um movimento mais encorpado: foi assim que Roma e o culto
ao imperador ganharam terreno por uma vasta região da Europa, Norte da África,
Palestina e Ásia Menor. O Evangelho Romano, acompanhado do gládio, era mais
robusto do que as crenças tribais. E o cristianismo, pela evangelização cristã
principalmente nas insulae romanas, mostrou-se mais poderoso que todo o
conjunto de crenças de Roma. Hoje, o fator de ressurgimento e unificação dos
paganismos locais, falo de paganismo não só em termos de divindades
específicas, mas de comportamentos, filosofias de vida e idolatrias, é a ideia
e a divinização de um Estado internacional, que fatalmente será encabeçado por
alguma figura a quem se atribuirá messianidade, para que nos salve do
terrorismo, dos rumores de guerras e do iminente colapso ambiental.
O
dualismo dos últimos séculos levou a um afastamento cada vez maior do homem
ocidental com relação à fé cristã, e o cristianismo, por sua vez,
constantemente atacado na ânsia derredor pela "morte de Deus", tendeu
a fechar-se e fundamentalizar-se, desobrigando-se de seu mandato nas áreas
"seculares" da vida, como a arte, a cultura e a intelectualidade. Essa
postura apenas reduziu a sua influência, fazendo-o, aos poucos, ser considerado
quase que como um "corpo estranho" no seu próprio contexto.
Filosofias como o positivismo não tardaram em associar o cristianismo, e as
religiões em geral, com uma fase mais primitiva e felizmente superada da
Civilização Ocidental. Mas, como já comentado, toda a forma de vida embasada no
ideário pagão tem prazo de validade, e um povo exaurido está disposto a abraçar
qualquer novidade minimante vigorosa - ainda que só na propaganda.
Enquanto
o Oriente esteve sob o controle das nações ocidentais, que ocidentalizaram povos como o Japão e a Coreia do Sul, e mantiveram controle imperial ou
produtivo em territórios do Oriente Médio, que dependiam, inclusive, de petrolíferas
ocidentais para fazer uso de suas riquezas, o hedonismo da nossa civilização
não se apresentava como fragilidade para ameaças externas. Desde o
enriquecimento das nações européias na Era Moderna, com a descoberta do Novo
Mundo, da imprensa e da indústria, essa foi a tendência. Evidentemente, a
ameaça de holocausto nuclear durante a Guerra Fria e a crescente militarização
das nações ocidentais, propiciou um período de ânimos contidos entre a
desilusão com o Mundo Moderno pela observação das Duas Guerras Mundiais e o
"degelamento" dos atritos entre as nações ocidentais e os países
soviéticos. O vácuo que sobrou logo foi preenchido e uma nova peça, produto de
uma revolução no islã e dos conflitos e dominações norte-americanas e
soviéticas no Oriente Médio, entrou em jogo. A radicalização do islamismo
despontou no período mais dramático para a história ocidental.
Desde
então, um outro monoteísmo tem penetrado nos vazios do Ocidente e dado cabo de muitas das demandas morais e com relação à Verdade, fornecendo alguma solidez
aos que, tendo rejeitado o cristianismo, o secularismo e o paganismo, buscam
algum sentido existencial não perecível. As nações muçulmanas, ainda que
carreguem as suas singularidades, não comportam muito do vemos no pós-moderno
ocidental: para elas, toda a verdade sobre a vida está centrada em Alá e no
Alcorão, não havendo interesse na harmonização mecânica dos incompatíveis, mas,
sim, no carregamento e consolidação de sua própria tradição e cultura em
qualquer contexto no qual o Islã se inserir. É isso que tem sido presenciado
especialmente na Europa das últimas décadas e é exatamente isso que tem sido
declarado por grupos de representantes dessa religião.
Uma
Roma com sua cultura empobrecida foi rapidamente engolfada pelas massivas ondas
de imigrações de povos não-romanos. Um Ocidente enfraquecido será facilmente
absorvido pela cultura e pela fé desses imigrantes que o estão requisitando em
massa. E o cartão de visitas que temos dado é precisamente o da religião
universal, de Gaia, que é incompatível com a fé proferida pela maioria dos
imigrantes. O choque entre as civilizações é inevitável, e é exatamente isso
que as últimas duas décadas têm nos indicado.
