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Como os Monges Cristãos Salvaram o Conhecimento Greco-Romano

Como já disse noutros textos, afirmar que a Igreja Medieval foi um retrocesso total para nosso mundo não é nada além de lorota iluminista, com seus trezentos anos de idade, argumentação já severamente refutada através de cuidadosas análises de documentos antigos. Infelizmente aqueles que acusam os cristãos de pensar de modo antiquado, são justamente (quase sempre) os mesmos que se apegam a argumentos dos tempos de Napoleão. Em nossos dias estão surgindo historiadores mais desapegados da ideológica análise historiográfica marxista, do pessimista método iluminista ou da heroica percepção positivista. Uma análise mais crua e veraz da realidade passada tem sido feita, procurando conhecer a história como ela é, embora não de modo totalmente imparcial, já que só o fato de militar em prol de uma desfragmentação das tendenciosas análises das escolas historiográficas anteriores já faz o trabalho pender para a direção do pensamento do historiador. De qualquer modo, me parece saudável propôr uma alternativa mais sóbria e mais humana para nosso passado - analise os trechos que aqui citarei e tire as suas próprias conclusões.

"Revolução silenciosa" é como a minha primeira fonte caracteriza a história da escrita na Idade Média. Os monges, isolados em florestas e montanhas, distantes do resto do mundo, resistindo às adversidades climáticas, ao sofrimento, ao cansaço e aos invasores bárbaros, foram os maiores responsáveis pela perpetuação dos conhecimentos que as massas de fora do "mundo civilizado" pisotearam e queimaram, infestando o Império Romano de um avassalador analfabetismo, de uma desordem social e cultural inigualável - e é nesse contexto que encontramos o significado de "Idade das Trevas". Se não fossem os monges cristãos, os próprios inventores do que conhecemos como "livro", provavelmente nosso mundo seria muito diferente.

"Esses refúgios do mundo [os mosteiros], esses lugares onde o céu desceu na terra, essas ilhas de tranquilidade em um mundo turbulento, foram muito importantes para a reservação da cultura clássica, das letras. Claro, o mundo que nascia com as invasões bárbaras no século V era um mundo iletrado, um mundo sem escolas, um mundo sem ensino sistematizado e sem as tradições desenvolvidas no mundo antigo greco-romano. Nesse novo ambiente, a Igreja foi a única responsável pela preservação da cultura da Antiguidade e dos registros sobre a própria Alta Idade Média no Ocidente cristão. Quase tudo o que conhecemos sobre esses períodos históricos, obrigatoriamente, passou pelas mãos de um monge copista.
(...)
Mesmo sabendo que durante o Império Romano a Igreja não era exatamente uma instituição com preocupações especificamente culturais, ela foi a única que sobreviveu às invasões bárbaras. Assim, tronou-se, involuntariamente, a guardiã e a conservadora do que restou da cultura antiga, especialmente com o trabalho realizado nos mosteiros. Ali os monges reproduziam e preservavam laboriosamente os manuscritos greco-romanos, a cultura clássica." Como sequência do texto, é dito que essa preservação da escrita se dava pela observância cristã acerca da educação, do ensino e do cultivo das letras, para que o maior número possível de fiéis realmente entendessem o que é o cristianismo e se facilitasse a evangelização dos pagãos.
"Assim, a Igreja passou a ser - involuntariamente e por circunstâncias históricas alheias à sua vontade - a única detentora da escrita em meio a um ambiente barbarizado, tornando-se a única responsável pela educação formal, isto é, ela foi a única capaz de difundir a leitura e a escrita latinas, mesmo que lentamente devido ao pequeno número de educadores.
(...)
Infelizmente, por ignorância, má-fé ou mesmo hostilidade contra o cristianismo, o que se ensina nas escolas brasileiras é que a Igreja, ou pelo menos os clérigos, escondiam os livros e proibiam às pessoas o acesso à cultura. Nada mais distante da verdade! Pelo contrário, durante mil anos, a Igreja foi a única instituição divulgadora e incentivadora da educação. O cristianismo exige que o crente saiba ler e escrever para ter fé. E durante toda a Idade Média, os clérigos foram os professores que tentaram, a muito custo, difundir as letras em um mundo bárbaro e analfabeto."
A minha fonte também faz questão de ressaltar que, ironicamente, a únicas fontes escritas que temos sobre a cultura vulgar, ou pagã, da Idade Média, também vieram das mãos dos monges, ou seja: grande parte do que sabemos sobre os pagãos medievais se deve ao empenho dos monges cristãos, o que nos mostra que, sim, havia um razoável nível de respeito pelas culturas e pensamentos "diferentes". Não esqueçamos que as mais importantes obras dos escritores latinos e gregos também só sobreviveram por intermédio dos clérigos, já que o cristianismo fez farto uso dos pensamentos greco-romanos para sua sustentação filosófica. O que trouxe aqui se apresenta nas primeiras páginas do livro que tomei como fonte, o que o torna, evidentemente, uma riquíssima base para o entendimento do cristianismo medieval - o detalhe é que sua configuração é secular, não se tratando de material publicado por uma editora cristã. Fonte: Monges Medievais, Ricardo da Costa, Eliane Ventorim e Orlando Paes Filho, Planeta, 2004, pgs 5, 7, 9 e 10.

