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Uma Breve História da Corrupção da Igreja Antiga e Medieval

É lógico que a Igreja se corrompeu em parte e nalguns momentos de sua longuíssima história, mas a corrupção por si só não pode desmerecer toda a instituição: precisamos entender bem quais foram as principais fontes dessa corrupção e, com base nelas, verificar se o problema está na própria instituição e naquilo em que ela se baseia ou na influência de poderes externos. A proposta do breve estudo que segue é vislumbrar essas fontes - tire as suas próprias conclusões.

A riqueza e o poder da Igreja: o cristianismo nasceu de modo espetacularmente explosivo. Um andarilho hebreu, que perambulou três anos numa região de poucos quilômetros quadrados, promoveu uma rapidíssima e incontrolável revolução que, em pouco tempo, tomou todo o Mediterrâneo, embora duramente repelida pelas autoridades políticas e religiosas tradicionais. Finalmente, cerca de três séculos depois da ressurreição de Seu fundador e mais exemplar praticante o cristianismo fez o Império Romano curvar-se. Constantino acreditava ter vencido de seu concorrente para o trono do maior império do mundo, Mexênico, por intermédio do Deus dos cristãos e, uma vez oficializando a nova religião, concedeu privilégios e riquezas para a instituição que representava-O, afim de obter favor de Iavé – e é claro que os cristãos aceitaram esse apoio imperial, já que padeciam há trezentos anos de miséria e perseguição. A Igreja se encontrou numa posição de grande poder.
Uma vez que o Império Romano dividiu-se em Império Romano Ocidental e Império Romano Oriental, tendo o imperador habitando na capital Oriental, o Ocidente acabou tendo como a mais potente liderança o bispo de Roma. Quando o Império Romano Ocidental caiu, por advento das invasões bárbaras, 476 d.C., o  poder do imperador fora dissolvido e a aristocracia romana fugira para o campo, afim de proteger-se com seus exércitos particulares. A cidade de Roma, reduzida há poucas dezenas de milhares, via-se sem proteção e, então, com apoio do povo, aflito, o Bispo de Roma preencheu esse vazio, protegendo, com os recursos da Igreja, a população dos frequentes ataques. A Igreja Ocidental, Católica Romana, logo tornou-se a potência política máxima da Europa Ocidental, gozando de grande prestígio e riqueza, primeiramente conquistados de modo inocente, mas ampliados com base, inclusive, em corrupção.
A riqueza e o poder da Igreja Ocidental só acresceram com suas iniciativas nas áreas de educação e produção de alimento: diante da destruição do conhecimento antigo da parte dos bárbaros, a Igreja fundou as instituições de ensino para preservar e acrescentar ao conhecimento que restara –Carlos Magno, século VII, fundou as primeiras escolas com o intuito de divulgar a cultura greco-romana, Fonte: Grandes Guerras, Guerras Medievais, Aventuras na História nº8-, e, mediante a fome que alastrara principalmente nas primeiras décadas de caos pós-queda, começou a financiar e controlar as maiores plantações da Europa. Mais adentro na Idade Média alguns mosteiros cristãos também tornaram-se assombrosamente ricos, embora as origens dessa riqueza sejam, de modo geral, lícitas: as comunidades clericais eram autossuficientes e produziam mais do que consumiam, o que deu início a um potente comércio de excedentes, principalmente de lã de ovelha, tido como mais uma forma de sustento para financiar a manutenção das estruturas, a fundação de novos mosteiros, a construção de hospitais, alojamentos, a distribuição de alimento e tratamento aos pobres, a preservação e reprodução dos livros das grandes bibliotecas... Fontes: Os Cristãos, Tim Dowley; Uma Breve História do Cristianismo, Geoffrey Blainey.

A Igreja e a violência: como já foi dito, o povo de Roma, diante da queda do Império Ocidental, ficou sem proteção mediante os invasores, e a Igreja, grande potência restante, ouvindo os clamores civis, tomou os rumos bélicos para defender-se e defende-los. É lógico que, uma vez tomada a iniciativa militar, a Igreja nunca mais perdeu o poderoso braço que o exército representa, sempre mais e mais alimentado conforme a corrupção se alastrou.
