O texto que segue, retirado do anterior "A Bíblia, o Mal e as Heresias - Respostas Sobre Versículos Estranhos" e ampliado, pretende responder adequadamente ao mau uso de alguns versículos bíblicos para justificar o anticristianismo.
A Bíblia e as heresias:
Postagem "Mitologia", dO Mirante
A -"Jesus usa de barro para curar, por isso objetos podem ser meios de aplicação do poder de Deus -João 9:6-7":
Tal proposta não tem grande fundamento, mostrando-se mais um argumento desesperado para os que querem manter seu comodismo e secularismo, do que um posicionamento devidamente bíblico. Se você acha conclusivo tal trecho da Palavra, de Deus usando algo existente como ferramenta de cura, então explique a escassez de outros eventos desse tipo no Novo Testamento - há poucos, pois grande parte dos atos milagrosos de Jesus e dos apóstolos se consumaram de modo direto, sem a dependência da matéria, o que serve de padrão. Se Cristo não dependeu de matéria para curar outros cegos -Mateus 9:28-30-, então Seu poder é suficiente para não depender, de modo algum, de nenhuma matéria para curar em qualquer circunstância e qualquer problema, por isso não se pode crer que o "lodo" foi essencial na cura, mas foi o meio utilizado para curar uma pessoa específica, segundo a lição que Cristo lhe queria ensinar e conforme o que havia em seu coração, também não se deve esquecer que O Criador é, evidentemente, criativo e independente, podendo agir de modo novo e diferente, segundo a Sua vontade, mas o meio utilizado nunca pode interferir na verdade de que O Criador, que fez tudo diretamente do Nada apenas com Seu poder, tem condições plenas de agir tremendamente sem nenhuma ponte física.
Repare, ainda, que o cego da passagem de João busca Cristo de mãos vazias, sem cobrar-Lhe ou orientar-Lhe sobre como o curar, apresentando-Lhe o lodo, não! Ele chegou-se ao Filho carregado apenas de fé, de plena certeza de que o poder e o amor de Cristo eram suficientes para a sua cura completa e, por isso, apenas por isso, foi curado, o lodo foi tido como iniciativa de Jesus que, com base na fé de antemão demonstrada pelo cego, decidiu aplicá-lo como método de cura. Em resumo: o cego apenas se curou em fé diante de Cristo pedindo-Lhe a cura, mas o método usado para curar, abençoar, não veio da iniciativa do cego, mas daquele que cura e abençoa, é Ele quem determina os meios para os fins, a nós cabe principiar e obedecer. A questão do lodo e da necessidade de lavar os olhos no Tanque de Siloé, no contexto, mais pareceu uma ferramenta didática para o curado do que um meio essencial para a cura: Jesus queria ensinar uma verdade prática para o cego, de que para ser "próspero" não basta simplesmente orar ao céu que as bênçãos caem como chuva, sem esforço, pelo contrário, é necessário ter a iniciativa e demandar esforço e tempo, pois o mecanismo pelo qual o cristianismo trabalha é projetado para, evitando o comodismo pelo conforto e facilidade, tornar os fiéis proativos e de caráter lapidado pelo serviço.
As "igrejas pseudo-cristãs" da atualidade, que utilizam do nome de Deus como argumento para vender relíquias milagrosas por altíssimos valores, com base em pura ganância, estão, portanto, trabalhando com mentira descarada, primeiramente porque não parte da pessoa determinar um objeto, um meio, pelo qual Deus irá exercer Seu poder, mas, unicamente, a iniciativa de, pela fé, pedir-Lhe segundo as suas necessidades, o meio a canalizar a bênção, se por ventura a oração for respondida -pois o "NÃO" de Deus também existe, podendo ser tido como uma disciplina para o cristão interesseiro e descompromissado ou proteção da parte dO Pai, que deixa de dar ao homem pecador aquilo que pode corromper seu coração-, está a cargo dO Criador, que poderá usufruir de infindáveis artifícios, desde o advento milagroso, sem canal algum, súbito e explicitamente sobrenatural, até o envio de um irmão com palavras de encorajamento ou disposição de auxiliar em serviço ou recursos, mas tudo depende dos planos soberanos dO Eterno, segundo aquilo que Ele quer ensinar ao fiel. A dependência exclusiva da fé, sem o apego à matéria, como se O Criador da matéria dependesse dela, é um teste para o cristão, uma disciplina benéfica, fazendo-o aproximar-se da face verdadeira de Deus e aprofundar os relacionamentos com Aquele que transcende -Hebreus 11:1-. Quem crê que O Criador do Universo tem poder para agir sem depender de nada além de Si mesmo, está preparado para entender que Ele pode utilizar-se da matéria que Ele mesmo criou como ferramenta de bênção, mas sem necessitar dela e tal percepção cria uma imagem sadia e sóbria dAquele com quem fomos criados para nos relacionar, um Deus que é mais que religião, um Deus que é vivo, proativo, independente, absolutamente surpreendente e soberano e que, embora algumas vezes difícil de ser entendido, deve ser tido antes como um amigo muito próximo, do que uma divindade fria e totalmente deslocada de nossa realidade.