A
Civilização Ocidental não tem capital moral, ou qualquer outro fundamento, a não ser a
causa prática e utilitarista, para se acomodar adequadamente às novas situações
e, tampouco, para reagir ao extremismo e terrorismo que lhe tem sido impostos.
Uma sensibilização exagerada, embasada pelo discurso pacifista advindo dos
traumas de guerras de poucas décadas, associado a um cristianismo domesticado e
uma carga de filosofias orientais, que pregam um tipo diferente de paz, que o
ocidental ainda não assimilou por ter convivido com a cosmovisão cristã por
dois mil anos - filosofias essas que pensam no tipo de paz de quem não se
importa com a vida real -, numa associação mecânica de ideias, tem repreendido
qualquer movimentação militar de retaliação aos grupos terroristas que têm se
responsabilizado pelos atentados recentes. Esse cenário de imobilidade e do
dogma da possibilidade de unidade absoluta em toda a diversidade, tem levado ao
abandono de qualquer consciência de valorização histórica e cultural do
Ocidente, e permitido, contra os "discursos de poder", o "imperialismo" e o Projeto Iluminista, apenas a consciência humanitária, ecológica, ecumênica, acarretando
na perda de identidade e potência, o que impossibilita uma efetiva reação coletiva que fuja da histeria generalizada. Realizar uma
orgia para protestar contra o Estado Islâmico não é um ato de resistência, é um
ato de desistência.
Alguns
eruditos já estão reconhecendo que a Civilização Ocidental não terá como
preservar-se, em suas particularidades, diante do quadro que se levanta. O
mundo ocidental, como o conhecemos, está deixando de existir. Essa é a lógica dos
fatos e o espírito do nosso século: as fissuras foram abertas pelos próprios
ocidentais, e estamos tão amortecidos pelos nossos delírios e sofismas, que nem o
banho de realidade das imigrações e dos terrorismos será capaz de nos tirar do
transe. Reconhecendo a severidade da situação e a dificuldade de um Ocidente
insólito de lidar com questões pertinentes ao mundo real, Angela Merkel,
chanceler alemã, há poucos meses nesse ano de 2015, encorajou os alemães a
retornar à Igreja e à Bíblia, a retornar à realidade.16
E o que nós, cristãos, devemos fazer nessas
condições?
a - Escatologia:
Particularmente,
eu penso que a Primeira Vinda de Cristo inaugurou a Era Cristã e que a Segunda
se dará quando, em definitivo, a Era Cristã terá findado. Conforme as profecias
de Daniel (capítulos 2 e 7), Roma, ou a cultura das nações que partilham da
herança ocidental romana, será derrubada, sendo substituída pelos povos por ela
suprimidos. A meu ver, é exatamente isso que tem acontecido. Mas, no final,
quem subjugará todos os povos será Deus, a Rocha, e tudo aquilo que se perdeu
com a Queda será reintroduzido na Eternidade. Tenho em mente que a primeira
coisa que devemos preservar, portanto, é uma firme esperança escatológica e a
convicção da importância de termos toda a vida centralizada em Deus.
b - Moral, Verdade e Razão:
Nós,
cristãos, podemos ser verdadeiramente efetivos nesse contexto de caos
pós-moderno e de desamparo civilizacional, pois a Civilização Ocidental foi,
por muitos séculos, uma civilização cristã. Nós temos respostas que só quem
nutre uma fé exclusivista e centralizada no único Deus pode carregar: nós temos
um sistema moral sólido e determinado, nós temos uma fundamentação para a
Verdade, nós temos uma base sólida através da qual pensar sobre o mundo, sobre a
realidade, por meio da qual filosofar. Ora, se o ocidental, mais uma vez, está
matando a filosofia, mais uma vez caberá a nós, cristãos, o seu salvamento.
c - Intelectualidade:
Com
o abandono da Razão, a própria Academia, enquanto ambiente de debates e
florescimento de ideias, tem morrido no Ocidente. Na Idade Média, as
Universidades foram essenciais na resolução tardia do conflito de civilizações
que teve seu ápice nas Cruzadas. Num contexto no qual as universidades têm sido
usadas basicamente para a perpetuação dos ideais de Gaia, os seminários e
ambientes de estudos cristãos terão sua proeminência: a preservação do clima de reverência e a insistência no debate, no exercício da retórica e da
dialética, colocarão sobre nós o encardo de fornecer respostas profundas para
um povo desesperado, mas, por enfatizar os prazeres, superficial.
