Navigation Menu

É a primeira vez que
você acessa este blog
neste computador!


Deseja ver antes
nossa apresentação?


SIM NÃO

A Confiabilidade do Novo Testamento

A rebeldia do homem contra Deus, definida desde a Queda, explica muito bem os motivos que levam tantos homens, há tanto tempo, a questionar a autenticidade do Novo Testamento: reconhecer a sua veracidade é o mesmo que reconhecer a divindade de Cristo. Por outro lado, parece que a existência de Jesus e a história inicial da Igreja é boa demais para ser verdadeira - não há paralelo nenhum no restante da história da humanidade. O texto neotestamentário é espetacular! O seu relato é incrível. O Filho de Deus realmente esteve entre nós?! E quanto à descida do Espírito Santo no Pentecostes? E aqueles discípulos "que abalaram o mundo", realmente existiram? Nenhum documento do Novo Testamento aparenta ter sido escrito depois dos fatos e como uma obra de ficção. De tão surpreendente, parece fugir das capacidades inventivas humanas - a forma como ele se associa ao Antigo Testamento, a perfeição centralizada em Cristo, com Sua sabedoria, Seu comportamento e Sua missão, a inteligência suprema de documentos como os de Lucas e a simplicidade notável e sincera de gente como Pedro, os embaraços pelos quais alguns de seus maiores heróis passaram... A construção da narrativa é genial e as discrepâncias apenas demonstram a sinceridade dos relatos de testemunhas diversas que escreveram separadamente. O mais surpreendente, porém, é que temos vestígios documentais de até vinte anos após a morte e a Ressurreição de Cristo e demais evidências arqueológicas do Primeiro Século. As pessoas que presenciaram os fatos ainda estavam vivas quando alguns rastros que interceptamos foram deixados - e nenhuma se opôs ao que estava sendo dito sobre Jesus e os apóstolos. De onde mais teria vindo, senão da Ressurreição do Filho, a incomparável energia que emanava na nova fé, impulsionando-a de Jerusalém para a Judeia e a Samaria e, por fim, aos confins da Terra?! (Evidências de Jesus no Primeiro Século?; Os Mais Antigos Testemunhos da Divindade de Cristo; Os Mais Antigos Testemunhos do Novo Testamento). Analisemos alguns argumentos em prol da veracidade do testemunho dos primeiros cristãos:

1 - Os livros do Novo Testamento foram reconhecidos por meio de um cuidadoso processo de filtragem:
O processo de filtragem dos livros neotestamentários foi do século I ao IV. Essa seleção se tornou necessária por causa do uso das Escrituras na adoração cristã, por advento do surgimento de heresias e por intermédio da perseguição. Era necessário ter certeza do material usado em culto, identificar as crescentes heresias e não morrer por livros que não fossem autênticos.

Os livros que foram entendidos como parte do cânon do Novo Testamento foram aqueles vislumbrados como tendo sido inspirados pelo Espírito Santo. O livro associa-se a algum apóstolo Entra em concordância com outros livros considerados autênticos? É amplamente usado e aceito pelas comunidades cristãs? Esses eram alguns dos critérios de análise.

2 - O Novo Testamento encontra bases em fontes confiáveis, usadas com critério e transmitidas fielmente:
Lucas, em seus livros, deixou claro o uso de fontes (Lc 1:1-4) e enfatizou o testemunho ocular como base da tradição (Lc 1:2). O intervalo de tempo entre os livros e os acontecimentos é pequeno, se comparado aos demais documentos históricos do século I - Lívio e Dionísio de Halicarnasso estavam séculos separados de muitos eventos que registraram. O mais consolidado entendimento dos textos neotestamentários indica sua redação entre vinte e menos de setenta anos depois dos fatos.

O judaísmo dependia da capacidade de transmitir as tradições com cuidado através das gerações. Tratava-se de uma religião de memórias, coisa que o cristianismo absorveu nas primeiras décadas de sua existência - as pessoas memorizavam longas orações litúrgicas e era mais frequente que orassem de memória do que de leitura. O judeu era educado para decorar livros inteiros do Antigo Testamento. Os primeiros cristãos certamente consolidaram uma confiável tradição oral acerca dos ditos de Cristo, rapidamente transferida para fontes que serviram de bases para os Evangelhos Sinóticos.

Há, por fim, uma farta quantidade de manuscritos antigos do Novo Testamento, largamente superior ao que temos de qualquer outro livro da Antiguidade. Além de número, há manuscritos completos e de excelente qualidade. Enquanto Platão, Heródoto e Aristófanes têm entre 1 e 20 manuscritos, o Novo Testamento tem 5.400 manuscritos só em grego, a língua original, que podem ser usados para comparação e interceptação das palavras genuínas, além de mais de 8.000 em latim. No total, há mais de 20 mil manuscritos antigos neotestamentários. Mesmo que essa enorme quantidade de documentos acarrete em mais variantes, a análise dos textos direciona para a certeza quase que absoluta da redação original, sobrando pequenas dúvidas em menos da milésima parte do material e em questões de pouquíssima relevância histórica e teológica. O que sabemos sobre o comportamento dos cristãos, desenterrado pela arqueológica e vislumbrado em diversos textos antigos, também ajuda a lançar luz sobre como se entendia o Novo Testamento no início da Era Cristã, nos possibilitando entender ainda mais sobre como eram os textos originais, que consolidavam a prática.

3 - A declaração da confiabilidade exige o entendimento da complexidade da história:
As diferenças entre as narrativas não apontam, necessariamente, para contradições e para a negação da história. Os mesmos eventos podem ser considerados partindo de diferentes interesses e perspectivas sem prejudicar a historicidade. Dessa forma, ao invés de atrapalharem, as diferenças entre os quatro Evangelhos apenas enriquecem o conhecimento que podemos ter acerca de Cristo. Além disso, as posteriores reflexões dos autores acerca do assunto não indicam que o mesmo seja uma invenção, pois é comum termos uma percepção melhor das coisas apenas depois de elas terem ficado no passado, quando estamos diante dos eventos que as sucederam.

4 - A declaração da confiabilidade não exige um conhecimento completo sobre o assunto:
Mesmo quando exatas, as fontes são selecionadas, conforme verificado em João 21:25. Não apresentar o relato completo não é o mesmo que relatar o contrário do que aconteceu - a declaração de confiabilidade sustenta que aquilo que os autores selecionaram já seria o suficiente para o objetivo de seu trabalho. Para falar de maneira exata, não é necessário falar de maneira exaustiva.

