Noutro dia, enquanto analisava o comportamento das inúmeras militâncias que tomaram conta do nosso país, com seus comportamentos apelativos, agressivos e ofensivos, voltados para pressionar e evitar o debate e o diálogo, com direito a distorções, censuras e acréscimos dos fatos, acabei pensando: será que algo naturalmente bom precisa fazer uso de mecanismos apelativos? Precisa pressionar para ser aceito? Desconfio de tudo o que faça uso da força para ser tolerado! E usar de mecanismos manipulativos, do recurso do medo e da "Lei da Selva", já é indicativo de que as ideias pregadas precisam ser "engolidas" pelo povo para que se espalhem - e ser "engolido" não é o mesmo que ser "aceito". "Engolir" é render-se, permitir-se ser violado, enquanto "aceitar" é concordar de fato. Tal raciocínio aplica-se ao ser humano maduro e moralmente consciente - não pensemos nas crianças pequenas, cuja consciência de "certo e errado", "bom e mau" e "seguro e perigoso" residem nos pais, não nelas. Quando cheguei nesse ponto, levei algo como que um soco no estômago: "Tá, mas e a igreja? O Evangelho não é pregado de formas apelativas?!" Não fugi da reflexão.
O ponto pacífico para todo o cristão, para aquele que vive o cristianismo, que aceitou Cristo como Senhor e Salvador, é muito simples: estar em Cristo é bom, ser cristão é bom, o cristianismo É BOM. Sendo assim, por lógica, o espalhar da Mensagem da Cruz não precisa fazer uso de nenhuma força de apelação, censura, ameaça e culpa, sendo tal mensagem eficaz por si mesma. É claro que o homem, no seu estado natural, sem o conhecimento da Revelação de Deus, poderá ter o desejo de encontrar-se com o Criador, mas nada saberá sobre os eventos históricos, a constituição e as exigências relacionadas ao cristianismo que, portanto, não será discernido naturalmente pela experiência nesse mundo, necessitando do evangelista, do cristão que chegue ao indivíduo e faça-o conhecer a Palavra, possibilitando que o mesmo encontre nela o sentido, a resposta para os seus anseios físicos, psicológicos e do mais íntimo de seu espírito. Mas esse é o ponto: embora o cristianismo não possa ser compreendido pelo ser humano sem que lhe seja devidamente apresentado, quando o indivíduo tem acesso à sua mensagem, ela imediatamente entra em contato com as aspirações, os medos, os desejos e as crises que residem no seu coração, passando, aos poucos, a ser discernida por ele e, por fim, a ser aceita.
O leitor pode indagar sobre todo o poder político da Igreja e seu histórico recheado de pressões e violência, mas não pode deixar de observar como funciona a fé cristã nas suas bases sociais mais diminutas, que consistem no relacionamento entre o indivíduo que evangeliza e aquele que escuta. É claro que muitos processos de evangelismo, principalmente em igrejas, ocorrem tomando como base os desejos gananciosos do ser humano e o medo, mas tais práticas comuns jamais podem anular a realidade e a eficácia do testemunho pessoal e da transmissão da Mensagem pelo que ela é, de modo coerente e sem apelação, método esse que certamente é responsável pela conversão de dezenas de milhões de cristãos. Se temos um sistema que comprovadamente funciona, vívido desde o início da Era Cristã, que independe de quaisquer tipos de pressão, além, é claro, da eloquência e coerência integral do evangelista, então todo o mais, mesmo que gere algum fruto magro, pode ter a sua validade questionada. Todas as polêmicas atuais e históricas sobre uma igreja que só pensa em riquezas e poder e, para tal, chega a matar, estão fora daquilo que Jesus disse, fez e propôs. Sendo assim, a questão que pode ser levantada aqui é a seguinte: essas igrejas, ao falarem de Cristo dessa forma, realmente estão pregando o Evangelho? Vejamos:
Como já disse, o uso da apelação só se faz necessário quando algo não é aceito aos poucos e naturalmente pelo simples contato. Sendo assim, quando a igreja precisou pressionar, é porque a sua prática não residia na pregação do Evangelho como ele é, voltando-se para outros interesses. Um dos problemas que mais afligiu a igreja ao longo da história foi o poder: uma vez que a igreja recebeu vastos poderes políticos, o seu interesse pelo evangelismo ficou dividido com o interesse por manter o seu império e a fidelidade dos seus súditos - tal fidelidade não necessariamente era tida como uma fidelidade para com Cristo, mas, sim, para com a cultura, o patrimônio e o poder da instituição política. É lógico que isso restringiu o debate que deveria desenrola-se naturalmente acerca dos fundamentos da fé cristã, uma vez que, para evitar cisões, crises e enfraquecimentos, a igreja, como poder político, acabou fazendo uso da força em diversas ocasiões, seja na retenção de parte do conhecimento, seja no rechaçar de movimentos heréticos. Ora, nós sabemos que praticamente todas as heresias e seitas trabalham com apelação e fanatismo, indicando a sua insuficiência como uma "boa ideia para o homem", portanto era de se esperar que o uso de contingentes missionários, capazes de apresentar a mensagem de Cristo como o próprio Cristo fez mesmo diante de forte resistência, fosse suficiente para resgatar uma boa parte dos hereges e pagãos, assim como ainda hoje acontece. Creio que a igreja, quando respondeu com o mesmo nível de pressão, se colocou no mesmo nível de coerência. Como instituição, não posso concordar com diversos comportamentos históricos da igreja, mas como uma força política, eu até os entendo - só que a sede por preservar o poderio imperial pareceu ser maior do que a coerência do evangelismo cristão, sempre disposto a aceitar sacrifícios em respeito à liberdade de decisão e consciência do ser humano.
A igreja, porém, não pecou só na forma como combateu os hereges e pagãos, mas também na forma como manteve próximos os seus fiéis. Friso que não estou generalizando, uma vez que apenas uns poucos exemplos históricos já servem para manchar a imagem da igreja como um todo. A questão é que, para evitar a fuga dos adeptos e garantir a preservação e ampliação do patrimônio, discursos e práticas de medo e terror fizeram-se presentes, vendendo terrenos no Paraíso para "escapar do fogo do Inferno", vendendo redução de anos de entes queridos no Purgatório, fazendo andar na linha para evitar a punição nesse e no outro mundo... Ora, se houvesse uma instrução adequada, através da pregação do Evangelho como ele é, os indivíduos teriam financiado algumas das obras da igreja sem a eventual necessidade de pregações aterrorizantes, fazendo-o por intermédio de genuínos atos de amor, em conformidade com a consciência. Ocorre que o discurso de terror esmaga a consciência e faz o ouvinte corresponder por ter "engolido" o que ouviu, por ter se rendido ao tratado. Nesses casos, também não houve a pregação da Mensagem de Cristo em toda a sua plenitude, uma vez que o interesse em preservar a economia da instituição política falou mais alto. Essa é uma realidade histórica ainda presente: seguidamente ouvimos pregadores apelando para o medo em suas exigências pelo dinheiro do povo, garantindo o escape do Inferno e um lugar no Paraíso. O que está em jogo aqui? O Evangelho ou o interesse da instituição? Sendo que Jesus nunca pregou algo desse tipo, o problema está na instituição e não no cristianismo em seus fundamentos bíblicos.