No final das contas uma coisa é certa: Deus não canaliza o Seu poder a um objeto específico, produzido por uma empresa específica, "abençoado" por um pastor específico e vendido por um valor determinado, não!! Ele é independente e pode agir com mais poder, se você tiver fé, através de um cascalho da beira do rio do que através daquele "martelinho milagroso" que você comprou do "apóstolo" por "apenas mil reais". Deus não age por dinheiro, não é como um banco, que dá mais retornos financeiros conforme os valores nele depositados, não! Ele já é, naturalmente, dono de tudo o que criou e não há nada que esteja fora de Seus domínios, portanto, o "martelo milagroso" não está mais perto de Deus do que a folha seca caída ao chão!! Em momento algum da Bíblia O Pai é "ativado" por meio de objetos, como se fosse uma divindade pagã, na verdade a única coisa que realmente chama a atenção de Deus em qualquer lugar do mundo e por meio de qualquer coisa é uma fé sincera, firmemente fundamentada numa devoção real, evidenciada por um coração disposto e entregue -Salmos 34:18. Nem ao menos o Templo de Salomão era um recipiente adequado para Deus, que não pode ser limitado pela matéria, já que transcende - é o próprio Salomão quem o diz em 1 Reis 8:27 -, tendo mais um sentido didático para o povo, do que uma necessidade direta para Deus -evidenciando a diferença gritante que há entre Deus, santo, e o homem, pecador; mantendo o temor dO Pai, afim de provar o coração dos hebreus -e estrangeiros convertidos- e deixando muito clara a necessidade de Cristo para reaproximar O Pai dos homens, dos arrependidos. Com Cristo o véu do Templo se rasgou -Mateus 27:51-, indicando que temos acesso direto aO Pai -João 4:21-24-, tornando-nos, agora, o verdadeiro templo de Deus -1 Coríntios 3:16.
B -"Deus promete prosperidade aos Seus filhos"-Isaías 1:19:
Esse é um exemplo escancarado daquilo que disse sobre o fato de os "cristãos" de hoje picotarem os textos bíblicos procurando só o conveniente e ignorando o inconveniente, mesmo que ele esteja evidente, pois dois versículos acima há uma condição para o "comer o melhor da terra":"Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas." É um típico exemplo de querer o agradável e evitar aquilo que exige esforço, entrega, pois todos falam de Isaías 1:19, mas poucos lembram de seu verso irmão, o 17, que, convenhamos, é bem mais nobre e vital do que o 19! Quando Deus propôs a Lei aos hebreus - eu digo "propôs", pois Ele não os obrigou a aceitá-la, mas deu-lhes liberdade de concordarem com os termos ou não e, somente após concordarem, cobrou-lhes a obediência -, certamente o objetivo principal não era fazer prosperarem materialmente os indivíduos da nação israelita, mas fazer valer a Aliança Abraâmica, de o povo de Israel ser uma bênção para o mundo -Gênesis 12:3-, o que tem uma aplicação diretamente eterna, e é aqui que entra o auxílio aos necessitados, excluídos e ignorantes, como a mensagem prática da teoria, como o demonstração da bondade de Deus por meio de Seus seguidores, fazendo a atenção dos povos se levantarem para o tão bondoso e ativo Deus de Israel. Então o plano de Deus era, pela benéfica postura dos hebreus, fazer as nações derredores se prostrarem e, se curvando, serem abençoadas materialmente como os hebreus já eram - tirando que a fartura de alimentos e outros recursos, prometidos por Deus, também deveria ser mais um meio de auxílio humanitário do que alicerce para o comodismo.