5 - O papel da arqueologia na confiabilidade do Novo Testamento:
A arqueologia dificilmente comprova a ocorrência de acontecimentos, mas ajuda a corroborar detalhes da narrativa. A arqueologia tem mostrado que é perigoso apontar erros históricos na Bíblia simplesmente porque ela os relata, uma vez que as escavações têm desenterrado muita coisa antes rejeitada, como o Tanque de Betesda.

6 - As declarações bíblicas sobre os milagres e a reposta dos discípulos à Ressurreição:
Os eventos dos Evangelhos foram registrados durante a vida de muitos daqueles que afirmaram tê-los testemunhado. Isso vale para os milagres e, especialmente, para a Ressurreição de Cristo: aqueles que a acompanharam foram completamente transformados. Os próprios discípulos declararam abertamente que não tinham nenhum treinamento formal e que foram incapazes, ao longo de anos, de responder positivamente à Jesus - mas, passada a Ressurreição, eles se tornaram pregadores poderosos e líderes corajosos, perseverando e resistindo, mesmo diante das ameaças de tortura e morte. Temos uma multidão de líderes cristãos do início da Era Cristã que padeceram pela fé, sendo o apóstolo Paulo o mais notável. 
Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, 2010, pgs 1527-1528, artigo de Darrell L. Bock.

Se não crermos na narrativa neotestamentária, não poderemos crer na maioria das informações históricas que temos da Antiguidade. Há mais evidências para Jesus Cristo do que para Júlio César. E o legado do Messias é maior do que o daquele que personificou o ideal de "Imperador Romano". O maior sábio de todos os tempos, a mais influente figura histórica, o mais completo dos líderes, tido por alguns também como o maior dos psicólogos, aquele que realizou milagres assombrosos, que moveu multidões, que morreu e ressuscitou, que veio a se tornar a espinha dorsal da Civilização Ocidental, poderia ter sido inventado por alguém? Por acaso existiu no mundo indivíduo tão intelectualmente completo, à ponto de conseguir inventar Jesus? E construir uma narrativa profética tão poderosa e surpreendentemente ligada aos Escritos e à história judaica? E esse alguém seria capaz de convencer pessoas do século I de terem visto e acompanhado alguém tão espetacular, se, na realidade, esse indivíduo nunca existiu? Que o crítico das Escrituras lide com a quantidade de evidências do fervilhar do cristianismo desde meados do Primeiro Século.

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:

1 comentários:

Os Cristãos e a Arquitetura

Quem pensa que a Idade Média foi apenas uma "era de trevas", "sem nenhum desenvolvimento tecnológico e científico", precisa, urgentemente, conhecer uma catedral gótica. A caminhada arquitetônica da Igreja é, definitivamente, espetacular, e vale a pena trabalharmos as suas principais fases e características.

1 - A arquitetura cristã primitiva e a arquitetura bizantina (44-1500 d.C.):
Como os primeiros cristãos acreditavam na iminente volta de Cristo, não se ocupavam muito com o interesse arquitetônico. Coisa que mudou definitivamente de 330 em diante, quando Constantino fundou Constantinopla, a "Nova Roma", depois de se converter ao cristianismo em 312.

Na Península Itálica as primeiras grandes igrejas católicas se basearam nos moldes romanos das basílicas - o exemplo mais notável foi a de São Pedro, fundada por Constantino em 330 d.C. Ela foi demolida para dar lugar à atual. Ainda hoje há bons exemplos dessas antigas basílicas cristãs em Roma, como as de Santa Sabina e a de Santa Maria Maior. A evolução de uma nova arquitetura cristã, entretanto, foi bastante lenta, culminando na Basílica de Santa Sofia, em Constantinopla, no reinado de Justiniano (527-565).
A Basílica de Santa Sofia é resultado de influências ocidentais e orientais e, de modo inédito, dispensou a arquitetura de colunas. O espaço interno é coberto por uma imensa cúpula, que chegou aos limites daquilo que a tecnologia da época permitia - o domo desabou em 537, mas foi refeito em 563. Diz-se que Justiniano, em entrar na basílica depois de concluída, exclamou: "Salomão, eu te superei!" A influência da imensa construção se estendeu para a Itália, a Grécia, a Turquia e até a Rússia - chegou a servir de modelo para a construção de mesquitas. 

Os elementos fundamentais da arquitetura bizantina são: as múltiplas cúpulas; arcos altos e plenos; magníficos mosaicos; teto com cúpulas decoradas; decorações naturalistas nos capitéis das colunas; e cúpulas em forma de bulbo.
Alguns exemplos da arquitetura bizantina: a igreja de Santo Stefano Rotondo, do ano 483, em Roma, na Itália; a basílica de Santo Apolinário em Classe, do ano de 549, em Ravena, Itália; a basíclia de Santa Sofia, de 537, em Istambul, Turquia; a Catedral de Torcello, de 1008, em Veneza, Itália; a Catedral de São Marcos, 1096, em Veneza, Itália; a igreja de Biet Giorgis, 1300 d.C., em Lalibela, Etiópia; e a Catedral de São Basílio, 1561, em Moscou, Rússia.
2 - A arquitetura da Europa Medieval:
Minha fonte declara: "O período que vai desde a queda de Roma, no séc. V, até o início do séc. XI frequentemente é denominado de Idade das Trevas. No entanto, esses séculos superficialmente documentados não foram limbos intelectuais e artísticos, como se costuma relatar. Em meio às trevas brilharam notáveis vestígios de criatividade, e a arquitetura medieval acabou irrompendo com grande vigor, num clarão de glória."

Mesmo que nem todos os godos e francos que migraram para a Europa ocidental tenham sido pagãos brutais - muitos eram cristãos e admiravam as conquistas de Roma -, eles observavam os próprios costumes e as formas de organização social. Sua chegada fez Roma mergulhar numa prolongada era de instabilidade cultural, social e política - boa parte da infraestrutura romana foi destruída. Nesse período de caos, a única potência internacional ativa na Europa era a Igreja e esta serviu como fundamento para a unidade social nas antigas colônias romanas - os mosteiros cristãos atuaram como repositórios de conhecimento e recanto das artes. Com o retorno da estabilidade na Europa e a formação de algumas de suas maiores nações, o crescimento econômico e cultural ganhou força, fazendo desabrochar uma magnífica arquitetura. 

a - A arquitetura românica (800-1100 d.C.):
A igreja românica clássica é um desenvolvimento da basílica romana e foi financiada por reis e clérigos com o intuito de recriar o poder e o esplendor da Roma Antiga. Inicialmente, o românico ficou conhecido como o "estilo de Carlos Magno", rei dos francos entre 768 e 814. 

