A passagem de profecia messiânica mais famosa de todas é, sem dúvida, Isaías 53. Se você ler esse texto para um leigo, é quase certo que ele pensará em Cristo - na verdade, quase qualquer um que ler essa incrível passagem, instruído ou não, inevitavelmente pensará em Jesus. Esse texto é tão evidente que os opositores do cristianismo precisaram apelar para os mais diversos recursos argumentativos, questionando a data da redação de Isaías, colocando-o para depois da vinda de Cristo e, por consequência, produto de uma verdade histórica, alegando que Jesus fora inventado com base em passagens como a de Isaías ou, ainda, que Isaías 53 não tenha sido escrito como alusão ao Messias. Analisemos essas três propostas.
1 - Isaías foi escrito depois da vinda de Cristo?
Basta uma única evidência para destituir de valor esse argumento: um rolo completo do livro de Isaías em razoável estado de conservação foi encontrado nas cavernas de Qumran, sendo um dos Manuscritos do Mar Morto. Segundo as análises, o documento em questão foi copiado por volta de 125 a.C. Além disso, foi verificado que o texto desse manuscrito possui 95% de correspondência com o texto de Isaías da Bíblia hebraica atualmente utilizada - nesses 5% de diferença encontram-se coisas como a discrepância de 17 letras, de um total de 166, entre o Isaías 53 de Qumran e o atual: dezessete letras são duvidosas, sendo que dez delas correspondem a diferenças de ortografia e, portanto, não afetam o sentido do texto; quatro são questões de estilo, como conjunções; e as três restantes formam a palavra "luz", adicionada ao verso 11, coisa que não afeta em nada o significado. Essa diferença de 3 letras num capítulo de 166 é extremamente baixa, se compararmos com outros livros antigos, como o Mahabharata, que possui algo entorno de 10% de suas letras corrompidas, ou a Ilíada, de Homero, que contém 20 vezes mais passagens duvidosas entre seus manuscritos antigos e as cópias atuais do que a relação entre os documentos primevos e contemporâneos da Bíblia.
Fontes: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pgs 48 e 49; Por que Acreditar na Bíblia, de John Blanchard, Edit. Fiel, edição virtual autorizada, pg 11.
2 - Cristo foi inventado depois da redação de Isaías?
A questão é se Jesus foi uma figura inventada ou não. Existem incontáveis evidências da real existência de Cristo no Séc. I - afirmar que Ele não existiu é insanidade, uma vez que há mais documentação atestando para a existência de Jesus do que de Júlio César. Nenhuma figura da Antiguidade possui tanta literatura do período em seu favor.
- Diversas figuras da Antiguidade, além dos Evangelistas e Apóstolos, escreveram sobre Jesus. Leia mais em: Jesus Realmente Existiu? Fontes Seculares; Cristo Realmente Morreu? Fontes seculares.
- Há centenas de evidências internas dos Evangelhos que foram atestadas pela arqueologia (140 constam no livro "Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu"), além de 30 indivíduos historicamente confirmados. Fonte: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, pgs 278 e 291.
- Os mais sofisticados estudos apontam para a autoria dos Evangelhos entre 50 e 90 d.C., com textos escritos, portanto, aproximadamente duas décadas depois dos eventos registrados - leia mais na seguinte postagem: Os Evangelhos - Autoria, Data e Confiabilidade; há evidências que sugerem que certas epístolas do Novo Testamento tenham sido escritas a partir de 45 d.C. - leia mais sobre isso: Como o Novo Testamento foi Escrito?; foram encontrados possíveis fragmentos de cópias do Novo Testamento em Qumran, datando de 50-70 d.C. (A Idade dos Manuscritos da Bíblia). Porém, de todas as evidências de idade, talvez a mais surpreendente é a datação do credo cristão descrito em 1 Coríntios 15:3-5:
"Paulo (...) cita uma antiga tradição cristã que recebeu dos primeiros discípulos. Essa tradição provavelmente foi transmitida a ele o mais tardar na época de sua visita a Jerusalém, em 36 d.C. (Gl 1:18), se não antes, em Damasco. Portanto, ela remonta aos primeiros cinco anos posteriores à morte de Jesus, em 30 d.C." Fonte: Em Guarda, William Lane Craig, Vida Nova, 2011, pg 246.