Como a igreja geralmente busca riqueza e poder, o método do cristianismo primitivo de procurar pelas pessoas e trazê-las para Cristo depois da simples explanação do Evangelho como ele é, exigindo mudanças de comportamento e comprometimento com Jesus, e não dinheiro ou subordinação cega ao pregador, prática que torna o processo de crescimento das congregações mais trabalhoso e demorado, foi abolido. Tornou-se mais fácil atrair multidões com propostas diferentes das do Evangelho por si mesmo: "venha e pare de sofrer"; "venha para se tornar um vencedor"; "venha para prosperar em sua vida financeira"; "venha para ser curado". Não vemos mais tanto o cristão chegando até as pessoas na rua, tendo-as como indivíduos únicos e especiais, e procurando, na transmissão do Evangelho, conceber os seus dilemas e anseios, mas, sim, um chamamento ao público sob pretextos que fomentam a vaidade humana e o espetáculo. Quanto mais número, mais poder, mais patrimônio e mais bem alimentado estará o ego do líder. Não entra em questão a qualidade, mas a quantidade, para, através de discursos embasados no desejo e na emoção, extrair os maiores benefícios do povo. A mensagem de Cristo, pelo contrário, comumente se apresentou através de parábolas, que penetravam nas profundezas do coração humano, instigando a reflexão e contínuo entendimento e associação com o dia a dia, com o "eu", para, após o gradativo fermentar da Mensagem, haver uma voluntária e racional aceitação e entrega. O Evangelho nunca é transmitido através do estímulo dos desejos mais carnais do ser humano, pois, nesse caso, o indivíduo se rende não para Cristo, mas para a sua "carne". O Filho foi categórico em afirmar, quando as multidões O seguiam para encher a barriga, que Sua Mensagem não consistia apenas em pão físico, mas em um comprometimento também moral e espiritual, apontando sem receio para a "porta de saída", instruindo os incomodados a se retirarem.
Como estamos falando do grande problema das multidões aglomeradas diante do líder carismático, que instiga o desejo carnal e a culpa ("te ocorreu isso de errado, pois você não teve fé ou não contribuiu financeiramente com a missão"), uma das características mais negativas no cristianismo hoje, vale-nos um aprofundamento: nesse sistema, o indivíduo, como ser especial e dotado de personalidade e interesses particulares, é desprovido de seu valor como criatura e diluído na multidão, pressionado pela imposição de outra cultura, que, muitas vezes, despreza a sua, e de um discurso uniforme, que é praticamente obrigado a aceitar. Jesus notava as pessoas na multidão, sentia o toque do aflito e o olhava nos olhos - e Ele não esperava a multidão se aglomerar ao redor para curar o necessitado. Jesus também tirava tempo para jantar na casa do difamado e conversar com o interessado, mesmo que fosse noite adentro. O Evangelho percebe o homem em sua plenitude como ser, visando as necessidades específicas de cada ser humano - o indivíduo é o "Muito Bom" de Deus, não apenas parte da Legião. Na pregação de imposição cultural, o curioso é tomado de assalto e todos os seus ídolos são quebrados à força, mesmo sem que ele entenda os motivos disso - ele é rendido, sequestrado e transformado em "nada além de mais um igual a todo mundo". Apenas uma pregação torpe não vê que o problema maior não está nos ídolos, mas no indivíduo em si - este, se for bem instruído e se tornar entendedor da Bíblia, decidirá por si mesmo se e quando quebrar os seus ídolos, sejam as esculturas físicas, sejam aqueles que habitam o seu coração. O verdadeiro Evangelho, já que vê no indivíduo a questão principal, não tem como prioridade o desprezo da cultura e dos costumes do descrente - inclusive, ele pode até encontrar pontos de contato entre o contexto de vida do alvo evangelístico e o cristianismo. O evangelista, quando prega a Mensagem em sua essência, chama o pecador assim como ele é para que, com o tempo, informando-o e acompanhando-o, ele decida por si mesmo sair do estado passivo e abrir mão daquilo que entender como tropeço. Uma vez que isso dá trabalho, quase não acontece. Uma vez que é mais difícil dominar uma congregação cheia de pessoas de personalidade, evita-se tal tipo de tratamento.