Os elementos fundamentais do românico: as igrejas românicas tinham um formato cruciforme (cruz latina), deambulatórios (passagens) entorno da abside e abóbodas de pedra bastante robustas sobre colunas enormes e paredes extremamente espessas. Os arquitetos e pedreiros do período ainda não tinham desenvolvido a tecnologia suficiente para a construção de abóbodas mais leves, necessitando de estruturas robustas conforme a altura do monumento. Outras características singulares do estilo românico: a arcada contínua; relevos naturalistas; colunas esculpidas; o entrelaçamento de pedras; e os tímpanos (parede entre a porta e o arco que está sobre ela) esculpidos.
Alguns exemplos da arquitetura românica: o Batistério de Parma, 1196, Parma, Itália; Catedral de Monreale, 1182, perto de Palermo, Itália; Catedral de isa, depois de 1063, Pisa, Itália; igreja de Notre-Dame La Grande, 1145, Poitiers, França; igreja de Santa Maria Laach, depois de 1093, Renânia, Alemanha; Krak des Chevaliers, depois de 1142, Homs, Síria; Torre de Londres, depois de 1078, Londres, Inglaterra; e Igreja de Borgund, 1150, Fiorde de Sogne, Noruega.
b - A arquitetura gótica (1150-1500 d.C.):
Ela é uma das glórias da civilização europeia. Almejava elevar a vida cotidiana até os céus e tocar a face de Deus, fazendo uso das mais altas abóbodas, torres e agulhas de pedra que a tecnologia permitisse erigir. Esse estilo surgiu na França à época das Cruzadas e trouxe alívio aos fiéis nesse sangrento período. Até hoje algumas das catedrais góticas desafiam os arquitetos e engenheiros.

Os elementos fundamentais do gótico: no centro do gótico está o arcobotante, recurso que permitiu a transferência do peso para longe das paredes da catedral - quanto maior a altura das paredes, maior é o vão entre os botaréus decorados. O domínio desse novo conceito, permitiu a construção de paredes cada vez mais elevadas e elaboradas, com janelas maiores e cheias de vitrais. Os franceses tentavam erguer suas abóbodas ao máximo, enquanto os alemães e os ingleses competiam para ver quem colocava de pé a agulha mais alta - a da Catedral de Salisbury atinge 123m, enquanto a de Ulm, em Munique, obedecendo ao projeto original, chegou aos 160m. As principais características do gótico são: as rosáceas (complexos rendilhados de pedra preenchidos com vitrais); os arcobotantes; os arcos góticos (com pontas simples, com rendilhados de pedra, com arcos dentro de arcos, com diversos centros); os pináculos; as abóbodas com arestas ou leques; e as gárgulas.
Alguns exemplos da arquitetura gótica: a Catedral de Sainte-Chapelle, 1248, Paris; a Catedral de Norte-Dame, 1163, Paris; a Catedral de Chartres, 1230, Paris; a Catedral de Albi, 1282, Albi, França; o Salão de Tecidos, depois de 1214, Ypres, Bélgica; a Catedral de Wells, depois de 1180, Wells, Inglaterra; a Catedral de Ely, depois de 1080, Cambridgeshire, Inglaterra;o Castelo de Conwy, 1289, Conwy, País de Gles; Catedral de Colônia, depois de 1248, Colônia, Alemanha; a Igreja de Santa Elizabeth, 1283, Marburgo, Alemanha; e a Catedral de Sevilha, 1520, Sevilha, Espanha.
3 - A arquitetura do Renascimento:
A prensa ajudou a disseminar novas ideias para a arquitetura. O conhecimento clássico foi preservado por sábios muçulmanos e monges cristãos, servindo de base para o Renascimento, que principiou na Itália.

a - O Renascimento Italiano (1420-1550 d.C.):
No século XV, as cidades-Estado italianas estavam em crescente ascensão, com bancos lucrativos e ousadas aventuras capitalistas, condições que favoreceram a arquitetura renascentista. 

Os elementos principais da arquitetura do renascimento italiano: o uso do estilo dórico, jônico e coríntio nas colunas; as colunatas; a simetria; os frontões sobrepostos; cantarias rústicas; e a presença de fontes.
Alguns exemplos da arquitetura renascentista italiana são: a cúpula da Catedral de Florença, 1436, Florença, Itália; o Palácio Medici-Riccardi, 1459, Florença, Itália; a cúpula da Basílica de São Pedro (42 metros de diâmetro e 137 metros de altura, até o topo da cruz no cume), 1591, Roma, Itália; Igreja de San Giorgio Maggiore, 1610, Veneza, Itália; e a Ponte dos Suspiros, 1600, Veneza, Itália.
b - O Renascimento fora da Itália (1500-1700 d.C.):
Enriquecidas com os tesouros da América e a abertura de rotas comerciais para o Oriente, as demais nações europeias conseguiram financiar seu renascimento, além de alterarem sua visão de mundo. O comércio e os livros ajudaram na disseminação do renascimento. A adoção dos estilos italianos produziu construções híbridas no norte e no oeste da Europa - Inglaterra, Países Baixos, os países escandinavos e a Escócia mesclaram sua arquitetura local com aquela desenvolvida na Itália renascentista.