O problema dos cristãos de hoje é que se esquecem do objetivo de estarmos aqui, como abençoados pela culminância da Aliança Abraâmica, que é Cristo. Queremos imaginar que o Céu já começa agora e que fomos colocados nesse mundo como criaturas inúteis, que devem apenas angariar bens materiais e saúde. Queremos atrair os mundanos pela ganância, o que, por si só, é algo totalmente anticristão: "eles vão querer vir pra nossa igreja porque aqui existe prosperidade". Esquecemos também que estamos no Novo Testamento, não no Velho, vivendo num mundo a funcionar de modo diferente, já que O Cristo, a Pedra Angular, já esteve entre nós para consertar parte das coisas, portanto o nosso chamado não é "mais" para "prosperidade" -e nunca foi-, mas para entrega, privação, luta e, se houver alguma bênção, que ela seja repartida com os necessitados, pois é para os fracos que Jesus veio e, sendo nós outrora fracos, para os fracos devemos ir -leia: "Quem somos?" e "O Fundamento". Nós estamos nesse mundo, como cristãos, antes para levar a Boa Nova aos cativos e o maior prêmio, tanto para nós, quanto para eles, é a Vida Eterna! Aqueles que se preocupam muito mais em ter todos os problemas resolvidos e infindáveis riquezas materiais, para serem maiores do que os outros ou viverem plenamente bem, antes de terem com os pobres e necessitados, não são, de fato, cristãos, pois o cristianismo prega a humildade e generosidade - se o cristão tem bens em demasia, é porque não está usando, destinando, parte do que Deus lhe deu para suprir as necessidades daqueles que padecem de privações, resumindo-se mais num hipócrita, num tremendo mal exemplo, do que num emissário de vida, seja ela boa para eternidade, seja ela boa para a mortalidade - vide Tiago 1:23-27. Lembremos que o miserável não se interessará pelo teu Deus até saber o quanto você, como seguidor de Deus, se importa com ele - matada a fome, tomado o banho e vestida a roupa nova, terá condições físicas e psicológicas de se interessar por algo além de apenas sobreviver.
O fato é que devemos separar as coisas: Israel, inicialmente, está na parte da Aliança Abraâmica correspondente à descendência genética do Pai da Fé -Gênesis 12:1-2- e o Velho Testamento está relacionado diretamente aos fatos ocorridos com a nação assim constituída, havendo profecias e leis direcionadas exclusivamente ao povo em questão, por isso não podemos tê-las como para nós, pois fazemos parte dos "estrangeiros" na Aliança Abraâmica -v 3. Há uma diferença entre o que se refere a um estado político e um reino espiritual e são esses os focos diferenciais do Velho e do Novo Testamento e a prosperidade material, que só aparece como promessa terrena no Antigo Testamento, tem um vínculo de necessidade muito maior no estado político de Israel do que no reino espiritual inaugurado depois de Cristo, do qual os israelitas cristãos também podem fazer parte - um reino maior, alicerçado na Palestina, com a cruz cravada na rocha como uma bandeira de conquista posta no cume de uma montanha ou na torre da fortaleza inimiga, mas que se alastra pelo mundo inteiro, unindo, do Povo Escolhido, os que aceitaram Cristo, aos gentios que igualmente se converteram aO Filho.
