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A Bíblia e a Ética

-> Apresentação e Índice
Não são poucos os que afirmar ser a Bíblia um livro maligno. Será que tal afirmação procede? Você pode tirar as próprias conclusões do breve estudo que segue.

Existe uma moralidade comum a toda a humanidade, conceitos elementares e fundamentais, embora brutos, sobre o que é certo e errado: pessoas dos quatro cantos da Terra e ao longo de toda a história seguiram um padrão fundamental de bom e ruim, condenando em semelhança aquilo que era tido como ruim –mentira, traição, roubo- e valorizando o que era tido como bom –família, verdade, humildade, sacrifício. Milênios antes de Cristo vemos alguma expressão dessa moralidade, como o Código de Hamurábi, e um aperfeiçoamento gradativo com a Lei Mosaica, os filósofos gregos e, por fim, os Pais da Igreja.
Ética no Antigo Testamento: “Tendo a Lei mosaica como base dos princípios éticos segundo os quais Israel organizara sua vida, não é surpreendente que a deontologia, ou o apelo aos princípios, seja fortemente enfatizada no Antigo Testamento.” (...) “Os livros sapienciais contêm certa dose de raciocínio utilitarista. (...) muitos provérbios contém descrições explícitas das consequências de certas ações e certos traços de caráter.” (...) “O Antigo Testamento também apela para ao egoísmo e interesse pessoal, especialmente nas bênçãos e maldições da aliança”. (...) “Consequentemente, Israel teria um elevado grau de interesse pessoal em obedecer a Lei.” (...) “O Antigo Testamento também apela à lei natural. (...) o livro de Provérbios define certo e errado [...] por meio de observações da natureza.” Fonte: Curso Vida Nova de Teologia Básica, volume 12, Ética Cristã, Scott B. Rae, Edit. VidaNova, pg 25.
Quais motivos tornariam importante para Deus estimular a prática da Lei? Entre eles, vou ressaltar a sua aplicação moral e ética. A Lei condena:
O assassinato (Êxodo 20:13); não ajudar aquele que corre perigo (Levítico 19:16); o adultério (Levítico 18:20); a relação homossexual (Lv 18:22); incesto (Lv 1:6); zoofilia (Lv 18:23); castração humana ou de animais (Lv 22:24); obrigar o recém-casado a ir para a guerra (Deuteronômio 24:5); destratar órfãos e viúvas (Êxodo 22:22); ser desonesto nos negócios (Lv 25:14); roubar (Lv 19:13); beber sangue (Lv 3:17); mutilar o corpo (Lv 19:28); vender a filha como prostituta (Lv 19:29); ignorar as necessidades do inimigo (Êxodo 23:5). Fonte: Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, Robert J. Hutchinson, pgs 110-111.
Alguns pontos interessantes sobre o Antigo Testamento: em Deuteronômio 17:16-17 vemos limites para o comportamento do rei em Israel: não acumular grande riqueza, poderio militar ou promover alianças com nações pagãs por meio de casamentos, limitações que contrastam com a visão de reis como deuses, totalmente absolutos, nas culturas antigas contemporâneas de Israel. A Lei também tratava da captura de mulheres durante as guerras de Israel com os vizinhos: deveriam ser tidas com humanidade e respeito, enquanto na maior parte do mundo antigo as escravas de guerra eram submetidas as toda espécie de violação sexual. Era proibido aos israelitas que tomassem mulheres estrangeiras em guerras vendê-las como escravas, seja para trabalho braçal ou sexual (Dt. 21:10-14). Outro fator de interesse está no tratamento destinado aos escravos, que deveriam ser tidos com humanidade e zelo, ao contrário dos exageros torturantes comuns na antiguidade: depois de seis anos de serviço, os escravos deveriam ser libertos (a não ser que não desejassem), e, ao partirem, deveriam receber do seu senhor generosos mantimentos – tratamento semelhante ao estimulado aos pobres (Dt. 15:1-18; Levítico 25:25-29 e 35). Fonte: Ética Cristã, Scott B. Era, pgs 28-29.