Os elementos principais da arquitetura renascentista fora da Itália: frontões com volutas de pedra; empenas elaboradas (fachadas extravagantes nos edifícios); medalhões (placas decorativas); sobreposição das ordens clássicas (dórica, jônica e coríntia); e lucarnas elaboradas.
Alguns exemplos da arquitetura renascentista fora da Itália: o Castelo de Chenonceaux, 576, Chenonceaux, França; o Castelo de Chambord, 1547, Chambord, França; o Palácio de Fontainebleau, 1586, perto de Paris, França; Place des Vosges, 1612, Paris; Sedes das Guildas, 1700, Bruxelas, Bélgica; Prefeitura de Enkhuizen, iniciada em 1686, Ijsselmeer, Holanda; Palácio de Carlos V, 1568, Granada, Espanha; El Real Monasterio de San Lorenzo de el Escorial, 1582, El Escorial, Espanha; Mosteiro dos Jerônimos, 1610, Belém, Portugal; e o Castelo de Frederiksborg, 1620, Hillerød, Dinamarca.
4 - O barroco e o rococó:
O estilo barroco é fruto das iniciativas culturais da Contrarreforma. O rococó é seu descendente. A arquitetura barroca apareceu como um recurso para propagar a fé católica e foi patrocinada por indivíduos como o papa Sisto V. A arte barroca era "sensacionalista, pictórica, teatral e ilusionista", com belos jogos de luzes e sombras. Quase todos os edifícios desse estilo ostentam grandiosas cúpulas, quartos com querubins, pinturas cinemáticas e estatuária que se aproxima do erótico. O barroco desenvolveu-se de duas maneiras distintas: uma mais efusiva, nos países católicos, e outra mais sóbria, nos países do norte da Europa.

a - O barroco (1600-1725 d.C.):
A arquitetura barroca é "altamente cinematográfica": possui movimento embutido em curvas e volutas, truques de luz, sensação e drama. 

As principais características do barroco: abóbodas; querubins; movimento; escadaria em camadas; cúpulas com nervuras decorativas, tambores no topo e relevos.
Alguns exemplos do barroco: a Basílica de São Pedro, 1615, Roma, Itália; San Carlo Alle Quattro Fontane, 1665, Roma, Itália; Fontana di Trevi, 1762, Roma, Itália;Escadaria Espanhola, 1728, Roma, Itália; Santa Maria Della Salute, 1681, Veneza, Itália; Palácio de Versalhes, 1772, perto de Paris, França; Lez Invalides, 1706, Paris, França; Abadia de Melk, 1736, Melk, Áustria; Karlskirche, 1737, Viena, Áustria; Frauenkirche, 1743, Dresden Alemanha; e a Biblioteca Wren, 1695, Cambridge, Inglaterra.
b - O rococó (1725-1775 d.C.):
Se trata de um barroco fragilizado, com um toque alegre e excêntrico. Aparece principalmente na Alemanha, na França e na Itália.

Os principais elementos do rococó: espelhos decorados; exuberante trabalho em estuque; extravagantes fachadas clássicas; querubins; e galerias de espelhos.
Alguns exemplos do rococó: Zwinger, 1722, Alemanha; Abadia de Weltenburg, 1724, Kehlheim, Alemanha; Igreja de Rottenbuch, 1747, Rottenbuch, Alemanha; e o Palácio de Catarina, 1756, Tsarskoe Selo, Rússia.
Sob inspiração desses movimentos e as escavações de sítios gregos, os países ocidentais europeus e os Estados Unidos procuraram reviver a arquitetura clássica através do estilo neoclássico, que se encontra em estruturas como o Arco do Triunfo, em Paris, o Portão de Brandemburgo, em Berlim, e no Capitólio, em Washington. A Revolução Industrial propiciou o erigir de estruturas como a Torre Eiffel, em Paris, e o Centro Comercial Marshall Field, em Chicago. Posteriormente, um sentimento nostálgico brotou no mundo das máquinas para reviver a arquitetura gótica, isso através do estilo neogótico, responsável por obras como o Big Ben, em Londres, e o Edifício Woolworth, em Nova York - o neogótico inspirou outro estilo, que se consolidou em construções como a Igreja da Sagrada Família, em Barcelona.
Fonte: Guia Ilustrado Zahar Arquitetura, Jonathan Glacey, Zahar, 2013, pgs 123-133 e 224-339.

Conclusão:
Não é só na música, na literatura e nas artes de escultura e pintura que o Ocidente fervilhou mais do que qualquer outra civilização do mundo: a arquitetura aqui se movimentou de forma dinâmica e espetacular, vindo a influenciar todas as demais nações do globo. Esse artigo é só uma introdução, um estímulo para a pesquisa de conceitos novos e para uma observação mais cuidadosa das estruturas que te cercam.

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:

0 comentários:

O "Túmulo de Jesus" Realmente Foi Encontrado?

Eis uma das maiores polêmicas envolvendo a pessoa de Cristo nos últimos anos: o suposto achado do "Túmulo de Jesus". Tal descoberta foi divulgada para o mundo em 2007, pelo canal pago Discovery Channel, declarando que o sepulcro de Cristo foi desenterrado em Talpiot, Jerusalém. De imediato os eufóricos críticos das Escrituras utilizaram a notícia como arma para minar o pilar central da fé cristã, que é a ressurreição de Cristo. Sempre é mais fácil basear-se em documentários sensacionalistas, no caso "O Sepulcro Perdido de Jesus", produzido por Simcha Jacobovici e James Cameron, do que no exaustivo acompanhamento dos mais confiáveis estudos acerca de arqueologia bíblica. A verdade, é que uma análise mais atenta da questão impossibilita o seu uso como argumento anticristão.

O documentário partiu de escavações iniciadas na década de 1980, em Talpiot, Jerusalém, onde foram encontrados dez ossuários do Primeiro Século. Segundo o historiador Rahmani, trata-se de um catálogo de ossuários judaicos, dentre os quais aparecem nomes como Jesus, Maria, Mateus e José - nomes extremamente comuns na época. Segundo ele, dos cerca de mil ossuários conhecidos dessa época, em Jerusalém, 25% dos nomes femininos são "Maria" - e suas variantes - e o nome masculino mais conhecido é "José". "Jesus" aparece oitenta vezes e há vários "Jesus, filho de José". O mais interessante é que a maioria dos especialistas que lida com o caso é de orientação judaica, não cristã, e, ainda assim, nenhum historiador credenciado afirmou ter encontrado o "verdadeiro túmulo de Jesus". Para o teólogo espanhol, Xavier Picaza, caso o "Túmulo de Jesus" seja verdadeiro, Ele deveria ser um "burguês" de família "burguesa", considerando o requinte da sepultura, coisa que não combina em nada com aquilo que sabemos sobre a Sua vida.