"Além disso, ao escrever 'lhes transmiti', Paulo permite-lhes lembrar que já lhes apresentara o testemunho anteriormente. Desse modo, embora lhes tenha escrito em, digamos, 56 d.C., Paulo deve ter-lhes verbalizado isso durante sua visita anterior a Corinto, provavelmente em 51 d.C. Isso também significa que Paulo deve tê-lo recebido antes de 51, o que indica que essa informação já estava disponível anteriormente." Fonte: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, nota pg 248.
- Consideremos, ainda, o número de manuscritos antigos do Novo Testamento, que beiram a casa dos 25 mil, e o número de citações do texto neotestamentário da parte dos Pais da Igreja, líderes cristãos dos primeiros séculos, que aproximam-se de 86 mil. Vide: O Número de Manuscritos da Bíblia; A Preservação do Texto Bíblico.
3 - Isaías 53 fala de Cristo?
"De fato, a interpretação judaica tradicional das passagens do Servo era que elas prediziam o Messias que estava por vir. Ou seja, quando os judeus começaram a ter mais contato com apologistas cristãos, cerca de mil anos atrás, reinterpretara o Servo Sofredor sendo a nação de Israel. O primeiro judeu a afirmar que o Servo Sofredor era Israel, em vez de o Messias, foi Shlomo Yitzchaki, mais conhecido por Rashi (1040-1105 d.C.)."
"Muitos rabinos judeus por todos os séculos, mesmo antes de Cristo, consideraram Isaías 53 uma referência ao Messias que viria. V. S. R. DRIVER & A. D. NEUBAUER, The Fifty-Third Chapter of Isaiah According to Jewish Interpreters. Oxford & London: Parker, 1877."
"(...) existem pelo menos três erros fatais quanto à afirmação de que Israel é o Servo Sofredor. Em primeiro lugar, diferentemente de Israel, o Servo não tem pecado (53:9). (...) Em segundo lugar, diferentemente de Israel, o Servo Sofredor é um cordeiro que se submete sem nenhuma resistência que seja (53:7). (...) Em terceiro lugar, diferentemente de Israel, o Servo Sofredor morre em expiação substitutiva pelos pecados dos outros (53:4-6,8,10-12)."
Larry R. Helyer fez uma relação das características do Servo Sofredor, começando pelo primeiro Cântico do Servo, no capítulo 42 de Isaías:
- Ele é escolhido pelo Senhor, ungido pelo Espírito e Seu sucesso é assegurado (42:1,4).
- Seu ministério é centrado na justiça (42:1,4).
- Seu ministério tem uma abrangência internacional (42:1,6).
- Deus o predestinou para o seu chamado (49:1).
- Ele é um talentoso mestre (49:2).
- Seu ministério o leva ao desânimo (49:4).
- Sua obra estende-se aos gentios (49:6).
- Ele encontra forte oposição e resistência aos seus ensinamentos, chegando até a sofrer fisicamente (50:4-6).
- Ele está determinado a completar o seu chamado (50:7).
- Ele tem origens humildes e sua aparência exterior não lhe dá crédito (53:1-2).
- Ele experimenta o sofrimento e a aflição (53:3).
- Ele aceita o sofrimento vicário em favor do seu povo (53:4-6,12).
- Ele é morto depois de sua condenação (53:7-9).
- Ele volta à vida e é exaltado acima de todos os reis (53:10-12; 52:13-15).
- Geisler e Turek incluem a ausência de pecados no Servo (53:9).
Fica claro que Isaías está falando de um indivíduo específico, não de uma nação. Lembremos que o Antigo Testamento nos relata diversos pecados de Israel, o AT e a História posterior nos mostram como Israel não sofreu calado e Israel não morreu como nação - muito menos pereceu como pagamento dos pecados da humanidade.
Fonte: Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, Norman Geisler e Frank Turek, Vida, 2012, pgs 341-342.
Aconselho que o leitor tome conhecimento do cumprimento doutras profecias veterotestamentárias na pessoa de Cristo, muitas das quais indicadas na seguinte postagem: Cristo e as Profecias do Antigo Testamento.
Natanael Pedro Castoldi
Obrigado pelo trabalho
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