O Novo Testamento e a ética: já falamos sobre isso no ponto A Bíblia e a moralidade, portanto, vou ser breve. Jesus valoriza os pobres, considerando-os destinatários especiais do Evangelho (Mateus 11:5; Lucas 4:18) e os abençoa (Lc 6:20). Jesus os coloca em lugar de importância (Lc 14:12-14). As Epístolas o cuidado para com os mais fracos (Romanos 15:26; 2 Coríntios 8:1-7, 9:1-15; Tiago 2:1-13). Fonte: Ética Cristã, Scott B. Era, pg 37.
O valor das mulheres no Novo Testamento: no contexto do Novo Testamento, mulheres não era valorizadas – na verdade, era dito que não mereciam respeito, nem confiança, que eram propriedade do homem e não podiam dirigir-se a homens sem a presença do marido, para não serem tidas como adúlteras.  A conversa de Jesus com a mulher samaritana, em João 4, é incrível partindo desse ponto de vista e, como era esperando, os discípulos “se admiraram de que estivesse falando com uma mulher”. Jesus também recebeu mulheres em seu grupo de seguidores, sendo discípulas, o que era desprezível para a época, mas Lucas 8:1-3 nos fala disso, citando, inclusive, que algumas dessas mulheres sustentavam os homens, o que, segundo o Sirach de Jerusalém (195 a.C.) era vergonhoso. Quando Jesus diz, em Mateus 12:46-50, “Eis minha mãe e meus irmãos”, referindo-se a seus seguidores, parece indicar a existência de mulheres ali. Em Lucas 10:39, quando Maria se assentou aos pés de Jesus para ouvir-lhe ensinando, usa-se expressão idêntica a referida em Atos 22:3 sobre Paulo aos pés do famoso rabino Gamaliel, pondo Maria na dignidade de ser ensinada por um rabino – e as mulheres não tinham acesso aos estudos da Torá, conforme diz a Mishnah, comparando a exposição feminina ao conhecimento da Lei com a luxúria. Cristo, para ser ainda mais revolucionário, refere-se, nalgumas passagens, a Deus usando termos femininos, como a mulher que procura uma moeda perdida, em Lucas 15. Vale lembrar que, mesmo sendo consideradas sem importância na época, mulheres são as primeiras testemunhas do evento mais importante da História Humana: a Ressurreição de Cristo!
Na Igreja Primitiva notamos que as mulheres receberam funções importantes na instituição, tendo como exemplo o texto de Atos 18:24-26, afirmando que Apolo foi instruído por Priscila e Áquila – e o nome de Priscila aparece antes do de Áquila, o que era incomum. Em Romanos 16:1-2 vemos que Febe exercia a função de um diácono. O exercício de profecia também é tido entre mulheres no Novo Testamento, como as filhas de Filipe, O Evangelista. Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pgs 88-95.
As mulheres e o Antigo Testamento: o texto mais importante sobre essa questão é o de Provérbios 31, sobre a Mulher Virtuosa, que exerce função digna de respeito no lar. Não poucas vezes as mulheres são tratadas com respeito no Antigo Testamento, por exemplo: quando Hagar, serva de Sarai, é expulsa da casa de sua ama, Deus a procura e diz: “Hagar, serva de Sarai...” (Gênesis 16:7) – esse é o único texto antigo do Oriente Médio em que uma divindade ou mensageiro chama uma mulher pelo nome! Há profetizas e juízas no Antigo Testamento: Miriã (Êxodo 15:20-21), Débora (Juízes 4:4-7), a esposa de Isaías (Isaías 8:3) e Hulda (2 Reis 22:13-20). Em Joel 2:28 temos profecias benéficas dadas em mesma medida a homens e mulheres. Raquel pôde orar diretamente a Deus e Ele a ouviu, o que destoa da maioria das narrativas antigas (Gn 30:22-24), sem esquecer de Ana, Sara ou Rebeca. Isaías, em Is 43:13-14, compara-se a uma mulher em trabalho de parto. No final das contas, talvez o mais surpreendente sobre o Antigo Testamento é a existência de dois livros sagrados com nomes de heroínas, seja em sentido político, seja em comportamental: Rute e Ester. Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pgs 96-99.

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:
- A Igreja Primitiva e a Moralidade
- Deus e a Guerra

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