Dentro da questão militar, temos, ainda, as Cruzadas da Idade Média. Diz-se que a Igreja usou de força militar para aumentar seu território e riquezas, porém, na realidade, segundo se lê no livro Os Cristãos, de Tim Dowley, o Islã, desde seu surgimento, no século VII, iniciou um movimento militar de conquista política e religiosa em terras cristãs e após 400 anos de vitórias, isso sem forte intervenção da Igreja, já tinha em mãos dois terços do mundo cristão, que via-se em perigo de extinção. Cidades importantíssimas da cristandade já haviam sido perdidas, como Jerusalém, onde Cristo fora crucificado e ressuscitara, Alexandria e Antioquia, duas das maiores fortalezas teológicas da cristandade. No final das contas, as Cruzadas só foram conclamadas pelo Papa Urbano II quando a maior cidade cristã do mundo, Constantinopla, se via terrivelmente ameaçada pelos árabes e alguns séculos depois de uma incursão muçulmana ter marchado até o centro da França – um dos precedentes foi a Batalha de Poitiers, em 732 d.C., quando os sarracenos marcharam até o coração francês, um dos mais sólidos bastiões do mundo cristão, sendo rechaçados por Carlos Martelo, avô de Carlos Magno. Com base nessas informações, após uma leitura do livro As Grandes Batalhas da História, Volume 1, editora Larousse, constatamos que, a princípio, as Cruzadas se deram como modo de o mundo cristão continuar existindo politicamente, uma forma de resistência e revanche, retomando aquilo que fora perdido. O fato é que as críticas severas às Cruzadas são frutos, principalmente, da mentalidade atual, sendo que, segundo o livro Uma Breve História do Cristianismo, de Geoffrey Blainey, nos séculos passados esse movimento cristão era visto como legítimo. É claro que, como sempre, a corrupção não demorou a se instalar e os excessos de violência encolerizaram as marchas cruzadas.
Sobre a Inquisição, outro assunto polêmico, devemos reconhecer o vil comportamento da Igreja, corrompida, porém, à princípio, a proposta da Inquisição era aliviar os juízos, não ampliá-los: os governos seculares costumavam tratar de julgar com as próprias mãos aqueles que ofendiam a fé cristã, mas o faziam de modo tendencioso, parcial e severo, exigindo a interferência da Igreja, que requisitou o direito de erguer um tribunal para analisar de modo mais criterioso os crimes – a verdade é que poucas pessoas chegaram a morrer por advento desse famoso tribunal. O caso mais famoso da inquisição foi o de Galileu Galilei (1564-1642), que é pregado como sendo “o juízo da Igreja sobre a razão”, porém, na realidade, a história foi bem diferente: Galileu, como já dito, era cristão fervoroso, incrustando a fé em Deus na sua ciência, como ele mesmo dissera: "A Matemática é o alfabeto que Deus usou para escrever o Universo”. A questão é que, embora Nicolau Copérnico (1473-1543), clérigo cristão, tenha sugerido o Heliocentrismo, a ciência do período de Galileu era fundamentalmente aristotélica, concebendo a Terra como o centro do Universo, Geocentrismo, e, sendo assim, a maioria das autoridades científicas seculares e cristãs discordaram do grande astrônomo. O problema é que Galileu não somente era persistente, mas, também, desrespeitoso, desferindo ofensas às autoridades seculares e cristãs por se fecharem a novas possibilidades, o que o levou a ser encaminhado para o Tribunal da Santa Inquisição, já que ofendera o próprio papa, que o condenou à prisão domiciliar, obrigando-o a ficar o restante de sua vida morando nas mansões de seus amigos íntimos. Outra questão que devemos observar é que Galileu tentou impor seu pensamento, mediante uma tradição de séculos, o que, também por prevenção, não querendo lançar fora ideias já bem conhecidas por uma novidade questionável, fez as autoridades em questão resistirem. Fonte: Por que a Ciência não Consegue Enterrar Deus, John Lennox.
