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O Século da Caverna - Parte 2: Mentalidade Primitiva

O texto é vasto, mas é o que de melhor tenho entendido sobre o renascimento do misticismo e paganismo no Ocidente. A ideia de escrever esse grande trabalho se deu com uma breve leitura do livro Magia Branca, Prátias Para Atrair a Luz em Sua Vida, Beatriz Pardini, Madras, 1999, que recebi emprestado de um dito parapsicólogo e, com base nele, formulei uma resposta desafiante. Como eu normalmente não compraria um livro assim, aproveitei a oportunidade de tomá-lo empresto de um parapsicólogo e, com base em sua análise, levantar um questionamento. Espero que a leitura seja agradável e instrutiva. Texto publicado no dia 2 de setembro de 2013 n'O Mirante.

Leia a Parte 1, Regresso aos Primórdios. Segue a continuação:

Alguma coisa está errada no mundo ocidental... quando finalmente descobrimos que a gripe é um vírus, não uma maldição, muitos começam a pregar que “gripe não existe, é coisa da cabeça”. Quando finalmente conseguimos analisar os fundamentos elementares mais básicos e minúsculos da matéria, onde não há nada de espetacular, há quem brade que uma determinada pedra guarda poderes mágicos. Quando finalmente entendemos o fogo, que há milênios dominamos, e como sentimos o cheiro das coisas, há quem diga que o fogo de uma vela verde com cheiro de hortelã produza algum efeito sobrenatural. Será que voltamos aos primórdios? Os que hoje pensam dessa forma têm sorte de ter nascido num mundo construído sob outra perspectiva... e podem refletir melhor sobre isso enquanto tomam banho de ducha o fazem suas necessidades no vaso sanitário – duas das muitas coisas que não existiriam se a humanidade tivesse trilhado por muito mais tempo os seus raciocínios tribais dos tempos primitivos, raciocínios esses que os novos místicos adotam e disseminam de seus computadores para a internet, que também são frutos da profundeza da razão.

Analisando as novas filosofias, mediante aquilo que a humanidade conquistou, não consigo sentir nada além de tristeza. Nós entendemos como as estrelas funcionam e sabemos que elas não possuem personalidade, significado, nem nada além de reações químicas, mas, ainda assim, há quem pense que suas explosões mortais de luz e radiação influenciem nalguma coisa em nossa vida terrena. Há quem olhe para o céu noturno vislumbrando estrelas que estão há milhares de anos-luz de nós e entre si, formando desenhos questionáveis aos nossos olhos - e desenho nenhum quando nos aproximamos delas -, dando significados a tais símbolos e pregando que essas estrelas, sem nenhum contato entre si e sendo objetos inanimados, confeccionem, em conjunto, o destino futuro de cada um dos seres humanos – destino esse sempre muito genérico e óbvio. Eu não consigo entender! Como elas conversam? Como elas chegam a conclusões? Como são unânimes? Como preveem meu futuro? Como comunicam essas informações aos videntes, que apenas vêem um desenho disforme no céu? Eu gostaria de saber qual é a ponte que as liga entre si e as liga a nós... Há quem diga, ainda, que dependendo da posição dos astros no céu, é melhor eu usar chinelos em determinado dia, ou uma roupa azul numa outra ocasião – que atentos que são os astros, não é mesmo? Um pedaço de borracha no meu pé certamente libera uma energia para o cosmos, influenciando no meu futuro...

Vou ser mais claro: no dia tal, com o alinhamento tal, eu devo usar uma bota de couro preto para atrair sorte sobre a minha vida, é o que podem dizer. Mas, pense bem, que diferença faz um pedaço de couro morto em contato com a cama de células mortas que constitui a superfície da pele dos meus pés? Qual é a lógica disso? Que diferença existe em usar uma bota de couro, pisar num tapete de couro ou vestir uma meia de lã? Qual é a reação diferente que se desenvolve usando a bota?! E como ela, em contato comigo e com o solo, emitirá informações aos astros? Ou atrairá “energias positivas” sobre a minha vida? Que é o couro?! Que diferença faz o couro na bota ou no animal vivo? Que diferença existe entre um trapo de couro ou sua disposição em forma de bota? A forma muda muito? E a cor? O que é um pigmento de tinta? O que é senão a solução de determinados tingimentos?! Que é um tingimento? É algo além do produto inanimado que extraio de certos minerais, seres vivos ou reações químicas? O que é o elemento mineral? O que é a célula animal morta? O que é uma reação química? Que diferença isso faz no mundo espiritual?! E a combinação da cor com o couro em forma de bota e com o meu pé, qual é a ligação de uma coisa com a outra e como isso produz um efeito sobrenatural sobre a minha vida? Será que o impessoal e irracional mundo sobrenatural percebe alguma coisa?! Eu gostaria muito de saber...