O paleontologista Charles Pelegrino, que analisou o material pessoalmente, declarou que não existe material ósseo ou qualquer assinatura biológica - rastro que geralmente fica depois de decomposta a ossada - no "Sepulcro de Cristo". Estranhamente, os "ossos de Jesus" foram "removidos" do local - ou sequer um dia existiram.

Desde sua origem, com a própria Ressurreição de Cristo, a fé cristã gira entorno desse evento. Não há nenhuma evidência de que, nalgum momento inicial, os cristãos não tivessem a Ressurreição como centro de sua fé. Segundo N. T. Wright, no livro "A Ressurreição como Problema Histórico" (originalmente publicado no Sewanee Theological Rewiew, pgs 41-42, 1998), "O Cristianismo começou como um movimento de ressurreição... não há evidência de uma forma de Cristianismo primitivo na qual a ressurreição não fosse a crença central, como se fosse acrescentada ao Cristianismo à força. A ressurreição era a força motora central, dando forma ao movimento inteiro."
Fonte: Revista Mistérios da História, Tudo Sobre o Sepulcro de Jesus, reedição, ano 2, nº 1, 2013, Alto Astral, pgs 18-23.

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:

1 comentários:

As Fontes Documentais do Novo Testamento

Há um ramo científico no estudo das Escrituras: a Crítica Textual. A Crítica Textual da Bíblia começou como um recurso que os céticos pretendiam utilizar para provar a falsidade da Palavra, mas sua iniciativa gerou uma força opositora massiva de estudiosos extremamente bem graduados. Atualmente, a Crítica Textual tem mostrado que o texto que hoje temos em mãos é basicamente o mesmo que fora redigido pelos autores originais - especialmente no que se refere ao Novo Testamento. Aprofundemos o assunto.

1 - O que é a Crítica Textual e sua origem:
A Crítica Textual procura estabelecer textos bíblicos que não contenham erros de cópia e que encontrem a máxima proximidade dos autógrafos - uma vez que os originais não mais estão disponíveis, os estudiosos que se envolvem nisso militam em prol do preparo de novas edições do texto bíblico comparando centenas de textos ou cópias antigas escritas à mão. E fontes textuais para tal trabalho não faltam.

Além da análise dos manuscritos antigos disponíveis, os estudiosos da Crítica Textual verificam os âmbitos linguísticos e literários dos documentos acessíveis, objetivando determinar as intenções dos autores originais. Chama-se "exegese" a busca pela circunstância e intenção do autor de determinado texto. Esse entendimento é de grande relevância para o crítico que busca por um texto fidedigno e para o leitor que estiver interessado em entender a Bíblia na sua plenitude.

Orígenes, um dos Pais da Igreja, fez algo parecido com a Crítica Textual, já que é o organizador da Héxapla, uma edição de seis textos do Antigo Testamento (o original hebraico e várias traduções gregas) em colunas paralelas.
Fontes: A Bíblia e Sua História, Stephen M. Miller e Robert V. Huber, Sociedade Bíblica do Brasil, 2006, pg 208.

2 - A importância do número de manuscritos:
Direcionemos o nosso estudo para a Crítica Textual do Novo Testamento. Como já dito, não possuímos mais os manuscritos originais do texto neotestamentário, o que nos faz depender de cópias e cópias das cópias - e temos muitas delas! Ao todo, existem aproximadamente 24 mil manuscritos antigos do Novo Testamento (Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 43), o que nos coloca diante de centenas de milhares de variantes textuais entre os documentos. Como saber a forma do texto original, se existem mais variantes entre as cópias do que o total de palavras do Novo Testamento? Aí que está a questão: o elevado número de documentos antigos faz com que o Novo Testamento tenha muito mais apoio do que qualquer outro livro da Antiguidade.

A verdade é que quase a totalidade das variantes entre os manuscritos diz respeito a questões de pouca ou nenhuma importância. Geralmente correspondem a alterações na ordem das palavras numa frase, no uso de diferentes preposições, conjunções e partículas, nas preposições que acompanham verbos, ou meras modificações de natureza puramente gramatical - apenas a milésima parte do Novo Testamento, há mais de um século, ainda não estava assegurada pela crítica; mais atualmente, F. F. Bruce afirmou que as poucas variantes que subsistem não afetam nenhum ponto importante, seja histórico, questão de fé ou de prática.

Como é possível usar da Crítica Textual para solucionar as variantes? Existem manuscritos muito antigos e de melhor qualidade. O Novo Testamento estava completo já por volta do ano 100 (e a maioria dos livros já existia há 20 ou 50 anos) e as melhores cópias que dispomos são do século IV (embora existam manuscritos do século II e fragmentos até de meados do século I) - uma distância muito pequena, se comparada ao espaço de tempo que está entre a redação e a cópia mais antiga dos demais documentos da Antiguidade, cuja distância geralmente fica em 1,5 mil anos. Assim, tomando os documentos mais antigos, considerando os melhores e analisando, por exemplo, os 5,5 mil manuscritos gregos inteiros e fragmentados e os quase 13 mil manuscritos das versões, é possível verificar qual é a construção mais adequada para cada frase do texto neotestamentário. Por comparação entre os documentos, não resta dúvida sobre quase nenhuma palavra. 

3 - O que aconteceu com os manuscritos originais do Novo Testamento?
Escritos em papiro, que não é mais durável que o papel, nenhum documento neotestamentário original sobreviveu. A produção de um manuscrito exigia recursos e um preparo especial, fazendo com que as redações dos apóstolos e evangelistas fossem lidas e relidas incontáveis vezes pelos primeiros cristãos, até se desfazerem por completo - é claro que, antes de se perderem, elas foram devidamente copiadas. Além disso, devemos considerar as perseguições que recaíram sobre os cristãos no início da Era Cristã, responsáveis pela destruição de muitos documentos - e esse pode ter sido um dos destinos para alguns dos autógrafos do Novo Testamento.

4 - Fontes documentais:
O principal recurso da Crítica Textual é o manuscrito antigo. O bom andamento dessa ciência depende de um bom número de manuscritos antigos de qualidade. Segue a lista dos principais:

a - Manuscritos:

Papiros:
Foram catalogados, até agora, 96 papiros. Exceto 1 e 2 Timóteo, todos os livros do Novo Testamento aparecem nos papiros, mesmo que a maioria não se veja em sua totalidade. Os mais antigos manuscritos neotestamentários conhecidos estão nessa categoria. Vejamos os principais:

- Papiro de Chester Beatty I: consiste em 30 folhas de um códice que continha os quatro evangelhos e Atos - teria, então, 220 folhas. O documento data do século III.

