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A Vida da Mulher Cristã no Período Pré-Institucional

Não raramente nos deparamos com o ignorante discurso de que o cristianismo, em essência, é inimigo da mulher, seu opressor. Mas a postura de Cristo, a mensagem cristã e a evidência arqueológica e papirográfica apontam para uma realidade muito diferente: num mundo hostil para o gênero feminino, a Igreja representou um agradável escape. Sim, possivelmente já no início da Era Cristã havia mais mulheres do que homens nas congregações, se organizando em grupos femininos de estudo e cuidados políticos - coisa impossível fora da Igreja. É sobre isso que veremos no trabalho que segue.

Existem evidências de uma maior presença feminina na Igreja Pré-Institucional? "(...) numa igreja africana, ainda em 303, as autoridades policiais confiscaram 38 véus, 82 túnicas de mulheres, 47 pares de chinelos femininos e apenas 17 peças de vestuário masculino."

Existiam grupos e cargos femininos dentro das igrejas? Um poderoso grupo de mulheres bastante atuante nas igrejas do período pré-institucional era a "Ordem das Viúvas", que por vezes entrou em atrito com o clero. "(...) surgiu em todas as igrejas desde épocas muito remotas uma 'ordem de viúvas'. Essas viúvas, na sua maioria pessoas carentes, tornaram-se com o tempo um grupo numérica e politicamente importante. As primeiras estatísticas que possuímos, do ano 250 em Roma, assinalam naquela cidade a presença de nada menos do que 1.500 viúvas."

"'Na Vida de Santa Febrônia', mulheres, leigas ou casadas, solteiras ou viúvas, costumam reunir-se uma vez por semana, para ouvir as leituras da Sagrada Escritura, acompanhadas de uma explicação por parte de uma 'guia espiritual', uma 'mestra'. Está configurada assim a didascália feminina, que produziu grandes mestras como Macrina, Olímpia de Constantinopla, Melânia, todas grandes senhoras com considerável influência. (...) Podemos imaginar que desta forma as mulheres casadas, certamente a maioria, encontravam um pouco de paz e sossego das duras labutas em casa. Esses espaços serenos eram decerto os prenúncios dos conventos, mas mesmo assim estavam bem perto da vida dos casais. (...) nessas reuniões femininas tratavam-se de questões sociais como por exemplo o comportamento cristão diante dos escravos. (...) Ao que parece, só na Síria houve uma ordenação especial de mulheres como diaconisas. Mas em muitas regiões elas existiam e eram respeitadas nas comunidades."

Mulheres que revolucionaram: Tertuliano, ao falar de passagem sobre um imperador, o caracteriza como alguém "criado com o leite de uma cristã". Certamente existiram muitas mulheres cristãs que trabalhavam como amas-de-leite, babás, arrumadeiras e cozinheiras nos lares romanos. Sem dúvida essas babás cristãs, com seu jeito diferente de ser (tendo o suporte da Igreja), influenciaram derradeiramente em boas famílias romanas. Tertuliano também nos informa que a mulher tinha profunda influência no "mundo dos presos", uma vez que apresentava uma facilidade maior em penetrar nos presídios do que o homem, onde desenvolvia projetos evangelísticos e sociais.

Alguns aspectos da mensagem de Cristo: "(...) 'muitas mulheres' pertenciam ao grupo de Jesus e com ele costumavam empreender as longas viagens da Galiléia para Jerusalém." Minha fonte também relata que o Novo Testamento mostra as mulheres atuando em "primeiro plano", não só nos bastidores (cuidando dos serviços básicos) - é dito, inclusive, que Jesus se posiciona como uma mulher em Mc 10:45: "Eu não vim para ser servido, mas para servir". Repare, ainda, na honra que Cristo dá para a mulher em Betânia, que derrama óleo sobre a sua cabeça em Mc 14:9. "Ele [Jesus] sintoniza com as mulheres, conversa livremente com elas (Jo 4), embora os homens não gostem nem um pouco, pois seu comportamento entra em conflito direto com a mentalidade da época. Certas reações de Pedro (Mc 8:31), dos discípulos (Mc 9:30), de Tiago e João (Mc 10:32) mostram que os homens sempre tiveram dificuldade em entender esse tipo de comportamento." 

A mulher cristã, em comparação com a forma deprimente com que as culturas romana e judaica apresentavam o gênero feminino, aparece em cores muito vivas. Lembre de Jesus e a mulher samaritana, Jesus com Marta e Maria, a honra que Ele dá para a mulher que lhe derrama óleo na cabeça (desejando que a sua memória jamais se perdesse), a forma como o Novo Testamento convida a todos, discípulos e discípulas, para o banquete de núpcias do Cordeiro (Ap 19:9). As mulheres "são absolutamente essenciais no primeiro seguimento, oferecem suas casas para as reuniões (At 12:12-16), hospedam os missionários (At 16:12-14), confeccionam roupas para a comunidade (At 9:36-39), dirigem comunidades (At 18:26-27), falam nas reuniões (At 21:9) e sobretudo: preparam os alimentos. São elas que dão, de forma realista, o primeiro encaminhamento ao projeto original: pão para todos, cuidados e ternura para os que precisam."