A
dependência cristã da filosofia e do entendimento da história do
desenvolvimento do pensamento teológico e filosófico ocidental, assim como das
línguas originais das Escrituras, dos princípios de interpretação de texto, da
exegese e da hermenêutica, da arqueologia, da história e da cultura Antiga, de
noções de psicologia, dentre outras esferas do pensamento, todas unificadas em
Deus, nos colocará naturalmente numa posição relevante num cenário de
generalizada supremacia da subjetividade e das verdades individuais. É da maior importância termos respostas cristãs profundas para a existência da Verdade, para a Moral objetiva, para o Belo, para a sexualidade, para a política, e para outros temas pertinentes ao nosso tempo.
Dentro
desse tópico, tenho por relevante o empenho no estudo da cultura e do
pensamento pós-moderno, assim como das fundações da cosmovisão muçulmana.
Devemos saber quem somos e também quem os próximos são, para que a comunicação
se torne possível, para que não tenhamos medo, pelo desconhecimento, de principiar
uma conversa. A intolerância, enquanto medo de conviver, geralmente é produto
da ignorância, da fuga daquele tido por desconhecido e, por isso, imprevisível.
Se nos tornarmos conhecedores de nossa cultura e daquela que nela está
influindo, poderemos reintroduzir na mente pós-moderna o senso de identidade
civilizacional cristão e, ao imigrante, apresentar, com sabedoria, a nossa fé,
sabendo o que ele pensa sobre nós e tendo em mente as pressuposições de suas
crenças religiosas. Para tal, o aprofundamento apologético se faz determinante.
d - Arte e Cultura:
O
conceito de Belo e a vívida esperança em Cristo, nutrindo-nos de um entusiasmo saudável, levar-nos-á a um aperfeiçoamento das artes e da cultura, e isso,
indubitavelmente, será fator de refrigério pras almas exauridas pelos dadaísmos
pós-modernos. Por meio de uma arte centrada em Deus, será possível transmitir
os valores cristãos e fundantes da Civilização de uma maneira cativante.
e - Vida cotidiana:
Vivendo
para a glória de Deus, teremos motivos mais profundos para a excelência na lida com tudo
aquilo que colocarmos nossas mãos, pois não realizaremos nada nessa vida com
enfoque num "eu absoluto", por vias totalmente utilitaristas, mas essencialmente
para glorificar ao Criador. Dessa maneira, seremos boas testemunhas de Cristo e
disseminadores dos valores cristãos em qualquer profissão e atividade. Precisamos dar respostas práticas!
f - Política e Responsabilidade Social:
Na
política, não devemos nos deixar absorver e ideologizar por nenhuma vertente do
pensamento desde século. Definir-se, enquanto ente humano, por qualquer coisa que não é Deus, é idolatria. Podemos nos alinhar melhor a uma determina perspectiva política, mas
se reduzirmos a nossa fé à ideologia, nos tornaremos volúveis. Contudo, por mais que não nos enquadremos no ideário progressista, não
devemos, de modo algum, outorgar ao Estado e aos movimentos sociais a nossa
responsabilidade social e caritativa cristã. Devemos lutar em favor da mulher,
sim! Em favor dos pobres, em favor dos estrangeiros! Em favor dos excluídos,
sempre! O que não devemos, porém, é nos deixar absorver por um romantismo
irrealista e encabeçar movimentos sociais com interesses que não estejam
associados ao amor pelo próximo.
g - Realismo e Objetividade:
Esse
movimento, para nós, não é tão difícil, pois, sabendo que temos uma vida eterna
em Cristo, não somos levados a procurar irrealidades e messianidades nesse
mundo, o que sempre acarreta num otimismo, que ignora as mazelas, ou num
pessimismo, típico de quem procurou redenção e, não encontrando-a em lugar algum,
desistiu de procurá-la. Não somos pessimistas, por sabemos que tudo tornará ao
Criador, que estamos seguros em Seu amor e soberania. Por isso, também, podemos
olhar para o mundo e apreciá-lo pelo que ele é, sem necessidade de procurar
nele algum significado existencial que lhe tire a objetividade. Nós podemos nos
relacionar com um mundo objetivo!