- Papiro de Chester Beatty II: são 86 folhas de um códice das epístolas de Paulo, contendo, originalmente, 104 folhas. Faltam as epístolas pastorais. Sua data está entre o final do século II e o início do século III.

- Papiro Chester Beatty III: consiste em 10 folhas de um códice do Apocalipse - originalmente possuía cerca de 32. É do século III.

- Papiro Rylands 457: tal papiro apresenta parte de João 8:31 a 33 e dos versículos 37 e 38. Sua forma de escrita o coloca no início do século II (cerca de 130 d.C.). Henry Guppy, com algum exagero, disse que tal documento deve ter sido escrito "quando a tinta do autógrafo original mal estava seca'.

- Papiro Bodmer II: abrange todo o evangelho de João, especialmente os capítulos 1 a 14, que ocupam 104 folhas com poucas lacunas - os capítulos 15 a 21, originalmente em 46 folhas, estão muito deteriorados. Foi escrito no final do século II ou no início do século III.

- Papiros Bodmer VII e VIII: preserva o mais antigo texto de 1 e 2 Pedro e Judas, além de outros textos relevantes. Remete ao século III ou IV.

- Papiros Bodmer XIV e XV: restaram 102 folhas de um total de 144. Apresenta a maior parte de Lucas e uma boa parte de João, além de pressupor um cânon dos quatro evangelhos. É do século III.

Unciais:
São chamados de unciais os manuscritos que começaram a ser preparados em pergaminho quando o papiro caiu em desuso. O número de unciais catalogados está em 299, indo até o século XI, cobrindo cerca de sete séculos. Vejamos os mais importantes:

- Códice Sinaítico: o manuscrito contém 347 folhas com boa parte do Antigo Testamento e a totalidade do Novo Testamento. Remete ao século IV.

- Códice Alexandrino: consiste em 773 folhas, contendo quase todo o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Data do início do século V.

- Códice Vaticano: trata-se de um manuscrito de excelente qualidade. Consiste em 759 folhas de um códice que tinha, originalmente, 820. Apresenta quase todo o Antigo Testamento e a maior parte do Novo - faltam Hebreus 9:15 a 13:25, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon e Apocalipse, que podem ter formado cadernos adicionais, embora desaparecidos. Foi escrito no início do século IV, mas apresenta uma forma de texto que deve ter circulado no Egito antes do ano 200.

- Códice Efraimita: continha originalmente toda a Bíblia, tendo sobrado apenas 64 folhas do AT e 145 do NT - todos os livros neotestamentários estão nele representados, com exceção de 2 Tessalonicenses e 2 João. Foi redigido no século V.

- Códice Beza: é o mais antigo códice bilíngue do NT (grego e latino). Originalmente continha entorno de 510 folhas, sobrando atualmente 406. Foi escrito no final do século V ou no início do século VI.

- Códice Claromontano: outro manuscrito bilíngue. Contém 533 folhas muito bem escritas. Foi redigido no século VI.

- Códice Laudiano: trata-se de um manuscrito bilíngue de Atos contendo 227 folhas. Foi escrito, provavelmente, no final do século VI.

- Códice Washingtoniano: compreende 187 folhas dos quatro evangelhos. Foi escrito no século V.

- Códice Korideto: é um manuscrito dos evangelhos do século IX, contendo 249 folhas. O texto de Marcos reflete um documento muito antigo, bastante semelhante ao utilizado em Cesaréia por Orígenes e Eusébio, nos séculos III e IV.

Minúsculos:
São os manuscritos de escrita minúscula preparados do século IX ao XVI. A maior parte está em pergaminho. Até hoje foram catalogados 2.812 minúsculos. Não possuem muito valor crítico, pois são todos medievais.

- Família Lake: os manuscritos desse grupo foram escritos nos século XII e XIV. Uma análise do evangelho de Marcos mostrou que o texto preservado nesses manuscritos geralmente concorda com o Códice Korieto, parecendo vir de um texto corrente nos séculos III e IV.

- Família Ferrar: os manuscritos desse grupo foram escritos entre os séculos XI e XIII. Essa família apresenta afinidades com o tipo de texto que circulava em Cesaréia nos tempos de Orígenes e Eusébio.

- 33: foi escrito no século IX e apresenta grandes similaridades com o Códice Vaticano.

- 565: trata-se de um manuscrito dos evangelhos escrito no século IX.

- 1739: trata-se de um manuscrito de Atos e das epístolas, contendo originalmente todo o Novo Testamento. Foi escrito no século X. O escriba utilizou como base textos do século IV, material utilizado por Orígenes e um antiquíssimo texto que circulava em Alexandria no final do século II.

- 2053: escrito no século XIII, contém Apocalipse.

Lecionários:
Os lecionários são documentos de uso litúrgico, para acompanhar os cultos e as datas especiais. Até o momento foram catalogados 2.281 lecionários - eles começaram a surgir entre o final do século III e o início do século IV, mesmo que o mais antigo fragmento deles seja do século V. De um quarto a um terço dos lecionários conhecidos são de Atos e das epístolas; perto de uma centena combina Atos, os evangelhos e as epístolas; e todos os demais são dos evangelhos.

Óstracos:
Os óstracos são pequenas porções de texto escritas em restos de cerâmica. São conhecidos 25 óstracos do Novo Testamento. Eles não possuem muito valor para a Crítica Textual.

Talismãs:
São objetos em madeira, cerâmica, papiro ou pergaminho, e se destinavam a servir de proteção contra o mal. Existem 9 talismãs do Novo Testamento, datados do século IV ao XIII. Possuem pouco valor para a Crítica Textual.

b - Antigas versões:
Depois dos manuscritos gregos, as mais importantes fontes para a Crítica Textual são as antigas versões, ou seja, as primeiras traduções. As versões começaram a aparecer por volta de meados do século II. As mais antigas são a Siríaca, a Latina e a Copta. Embora os mais antigos manuscritos das versões não ultrapassem o início do século IV, ou o final do século III, elas evidenciam um estágio de desenvolvimento não posterior ao final do século II.