É uma questão de lógica: num mundo sem Cristo e com o Espírito Santo a descer e estimular apenas alguns ungidos de Deus, o relacionamento com O Pai, que é o centro da fé -O Filho veio para reaproximar o homem dO Pai e o Espírito Santo é enviado como representante dO mesmo-, só poderia ser tido de uma forma mais distante e fria, já que não havia o nascer de novo no Espírito de Deus, o que define e inspira o cristão a servir aO Pai, e o Pecado, ainda não vencido e aniquilado pelo sacrifício dO Filho, mantinha um abismo quase que intransponível entre O Santo Deus e o pútrido homem. O mundo sem Cristo não podia funcionar corretamente e hoje, mesmo que imerso em caos, pelo menos a relação entre Deus e os homens que aceitaram carregar a marca dO Filho, as engrenagens estão todas no lugar, pois o cerne de perfeição foi reinserido na Criação, para reaproximar o imperfeito do Perfeito Deus. O Pai, simplesmente, não tinha alternativa, dentro de uma realidade de livre arbítrio, senão a de sugerir leis para o Povo Escolhido agradá-Lo ou não, nem tanto leis para aproximarem-nos dEle, pois sem Cristo ninguém se aproxima de Deus, independente das obras, mas leis para testar o seu interesse em estar ou não com Ele através da obediência, valorizando-se mais a devoção sincera e fazê-los entender um pouco da Sua natureza -através das verdades eternas, dos conceitos, por detrás da letra fria-, do Seu padrão e experimentar, através da obediência, a Sua bondade ou, através da desobediência -após o aviso prévio e muitas chances-, a Sua justiça e poder - então a imagem de um verdadeiro pai se constrói: Ele dita as regras, supre as necessidades e, quando necessário, por amor disciplina, sabendo do que será melhor para um futuro sadio -Jeremias 5-, leve em conta que a possibilidade de dura disciplina gera o medo de errar voluntariamente, evitando a rebeldia, e, quando aplicada, demonstra, na prática, que falhar machuca, é prejudicial e, no caso de nosso relacionamento com Deus, expressa a realidade de que o afastamento do Deus da Vida só pode gerar dor -Hebreus 12:6-8.
Agora a Lei parece demonstrar a sua mais necessária utilidade: fundamentar a nação política de Israel num sólido alicerce de moral -punição do adultério, afim de preveni-lo pelo medo, assim como da rebeldia, furto...-, sanidade física -cuidado com alimentos, armazenamento, afastamento temporário de doentes e mães após o parto...-, parâmetros religiosos -monoteísmo, o Templo e festas memoriais, rituais de obediência e entrega, prevenção contra o paganismo, como no caso de não se misturar tecidos nas roupas, já que a mistura de tecidos era um típico ritual cananeu, segundo a crença de que os tecidos "acasalariam" e "promoveriam" prosperidade- e orientações políticas -auxiliar na preservação da propriedade de terceiros, não trapacear, respeitar a honra das mulheres, dos líderes da família, dos sacerdotes e do Senhor...-, veja alguns exemplos em Levítico 19 e Deuteronômio 22. A questão é que todo esse sistema de leis extremamente profundas a amparar completamente Israel tinha um objetivo central e posterior: fundamentar uma nação rígida e forte, que sobrevivesse tempo suficiente para sair dela, como fruto da Promessa, O Messias, e isso num contexto de relativa segurança sanitária, moral e política, além, é claro, como já disse, de transmitir conceitos sobre a natureza de Deus através de exemplos práticos. Cristo veio para reaproximar Deus dos homens, sim, mas também para corrigir a postura dos homens em relação à Lei, mostrando-nos que a questão não é o seguir de uma letra fria e estritamente literal, mas o aplicar honesto de conceitos amplos - e isso com base em sobriedade e sinceridade.
