Outro ponto de atrito está no Cânon das Escrituras. Os críticos da Palavra costumam dizer que a Igreja escolheu os livros da Bíblia conforme lhe convinha e com relativa facilidade. Isso é verdade? Segue um breve estudo que esclarecerá melhor essa questão - tire as suas próprias conclusões.
Cânon é a
expressão que se usa para determinar a lista de livros que possuem
credibilidade suficiente para entrar na Bíblia. Os judeus, por seu amor pelas
Escrituras, sempre foram muito cuidadosos na análise e seleção, com base em
tradição e história, dos livros do Antigo Testamento. Os cristãos, com base nas
perseguições e heresias, logo viram ser necessário selecionar o que merecia
credibilidade ou não, a fim de proteger os fundamentos da fé e fazer valer o
martírio: ninguém queria morrer por causa de uma carta ou livro mentiroso.
Há
evidências de um cânon do Antigo Testamento anterior a 150 a.C. Somente em 1546
d.C., com base no Concílio de Trento, na Contrarreforma, é que a Igreja
Romana incluiu os famosos apócrifos do Antigo Testamento de sua bíblia,
destoando daquilo que os próprios judeus definiram na Antiguidade. Por que
Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pgs 69 e 71. Sabe-se que no século V a.C., o
Pentateuco –cinco primeiros livros do Antigo Testamento- estava completo e era
reconhecido por todos os judeus. Também se sabe que por volta de 165 a.C. foram
acrescidos ao Pentateuco os Profetas e os Escritos (Históricos e Poéticos). Com
reconhecimento geral da parte dos judeus, o cânon do Antigo Testamento foi
finalmente oficializado no concílio de Jâmnia, em 85 a.C. Fonte: Os Cristãos,
Tim Dowley, Edit. MartinsFontes, 2009, pg 19-21. Dessa forma, quando a Igreja surgiu,
já podiam usufruir do mesmo Velho Testamento que nós.
Do livro Origem,
Confiabilidade e Significado da Bíblia, Wayne Grudem, C. John Collins e Thomas
R. Schreiner, Edit. VidaNova, 2013, pg 103: uma antiga tradição judaica,
juntamente com outras fontes, afirmam que o povo judeu acreditava que a voz
profética havia cessado após a morte de Ageu, de Zacarias e de Malaquias, dando
a entender que o cânon do Antigo Testamento já estava fundamentalmente definido
por volta de 300 a.C. As fontes que isso afirmam são: Toseftá, Sotah 13:2;
Talmude babilônico, Sotah 48b, Sanhedrin 11a, Baba Bathra 12a; Seder Olam
Rabbah 30; Talmude de Jerusalém, Taanith 2:1; 1 Macabeus 9:27; Baruque 85:3.
A
definição do cânon do Novo Testamento passou por um processo relativamente
longo. Os critérios foram: autoria apostólica –ou de relação estreita com os
mesmos-, conteúdo coerente com o restante das Escrituras e com qualidades
úteis, largo uso e circulação –testados na prática- e, por fim, a aceitação da
própria Igreja. O fato é que, antes mesmo de haver uma definição clara de quais
livros deveriam entrar no cânon do Novo Testamento, a maioria dos cristãos já
entrava em consenso sobre o que era de procedência divina e o que não era, de
modo que a lista dos 27 livros do Novo Testamento já estava predefinida pelo
uso e admiração geral – os concílios que definiram o cânon, na verdade, apenas
oficializaram o entendimento comum. Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008,
pg 68.
Em
180 d.C., Irineu, discípulo de Policarpo, discípulo do Apóstolo João,
recomendou grande parte dos atuais livros do Novo Testamento, tais seriam: os
Evangelhos, Atos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, 1e 2 Timóteo, Tito, 1 Pedro, 1 João
e Apocalipse. Fonte: Os Cristãos, Tim Dowley,, Martins Fontes, 2009, pg 26.
Uma
lista muito antiga dos livros do Novo Testamento, chamado “fragmento
muratoriano” (180 d.C.) recomenta os Evangelhos, Atos, as nove epístolas de
Paulo às igrejas e as quatro pessoais, Judas, 1 e 2 Pedro e 1 e 2 João – sobre
o Pastor de Hermas, famoso livro cristão do início da Era Cristã, há
recomendação, mas não é equiparado aos demais. Orígenes (185-354 d.C.) e
Eusébio (265-340 d.C.) concordam, em sua lista, com a maioria dos livros já
citados, pondo em dúvida especialmente 2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago e Judas. Fonte:
Os Cristãos, Tim Dowley, pg 26.
Por
volta de 324 d.C., Eusébio considerava cerca de 20 livros do Novo Testamento
atual juntamente com o Antigo Testamento. Ele comenta que, nesses dias, ainda
se discutia, principalmente com dúvidas sobre a autoria, os livros de Tiago, 2
Pedro, 2 e 3 João, Judas, Hebreus e Apocalipse. Fonte: O Cristianismo Através
dos Séculos, Earle E. Cairns, Vida Nova, 2008, pg 101.
A
primeira lista contendo os 27 livros do Novo Testamento, conforme o atual,
apareceu em 367 d.C., sugerida por Atanásio, bispo de Alexandria – Agostinho e
Jerônimo apoiaram essa mesma lista. Por fim, o cânon do Novo Testamento foi
devidamente oficializado em 393 e 397 d.C., quando a Igreja, livre da
perseguição, pôde se organizar e realizar concílios, o de Hipona e o de
Cartago, respectivamente. Fonte: Os Cristãos, Tim Dowley, pg 26.
Os
apócrifos do período neotestamentário, foco atual de discussões, não foram
repelidos somente pela Igreja como instituição, mas pelos próprios cristãos,
isso durante os três séculos em que a Igreja ficou sem cânon oficial. A
exclusão dos mesmos se não deve por medo de seu conteúdo perigoso e
inconveniente, como se fossem verdades negativas, mas, sim, pelo fato de
entrarem em desacordo com a tradição escrita, oral e apostólica mais antiga, e
com o próprio entendimento dos cristãos, e por se contraporem à cortina de
ferro que se formou entorno dos outros 27 livros canônicos, totalmente coesos
entre si. Sendo de autoria não-apostólica, tendo assinaturas falsas – inimigos
da fé ou indivíduos egoístas que assinavam em nome dos apóstolos-, mas estilos
discrepantes em relação ao dos autores originais, conteúdo duvidoso,
irrelevante ou incompatível com os livros do Novo Testamento eram, de pronto,
desacreditados. Apenas desentendidos e hereges aproveitadores faziam uso real
dessa documentação. Há, ainda, outra categoria de apócrifos: os de conteúdo
aproveitável, porém desnecessário para o cânon, lembrando da autoria
não-apostólica.
O Concílio de Yavne(Jâmnia) ocorreu aproximadamente em 85 da Era Cristã, e não em 85dC, ou seja, após a destruição do Templo de Jerusalém.
ResponderExcluir85dC e não 85aC(O Concílio de Jâmnia).
ResponderExcluirObrigado pelo trabalho...
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