Vamos lá, reflita! Que diferença há entre uma pedra bruta ou uma pedra com algumas partes removidas para formar uma imagem coerente, mas que mantém os mesmos elementos originais? Que é, senão, uma imagem? O que é um som, senão uma onda resultante da movimentação da matéria? Que é essa matéria que se move, senão apenas um conjunto de estruturas químicas? Por que a música, produzida pela movimentação dessa matéria e emitida em ondas, fará alguma diferença?! Qual é a lógica?! Que é uma forma? Que é uma cor? Que são essas coisas dentro do Universo?! Eu sei o que são: elementos que influenciam no psicológico – quando a música parece atrair a entidade, na verdade ela está emocionando o ouvinte, de modo a criar um ambiente propício para seu transe; cada cor levanta emoções determinadas no psicológico humano, de modo que fazemos uso delas com base naquilo que nossa mente sente; a forma da pedra ou do couro também não é nada senão algo que instiga nossa imaginação e proporciona um ambiente diferenciado e emocionalmente propício para o desenvolver do ritual. A verdade é que os movimentos de Nova Era são puramente frutos da emoção: sua origem, em repulsa ao Modernismo, é embasada nos sentimentos ruins em relação ao mundo tradicional, e a forma como os místicos encontram seus êxtases é questionável, obtida através de sons, chás, imagens, cores, cheiros, meditações, privações... que criam um ambiente emocionalmente adequado para que as suposições sobrenaturais se façam verazes, isso através da manipulação da mente, de alucinações ou interpretações errôneas de eventos reais. Tudo isso se intensifica quando esse grupo, que crê no que quer, não no que entender, se fecha em sociedades alternativas e grupos de culto, onde todos concordam entre si, onde há lucro social em ser coerente com o pensamento comum, onde a atmosfera de euforia se generaliza.

Observação: creio piamente na existência de seres espirituais e igualmente acredito que eles influenciam em diversos cultos religiosos pagãos, sendo interpretados pela Bíblia como demônios, mas também acho que nem tudo deve ser interpretado como advindo do Mundo Espiritual. Também acredito que o homem, como possuidor de espírito próprio, detém um certo grau de poder espiritual inato, o que, de alguma forma, influencia no culto. Por fim, acredito que algumas das curas e conquistas obtidas em rituais místicos se resumem a empolgação psicológica e o chamado "efeito placebo" - a disposição mental alterada pela euforia religiosa pode influenciar parcialmente sobre a saúde do corpo. Noutras situações, o indivíduo, querendo crer, força interpretações de eventos corriqueiros ou casuais como respostas ao seu clamor espiritual.

O homem tem duas forças incontroláveis: a curiosidade pelo desconhecido, pois o ser humano é um ser explorador, e o anseio por dominar o máximo que puder. O pensamento religioso pós-cristão, portanto, pode ser incentivado antes por suprir aquilo que o ser humano instintiva e racionalmente quer, do que por conter informações científicas e verazes. Quando eu digo que, com o poder do pensamento, atraio para mim aquilo que quero e que, se juntar uns cristais coloridos pôr fogo em velas aromáticas e andar em círculos, cantando e vestindo uma roupa exótica, consigo obter do cosmos ou dos espíritos aquilo que desejo, estou simplesmente me deixando levar pelo meu instinto dominador e isso pelas atraentes veredas do desconhecido. Na realidade, que diferença faz para o cosmos se eu fizer uso de velas coloridas e aromáticas, uma cor a cada dia da semana, por um certo tempo? Tudo é nada além de cera colorida e cheirosa derretendo mediante o calor. Também acho improvável que algo no mundo espiritual tenha algum interesse por cheiros de vela, que são apenas fumaça e aroma para o mundo material – ou seriam os espíritos como que máquinas, atraídos e ativados instantaneamente por intermédio de qualquer ritual?

Outro problema com todas essas religiões místicas é que o objeto de estudo, que são os espíritos dos mortos ou da natureza, habitam em um mundo inatingível e, portanto, não podem ser devidamente estudados. São os espíritos, nessas religiões, as fontes máximas de autoridade espiritual e de verdade, mas como posso saber se esses espíritos são bons ou maus? Como posso saber se a maioria não é má? "Porque eles dizem isso"... mas como eu posso confiar no que eles dizem, se o seu mundo me é inatingível e eu jamais poderei verificar a veracidade das suas informações? Dentre as religiões existente, me é interessante conferir credibilidade a única religião que se baseia em eventos históricos vastamente testemunhados, eventos esses que eu posso analisar dentro da história humana e com base em uma historiografia aceitável - o cristianismo não é apenas abstração intelectual, tampouco uma aposta em dizeres de supostos "bons espíritos" sobre os quais só posso saber aquilo que eles mesmos dizem sobre si mesmos. No mais, analisemos com coerência as fontes históricas e psicológicas da atual busca pelo espiritual em nosso mundo e verifiquemos a sua valia - lembrando que muitos cristãos estão desenvolvendo uma busca espiritual aos moldes pagãos. É preferível crer naquilo que acreditavam os mártires apostólicos, que viram Cristo e escolheram racionalmente morrer por Ele, ou naquilo que os feiticeiros entranhados no mundo bestial preservaram de um passado pré-cristão, pré-científico e pré-histórico?

Natanael Pedro Castoldi

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