h- Ecologia:
Nesse
sentido, também seremos relevantes no que concerne à ecologia. Enquanto o
ocidental tenta proteger a natureza como parte de seu culto egoísta ao
panteísmo de Gaia, visando a sua própria sobrevivência pelo afastamento do
"Aquecimento Global", para tal retirando a objetividade e a realidade
da natureza, que humaniza ao transferir para ela suas próprias demandas
existenciais, nós somos levados a protegê-la pelo que ela é: criatura do mesmo
Deus que nos fez, que nos ama e que a ama. Para a glória do Criador e em
respeito ao que Ele fez como algo bom em nosso favor, deveremos nos relacionar com o meio
ambiente de uma maneira saudável, admirável.
i - Casamento, Família, Lares e Igrejas:
O
nosso relacionamento moral com os outros e com nosso próprio corpo é
fundamental para essa empreitada. Da mesma maneira, a preservação do casamento
e da família enquanto instituições cristãs e produtoras de capital moral, para
a glória de Deus, será ferramenta da mais elevada importância. A perpetuação
de hospitaleiros lares cristãos é a essência de igrejas e comunidades cristãs
fortes, que venham a suster todos os movimentos de que temos falado nesses
últimos parágrafos.
j - Senso de Oportunidade e de Perseverança:
Seguro
em Cristo, tenho visto no atual cenário do Ocidente uma preciosa oportunidade
para a Igreja se purificar e ser, efetivamente, sal e luz, conforme Mateus
5:13-16. Nós fazemos parte da sociedade ocidental, nós somos responsáveis pelo
que tem acontecido e também temos responsabilidade pelo que virá. Apesar de
tudo, numa era pós-cristã, o Ocidente se divide em algo que podemos ter por
duas civilizações, a cristã e a pagã/secular, de modo que o atrito é
inevitável. Basta, porém, mantermo-nos corajosos e dispostos, capazes de amar o
mundo seguindo o exemplo sacrificial de Jesus, resolutos na preservação dos
pilares da fé, mas abertos ao diálogo e, inclusive, ao sofrimento. Quando temos
certeza de que Ele sofreu por nós, de que Ele está conosco, de que sofremos por
Ele e por amor aos que Ele ama, abrir mão de vaidades e conveniências se torna
mais fácil.
Por
isso digo que não podemos carregar em nós a mesma paz que a de nossa atual
cultura, a paz oriental de quem não se importa com a vida: a paz de Cristo é
que devemos carregar, e essa é uma paz aguerrida, ardente em amor por aqueles
para quem Deus quer apresentar a Sua paz, que excede todo o entendimento. A paz
que devemos carregar é a paz de quem ama a vida, é uma paz dinâmica, alerta,
realista. E é assim que seremos, de fato, usados pelo próprio Criador, efetivos
diante dos outros dois povos, dos pagãos/seculares e dos muçulmanos. Que Cristo
seja visto em nós, e que mais visto seja quanto mais tivermos que sofrer por
não negá-Lo como Senhor e Salvador.
Natanael Pedro Castoldi
Bibliografia:
1 As Grandes Batalhas da História, 1, Larousse, 2009,
pgs 44-45; Revista Leituras da História, Escala, nº 58, 2013, pgs 24-31.
2 Revista História Viva, Roma, Os Últimos Dias do
Império, pg 32.
3 Compreender Kierkegaard, France Farago, Vozes, 2009,
pgs 119-128.
4 Progresso e Religião, Christopher Dawson, É
Realizações, 2012, pg 12.
5 Fonte: Revista História Viva, Roma, Os Últimos Dias
do Império, pg 33.
6 Revista História Viva, Roma, Os Últimos Dias do
Império, pg 23.
7 Como os Monges Irlandeses Salvaram a Civilização
Ocidental, Thomas Cahill, Objetiva, 1999, pgs 21-43.