Muitos usam o comportamento de Cristo no Templo, quando Ele expulsou os vendilhões, como argumento para a imposição, mas esquecem-se de que o Mestre agiu com esse tipo de agressividade apenas uma ou duas vezes em todo o Seu ministério, de modo que essas raríssimas situações não podem servir como pretexto para o cristão, que passa a ignorar os incontáveis momentos mais pacíficos de Jesus - e no Templo Ele não estava tratando com pessoas simples, ignorantes, do povo comum, mas lidando com um sistema de comércio que utilizava a fé judaica como ferramenta de obtenção de lucros, explorando os mais pobres e obrigando-os a corresponder segundo as expectativas das autoridades do Templo, e não de Deus, ferindo-lhes a consciência e levando-os a um comportamento motivado por rendição e não por aceitação. Noutras ocasiões, Cristo foi bastante irônico e provocativo com os fariseus e mestres da lei, mas consideremos que Ele estava lidando com gente que conhecia a Palavra e que, mesmo tendo consciência do seu conteúdo, a utilizava como pretexto para diversas práticas incoerentes, desconsiderando o inconveniente e supervalorizando o que acrescentava poder - note que sempre que Jesus tratava com pessoas simples, humildes, que não eram intencionalmente vis e hipócritas, a conversa tinha outro tom. Para os que não se achavam necessitados, doentes, Jesus não demonstrava o mesmo interesse do que para com os que reconheciam seus pecados e a necessidade de cura.
Em resumo:
- Nada mais é necessário do que pregar o Evangelho como ele é, atentando para todas as necessidades do indivíduo.
- Pregações que objetivam impedir a fuga de fiéis, ampliar riquezas, proteger patrimônios e angariar multidões prometendo fuga do Inferno, riquezas materiais e cura, não representam o Evangelho pregado por Cristo. Todas as grandes polêmicas históricas, portanto, advém de deturpações da Verdade, não podendo servir, por lógica, como motivo para desprezar o que Jesus falou e fez.
- É claro que o patrimônio da igreja precisa ser mantido, até para financiar missões, ação social e material evangelístico e de estudo, mas esse tipo de necessidade deve ser tratada com os cristãos maduros, que entendem sobre a situação e são capazes de contribuir voluntariamente, com base no amor - que jamais seja direcionada ao aflito descrente que chega pela primeira vez na celebração e que o acaba fazendo com a errônea intenção de persuadir Deus a ajudá-lo.
A fé cristã não é uma experiência coletiva, o espetáculo das multidões, nas quais têm valor o número de cabeças (e a ausência de uma ou duas é passada despercebida), onde o indivíduo é empurrado pelo massa homogênea e histérica. O cristianismo acontece, em quase a sua totalidade, no coração do indivíduo, de quem Deus sabe até o número de fios de cabelo, e esse indivíduo, por sua vez, é um todo exclusivo, com carências e desejos particulares, que só podem ser devidamente conhecidos e acompanhados através do método de evangelismo introduzido por Jesus e amplamente praticado na Igreja Primitiva, quando esta ainda não se via imbuída de poder político, sendo mais uma influência social e espiritual. Jesus afirmou que Ele se manifesta até mesmo na relação entre duas ou três pessoas - sem necessitar de multidão, sem necessitar de estruturas, sem necessitar de espetáculos. É no relacionamento entre dois ou três que o evangelismo eficaz se desenvolve e que a igreja se movimenta - não se trata de um movimento de massas, mas da reunião de uns poucos, onde o indivíduo fica mais sóbrio, sem a pressão do "mega-líder" carismático e dos milhares em euforia. "Dois ou três": um cuida do outro, um conhece o outro, eles se suportam, se carregam, se suprem, se preservam em Cristo. Isso é igreja: a assembleia dos crentes, independentemente do número, na qual todos se encontram em Jesus, mas também na qual todos são encontrados, percebidos, acompanhados, quer seja "de casa em casa", quer seja numa estrutura especial para isso; quer seja no campo, quer seja nas ruas da cidade.