Bom, até agora eu não falei muito sobre a prosperidade em si, pois tudo não passou do pano de fundo para o que direi na seqüência: Deus diz, no Antigo Testamento, que recompensará a obediência à Lei com prosperidade material para a nação e isso tem dois motivos principais, ao meu ver: como o povo precisaria obedecer aos estatutos dO Pai para manter-se unido e forte até a vinda do Messias, servia como um estímulo, um apoio, um chamariz, pois sem a habitação do Espírito Santo entre os homens -numa realidade sem Cristo o oposto seria impossível, lembre-se também do livre arbítrio, pois Deus não arromba portas, ide Apocalipse 3:20-, mas no Templo, eles não teriam aquele forte ímpeto espiritual de obedecer aO Pai e ter profundo prazer nisso, pois, só após algumas disciplinas de nossa parte, o anseio por Deus, que é Santo e Perfeito, é inspirado em nós pelo Espírito Santo habitando-nos, sendo Ele também Santo e Perfeito, já que, naturalmente, pela carne, repudiamos O Pai. Os homens, sem o Espírito Santo e Cristo, não tinham motivos naturais para a obediência às Leis de Deus, mas a promessa de prosperidade era um meio dO Pai, na realidade do livre arbítrio, estimulá-la. O segundo motivo também está incluso na realidade da nação política: como Israel tinha que se fortalecer e sobreviver até a vinda dO Messias, precisava de um alicerce econômico estável, o que proporcionaria o comércio com as nações vizinhas, abasteceria as famílias israelitas e enriqueceria de recursos e saúde todo o estado, o que também aumentaria a natalidade, isso sem contar com o fato de que a prosperidade chamaria a atenção dos povos vizinhos para Israel e Seu Deus, como já disse - é claro que a prosperidade como resposta à obediência também servia como um ensinamento, deixando evidente que vida abundante só existe diante do Deus Vivo, mas vale lembrar que a ganância e arrogância sempre foram condenadas pelo Pai, vide Amós 6, por isso "prosperidade" tem limites. Então toda a questão da Lei e das bênçãos como recompensa serviram, principalmente, para garantir a sobrevivência de Israel e a vinda dO Messias, o foco central da História Humana, e é Cristo que, vindo, divide a história do Reino em duas, separando as águas: passou-se o reino político e iniciou-se o reino espiritual, mantido hoje através do Espírito Santo em nós.
Hoje, como cristãos, não temos motivos para vivermos atrás de prosperidade. Eu não desconsidero o Antigo Testamento, de forma alguma, pois ele nos traz exemplos de fé e luta fortíssimos, nos ensina muito sobre Deus e nos mina de conhecimento e entusiasmo com O Pai, só acho que o AT é apenas o alicerce espiritual e histórico para o cristianismo, o Novo Testamento, que brotou dele, reformando seus ensinamentos e mostrando a Boa Nova dO Filho ao mundo que se inseriu, após a Sua morte e ressurreição, na realidade do Reino Espiritual. Da mesma forma, não penso que o cristão não deva buscar a realização material, pois Cristo nos ensina a pedir aquilo que almejamos -Mateus 7:7- e também não penso que Deus não pode ou não quer nos abençoar materialmente, pois, de fato, Ele se importa conosco e procura pela nossa felicidade -Mateus 6:30-, a questão está na realidade em que vivemos hoje: não sendo um reino material, político, mas uma congregação mundial de fiéis, não precisamos de fortes alicerces econômicos para nos sobressairmos, e como Cristo já morreu por nós e o Espírito Santo é quem nos motiva naturalmente a estar com Deus, não dependemos de nenhum estímulo material para tal, pois isso inibe a fé sincera, que é aquilo que O Pai procura. A missão dos cristãos hoje -sejam hebreus convertidos ou gentios igualmente salvos- é diferente da missão da Antiga Israel: não temos que constituir uma nação que atraia pessoas de outros povos para si, como um ímã, através da chamativa prosperidade, mas temos, como emissários do Reino de Cristo na Nova Aliança, que ir até as pessoas e as atrairmos para Jesus pelo nosso bom exemplo, pelas palavras de libertação e salvação eterna e, quem sabe, pelo suprir de suas necessidades básicas, através do ato de repartir o que temos - na Velha Aliança os que sofriam eram atraídos para Israel, na Nova Aliança os que se alegram em Cristo são atraídos pelos que sofrem. De qualquer forma, o estilo de vida itinerante que o ideal cristão propõe não pode combinar com o padrão sedentário que a "prosperidade" exige.