O livro O Cristianismo Através dos Séculos, Earle E. Cairns, Vida Nova, 2008, pg 104, nos diz que o período da Idade das Trevas de seu por advento das invasões bárbaras no Império Romano Ocidental, nos anos entre 365 e 1066 d.C., de modo que a Igreja, mediante o declínio do Império, viu-se no dever se conservar a cultura heleno-hebraica, tarefa que exerceu com excelência nos mosteiros, onde os manuscritos antigos eram cuidadosamente conservados e copiados. Noutro ponto, entre as páginas 104 e 105, presenciamos a queda interna e externa de Roma, de modo que Constantino resolveu que a melhor opção para salvar a cultura clássica era investir na Igreja Cristã – “A Igreja poderia servir como um novo centro de unidade e salvar a cultura clássica e o Império.” A cidade de Constantinopla, reorganizada por Constantino em 330 d.C. - antes era conhecida como Bizâncio -, serviu como um refúgio distante para o arquivamento desse conhecimento grego preservado nos mosteiros cristãos. Aqui temos as bases cristãs do Renascimento: os muçulmanos sitiaram Constantinopla três vezes entre 670 e 718 d.C., de modo que um número grande de eruditos orientais fugiram da maior cidade cristã do mundo para Roma, onde apresentaram aos ocidentais seu conhecimento de teologia grega. O fluxo constante de eruditos orientais para o Ocidente, intenso no século XV, antes de Constantinopla cair em 1453 d.C., semeou o Ocidente com uma série de manuscritos do pensamento grego que haviam sido preservados. Fonte: Os Cristãos, Tim Dowley, Martins Fontes, 2009, pgs 50 e 103.

Resumo: (1) invasões bárbaras e decadência da cultura greco-romana - (2) Igreja oficializada pelo Império Romano - (3) monges isolados passaram a copiar os manuscritos da Antiguidade Clássica - (4) Constantino envia muitos manuscritos clássicos para Bizâncio, Oriente - (5) queda do Império Romano do Ocidente, preservação dos documentos clássicos nos mosteiros e educação dos bárbaros - (6) invasões muçulmanas no Império Oriental, ameaçando Constantinopla (mesmo que Bizâncio), e fuga dos clérigos e sábios orientais para o Ocidente, levando consigo os documentos da Antiguidade Clássica anteriormente enviados para o Oriente por intermédio de Constantino (7) - fonte cultural para o irromper do Renascimento (8).

Natanael Pedro Castoldi

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