- Não podemos esquecer da necessidade de líderes nas igrejas, sendo esse um ponto inquestionável das Escrituras, mas que esse líder saiba ser o mais humilde de todos os membros da congregação que orienta no nome de Cristo, que não tente moldar aqueles que estão sob sua influência segundo a sua vontade e que não impeça o Espírito Santo de agir livremente. Cabe a ele, como o mais instruído e detentor de uma autoridade conferida por Cristo, orientar a congregação na pregação daquilo que Deus lhe tocar, segundo as necessidade locais, sabendo como combater o pecado (de si próprio e do restante da igreja) e capacitando quem estiver disposto a se envolver em ministérios e exercícios de liderança. -
Cristãos assim, tomados pelo amor de Cristo e pelo amor entre si, exalam para a sociedade a preocupação que têm pelo bem estar uns dos outros, aproximando os feridos, um a um, que estão decepcionados com esse mundo e que foram machucados nos relacionamentos, no trabalho e nas batalhas do coração. Também atraem os pobres e marginalizados, que são invisíveis para cidadãos bem supridos; os enfermos, que se escondem da vista dos "saudáveis", com medo do olhar de desprezo; e os pecadores confessos, que, pela vontade do povo em geral, deveriam nem mesmo existir. Mas esses cristãos não só esperam a vinda dos necessitados: eles saem pelas vielas, pelas praças, pelas casas. Estão sempre atentos nos ambientes de trabalho, estudo e lazer, para a aproximação daquele que sofre. O objetivo de quem é um cristão não é debater, apontar o dedo para as incoerências dos que não são cristãos, impor sua cultura, opiniões e posicionamentos teológicos particulares - isso ele pode fazer, mas em ocasiões e ambientes bem específicos. Ele não quer ostentar intelectualidade, nem prosperidade. Ele sabe que ninguém chegará até Jesus só porque ele, como pessoa, é inteligente, ou porque demonstra ter dinheiro - nesse último caso, o máximo que ele conseguirá é um adorador de Mamon. Ele também não chega tentando fazer o desconhecido de pronto engolir a Bíblia - se a pessoa está morrendo de fome ou frio, ou está fragilizada emocionalmente, como quem acabou de se divorciar ou perder o emprego, dificilmente um punhado de versículos lhe convencerá. O verdadeiro Evangelho, para ser pregado, exige o acompanhamento e o suprir das necessidades imediatas do ser, físicas, emocionais e espirituais, para, somente depois, ser devidamente entendido com sobriedade e através do bom exemplo do cristão - não se deve utilizar das fragilidades do indivíduo como meio de persuasão. Isso é abuso. Não queremos apenas números, queremos amar, assim como Jesus o quer. Isso não significa que não podemos fazer como o Semeador, que saiu a semear onde podia, mas se existe a oportunidade de investir mais em determinados solos, devemos aproveitá-la, sem fazer as coisas de qualquer jeito ou esperando retorno rápido.
Cristianismo é contato, contato do crente com Cristo, do crente em Cristo com o outro crente e, por fim, com o descrente. O contato é a prioridade, o amor é a prioridade, e todo o mais deve ser sacrificado se for para preservar essa essência - nem dinheiro, nem patrimônio, nem poder, nem multidões são mais importantes do que isso. Foi assim que Jesus fez: em todas as suas viagens, Ele não se distanciou senão algumas dezenas de quilômetros do Seu local de saída, cuidando de ser acompanhado pelas pessoas das proximidades, instruindo-as e curando-as. Sua Mensagem era extremamente transparente: enquanto falava do alívio que traria aos Seus seguidores, apontava para o sofrimento pelos quais os mesmos passariam, evidenciando todas as renúncias que deveriam fazer e todas as exigências morais de Sua Mensagem - não havia manipulação. Ele é exclusivista: ou se está em Cristo, ou não, e só em Jesus há salvação. Para mim é justamente esse exclusivismo que nos deve impulsionar para um evangelismo que não cria barreiras com a cultura, os costumes e os pensamentos do indivíduo, pois se ele fugir da Verdade por intermédio de questões que não são centrais, aí mesmo é que estará perdido - é lícito exigir uma mudança de vida naquele que ainda não se converteu a Cristo, sem que o mesmo tenha entendido corretamente a questão, não tenha tido o apoio da Palavra, nem da igreja e nem do Espírito Santo? Isso é tortura! A mudança vem depois da conversão. Quando falo em "não criar barreiras", não digo que devamos aceitar tudo, pois é óbvio que a igreja deve preservar a sua santidade, mas aponto para o ato de evangelismo focado no indivíduo como ser, não em coisas. Jesus evidenciou o espaço que deu para a liberdade humana, sem pressionar, ao pregar em parábolas, assegurando que o desinteressado pudesse interpretar a pregação do modo que voluntariamente entendesse, para fugir, enquanto que o interessado não tivesse alternativa senão a de reconhecer o seu verdadeiro ensinamento.
