Tendo em vista as atrocidades da escravidão ao modelo Novo-Mundo, os críticos da Igreja e das Escrituras apontam como pontos que invalidam o cristianismo a sua omissão em relação à escravidão. Será que ser escravo nos dias do Apóstolo Paulo era o mesmo do que foi nos tempos do Brasil Colonial? Como a Igreja reagiu à escravidão? O que segue é um breve estudo embasado em alguns artigos desse blog e nalguns livros - tire as suas próprias conclusões.
Em primeiro lugar, devemos ressaltar alguns pontos de interesse:
- O primeiro lugar em que a escravidão foi abolida foi a Europa Cristã.
- Roma e Grécia, impérios pagãos, foram massivamente construídos por mão-de-obra escrava.
- Obras anticristãs do Iluminismo entendiam a escravidão como algo aceitável.
- A Bíblia, desde o Antigo Testamento, é contrária à escravidão.
Fonte: Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, Roberto J. Hutchinson, Agir, 2012, pg 161
No mundo pré-cristão a escravidão era uma realidade geral. As idades do ouro dos maiores impérios, do Assírio ao Romano, se deram pelas mãos dos escravos. Sócrates e Platão passavam o dia filosofando enquanto os escravos cuidavam de todo o resto. Quando o tirano Demétrio de Faleros ordenou um censo na Ática, aproximadamente 312 a.C., contabilizou 21 mil cidadãos (gregos), dez mil imigrantes e 400 mil escravos - uma relação de 19 escravos para cada cidadão. Heródoto, 150 anos depois, contabilizou sete escravos para cada cidadão espartano. Edward Gibbon (1737-1794), escritor iluminista anticristão, afirmou que a escravidão era "quase justificada pela lei soberana da autopreservação" e David Hume (1711-1776), também iluminista anticristão, disse que "os negros e, em geral, todas as outras espécies de homens [são] naturalmente inferiores em relação aos brancos", o que Immanuel Kant reforçou: "Os negros da África não possuem, naturalmente, nenhum sentimento maior que o de brincadeiras." Temos aqui o que era nos dias antes de Cristo e em um período no qual se tentou abolir o Messias.
Nos tempos do Velho e Novo Testamentos o conceito de "escravidão" abrangia a todos os que, desprovidos de direitos legais, eram propriedade de alguém. Na Antiguidade a maior parte dos escravos eram obtidos em prisões e guerras, sendo criminosos e inimigos que, na realidade, tinham sorte de se tornarem escravos, já que a alternativa era, simplesmente, morrer - nenhum povo daquele período queria misturar seu sangue com centenas de estrangeiros livres e, tampouco, simplesmente sustentá-los o resto da vida em prisões. Outra fonte comum de escravos estava na disponibilidade de pessoas pobres para a função: certos indivíduos se vendiam como escravos como forma de pagar dívidas, simplesmente sobreviver ou, ainda, desenvolverem-se em suas carreiras - no Império Romano ser escravo de algum nobre era mais uma espécie de aprendizado do que serviço severamente mortal. Sobre a escravidão no Antigo Testamento:
- O israelita deveria dar refúgio ao escravo que fugisse para sua casa (Deuteronômio 23:15-16).
- Se o israelita sequestrasse alguém e o vendesse como escravo, deveria ser morto (Êxodo 21:16).
- O hebreu podia se tornar escravo por meio de um julgamento ou dívida (Êxodo 22:2; Levítico 25:29), porém o seu serviço terminaria, obrigatoriamente, após seis anos de trabalho (Deuteronômio 15:12) ou no ano do Jubileu (Levítico 25:40).
- Era obrigação do senhor suprir de mantimentos o escravo liberto (Deuteronômio 15:13-15).
- Israel podia obter escravos em guerras (Levítico 25:46), mas esses escravos tinham o direito de comprar a liberdade (Levítico 25:46) ou de serem resgatados por um parente a qualquer momento antes do Jubileu (Levítico 25:47-55).
- A pena para o assassinato de um escravo era a mesma que para o assassinato de um homem livre (Êxodo 21:20).