É fato que Deus quer curar, trazer conforto e prosperidade aos que sofrem, aos abatidos, é por isso que muitos vão até Ele e, conhecendo-O verdadeiramente, se entregam, é o próprio Deus que o orienta, dizendo "vinde" -Mateus 11:28-, mas dessa libertação promovida na vida dos que passam a crer não deve suceder uma rotina folgada e voltada para as riquezas desse mundo e é por isso que Cristo, após nos erguer e fazer conhecer O Pai, desfere outro mandamento, o "ide" -Mateus 28:19-20. Como O Messias já veio e abriu as portas do Céu para nós, nossos interesses nesse mundo, como filhos de Deus, devem, fundamentalmente, ser voltados ao que é eterno -Colossenses 3:1-2-, primeiramente porque Deus não divide domínios com as riquezas mundanas em nossas vidas -Mateus 6:24-, pois repudia a idolatria -Mateus 22:37-, em segundo lugar porque toda a matéria, seja bela ou rígida, irá se desfazer com o tempo ou no Dia do Senhor, quando Ele julgará o mundo -Mateus 6:19-20- e em terceiro lugar, porque nos serão cobradas as vidas dos incrédulos a quem não apresentamos o Evangelho, já que nos omitimos -Tiago 4:17- e permitimos o seu tropeço nas trevas enquanto nos preocupávamos mais em amontoar tesouros -Marcos 9:42. Lembre-se de que não fazer a vontade de Deus é desobediência -Mateus 12:30-, a desobediência gera inimizade -João 15:14- e a inimizade para com Deus nos afasta dEle, rumo ao Fogo Eterno -Mateus 22:11-13. A "prosperidade" da forma como se apresenta hoje, não pode ser bíblica, pois oferece ao homem aquilo que já em pecado ele quer, sendo apenas mais um fruto do diabólico humanismo de nossos dias, até porque Deus não incentivaria o homem a procurar justamente por aquilo que dificultasse o desenrolar da Grande Comissão e da vida cristã, pois desde o Éden caímos no erro de nos deixar levar pelo que é belo e saboroso, pelo que é prazeroso -Gênesis 3:6- e facilmente abandonamos Deus em troca do ego -Mateus 6:1-6; Lucas 22:26-, do comodismo -Mateus 25:1-13. A nossa real prosperidade será no Céu, futuramente!! Hoje, meu caro, somos guerreiros!
C -"Prosperidade é uma evidência de que a pessoa está agradando à Deus"
Isso o livro Jó já tratou de aniquilar, pois ele sofreu terrivelmente mesmo sendo um homem justo. Deus não trabalha com trocas, não se pode comprar a Sua bênção, pois assim como Ele permite que as dádivas do sol estejam disponíveis ao incrédulo -Mateus 5:45-, pode permitir que o crédulo passe fome, em ambos os casos fazendo-o por amor. Especificamente no caso do sofrimento, da dor, da doença, fome ou frio, somos lapidados, desistimos de nós mesmos e nos entregamos completamente à Deus, a única salvação, o que aprofunda nosso relacionamento com Ele e aperfeiçoa nosso caráter, fazendo-nos mais simples, humildes e acessíveis -2 Coríntios 12:9; Filipenses 4:12-13.
"Prosperidade" nem de perto é evidência derradeira da proximidade com Deus, embora possa ser um pequeno indicativo -Mateus 6:25-34-, basta analisarmos o fato de que Satanás ofereceu todos os reinos do mundo -caídos- para Cristo como condição de Ele desistir de Sua missão salvífica -Lucas 4:5-7. Um "cristão" de hoje certamente consideraria uma "bênção" de prosperidade sem tamanho ter o mundo inteiro nas mãos -e uma evidência descarada da ação de Deus-, mas estaria sendo, simplesmente, precipitado. O texto nos mostra uma realidade perigosa: Satanás também pode promover prosperidade na vida dos homens, mas qual é a condição? Devoção para com ele. O "cristão" que prospera, mas vive pouco do que a Bíblia fala, estando em pecado, portando-se com arrogância e ganância, vivendo mais para o EU do que para Deus e os outros, provavelmente, segundo o que o texto de Lucas nos diz, está recebendo a sua prosperidade diretamente de Satanás, já que ele a busca pelos meios e motivações erradas, além do fato de tal prosperidade corrompê-lo ainda mais. O Inimigo é o mestre da enganação -2 Coríntios 11:14-, sempre disposto a aniquilar os filhos de Deus -João 10:10-, imobilizando-os ou, até mesmo, destruindo-os eternamente - ou, pelo estímulo, levando-os a fazerem-no consigo mesmos -Jeremias 12:1. Com isso não quero dizer que Deus não permite que alguns prosperem, aqueles que Ele sabe que não vão se corromper, pois para cada um Ele determina uma missão específica e pessoas com recursos financeiros são essenciais para financiar missões evangelísticas no mundo inteiro e dar amparo para irmãos e igrejas locais.
