Muitos críticos simplesmente consideram a Bíblia irrelevante, ou até prejudicial, para a História Humana. Será que isso é um fato? O breve estudo que segue tentará esclarecer melhor essa questão - tire as tuas próprias conclusões.
Existem muitas outras religiões e
muitos outros livros sagrados, embora nenhum deles influencie de modo
significativo e direto 2,2 bilhões de pessoas, como é com a Bíblia. Devo
entender tais livros como tão revolucionários quanto as Escrituras? Primeiro: a
Palavra foi escrita por um período de 1,6 mil anos, de modo que os textos
escritos inicialmente, enquanto se escreviam os últimos, já haviam sido lidos e
relidos uma quantidade incalculável de vezes, isso além dos quase 2 mil anos de
término do texto, analisado exaustivamente durante todo esse período –pelos
judeus, cristãos, muçulmanos, membros de seitas, ateus... A questão fica mais
interessante quando levamos em conta o fato de que os primeiros documentos
bíblicos possuem sua origem há aproximadamente 3,5 mil anos, transpassando o
grosso da História Humana exata –e especialmente- em um dos locais mais
explosivos e mutantes do mundo: a Palestina. Muitos reinos, impérios, guerras,
movimentos revolucionários, religiões... passaram por sua terra natal e, ainda
assim, ela se preservou, espalhando-se pelo mundo inteiro e servindo de bases
para as grandes civilizações Ocidentais pós-Império Romano.
Antes
de haver Escritura, Abraão já havia iniciado o culto ao Deus Único, isso cerca
de 4 mil anos atrás. Esse é o primeiro monoteísmo da História – e é uma ideia
tão poderosa que sobreviveu a todas as tentativas de destituir os judeus de sua
cultura – Fonte: Almanaque Ilustrado de Símbolos, Mark O’Connell e Raje Airey,
Edit. Livros Escala, pgs 44-45. A Palavra já surge singular: ela prega o Único
Deus, como uma ilha perdida num mar politeísta. Outra novidade das Escrituras é
a História: nunca, em nenhum povo da Antiguidade, tinha-se tido no livro
sagrado a história real do povo em questão – na verdade, o ato de registrar a
história era estranho ao período. Os hebreus revolucionaram em sua iniciativa de guardar
as lições do passado, registrando francamente seus fracassos e modestamente as
suas vitórias, sendo honestos consigo mesmos. As Escrituras revolucionaram ao
reconhecerem um Deus que se envolve ativamente na história do Povo Escolhido e
na História do Mundo, o Deus Invisível que participa da história real, visível
e verificável, isso enquanto os mitos das diversas religiões pagãs se
desenvolvem em tempos remotos, deslocados da realidade, e em universos
inatingíveis e inverificáveis.
Os hebreus
revolucionaram ainda em dois aspectos no Oriente Médio: a escrita –a Torá- e o
Direito Escrito: falo da Lei Mosaica, que traz todo um código de conduta moral,
de organização sanitária e religiosa. O próprio sistema de liderança política e
religiosa hebreu era largamente diferente dos sistemas vizinhos. Outro aspecto
revolucionário foi a instituição do Templo de Jerusalém, o único de Israel, o
que se fazia algo singular: era politicamente ineficaz possuir apenas um templo
religioso no país, nenhum povo no mundo inteiro se comportava desse modo,
temendo divisões e buscando usufruir em larga escala do comércio que envolvia a
religião e os templos. A existência de um único templo também mostrou-se limitante
mediante as sucessivas destruições do Templo de Jerusalém e o Exílio, deixando
o povo sem o centro de seu culto. Esse esforço hebreu em seguir um padrão de
lei altíssimo e a questão do Templo único, mesmo mediante inconvenientes,
mostra sua sinceridade, mostra que a Palavra não foi formulada por eles –pois
não combinava com seus caprichos-, mas recebida de Deus e que, portanto, seu
papel não era alterá-la, mas apenas divulgá-la. Enquanto as demais religiões
obtiveram seus livros sagrados de suas raízes tribais e influências universais
–todas se assemelhavam na essência-, os hebreus parecem ter inovado em
basicamente tudo, sem as mesmas influências naturais, psicológicas e culturais
das demais religiões. Fonte: Uma Outra História das Religiões, Odon Vallet,
Edit. Globo, pags 19-24, 26 e 38-40.