- Os escravos dos israelitas tinham que obedecer aos deveres religiosos judaicos, incluindo o Sabá (Êxodo 20:10) e os dias santos (Deuteronômio 11:16) - além do dia semanal de descanso, os escravos tinham um terço do dia totalmente livre, conforme a Lei.
- Se não houvessem descendentes, o escravo do israelita poderia herdar as propriedades de seu senhor (Gênesis 15:3).
- O escravo também podia comprar a sua liberdade (Levítico 25:29).
- O escravo podia ter a sua própria propriedade (1 Samuel 9:10; 1 Crônicas 2:34).
- Os israelitas não podiam ter escravas sexuais, embora isso fosse comum entre os demais povos do período. Se o israelita se interessasse por uma prisioneira de guerra poderia tomá-la como esposa, mas ela tinha direito de tirar um mês de luto pela perda de sua família, tempo no qual o israelita era proibido de ter relações sexuais com ela - ao relacionar-se sexualmente, a escrava se tornava a sua esposa (Deuteronômio 21:13) e, caso o indivíduo não a desejasse mais, não poderia vendê-la, tendo que libertá-la completamente (Deuteronômio 21:14).
Sobre a escravidão em Israel, escreveu o reverendo John Fee, clérigo abolicionista da Igreja:
"Tratava-se de um simples serviço de dedicação, em que as crianças eram dedicadas [feitas aprendizes] pelos pais até que chegassem à maioridade e, no caso de servos adultos, eles mesmos se dedicavam por uma série de anos, como bem sabemos. E, se alguém insistia em que esses servos fossem entregues às mãos do judeu sem que eles assentissem, podemos dizer que o judeu não podia se apropriar do servo dessa maneira - numa servidão involuntária. O simples serviço de dedicação não representa escravidão."
Nos tempos do Novo Testamento o conceito de "escravo" era mais comumente entendido como algo relativo a "aprendiz" ou "servo contratado". É claro que em Roma o termo "escravo" ia desde mineradores até filósofos famosos, como Epiteto. Não era incomum que um escravo urbano da Roma do Primeiro Século morasse separado de seu mestre, tendo casa própria e família - alguns até tinham negócios que nada se relacionavam ao trabalho que desempenhavam para seu senhor, dos quais recebiam salários, dedicando uma parte aos seus soberanos. Vale lembrar, ainda, que nessa época muitos escravos eram libertos logo depois de seu aniversário de trinta anos, recebendo cidadania romana - alforria essa que alguns escravos negavam, implorando para trabalhar mais tempo para seu senhor, afim de juntar mais recursos, coisa que alguns mestres não atendiam, uma vez que ter escravos era caro, já que precisavam de moradia e alimentação. Nesse contexto, fica mais fácil de entender o que Paulo disse em 1 Coríntios 7:21.
Antes mesmo da legalização o cristianismo no Império Romano, vários líderes cristãos se manifestaram com fervor contra a questão, assim como firmaram oposição às lutas de gladiadores, ao aborto e ao infanticídio. Sabe-se por meio da Primeira Epístola de Clemente e Pastor de Hermas, escritas por volta de 95 d.C., que alguns cristãos chegavam a se vender como escravos para, com o dinheiro, comprar a liberdade de outros escravos ou, ao menos, alimentá-los. Logo após a legalização do cristianismo, Gregório de Nissa, em 385 d.C., repreendeu abertamente os senhores de escravos que condenavam pessoas de natureza livre e independente à escravidão. Papas, como Eugênio IV, Paulo III e Gregório XVI, se manifestarem contra a escravidão lançando bulas, como a Sicut Dudum, 1435, In Supremo, 1839, e Sublimis Deus, 1537.
-"Aquele que apoia a escravidão é inimigo da raça humana", Guillaume Thomas François, Raynal, abade católico (1713-1769).
