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As Genealogias de Mateus e Lucas

Já vi muita gente tendo como um colossal erro da Bíblia as divergências gritantes entre as genealogias de Mateus e Lucas, embora qualquer pessoa honestamente desconfiada há de refletir sobre a possibilidade de erro em passagens tão longas, próximas e importantes do Novo Testamento - é impossível que os mesmos que dizem que a Bíblia foi inventada por gente gananciosa, apontem como falha as genealogias de Cristo, pois não há como conceber que o autor de um documento forjado tenha, propositadamente, produzido textos complicados como esses. Qualquer invenção seria mais simples de entender. Mas ocorre que o relato bíblico não é inventado e, tampouco, fora modificado com o tempo, uma vez que, se assim fosse, é certo que tais supostas divergências não apareceriam nos documentos mais antigos e, sem dúvida, não teriam sobrevivido ao tempo e ao trabalho de copistas maliciosos, ansiosos por ocultar as dificuldades do relato original. "Falhas" desse tipo, portanto, são mais evidências de que o texto é genuíno e de que não fora modificado, do que questionamentos viáveis sobre a autenticidade das Escrituras.

A Bíblia em Ordem Cronológica, Vida, 2003, pgs 1020 e 1021, nos ajuda a entender essa questão:
De Abraão a Davi, as genealogia são idênticas. É depois disso que Lucas segue pela linhagem sacerdotal - era relativamente comum que as linhagens real e sacerdotal realizassem casamentos entre si, tendo a primeira fusão com Arão, o primeiro sumo sacerdote, que uniu-se à realeza ao casar-se com Eliseba, filha de Judá (Êx 6:23). O irmão de Eliseba, Naassom, era de linhagem real, vide Mateus 1:4. O inverso aconteceu quando Davi casou com Bate-Seba, de linhagem sacerdotal. A genealogia de Lucas relaciona vários sumos sacerdotes, culminando com o união entre José e Maria, esta pertencente à família de Arão - ela era de família sacerdotal por ser prima de Isabel (Lc 1:5, 36), que era casada com Zacarias, pai de João Batista, sumo sacerdote.

A Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 1559, comenta:
"O NT apresenta duas listas genealógicas apropriadas, ambas as quais apresentam a ascendência humana de Jesus, o Filho de Davi (...). As duas listas são diferentes, e as razões para essas variações são muito debatidas. Talvez o registro de Lucas preserve a árvore família biológica de José, enquanto em Mateus registra-se a linhagem legal da descendência que autenticou a reivindicação de José (e Jesus) ao trono de Davi. Outros entendem que a genealogia em Mateus seja de José, enquanto Lucas registra a descendência de Maria." Esse último argumento faz sentido, já que Mateus escreveu para o público hebreu e grandemente centralizado na figura masculina, iniciando em Abraão com enfoque no povo judaico, enquanto Lucas escreveu para os gregos, que nutriam uma cultura na qual a mulher detinha um pouco mais de liberdade, iniciando com Adão com enfoque na humanidade inteira.

A Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pgs 1472 e 1473, nos ajuda com outras observações:
"Existem evidências de que os judeus do século I mantinham registros genealógicos (...). A genealogia de Mateus enfatiza a linhagem real de Cristo, ao passo que a de Lucas concentra-se na sua linhagem biológica. (...) Mateus omitiu vários nomes na sua genealogia, para manter uma estrutura de três conjuntos de 14 gerações (grego 'egennesen', traduzido como 'gerou', indicava ancestralidade, e não paternidade real. As palavras 'Todas as gerações' devem, então, ser interpretadas como indicando 'como resumimos aqui'). Mateus estava enfatizando o nascimento de Jesus como um momento culminante na história de Israel. O terceiro conjunto de '14' tem somente 13 nomes, a menos que Jeconias seja contado uma segunda vez (ou o segundo terá 15, se começarmos com Davi). Talvez Mateus refletisse o sentimento comum da sua época de que Jeconias poderia ser considerado um personagem pré-exílico e também pós-exílico (...). Davi é o personagem central na linhagem de Jesus. Quando as consoantes do seu nome são somadas, o resultado é 14; daí a importância do número 14 para Mateus. Davi é o décimo quarto elemento da genealogia."

O livro de Joseph Ratzinger, Bento XVI, A Infância de Jesus, Planeta, 2013, pgs 14-18, levanta algumas questões bastante relevantes para finalizar o estudo:
 Sobre os três grupos de 14 gerações de Mateus, de Abraão até Davi, de Salomão até o Exílio da Babilônia e, então, para Jesus. Ratzinger reforça que o valor numérico do nome de Davi é 14 - Davi, o seu nome e a sua promessa caracterizam o caminho de Abraão até Jesus. Essa ordem, portanto, aponta para Cristo como Rei, para quem a história inteira aponta e cujo trono "estará firmado para sempre".

Irineu interpreta a genealogia de Lucas da seguinte forma: ele observava 72 nomes do texto evangélico, número (72 ou 70) que, em Êxodo 1:5, resumia a totalidade de povos do mundo. Esse mesmo número aparece em Lucas quando 72, ou 70, discípulos que Jesus colocou ao lado dos Apóstolos para evangelizar. Considerando que Lucas recua, em sua genealogia, desde a concepção do Senhor até Adão em 72 gerações, ele une o fim com o início, fazendo entender que Jesus recapitula em Si mesmo, a partir de Adão, todos os povos - é por isso que Paulo designou Adão como "tipo d'Aquele que devia vir". Jesus assume em si mesmo a humanidade inteira, com toda a sua história, e a reinicia, "rumo a um novo ser pessoa humana".

Natanael Pedro Castoldi

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