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Definição de "religião": "Os gregos, por exemplo, empregavam o termo 'terapia' (therapeia), ou seja, o cuidado associado aos altares, o apreço pelos lugares e ministros dos cultos. Já as línguas latinas e germânicas preferiram expressar a ideia por um termo derivado do latim religio (do verbo relegere, recolher), que significa escrúpulo, temor piedoso, sentimento de respeito em relação ao sagrado. No entanto, os autores cristãos associaram religio e religare (religar)." Fonte: Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet, Globo, 2002, pg 3. Da mesma fonte, também lemos que os chineses tinham como definição de religião o "ensino dos ancestrais" e os japoneses observavam o "ensino do essencial". Note que o significado de "religião" utilizado antes do cristianismo e ainda vastamente entendido associa o termo ao cuidado do local e dos objetos de culto e à obediência aos preceitos divinos, cuidando em manter as tradições dos antigos. Os cristãos observaram que a Boa Nova não compactuava adequadamente com o entendimento mais comum de religião e tiveram que trabalhar a palavra e revisar o seu significado - No Evangelho de João a palavra "crer" ("crer em Cristo") aparece 98 vezes e sempre sob a forma de verbo, nunca como substantivo - é "crer", não "crença". Fonte: Panorama do Novo Testamento, Walter M. Dunnett, Curso Vida Nova de Teologia Básica, 3, Vida Nova, 2005, pg 34. As crenças em geral entendiam que o homem, por vias materiais e morais, deveria atingir Divino, enquanto o cristianismo entendia que o Divino, por graça, atingia o homem. Por sua natureza singular, a Mensagem de Cristo precisou encontrar novos termos, simplesmente não se encaixava nos formatos que já existiam, ficando a questão: o cristianismo realmente pode ser considerado uma religião? Algo como as demais demonstrações de fé?
Definição de "religião": "Os gregos, por exemplo, empregavam o termo 'terapia' (therapeia), ou seja, o cuidado associado aos altares, o apreço pelos lugares e ministros dos cultos. Já as línguas latinas e germânicas preferiram expressar a ideia por um termo derivado do latim religio (do verbo relegere, recolher), que significa escrúpulo, temor piedoso, sentimento de respeito em relação ao sagrado. No entanto, os autores cristãos associaram religio e religare (religar)." Fonte: Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet, Globo, 2002, pg 3. Da mesma fonte, também lemos que os chineses tinham como definição de religião o "ensino dos ancestrais" e os japoneses observavam o "ensino do essencial". Note que o significado de "religião" utilizado antes do cristianismo e ainda vastamente entendido associa o termo ao cuidado do local e dos objetos de culto e à obediência aos preceitos divinos, cuidando em manter as tradições dos antigos. Os cristãos observaram que a Boa Nova não compactuava adequadamente com o entendimento mais comum de religião e tiveram que trabalhar a palavra e revisar o seu significado - No Evangelho de João a palavra "crer" ("crer em Cristo") aparece 98 vezes e sempre sob a forma de verbo, nunca como substantivo - é "crer", não "crença". Fonte: Panorama do Novo Testamento, Walter M. Dunnett, Curso Vida Nova de Teologia Básica, 3, Vida Nova, 2005, pg 34. As crenças em geral entendiam que o homem, por vias materiais e morais, deveria atingir Divino, enquanto o cristianismo entendia que o Divino, por graça, atingia o homem. Por sua natureza singular, a Mensagem de Cristo precisou encontrar novos termos, simplesmente não se encaixava nos formatos que já existiam, ficando a questão: o cristianismo realmente pode ser considerado uma religião? Algo como as demais demonstrações de fé?