Conclusão: quando falo que basta pregar o cristianismo como ele é para que as pessoas se interessem pela sua mensagem, sem a necessidade de apelos exagerados, não digo que todos o aceitarão. É óbvio que a mensagem cristã causará estranheza para alguns e que muitos não desejarão aceitar a Cristo, mas é melhor que decidam não seguir a Jesus, permanecendo fora da sala de reuniões dos crentes, do que se tornem não-seguidores de Cristo que comparecem às reuniões cristãs com objetivos que não constam na Mensagem do Evangelho. É melhor que permaneçam "frios" e, com o tempo, comecem a discernir as palavras que ouviram do evangelista e aproximem-se depois de uma compreensão clara de todas as questões, do que se tornem "mornos", sendo descrentes infiltrados na celebração cristã e que não reconhecem a sua necessidade de achegarem-se a Deus, achando que já estão nEle.
Por fim, que fiquem claros os seguintes pontos: o Evangelho como ele é, pregado no falar e no fazer, é suficiente para atrair o descrente, pois a sua mensagem encontra pontos de contato com os anseios físicos, psicológicos e espirituais de qualquer ouvinte; a Mensagem é capaz de se disseminar sem fazer uso de amplas vias de poder, patrimônio, riqueza e multidão, simplesmente sendo transmitida pelo contato humano e pelo toque do Espírito Santo; sendo benéfica, a Boa Nova de Cristo precisa tão somente ser apresentada aos descrentes para que, aos poucos, seja aceita por muitos deles; sendo assim, o cristianismo não depende de um sistema político e econômico para existir e também não existe para defender sistematicamente nenhuma ordem social desse tipo e, muito menos, para impor sua moral e modo de vida na sociedade secular - a moralidade cristã existe para ser vivida pelos cristãos em qualquer lugar, nos seus lares e congregações, influenciando a sociedade gradativamente, sem a necessidade de fazê-la engolir, render-se ao nosso jeito de viver, embora tenhamos o direito democrático e o dever bíblico de afirmar publicamente o que entendemos como melhor. O cristianismo também não existe apenas para defender sistematicamente determinada percepção teológica, impondo-a sobre os cristãos e não-cristãos, mas, antes de tudo, para viver o amor na certeza de que Cristo é Deus, de que morreu por nós e de que só Ele nos leva ao Pai, de que Deus é Trino, de que a Bíblia é a Sua Palavra e de que a Igreja é a manifestação do Filho nesse mundo. O que foge disso ou não é da maior importância, ou é enganoso.
Embasamento bíblico:
- A necessidade de conhecer, de questionar e de entender: Provérbios 1:22; 8:5; 14:15, 18; 22:3; João 8:32; 19:35; 21:24; Lucas 1:1-4; 1 Timóteo 1:4; 4:7; 2 Timóteo 4:3-4; Tito 1:14; Atos 17:10-12; 26:25-26; 2 Pedro 1:16.
- O valor da consciência individual: 1 Coríntios 10; Romanos 14.
- A centralidade do Amor e do Evangelismo: João 15:12; Mateus 5:39-42 e 44; 7:12; 28:19-20; Tiago 1:27.
Você encontrará um apanhado completo da definição cristã de Bíblia, Igreja e do cristão na seguinte postagem: O Verdadeiro Cristianismo - a Bíblia, a Igreja e o Cristão
Natanael Pedro Castoldi
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Obrigado pelo trabalho
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