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O Costume Judaico do Beijo

O parco entendimento contemporâneo sobre os costumes judaicos antigos, que são analisados através da perspectiva moral e cultural de nossos dias, tem gerado inúmeros incômodos e errôneas interpretações dos fatos bíblicos, principalmente quando o assunto é "relacionamentos" - nossa sociedade ocidental, profundamente voltada para o sexo, quase não consegue mais dissociar amizades profundas do interesse e do ato sexual. Com base nessa mentalidade maliciosa, comportamentos comuns ao judaísmo da Antiguidade estão sendo interpretados como insinuações de adultério, homossexualismo e outras formas de atividade sexual. Essas visões dos textos estão tão erradas, e são tão desonestamente aplicadas, que podem assemelhar-se ao que os romanos acusavam os cristãos no início da Era Cristã: praticantes de incesto pelo simples fato de chamarem os seus companheiros de fé de "irmãos" e "irmãs" e se encontrarem com eles em locais reservados para realizar sua celebração.

Na Bíblia o ato do beijo apresenta-se sob duas orientações: uma erótica e a outra não - a prática dissociada do erotismo é a mais comum. Era um costume do Antigo Testamento que parentes se cumprimentassem com um beijo, especialmente depois de uma longa ausência (Gn 27:26-27, 29:11-13; 33:4, 45:15; Êx 18:7). O beijo também era utilizado para despedir-se de alguém querido antes de um longo período de distância (Gn 31:28; Rt 1:9; 1 Rs 19:20). Amigos íntimos, mesmo que não pertencessem ao mesmo grupo familiar, também se cumprimentavam com um beijo, como foi o caso de Davi e de Jônatas (1 Sm 20:41), e não havia nada de espantoso em beijar um convidado como sinal de hospitalidade. O beijo podia, ainda, aplicar-se como demonstração de respeito e submissão - é o que Samuel faz em 1 Samuel 10:1, quando unge Saul como rei e o beija como parte do ritual. Em Salmos 2:12 todos os reis da Terra são convidados a "beijar o Filho" como forma de expressar respeito por Ele.

Os textos que aludem ao beijo como representação do amor erótico são bastante claros e específicos, como Provérbios 7:13 e Cântico dos Cânticos 1:2 - nos tempos bíblicos, o beijo público nunca era considerado um ato de natureza erótica e é por esse motivo que beijar a pessoa amada diante do povo era reprovável, sendo difícil compreender se o ato nutria natureza erótica ou não (Ct 8:1).

Há muitos textos extrabíblicos da Antiguidade que tratam dos beijos eróticos e não eróticos. Algumas poesias de amor egípcias (século XIII a.C.) falam dos prazeres que homens e mulheres jovens tinham em beijar um ao outro. De muitos textos greco-romanos podemos extrair o costume do beijo para saudação e verificar o comum desconforto para com o beijo público.

O costume judaico do beijo manteve-se parecido nos tempos do Novo Testamento. Três tipos de beijo em público eram considerados como "aceitáveis": para saudação, para despedida e para devoção. Na Parábola do Filho Pródigo, Lucas 15, o pai recebe o filho, que estava distante há muito tempo, com um beijo (versículo 20). Quando Judas beijou Jesus (Mateus 26:49; Lc 22:47), ele o fez no contexto de afeição e devoção, mas combinando isso ao contexto, observa-se uma horrenda e mentirosa ironia, uma vez que tal beijo indicou a quem o discípulo estava traíndo. Outra ocasião na qual o beijo é dado sob o viés da devoção e admiração encontra-se no texto de Lc 7:36-50, quando a mulher pecadora beijou repetidamente os pés de Jesus, mesmo não tendo nenhum vínculo familiar com Ele. Nessa ocasião, Simão, o anfitrião, criticou o comportamento da mulher, levando Cristo comentar que, ao chegar na casa de Simão, Ele não foi recebido com o tradicional beijo de saudação, enquanto aquela mulher não cessava de beijar-Lhe os pés em devoção.