Segundo a minha fonte, "as primeiras versões permitem-nos retroceder a uma forma do NT que, do ponto de vista cronológico, aproxima-se quase como nenhuma outra do texto original e possibilitam conclusões seguras a respeito do texto grego que se achava em uso nos lugares onde foram feitas."

Siríaca:
As primeiras traduções do grego provavelmente foram feitas para essa língua, isso já por volta do ano 150. São cinco traduções siríacas principais:

- Siríaca Sinaítica: tal tradução remonta meados do século II e se encontra em dois manuscritos dos evangelhos. O primeiro deles é do século IV.

- Siríaca Curetoniana: o outro manuscrito, também escrito no século IV.

- Siríaca Peshita: aparece em mais de 350 manuscritos, muitos remontando ao século V ou início do século VI. A tradução foi preparada no século V. Contem todo o NT, menoes 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

- Siríaca Palestinense: a data da tradução é questionável, mas geralmente se sugere o século V. Seus documentos mais importantes datam dos séculos XI e XII, contendo os evangelhos, partes de Atos e das epístolas paulinas.

- Siríaca Filoxeniana: foi preparada nos anos de 507 e 508. Soi conhecidos dois manuscritos, contendo 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

- Siríaca Heracleana: ela é conhecida mediante cerca de 50 manuscritos, datados a partir do século VIII. Foi preparada em 616 d.C.

Latina:
Existem duas versões latinas: a Antiga Latina, englobando as traduções feitas até o século IV, e a Vulgata Latina, preparada por Jerônimo entre 383 e 405 d.C. Evidências indicam que as versões latinas começaram a surgir no século II. Até hoje foram catalogados cerca de 70 manuscritos da Antiga Latina - nenhum, porém, apresenta o NT completo. Eles cobrem um período que vai do século IV ao século XIII. Da Vulgata existem cerca de 10.000 manuscritos, sendo o mais antigo do século V - podendo ter sido copiado quando Jerônimo ainda vivia. O melhor manuscrito antigo da Vulgata é o Códice Amiatino, do século VIII.

- Códice Palatino: data do século V e contém os quatro evangelhos.

- Códice Fleury: data do século V. Possui uma quarta parte de Atos, porções das epístolas católicas e o Apocalipse.

- Códice Bobiense: escrito no final do século IV ou no início do século V. Apresenta sinais que indicam ter sido cópia de um manuscrito do século II. O documento consiste em 96 folhas com partes de Mateus e Marcos.

- Códice Varcelense: foi escrito no século IV. Segundo uma tradição, ele foi copiado por Eusébio, bispo de Vercelli, martirizado em 370 ou 371. Contém os evangelhos.

- Códice Veronense: data do século V e contém os quatro evangelhos. 

- Códice Beza: foi escrito no século V e contém os evangelhos e Atos.

Copta:
As traduções do Novo Testamento para o copta começaram no século III.

- Copta Saídica: é conhecida através de manuscritos completos e fragmentos datados do século IV em diante, compreendendo quase todo o NT. A tradução data do início do século III.

- Copta Boaírica: tal tradução foi feita no século IV e é testemunhada por cerca de 100 manuscritos, sendo um do próprio século IV.

- Copta Fiúmica: há poucos manuscritos dessa versão e um dos mais antigos data do século IV, contendo João 6:11 a 15:11.

- Copta Acmímica: um dos mais antigos dessa versão é datado entre 350 e 375 d.C., contendo o evangelho de João.

Outras versões:
Há diversas outras versões antigas do NT, como a Gótica, a Armênia, a Etíope, a Geórgica, a Nubiana, a Arábica e a Eslava. A maioria dessas versões não foi traduzida do grego, com exceção da Gótica, do século IV. 

c - Citações patrísticas:
O Novo Testamento também foi preservado nas diversas citações dos Pais da Igreja, feitas em seus sermões, comentários, cartas e outros trabalhos. A maior parte delas está entre os séculos IV e V. É possível reconstruir praticamente todo o Novo Testamento só com essas citações - só com Orígenes isso quase é possível. Justino Mártir citou o NT 387 vezes; Irineu, 1.819 vezes; Clemente de Alexandria, 2.406 vezes; e Orígenes, 17.922 vezes. Alguns dos Pais da Igreja (e inimigos dela) mais importantes para a Crítica Textual são:

- Agostinho (354-430);
- Ambrósio (337-397);
- Atanásio (295-373);
- Basílio (330-379);
- Cipriano (200-258);
- Cirilo (370-444);
- Cirilo (315-386);
- Clemente (155-215);
- Eusébio (265-339);
- Gregório (330-394);
- Hipólito (170-235);
- Irineu (140-202);
- Jerônimo (340-420);
- João (345-407);
- Justino (100-165);
- Marcião (90-160);
- Orígenes (185-254);
- Taciano (110-172);
- Teodoro (350-428);
- Tertuliano (150-220).

Fonte: Crítica Textual do Novo Testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, 2008, pgs 15-21 e 43-73.

Conclusão:
Diante dessa fartura de documentos, considerando a sua antiguidade, a qualidade de muitos, a abrangência de alguns e a quantidade, somando isso às versões e às citações patrísticas, fica difícil sustentar a ideia de que perdemos completamente a redação conforme nos foi deixada pelos apóstolos e evangelistas. O texto dos autógrafos está preservado nesses manuscritos e é possível identificá-lo com grande grau de segurança através de comparações e outros métodos da Crítica Textual. Com base em coisas assim, é que hoje se pode desferir uma declaração tão poderosa quanto a sequinte:

"Assim, depois dos quase 500 anos do texto impresso e das mais de mil edições já surgidas desde Erasmo, além das centenas de outros estudos técnicos, a crítica textual do NT chegou a um estágio tal de desenvolvimento que a concordância entre os estudiosos quanto ao texto crítico moderno é espantosamente grande, ao passo que ao número de variantes ainda contestadas é por demais reduzido. E, mesmo que uma nova edição venha a divergir em alguns pormenores do texto que é hoje geralmente aceito, as descobertas e pesquisas mais recentes mostram que nosso NT grego 'deve estar muito próximo do texto primitivo dos escritos do NT, que foram introduzidos no cânon'. O Texto Recebido é um caso completamente encerrado." Tal dizer se encontra depois de um resumo da história da produção da Bíblia impressa e suas versões.

Fonte: Crítica Textual do Novo Testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, 2008, pg 139.