Geralmente, nos meus escritos, associo o cristianismo ao termo "religião", mas isso porque comumente tal relação é feita e é mais fácil dirigir-se ao cristianismo dessa forma. Agora, em vias mais profundas, através de uma análise mais sóbria da teologia cristã e para os que são verdadeiramente cristãos, o cristianismo simplesmente é incompatível com a significação usual de "religião". De um modo geral, "religião" resume uma prática de ritos, uma junção de preceitos doutrinários, o seguir por uma via de obediência e aproximação da divindade. Basicamente todas as religiões trabalham com a adoração de objetos sagrados ou com rituais externos que, supostamente, influenciam a Divindade. Nesses termos mais comuns, o cristão não necessariamente precisa se considerar membro de uma religião ou um indivíduo religioso. Segue a breve resposta que publiquei no facebook.com ao me deparar com esse questionamento:
Dentro das definições mais comuns daquilo que é religião, o cristianismo, em sua síntese teológica puramente bíblica, não pode ser completamente considerado como uma. O cristão não se baseia simplesmente em regras de conduta, não prega que existe um caminho de normas e disciplinas para chegar ao Paraíso, não se pode dizer que o cristão, para ser cristão, depende de um prédio, de um livro, de músicas ou do poder de um "mago". O cristianismo se baseia no relacionamento racional (por vias espirituais) do cristão com uma pessoa que realmente existe, Jesus Cristo. O cristianismo se baseia em uma pessoa histórica e em acontecimentos históricos, como a Ressurreição. No cristianismo Deus fala de dentro do cristão para fora, de modo que Deus está no indivíduo, não num prédio, num livro e nas demais coisas que já citei. Não existe nada mágico no cristianismo: simplesmente abrir a Bíblia não libera poder espiritual, simplesmente comer algo "ungido" não leva a pessoa mais pra perto do Criador, simplesmente cantar uma música não faz a pessoa ter "mais Espírito Santo", simplesmente fazer parte de uma congregação e frequentar a celebração não faz a pessoa "mais santa". O cristianismo é racional: o que muda é aquilo que você vai fazer, na prática, mediante o louvor cantado, a Bíblia lida, a celebração participada... E, por fim, no cristianismo não entendemos que aquilo que o homem faz o "aproxima ou afasta de Deus" - o cristão não pode estar mais perto de Deus ou mais longe, porque ele está em Deus e Deus está nele, sem merecimento, sem mérito. O que pode ocorrer é, numa vida regada pelo pecado e pela negação racional do Criador, uma ruptura brusca dessa ligação profunda, ou, através de um maior interesse pelo Altíssimo, uma revelação mais completa do Criador para com o cristão. Em termos gerais, o cristianismo não é religião e o cristão não precisa ser religioso.
É um fato, tomando como base a minha própria experiência de vida e os relatos de gigantes da teologia que tenho acompanhado, que o entendedor desses fundamentos do cristianismo há de viver, na prática, como alguém que não possui religião: lê a Bíblia para conhecer melhor o Criador (não por ritual ou obrigação), ora para simplesmente conversar com uma Pessoa real (não como um mantra ou palavras mágicas), participa da congregação cristã porque entende a importância de estar com os irmãos e demais seguidores de Cristo, que também são habitação do Espírito Santo (ele não o faz para obter mais poder). Esse cristão é alguém que não realiza ritual algum, de nenhuma espécie, que não possui superstição, não faz "simpatia", não tem medo de passar por baixo de escada, levantar com o pé esquerdo, deixar o gato preto passar na frente ou quebrar espelho. Não acha que existe algum dia no ano que é mais espiritual que os outros, nem na semana. Também não pensa que exista alguma hora do dia mais de Deus e outra mais do Diabo. Se ele esquece de orar antes de dormir, não se desespera, como quem não cumpriu com um ponto de um cronograma litúrgico, apenas retoma seu papo com Deus no outro dia, sem hora marcada e sem cerimônia. Ele não pensa que uma roupa fará diferença (mas é possível desonrar o Criador com roupas indecentes, certo?), ele não pensa que um grande templo terá mais espaço pra Deus agir ou que a multidão consegue chamar Deus com mais força. Ele não vê numa pintura ou escultura nada além de pedra e tinta, talvez observe a beleza e a figura representada. Ele não teme passar por cemitérios ou deixar de fazer uma reverência visível ao cruzar a frente de uma catedral. Ele não acha que Deus se irrita se falar alto dentro do templo (mas é melhor não irritar os outros, tá bom?) e também não pensa que orar de olhos fechados fará Deus ouvir mais (ele fecha os olhos pra se concentrar). Ele não jejua para atrair Deus, mas para se disciplinar, e não procura a solitude para se encher do Divino (ele apenas quer ouvir melhor o que Deus tem pra dizer). Ele crê na existência de um mundo espiritual, de demônios e anjos, e sabe que seus atos influenciam nessas realidades, mas não vive preso a calendário, aparências e rituais irracionais. Ele cuida para não escandalizar os demais ou ser mau testemunho. Ele é coerente. É isso que encontramos em Cristo e na teologia paulina.
"Jesus que não queria um movimento de massa, mas sim um lento e progressivo fermentar da sociedade através de um trabalho em profundidade, onde a comensalidade tem um lugar quase natural." Fonte: Cristãos da Terceira Geração (100-130), Eduardo Hoonaert, Vozes, 1997, pg 67.
Natanael Pedro Castoldi
Justificativas:
Obrigado pelo trabalho
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