Nos escritos paulinos encontramos o incentivo ao "ósculo santo", o beijo de saudação que os cristãos costumavam promover (Rm 16:16; 1 Co 16:20; 2 Co 13:12; 1 Ts 5:26). Existe a possibilidade de que o qualificativo "santo" tenha sido acrescentado ao "beijo", ou "ósculo", para reforçar a ideia de que aquele ato jamais deveria ter uma conotação sexual. Sugere-se que esse costume estivesse associado à Ceia do Senhor e sabe-se que o mesmo servia para reforçar os laços de amor, o amor sugerido por Paulo em 1 Co 13, entre os seguidores de Cristo.
Fonte: A Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 1682.

Aqueles que consideram que Davi tenha sido homossexual simplesmente pelo ato de "beijar Jônatas", pouco entendem da cultura da época, tendo uns poucos textos, que não possuem nenhuma insinuação sexual, como fundamento para a sugestão tendenciosa de um relacionamento erótico. De fato, Davi comenta que a amizade de Jônatas lhe era mais importante que o seu relacionamento com as mulheres, mas o faz tendo em vista que o amor não se resume apenas no relacionamento sexual, mas, sim, no companheirismo sacrificial, demonstrado por Jônatas quando desafiou todo o reino em favor do legítimo rei, Davi. Além disso, considerando que o Antigo Testamento apresenta o rei Davi promovendo adultério e homicídio, por qual motivo haveria de ocultar detalhes da relação dele com Jônatas, caso fosse sexual? Não há nenhuma evidência de que entre eles havia algo de sexual - na verdade, existe todo o peso dos costumes e tradições da época, fartamente apresentados nas Escrituras, apontando para o beijo de amizade, saudação e devoção.

Sobre 1 Samuel 18:1, a Bíblia Apologética de Estudo, ICP, 2011, pg 303, afirma:
"A palavra hebraica 'ahaváh' [amar] não tem apenas um único sentido, mas vários. Vejamos. 'Amor paternal': 'E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó' (Gn 25:28). 'Amizade': 'Assim Davi veio a Saul, e esteve perante ele, e o amou muito, e foi seu pajem de armas' (1 Sam 16:21). 'Amor a Deus': 'Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças' (Dt 6:5). E 'amor ao próximo': 'Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor' (Lv 19:18).
Em todos estes exemplos, o verbo usado na Bíblia é 'ahaváh'."

Sobre 2 Samuel 1:26, tal Bíblia, pg 319, comenta:
"Ao declarar que o amor que sentia por Jônatas ultrapassava o de mulheres, Davi não quis inserir nenhuma conotação erótica. Aliás, o amor das mulheres era algo que Davi conhecia muito bem. Sua poligamia com Mical, Abigail, Ainoã, Maaca, Agita, Abital e Eglá e seu adultério com Bate-Seba são provas cabais da forte atração que Davi sentia pelo sexo oposto (1 Sm 18:27, 25:42-42; 2 Sm 3:2-5, 11:1-27)."

A Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pg 498, fala sobre 1 Samuel 18:1:
"No antigo Oriente Médio, bem como em sociedades islâmicas conservadoras da atualidade, homens e mulheres adultos não tinham permissão de ter amizades, casuais ou de qualquer outra característica, com o sexo oposto. Como as funções sociais atribuídas a homens e mulheres diferiam enormemente, os homens não podiam ter amizades íntimas, com base em interesses mútuos, nem mesmo com as suas esposas. As mulheres eram excluídas de muitas atividades comuns aos homens; elas não podiam participar de assuntos militares, e eram, de modo geral, excluídas também de ritos religiosos. Os homens, de igual maneira, não deviam se envolver em muitas atividades associadas às mulheres. Os homens deviam cultivar as suas amizades com outros homens, reservando a atividades sexual às suas esposas. Algumas vezes, estas amizades podiam ser mais próximas do que aquelas entre parentes, mas não tinham qualquer componente sexual. Jônatas e Davi eram grandes amigos, companheiros de armas; cunhados, e irmãos na fé, mas não eram homossexuais."

Natanael Pedro Castoldi

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A Bíblia Aprova o Homossexualismo? A Bíblia Aprova a Escravidão?