Mateus 7:21-23 é bem conclusivo: não importam as evidências físicas, se o cristão não faz a vontade de Deus, não O obedece, tudo é vão e, provavelmente, as supostas evidências não são de Deus, mas frutos do esforço, poder do EU ou, até mesmo, de Lúcifer. Com isso não descarto as possibilidades de O Pai ser a fonte das riquezas e do poder eventualmente exercido por seus seguidores desobedientes, mas parece-me mais provável que não seja. Então aqui entramos noutra questão: não é porque o culto de tal igreja tem gritaria, línguas espirituais, curas e ricos testemunhos, que, de fato, Deus seja o centro das coisas. Muita da ação pode ser fruto de emoção ou postura forjada para chamar a atenção, porém, de fato, há coisas indiscutivelmente espirituais, mas eu entendo que o aspecto dessas coisas evidencia a sua origem: se algo é bizarro, estranho demais, como uma pessoa a cair súbita e duramente ao chão, indivíduos tremendo freneticamente nesse mesmo chão ou gritos altíssimos, suponho ter algum envolvimento demoníaco -é hipótese-, que, se não relacionado a um exorcismo, não passa de um teatro de enganações, pois a presença de Deus, quando agindo sem empecilhos, é suave, branda e promove paz de espírito -1 Reis 19:11-13. O fato é que, se você vê eventos sobrenaturais numa igreja que idolatra o templo, o prédio, que se apega a relíquias como se fossem poderosas -um retorno ao judaísmo, aos tempos sem Cristo-, que prega a prosperidade, que vende objetos milagrosos, idolatra o pastor -retorno à Idade Média- e procura, incansavelmente, altíssimas ofertas em dinheiro -sendo que só Jesus basta, João 14:6-, desconfie das fontes, pois é impossível ser igreja cristã, de Cristo, sem seguir os parâmetros definidos por Jesus no Novo Testamento, já que a identidade do cristianismo está na prática e aceitação de determinadas questões que, se revogadas, descaracterizam-no e, portanto, o anulam -Gálatas 1:8. Também desconfie dos chavões: "Eu determino que Deus me dará 'tal coisa'", pois isso vai contra a lógica de que quem determina as coisas é O Pai, que, além de soberano, sabe o que nos é melhor -Romanos 9:20; Lucas 22:42- ou o "eu profetizo sobre a minha cidade..." quando, na verdade, não foi Deus quem inspirou essas palavras - 2 Pedro 1:21. Desde quando o homem tomou o lugar de Deus nas decisões?! Desde quando?! A igreja de nossos dias precisa retomar o saudável temor do Pai!! Provérbios 9:10. A experiência espiritual não pode ser o fundamento da fé, a essência, mas, sim, o conhecimento da Palavra e a vida prática com Cristo, tendo o Espírito Santo diariamente agindo na rotina, não em eventos específicos! Marcos 16:20 afirma que os sinais milagrosos não ocorrem apenas como belo espetáculo, mas existem, acompanhados da pregação, exclusivamente para confirmar que aqueles que divulgam o Evangelho são, de fato, de Deus e que, portanto, falam a verdade, logo, sinais e prodígios desacompanhados de uma vida cristã coerente ou de uma doutrina indiscutivelmente bíblica, não são frutos dO Pai, mas quando há sinais e milagres ao lado da sã doutrina e exemplo de vida, sem hipocrisia, daí podemos creditar a ação celestial - feitos miraculosos também servem como chamariz para o evangelismo. O fato é que a grande luta do cristianismo não é por cura, fartura, liberdade em termos materiais, apesar de auxiliar nisso, mas o acúmulo de "tesouros eternos", já que tudo aqui é efêmero!
Natanael Pedro Castoldi
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- Bravura
obrigado pelo tralho
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