-"Pensem consigo mesmos: se vocês estivessem na mesma condição em que estão os pobres africanos - que lhes chegaram como estrangeiros e lhes foram vendidos como escravos -; digo, se essa fosse a situação sua e dos seus, você a entenderia como maus-tratos; e mais, uma sujeição e crueldade enormes", George Fox, líder quacre (1624-1691).
-"A escravidão é a soma de toas as indignidades; a mais desprezível que a Terra já viu", John Wesley, fundador da Igreja Metodista (1703-1791).
Levi Coffin, quacre norte-americano, ajudou mais de cem mil escravos e fugir através da gestão da Underground Railroad, o metodista Calvin Fairbank foi pego enquanto orientava a fuga de escravos pela Underground e foi sentenciado a 15 anos de prisão e numerosas chicotadas.
"No entanto, a crença na igualdade moral entre todas as pessoas desempenhou um papel fundamental, inspirando bretões e, posteriormente, os norte-americanos a iniciarem uma luta para abolir o comércio de escravos e, logo, a escravidão", Michael Barone.
Fonte: Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, Robert J. Hutchinson, Agir, 2012, pgs 162-178.
A escravidão e a Bíblia: enquanto o escravo valia menos do que um cavalo, aos olhos dos romanos, Paulo os comparou ao cidadão civilizado. Enquanto os povos de fora do Império Romano eram considerados bárbaros incultos e desprezíveis, Paulo os colocou ao lado dos gregos mais sábios! Colossenses 3:11.
A abolição da escravatura: William Wilberforce (1759-1833), um político inglês, lutou pelo fim do comércio de escravos para a América após converter-se a Cristo. Interessado por reformas sociais, o parlamento inglês aboliu a escravidão nas colônias inglesas logo após a sua morte.
A Igreja e as Colônias da América: um detalhe que devemos considerar no estudo de História da Igreja é que, muito raramente, a instituição cristã tornou-se mais poderosa do que os estados seculares, isso desde o levante das nações franco-germânicas na Idade Média. Na questão da América não foi diferente: mesmo que os missionários e o próprio papa desestimulassem os maus tratos e a escravidão para com os nativos e negros, os cristãos de tradição, não de conduta, que colonizavam as novas terras prosseguiam em suas tramas opressoras. Sabe-se que os únicos reais defensores dos ameríndios e de seus direitos eram os missionários cristãos, que falavam em nome do papa – e, em troca dessa defesa, compraram cada vez mais inimigos, incluindo a aristocracia rural. O papa Paulo III chegou a lançar uma bula –Sublimis Deus- contra a escravidão, isso no ano de 1537 – 5 anos depois uma lei espanhola baniu os mais tratos aos trabalhadores americanos. Até o século XIX havia mais de 15 mil igrejas instaladas nas “Índias Ocidentais”.
A amizade que os jesuítas fizeram com os nativos foi tão marcante que os mesmos compraram briga com as coroas europeias em nome deles, o que provou a sua destruição: os estados europeus maquinaram pela desintegração da Ordem Jesuíta, já que a mesma atrapalhava os seus negócios.
Fonte: A Igreja e as Colônias
Os negros e a escravidão: nos tempos da escravidão no Brasil tivemos filhos de reis africanos estudando por aqui, como foi com os filhos de Kosoko, de Lagos, na Nigéria, que foram para a Bahia, retornando em 28 de agosto de 1850. Também fica sabido que o maior herói negro do Brasil, Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, mandava capturar escravos de fazendas próximas para que exercessem trabalhos forçados no Quilombo, sequestrava mulheres e executava todos os que tentassem fugir de seus domínios. Antes da escravidão no Brasil, os reis africanos já a exerciam em abundância e vendiam outros negros em troca de riquezas, isso especialmente para os muçulmanos, que também escravizavam brancos europeus - se alguns reis africanos haviam enriquecido com o comércio de escravos com os muçulmanos, muito mais enriqueceram com o comércio de escravos pelo Atlântico, de modo que chegaram a lutar contra o fim da escravidão. Fonte: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, Leandro Narloch, leYa, 2ª Edição, pgs 82-103.
Natanael Pedro Castoldi
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Obrigado pelo trabalho
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