8 Guia Ilustrado Zahar de Mitologia, Zahar, 2010, pgs
38-39.
9 História
das Religiões, Crenças e Práticas Religiosas do Século XII aos Nossos Dias,
Folio, 2008, pg 14; A Morte da Razão, Francis Schaeffer, Fiel / ABU, 1997, pgs
7-10.
10 O Livro da Filosofia, Globo Livros, 2012, pgs 116-123,
130-133, 148-153, 164-171, 178-188, 214-221.
11 O Livro que Fez o Seu Mundo, Vishal Mangalwadi, Vida,
2013, pgs 302-313.
12 Curso de Filosofia, 1, Battista Mondin, Edições
Paulinas, 1982, pgs 9-14.
13 Curso de Filosofia, 1, Battista Mondin, Edições
Paulinas, 1982, pgs 39-40; O Livro que Fez o Seu Mundo, Vishal Mangalwadi,
Vida, 2013, pgs 103-119.
14 O Cristianismo Através dos Séculos, Earle E. Cairns,
Vida Nova, 2008, pg 76-77.
15 Ameaça Pagã, Peter Jones, Cultura Cristã, 2002, pgs
51, 55 e 57; Curso de Filosofia, 1, Battista Mondin, Edições Paulinas, 1982,
pgs 26-28; Pós-Modernismo, Stanley J. Grenz, Vida Nova, 2011, pgs 179-182.
16 Angela Merkel: os europeus deveriam ter a coragem de
voltar à Igreja e à bíblia, Aleteia, 05/10/2015, acessado em 20/11/2015. http://pt.aleteia.org/2015/10/05/angela-merkel-os-europeus-deveriam-ter-a-coragem-de-voltar-a-igreja-e-a-biblia/
Literatura recomendada:
Toda a
bibliografia utilizada no artigo é recomendada. Outras indicações, abaixo.
- O Deus que
Intervém, O Deus que se Revela e Poluição e a Morte do Homem, de Francis
Schaeffer, pela Cultura Cristã, 2009, 2007 e 2003, respectivamente.
- Calvinismo,
Abraham Kuyper, Cultura Cristã, 2014.
- Raízes da
Cultura Ocidental, Herman Dooyeweerd, Cultura Cristã, 2015.
- A Arte
Moderna e a Morte de uma Cultura, Hans Rookmaaker, Ultimato, 2015.
- Ortodoxia e O
Homem Eterno, G. K. Chesterton, Mundo Cristão, 2008 e 2010, respectivamente, e
O Que Há de Errado Com o Mundo e Hereges, de G. K. Chesterton, Ecclesiae, 2013
e 2014, respectivamente.
- Cristianismo
Puro e Simples e A Abolição do Homem, C. S. Lewis, Martins Fontes, 2014 e 2005,
respectivamente.
- Apologética
Cristã, Cornelius Van Til, Org. William Edgar, Cultura Cristã, 2010.
- Apologética
Cristã Para o Século XXI, Louis Markos, Central Gospel, 2013.
- Não Tenho Fé
Suficiente para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012.
- Heresia,
Alister McGrath, Hagnos, 2014.
- A Heresia da
Ortodoxia, Andreas J. Köstenberger e Michael J. Kruger, Vida Nova, 2014.
- O Jesus
Fabricado, Craig Evans, Cultura Cristã, 2009.
- Cristo Entre
Outros Deuses, Erwin E. Lutzer, CPAD, 2011.
- Visões e
Ilusões Políticas, David T. Zoyziz, Vida Nova, 2014.
- Fé Cristã e
Cultura Contemporânea, Orgs. Leonardo Ramos, Marcel Camargo e Rodolfo Amorim,
Ultimato, 2009.
- Como a Igreja
Católica Construiu a Civilização Ocidental, Thomas E. Woods Jr., Quadrante,
2013.
- Uma História
Politicamente Incorreta da Bíblia, Robert J. Hutchinson, Agir, 2012.
Gostei muito Tael. Que nosso Mester continue te iluminando e nos fazendo refletir sobre este tempo à luz das Escrituras e da verdade que é o Cristo anunciado, encarnado e vivo em nós por sdeu Espírito! Parabéns!
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