Outro aspecto histórico que manchou o nome da Igreja é a escravidão. É verdade que os espanhóis e portugueses que primeiro desbravaram a América eram cristãos por consequência lógica de terem vindo da Europa, mas suas atitudes não caracterizavam vontades da Igreja em si, bem mais preocupada em alcançar e catequizar os nativos do que em destroça-los. A verdade é que os únicos defensores dos ameríndios e negros da América Colonial eram os missionários cristãos, com monges hostilizando abertamente a prática da escravidão, em concordância com a Igreja de Roma, cujo líder, Papa Paulo III, em 1537 d.C., lançou uma bula –Sublimis Deus- contra a escravidão. Mais tarde, o protestante William Wilberforce (1759-1833) iniciou um forte movimento antiescravagista, que resultou na abolição do tráfico de escravos. Fontes: Uma Breve História do Cristianismo, Geoffrey Blainey; Apolgética Cristã, Israel Belo de Azevedo.
Vimos anteriormente que os primeiros cristãos colecionaram simpatizantes por seu respeito às pessoas das mais diversas etnias, culturas e religiões, mas não foi mencionado o fato de os cristãos revolucionarem no bom trato aos escravos e às mulheres, sendo que ambos, segundo o pensamento romano, não eram cidadãos, não mereciam crédito e, tampouco, respeito, sendo considerados inferiores aos homens livres –para os judeus as mulheres eram tidas de modo semelhante. Geoffrey Blainey, em seu livro, Uma Breve História do Cristianismo, faz questão de lembrar de Paulo, quando o mesmo afirma que “diante de Cristão não há judeu nem grego, escravo nem livre, macho nem fêmea”. Esse aspecto da fé cristã se caracteriza ao vermos o já citado William Wilberforce, homem branco, lutando pela liberdade dos negros, ou quando vemos Martin Luther King Jr. (1929-1968), um pastor negro que deu a vida, literalmente, na luta contra o racismo. E para os críticos de plantão, que insistem em tachar Adolf Hitler (1889-1945), líder do partido nazista e um dos maiores assassinos da história, de cristão, sendo que o mesmo disse que “ou se é cristão, ou se é alemão” –Uma Breve História do Cristianismo, Geoffrey Blainey-, lembrando que Hitler, embora de berço cristão, odiava o cristianismo, formulando o nazismo como uma religião neo-pagã, lembro da família cristã Ten Boom que durante a Segunda Guerra refugiou em sua casa judeus perseguidos, salvando a vida de mais de 800 deles e, com isso, perdendo quatro de seus membros; ou, ainda, Martin Niemöller (1892-1984), pastor luterano declaradamente antinazista. Posso fechar esse tópico lembrando de figuras como Francisco de Assis (1182-1226), que abriu mão de uma vida de confortos para viver entre os pobres, ajudando-os e evangelizando-os –certa vez pretendeu ir ao Oriente Médio para evangelizar e converter os muçulmanos antes de os cruzados chegarem para massacrá-los-, sua amiga Clara de Assis (1194-1253), que também fugiu da riqueza para dedicar-se à simplicidade cristã, Telêmaco, monge do século V que morreu no Coliseu de Roma ao interferir numa luta de gladiadores, e William Carey (1761-1834), um sapateiro inglês, protestante, que dedicou a sua vida para viver entre os indianos. Fontes: Uma Breve História do Cristianismo, Geoffrey Blainey; Os Cristãos, Tim Dolwey; Apologética Cristã, Israel Belo de Azevedo.

A proibição da Bíblia pela Igreja: quando o barbarismo tomou a Europa, destruindo os grandes centros culturais de Roma, como suas bibliotecas, museus e teatros, e levando centenas de milhares de colonos analfabetos das tribos invasoras para as terras mediterrâneas, quase ninguém tinha condições de tomar o Texto Sagrado e usufruir de suas mensagens. Diante de povos de raiz pagã e massivamente analfabetos, a Igreja, à princípio, achou saudável o acesso à Bíblia apenas ao clero e aos nobres, que conseguiam pagar por uma cópia manuscrita do volumoso livro, entendendo que era melhor deixar aqueles que já se viam doutrinados nas veredas cristãs e que saberiam ler corretamente o texto do que permiti-lo aos pagãos que, dando os primeiros passos no aprendizado da leitura, certamente compreenderiam mal a Palavra do Altíssimo. Essa iniciativa, em parte lícita, porém, deu origem ao monopólio teológico e científico de que a Igreja viria a usufruir no cerne da Idade Média, culminando em seus conhecidos abusos de poder.