Geralmente essas duas questões são julgadas simultaneamente: "se eu apoiar o fato de que a Bíblia desestimula o ato homossexual, também devo aceitar a escravidão, já que ela a estimula". Na verdade, as pessoas que isso afirmam estão indo na contramão dos melhores estudos e comentários bíblicos desenvolvidos ao longo de dois mil anos e que já responderam adequadamente esses dois pontos - a verdade é que as pessoas não querem crer no mais evidente, mas naquilo que, simplesmente, desejam ter como aceitável. É verdade que esse artigo expressa o que eu penso, mas também é verdade que não falarei por mim, mas pela Bíblia. Vou começar com um bastante divulgado vídeo sobre a questão:
É claro que o pastor que se colocou na oposição do político poderia ter se posicionado com argumentos melhores, mas é fácil julgar quando apenas assistimos: imagine você, sozinho, cercado por uma multidão evidentemente contrária ao seu pensamento e diante de uma figura amada e política de destaque que, acima de tudo, merece o teu respeito. Eu teria medo! Por isso admiro a coragem do pastor, que foi colocado à prova maliciosamente no segundo momento em que teve que falar. Igualmente senti por ele, humilhado diante da multidão por defender o posicionamento mais tradicional e bíblico sobre a... Bíblia. Porém é exatamente isso que Cristo falou que nos aconteceria: o mundo vai nos odiar assim como odiou a Ele, simplesmente porque falamos coisas que as pessoas não querem ouvir (João 15:18 e João 17:14). Vivemos nos tempos do relativismo: as pessoas inventam as verdades mentirosas nas quais preferem acreditar. Vamos analisar o que o vídeo nos trouxe:

1- "Já se nasce homossexual". Isso não é verdade - e não adianta o tal político australiano dizer que refletiu muito sobre o assunto e concluiu isso. Os melhores estudos científicos têm apontado para dois resultados: ou simplesmente ainda não se sabe se o  indivíduo nasce homossexual ou não, ou se sabe que ele não nasce homossexual. Não há estudos científicos sérios apontando para a proposta de que "já se nasce homossexual" - há, sim, a vontade da mídia e do povo, mas nada concreto. No EOMEAB há dois artigos que respondem mais adequadamente esse ponto: "Homossexualismo, Perseguição e 'Gene-Gay'"; "'Cura Gay' - Esclarecimentos".

2- "A Bíblia apoia o homossexualismo". Isso também não é verdade. Não há motivos para tentar fundamentar um pensamento contrário ao cristianismo nas Escrituras que, nesse caso, só são valorizadas quando supostamente transmitem algo conveniente. O fato do tal político dizer que "refletiu sobre isso por muito tempo" não altera o seu erro teológico: ele simplesmente não sabe nada sobre exegese, hermenêutica e teologia em geral. O que ele realmente quer é facilitar as coisas para sua eleição e tirar algum recurso financeiro com isso, uma vez que não há sentido veraz em afirmar uma Bíblia pró-homossexualismo. Esse papo de que o "amor cristão" é o mais importante também não está com nada: o amor pregado por Cristo é mais racional do que emocional, envolve o amor pelo inimigo, o sacrifício e a luta contra o pecado do próximo, procurando ver seu crescimento diante de Deus. O próprio Jesus disse que "veio trazer a espada", não no sentido de promover guerras, pelo contrário: o cristão deve se deixar morrer antes de matar - é o seu comportamento "politicamente incorreto" que vai trazer "divisão" e "espada" contra si mesmo. Posso indicar dois artigos desse blog que facilitarão o entendimento: "O Certo e o Errado, a Desobediência e a Sexualidade Humana"; "O Politicamente Incorreto Novo Testamento".

3- "A Bíblia apoia a escravidão". Senti que esse foi o ponto mais desastroso do comentário do "amado político politicamente correto". É fácil manipular o povo, que desconhece a Bíblia, ou a conhece superficialmente e convenientemente. Não. A Bíblia não apoia a escravidão! Mas alguns pontos precisam ser levantados: no contexto de Paulo, que tipo de escravidão era praticada no Império Romano? Qual é o objetivo máximo do cristianismo: revolução social ou espiritual? Havia vantagem, para os escravos, em estimular uma rebelião de escravos? Isso tudo requer um conhecimento de contexto histórico e de teologia, além de uma pitada de honestidade intelectual. Leia o artigo do EOMEAB sobre o assunto: "A Igreja e a Escravidão".

Apenas estou expondo questões óbvias sobre a Bíblia, a ciência e a história humana, por isso, em caso de oposição ao que está aqui escrito, que o leitor se debata com a Bíblia, com a História e a com a Ciência, não comigo!

Natanael Pedro Castoldi

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