Além da
questão do Templo único, como algo fora dos anseios e comodidades humanas, o
próprio monoteísmo, introduzido no mundo pelo judaísmo, não é, num primeiro
momento, tão vantajoso assim, comprovando a origem sobre-humana, divina, da
Torá: por volta do século XIV a.C. o faraó Amenófis IV tentou implantar o
monoteísmo no Egito, elegendo o Sol como divindade suprema e abolindo o culto
aos outros deuses. Acontece que o politeísmo favorecia a competitividade
regional, aquecia o comércio e fortalecia os povos locais, de modo que essa
tentativa de revolução logo fracassou – um exemplo da potência politeísta está
nos complexos de templos de Karnak, no Egito, que chegou a 500 hectares (dez
vezes maior que o Vaticano), no auge mantinha 420 mil cabeças de gado e
abrigava 81.322 religiosos e seus auxiliares. Por que o judaísmo arriscou-se na
revolução monoteísta em despeito de um politeísmo comprovado? O monoteísmo
judaico também era singular no sentido de que, nos politeísmos, os deuses não
eram necessariamente ligados a nações, mas a atributos. Os hebreus preferiram
apostar num Deus ligado ao seu reino. – Fonte: Uma Outra História das
Religiões, Odon Vallet, Edit. Globo, pags 17, 20, 24 e 40.
Sobre a Lei: Códigos de leis anteriores e do período da Lei
Mosaica são em demasia inferiores ao que Moisés recebera de Deus. As Leis de
Eshunna (1800 a.C.), por exemplo, não tratam o homicídio com punição
incondicional. Um assassinato da escrava de outro era pago com duas escravas da
parte do assassino. Se alguém mata algum membro de família de classe superior,
deve ser morto. De forma parecida trabalha o Código de Hamurabi (1726 a.C),
cobrando, por exemplo, multas em metal relativas à agressão às mulheres
conforme as classes sociais. Se um homem mata a filha de um nobre, deve perder
a sua filha também. A Lei do Antigo Testamento, por outro lado, representa um
avanço significativo, generalizando a pena sem distinção de classe: "Não matarás"(Êxodo 20:13) e, a pena: "Quem ferir de morte, será morto" (Êxodo 21:12). E a Lei da Velha Aliança, que Deus fizera com
Abraão e que seguiu com Israel, é ainda mais anormal ao período por defender
algo impensável naquela época: o escravo. Vide Êxodo 21:1-11; 26-27. Fonte: Entendes o que Lês?, Gordon D.
Fee e Douglas Stuart, Edit. VidaNova, 1ª Edição (1984), pgs 146 e 147.
O
Gênesis é a origem ciência moderna, segundo o livro Por que a Ciência não Consegue
Enterrar Deus, John C. Lennox, Universidade Presbiteriana Mackenzie, pgs 26 e
27, com base num dizer de Melvin Calvin, prêmio Nobel de Bioquímica, sobre a
convicção científica de que o Universo é ordenado: “Quando tento discernir a
origem dessa convicção, tenho a impressão de detectá-la na noção básica
descoberta 2 ou 3 mil anos atrás e enunciada pela primeira vez no mundo
ocidental pelos antigos hebreus: ou seja, que o Universo é governado por um
único Deus e não é produto dos caprichos de muitos deuses, cada um governando
seu próprio espaço segundo suas próprias leis. Essa visão monoteísta parece ser
o fundamento histórico da ciência moderna”. Isso surpreende, pois costuma-se
dizer que a origem da ciência se deu no século 6 a.C., na Grécia, mas vale
lembrar que os gregos só alcançaram tal avanço esvaziando-se, primeiro, de sua
religião politeísta.
Acerca
da ciência moderna e sua definição mais clara, Alfred North Whitehead, eminente
matemático e historiador, foi obrigado a reconhecer: “a ciência moderna deve
ter se originado da insistência medieval na racionalidade de Deus [...]. Minha
explicação é que a fé na possibilidade da ciência, gerada antes do
desenvolvimento da teoria científica moderna, foi uma consequência inconsciente
da teologia medieval”. Fonte: Por que a Ciência não Consegue Enterrar Deus,
John C. Lennox, pg 27.
Peter
Harrison, professor de Ciência e Religião de Oxford, falou que uma das
principais fontes da ciência moderna foi a atitude dos cristãos protestantes em
relação à interpretação dos textos bíblicos, o que resultou no fim da abordagem
simbólica da Idade Média. Fonte: Por que a Ciência não Consegue Enterrar Deus,
John C. Lennox, pg 30.
Natanael Pedro Castoldi
Leia também:
- A Estranha Natureza da Bíblia
- A Bíblia não é Igual aos Outros Livros Sagrados?
Leia também:
- A Estranha Natureza da Bíblia
- A Bíblia não é Igual aos Outros Livros Sagrados?
Obrigado pelo trabalho,
ResponderExcluir