Para o povo comum, já apresentado com seu analfabetismo, as imagens e esculturas que foram sendo colocadas nas igrejas cristãs serviam, de modo eficiente, como ilustrações das mensagens cristãs sobre Cristo e os mártires, levando-os ao conhecimento daquilo que, doutra forma, não conseguiriam ter acesso por serem desletrados. É claro que, com o passar do tempo, esses memoriais cristãos, que também serviram para atrair os pagãos, profundamente embasados no culto à esculturas de ídolos, acabaram extrapolando a barreira da doutrina e memória e passaram a tornar-se objetos de culto. Coisa semelhante aconteceu com o culto aos mortos: no início da Era Cristã era comum os cristãos se reunirem para culto nas catacumbas, onde estavam sepultados seus mártires, coisa que, com o tempo, fora se aprofundando com a antiteológica adoração aos mortos, principalmente quando concebiam os túmulos dos apóstolos e dos Pais da Igreja. Fonte: Curso Vida Nova de Teologia básica - Vol. 4 - Panorama da história da igreja.

Poder centralizado: embora já citada anteriormente, essa questão merece um tópico específico. Vejamos: com a queda de Roma o poder se viu fragmentado, não havia uma liderança para a sociedade Ocidental. A Igreja, então como poder máximo no Ocidente, tomou as rédeas da situação, fazendo-o com o apoio do povo, porém, mediante uma sociedade profundamente pagã, houve uma certa imposição da verdade cristã, como forma de proteger a única real força romana que restara na Europa Ocidental, procurando preservar a cultura e a religião tradicional – o que só se intensificara com o levante de um colosso árabe alguns séculos depois da queda da capital do Império.

Corrupção: sabemos que toda a Europa Medieval, quase sem exceção, era cristã, porém também sabemos que nem todos os cristãos são Igreja, isso do ponto de vista teológico. Ao longo da história muitos cristãos que não eram Igreja cometeram atrocidades em seu nome. A questão que fica, no final das contas, é: o quanto a Igreja corrompeu a si mesma e o quanto o mundo secular se infiltrou em suas portas e a corrompeu?
Sabe-se que num mundo em desordem, fome e ignorância, fazer parte da mais poderosa instituição, detentora do conhecimento preservado e das grandes plantações e criações, era algo muito atraente, isso tudo além do prestígio político. Por isso não demorou para a Igreja se ver infiltrada de aproveitadores gananciosos e corruptos.
Já falei sobre o enriquecimento de alguns mosteiros, que vendiam os excessos de sua produção, o que podia atrair aqueles que procuravam uma boa vida. A corrupção moral da Igreja, não somente em termos de corrupção financeira, também se fortaleceu com a ideia dos mosteiros que, ao mesmo tempo em que promoviam um ambiente de santificação, distante do mundo profano, isolaram seres humanos cheios de desejos em ambientes fechados, com seus instintos aprisionados, o que não demorou para levar muitos ao homossexualismo e a pedofilia.
O que segue, com base no livro Os Cristãos, Tim Dowley, é uma mostra de quando o mundo secular dominou e corrompeu a Igreja: enquanto a Igreja Oriental prosseguia sob o domínio do Império Romano Oriental, a Igreja Romana, no Ocidente, reinava sozinha, ambiente propício para abusos. No início da Idade Média os reinos bárbaros eram muitos e desunidos, porém, com o tempo, alguns começaram a se unir e somar forças, como aconteceu com o reino dos Francos, cujo grande líder foi Carlos Magno, promotor de uma grande reforma na Igreja e o primeiro dos reis seculares que obteve poder suficiente para exigir o controle absoluto sobre a Igreja que se encontrava em suas áreas de domínio, tornando-se uma autoridade eclesiástica superior ao papa em seu reino –mesmo nunca tendo feito parte do clero. Nessa época o Papa Leão III, difamado por má conduta, foi destituído do poder por aristocratas romanos e padecia de contínuas ameaças de morte, porém o grande Carlos o salvou, preservando sua autoridade papal, porém com a condição de se submeter ao controle do rei franco. Verifique as incoerências: um rei secular se torna líder espiritual de seu povo e passa a controlar os passos do próprio papa, utilizando-o como uma ferramenta política, obrigando uma igreja corrupta a se corromper ainda mais.