Enquanto isso:
A mulher no contexto judaico:
"O judaísmo era terrível para as mulheres". Nele a mulher não existia senão para organizar a casa e servir o marido. É claro que o Antigo Testamento apresenta a mulher de uma forma ainda mais amistosa do que o comum no Oriente Médio, mas a sua atuação estava longe de reviver a harmonia entre os gêneros apresentada em Gênesis 1 e 2. Ela não podia sentar-se na mesa com os homens, já que os servia (lembre que na Igreja as mulheres sempre participaram da Ceia com os homens); seu corpo sempre era considerado impuro, seja por causa da menstruação, seja pelo simples ato de deitar com o marido - é por isso que a mulher sempre tinha que usar o véu sobre a cabeça (só as prostitutas não o usavam); a mulher sem véu era imediatamente repudiada pelo marido, sem complicações legais; os rabinos não apareciam em público ao lado de suas mulheres - "ao contrário, encontrando-as no caminho, nem as saúdam. O normal é que a mulher se apresenta em público de tal forma que não pode ser reconhecida" - um sacerdote chegou a condenar a sua própria mulher por adultério sem ao menos tê-la reconhecido.

A mulher no contexto romano:
"Ela também é a serva, a pessoa dócil e submissa que em tudo segue o marido". Os filósofos comparam a mulher a "tudo que é vago, sem objetivo, desprovido de forma e de direção" (ao contrário do homem, "firme, sólido e decidido"). Devemos, ainda, lembrar do insuportável peso que a esterilidade poderia produzir por sobre a mulher. Também era comum que a esposa perdesse a atenção do marido e o seu amor ao ser trocada por uma escrava. Na sociedade romana a mulher só podia estudar até os 12 anos, enquanto o menino seguia se aprofundando no conhecimento, e aos 14 anos já poderia ser chamada de "domina", "kyria", "senhora". A mãe de Sêneca, por exemplo, foi impedida de estudar filosofia pelo marido, pois este considerava "tal matéria um caminho para a libertinagem". A vida da mulher era totalmente controlada pela sociedade: enquanto a vestimenta do homem acompanhava o seu status social, para a mulher a vestimenta era o seu próprio status.
Fonte: Os Cristãos da Terceira Geração (100-130), Eduardo Hoornaert, Vozes, 1997, pgs 72-78.

O Plano Original e a questão de gênero:
"Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea Ele os criou' (Gn 1:26-27). Dessa forma, o ser humano é semelhante a Deus precisamente em sua duplicidade como homem e mulher. 
(...)
essas frases de Gn 1 deixam claro para mim que o homem só se torna semelhante a Deus quando ele resolve a sua relação com a mulher e dá a essa relação a forma originalmente destinada por Deus: não como subordinação, mas sim como igualdade; não com desprezo nem oposição, mas sim em comunhão; não como divisão, mas sim tornando-se um."
Fonte: Homens da Bíblia, Anselm Grün, Vozes, 2013, pgs 20-22.

Existe uma diferença clara entre apoiar uma igualdade perante Deus e a sociedade, coisa que o cristianismo resgatou, e colocar a mulher acima do homem, como o extremismo feminista tem tentado. Apesar de haver igualdade de valor e uma grande liberdade para a mulher cristã, a configuração familiar apresentada pela Bíblia coloca o homem na posição de de liderança e proteção, ou seja: no lugar mais difícil. O amor que o homem é estimulado a ter pela sua família, em sua liderança, é o mesmo que Cristo tem pela Igreja: um amor sábio, um amor profundo, um amor tão forte que chega a constranger, um amor sacrificial. Cabe ao homem amar sua esposa e a sua família como Cristo amou a Igreja, enquanto a mulher é orientada a respeitar o seu marido e cooperar para o bom andamento da casa. Imagino que não exista sistema mais eficiente para a constituição de uma família sólida e feliz, baseada no amor e no respeito, sem abuso, sem exploração, sem desprezo, sem traição, sem violência, sem humilhação. É, se mais famílias assim fossem, teríamos crianças melhores... teríamos adultos melhores... teríamos uma sociedade muito melhor. Mas como cristãos devemos ter a esperança de que aquilo que foi no Éden e de que aquilo que a Igreja começou a resgatar, se fará novamente pleno na eternidade vindoura, no Paraíso onde todos realmente serão um com Deus.

Natanael Pedro Castoldi

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