Com o tempo o poder papal passou a sofrer interferências cada vez maiores dos poderes seculares, que viam na Igreja uma fonte de poder ou uma inimiga. Um detalhe interessante é que os poderes seculares conseguiram interferir de tal forma na Igreja que, com imensa pressão, uma família de nobres romanos conseguiu colocar um rapaz de 18 como papa, João XII, a fim de angariar mais poder para si. Nesse caos alguns papas também foram assassinados, como Leão V, João X e Estêvão VIII.
O tal de João XII, que não tinha nenhuma aspiração eclesial, moveu-se por interesse e fez com que a Igreja caísse ainda mais nas mãos do mundo secular, por exemplo: quando o rei alemão Oto I conseguiu vencer os magiares, exigiu o titulo de imperador do Sacro Império Romano e João XII logo lhe ofereceu, com o intuito de que esse poderoso rei lhe salvasse das garras de seus inimigos italianos. Nessa época o imperador do Sacro Império dominava o papado, escolhendo ou retirando os papas que lhe convinham segundo seus interesses - fica evidente que a Igreja era uma ferramenta totalmente secular nessa altura, pois o imperador era superior aos papas e escolhia, como lhe parecia melhor, quem ocuparia o cargo papal. Tudo se resumia, por fim, em poder, controle, riquezas. A Igreja se corrompeu, mas o mundo secular a subjugou e depravou ainda mais. Não tardou e a Igreja se levantou numa espécie de reforma.
Um dos papas reformadores foi Gregório VII, que reclamou para si o poder absoluto sobre tudo e todos, pois revitalizou a ideia de ser sucessor do apóstolo Pedro. Dessa forma, Gregório comprou briga com os principados seculares. O imperador romano-germânico, então, levantou-se em oposição, mas logo foi excomungado pelo papa e perdeu muito prestígio, implorando o perdão papal, que lhe foi concedido, mas, uma vez perdoado, tomou o controle da Igreja Alemã e, ignorando outra excomunhão, expulsou Gregório de Roma e o exilou no sul da Itália.
Aproximadamente um século depois de Gregório, outro papa soberbo tomou o poder, Inocêncio III, considerando-se o monarca papal de toda a Europa Ocidental. Depois de tomar uma série de medidas, Inocêncio subjugou os grandes príncipes europeus. Nesse clima totalmente depravado é que são lançadas as Cruzadas, ao lado disso a Igreja começou a cobrar altos dízimos. O jogo político prosseguiu.
Falemos, então, de Bonifácio VIII (1294-1303 d.C.), o papa que colocou as pretensões papais no limite, almejando um poder que exacerbava as suas condições. Com esse espírito, Bonifácio desafiou o rei Filipe IV, da França, questionando de quem era o poder da igreja galicana. Filipe não temeu e tratou, pela força militar, de desafiar, prender e humilhar o papa. Tal rei, agora com o domínio sobre a Igreja, procurou eleger o francês Clemente V como papa e transferiu a sede papal de Roma para Avignon, onde, rodeada pela França, seria mais cuidadosamente vigiada e orientada pelo rei francês. A Igreja, agora sob o domínio francês, foi usada pelo rei como arma para assegurar o domínio da França como potência máxima da Europa na época, o que prejudicou os cristãos de outras nações.
Pulando o Cisma do Ocidente, vamos para os papas da Renascença, no século XV: adequando-se às novas visões de mundo e doutrinados pelas ideologias da época, vários papas secularizados, sem fervor religioso, tomaram o poder. Pio II, Inocêncio VIII, Alexandre VI, Júlio II e Leão X eram homens talentosos, bem educados, afinados com as novidades do mundo, mas pouco religiosos. Foi no cenário que se construiu a partir disso que a Reforma Protestante tomou forma. Encerro esse tópico aqui, questionando-o novamente: a culpa da corrupção da Igreja é de Cristo, somente da Igreja ou também do poder secular, do homem corrompido?!

A desonestidade da oposição: existe uma coisa nessa história de que os protestantes devem se envergonhar e pedir perdão: o exagero. É lógico que os reformadores estavam eufóricos com a Reforma e extrapolaram um pouco em suas atitudes, mas isso não justifica o exagero de suas acusações contra a Igreja Medieval, criando uma imagem terrível para o cristianismo que perdura até hoje.
Henrique VIII (1491-1547) decidiu se desvencilhar do poder romano, afim de justificar seu anseio por divorciar-se de Catarina de Aragão. Enfurecido com a postura do papa e incentivado por Thomas Cromwell, ele começou a atacar frontalmente os mosteiros ingleses, que eram considerados os pilares centrais da tradição católica, mas, ainda, eram atrativos pelo fato de que detinham muitas terras e riquezas que o rei poderia confiscar. Henrique, então, num único golpe, conseguiu fazer transbordarem os cofres ingleses e derrubar os centro do poder católico inglês: Thomas tratou de nomear uma comissão pata investigar os mosteiros e em pouco tempo conseguiu reunir pilhas de relatórios sobre corrupção financeira, espiritual e sexual, que, entregues à Coroa, obrigaram os mosteiros menores a entregar tudo o que tinham ao rei - não tardou e os mosteiros maiores também o fizeram. Com as riquezas Henrique comprou o apoio da nobreza e formou a igreja inglesa, a Anglicana, da qual ele era o líder máximo. O detalhe é que nem todos os mosteiros destruídos eram corruptos: muitos relatórios eram questionáveis, duvidosos, e fizeram com que muitas instituições excelentes e valorosas fossem irremediavelmente destruídas, com suas terras e comunidades arrasadas e dispersas, fazendo a Inglaterra perder um inestimável patrimônio espiritual, cultural e arquitetônico.
O Iluminismo foi outro grande destruidor de mosteiros, o século XVIII foi terrível para a Igreja Católica. Começamos com Maria Teresa, arquiduquesa da Áustria, que tratou de limitar os privilégios clericais. Seu filho, José II seguiu o exemplo da mãe, levando a política iluminista mais a sério: confiscou bens monásticos sem o conhecimento do papa e aboliu todas as casas monásticas que não tinham uma função "útil", ou seja, que fossem voltadas à vida espiritual. Essa postura levou ao fechamento de cerca de 400 mosteiros no império e uma perda de aproximadamente 40.000 monges e monjas. A Igreja da Áustria, porém, sofreu pouco se comparada à Igreja da França revolucionária.
Antes da Revolução há pouca evidência de que a Igreja francesa era demasiado corrupta e, tampouco, que estava em declínio, porém os franceses já começavam a frequentar menos as igrejas, estimulados por "livres-pensadores" céticos. O monstro foi crescendo, adormecido, e quando a Revolução estourou em 1789 um intenso movimento anticlerical se alastrou com violência.
Não demorou e o governo francês confiscou e vendeu as terras da Igreja e atacou todas as ordens religiosas mendicantes e contemplativas. Os mosteiros que tinham algum fim "útil" puderam persistir, mas mais nenhum cidadão poderia fazer votos monásticos, ou seja, esperava-se que todos os monges morressem de velhice e os mosteiros sucumbiriam. A brutalidade contra a Igreja aumentou, conforme a Revolução se intensificou, fazendo fugirem do país algo entre 30 e 40 mil monges - dos que ficaram, milhares foram assassinados. Em 1795 a liberdade da Igreja começou a retornar e os católicos franceses puderam voltar a ir à missa, que reiniciou em residências particulares e ministrada por sacerdotes vestidos com roupas leigas. Mas isso durou pouco, o Diretório francês logo retomou a política antirreligiosa e a impôs aos países sob o domínio da França: Itália, Suíça, Renânia e Bélgica. A República Cisalpina, norte da Itália, dissolveu seus mosteiros e a República Romana proibiu-os, porém o catolicismo ainda tinha forças: levantes populares se consumaram na Bélgica, Suíça e Roma, pedindo o retorno da religião. - Detalhe para os movimentos populares pedindo a religião católica. A Espanha, em 1820, também tentou derrubar a Igreja Católica, fechando os seus mosteiros e expulsando as suas ordens religiosas. Enquanto isso, na Rússia, Nicolau I fechou cerca de 500 mosteiros. Fonte: Os Cristãos, Tim Dowley.

Como podemos perceber, na História Humana, por ser humana, existem maldades e falhas em toda a instituição e pessoa, mas não podemos desprezar o todo, apenas porque alguns em determinados períodos não possuíam caráter ou mal compreenderam aquilo que afirmavam seguir. Analisemos a Bíblia.

Natanael Pedro Castoldi

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