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:

0 comentários:

Origens - Introdução e Índice

Pouca coisa é mais fascinante do que a exploração das origens da humanidade - através desse profundo, ainda que incerto, estudo, podemos compreender melhor o nosso mundo e, principalmente, a nós mesmos. De onde vem a moralidade? Qual é a origem da religião? Por que sentimos culpa? E as línguas, de onde partiram? Tendo tais questões em mente, eu te convido a se aventurar pelas raízes daquilo que somos. Segue a lista de artigos dessa série:


Natanael Pedro Castoldi

0 comentários:

Jesus: Um Zelote? Um Cínico? Um Guru?

Mesmo tendo dezenas de milhares de manuscritos antigos do Novo Testamento, com fragmentos de meados do Primeiro Século, e todo o texto neotestamentário presente em cerca de 86 mil citações dos Pais da Igreja, alguns estudiosos ainda preferem procurar a "verdade sobre Cristo" em outras fontes, que eles consideram "melhores" - textos apócrifos comprovadamente mais tardios do que os canônicos, textos que supostamente existiram e outras apostas. Essa busca pelo "Jesus Histórico" possibilitou a formulação das mais estranhas teorias, dentre as quais, a de que Ele tenha passado os "anos de silêncio" - dos 12 aos 30 - viajando nas profundezas do Oriente, onde encontrou gurus; a de que Ele teve contato com filósofos cínicos que habitavam as cidades helenizadas da região onde morava, e, por fim, a que afirma que Jesus foi simplesmente um zelote. Todas essas suposições, que acabam anulando as mais vitais compreensões sobre o Mestre, porém, apresentam falhas incorrigíveis. Analisemos melhor as alegações e seus erros:

1 - O caso de Jesus como zelote:
O ministério de Cristo teve início num dos períodos mais hostis da história da Palestina. O Mestre pregou a reconciliação divina e a paz universal numa época de extrema sanguinolência, no tumulto social que precedeu uma das mais violentas guerras civis e religiosas de todos os tempos, na qual aproximadamente 40% da população judaica da Judeia fora exterminada - falamos da Guerra Judaica, ocorrida entre 66 e 70 d.C., quando Jerusalém foi cercada pelo exército romano e o Templo destruído. Foi considerando tal contexto, que S. G. F. Brandon analisou Jesus como um zelote.

Segundo Brandon, os zelotes constituíam um movimento organizado, talvez fundado por um judeu chamado Ezequias e remetendo ao período dos macabeus. Os zelotes nasceram do desprezo pela dominação estrangeira e pregavam a revolta contra Roma. Brandon encaixou Jesus nesse grupo, pois o considerou um judeu nacionalista radical em harmonia com os primeiros objetivos e comportamentos dos seus membros - incluindo o uso da violência para alcançar seus objetivos. Um desses momentos de "uso de violência", segundo Brandon, foi no semiataque de Jesus na zona do Templo, no Domingo de Ramos, realizado não só por Cristo, mas por milhares de Seus seguidores, que armaram tal insurreição para colocá-Lo como rei sobre Israel. Ainda segundo Brandon, tal levante deve ter ocorrido ao mesmo tempo de outra revolta, que resultou na crucificação dos dois homens que ladearam Jesus no Calvário - provavelmente liderados por Barrabás. Diante de tais análises, o crítico em questão afirma que o relato neotestamentário é uma deturpação da história original - uma tentativa de tornar o movimento cristão mais palatável para o mundo romano depois da Revolta Judaica de 66-70 d.C.

A verdade é que o comportamento real de Jesus foi bastante diferente do sugerido por Brandon. O objeto do empenho reformista de Cristo não era a ocupação romana, mas a própria aristocracia sacerdotal corrupta de Jerusalém - para o Messias, o estabelecimento do reino de Deus na Terra dependia de uma reforma radical na religião judaica, especialmente no que se refere ao Templo. Outra divergência notável, reside no fato de que os zelotes, segundo Josefo, não estavam dispostos nem a tocar numa moeda que tivesse impressa a imagem de um deus pagão - além disso, o pagamento de tributos a um rei estrangeiro era motivo de guerra para a ordem. Ocorre que Jesus não só tocou na moeda com a efígie do adorado César, como também incentivou o pagamento dos impostos devidos - tal comportamento seria absolutamente inaceitável para um zelote comprometido.

Brandon também esquece de observar que Jesus, ao longo de todo o Evangelho, aparece confrontando abertamente as autoridades conservadores de Israel, como os fariseus e os zelotes. O Mestre se posicionava de modo polêmico quanto ao Sábado, desafiava práticas aprovadas pelos judeus no Templo, convivia com coletores de impostos, conversava com autoridades romanas e até com mulheres samaritanas, também tinha concepções próprias sobre o ritual de lavar as mãos e a ingestão de comidas impuras. O fato mais evidente é que Cristo não era solidário à xenofobia agressiva dos zelotes.
Fonte: Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, Robert J. Hutchinson, Agir, 2012, pgs 221-224.

O Novo Testamento foi escrito depois do ano 70 d.C.? Numerosas epístolas e todos os Evangelhos sinóticos foram produzidos, sem sombra de dúvidas, antes de 70 d.C. - para compreender melhor a questão, leia os seguintes artigos: "Os Mais Antigos Testemunhos do Novo Testamento"; "Os Mais Antigos Testemunhos da Divindade de Cristo".

2 - O caso de Jesus como cínico:
A proposta de que Jesus foi um "judeu camponês cínico" foi assumida por alguns membros do Jesus Seminar, especialmente J. Dominic Crossan. O cinismo foi fundado por Diógenes (412-321 a.C.) - "cínico" significa "cão", uma vez que os filósofos desse grupo não cuidavam da aparência, não observavam a higiene e se aliviavam em qualquer lugar, mesmo em ambientes públicos. O cínico geralmente levava uma capa, uma bolsa de mendigo e um bastão, quase sempre andando descalço. Alguns estudiosos conseguem enxergar semelhanças entre Jesus e os cínicos, a começar com as instruções que o Mestre deu aos discípulos em Marcos 6:8-9; Mateus 10:9-10; Lucas 9:3; Lucas 10:4. Mas tal associação é muito precipitada.

As instruções de Jesus sobre o que os discípulos deveriam vestir e carregar não combinam com o ideal cínico - na verdade até contrariam. Se seguirmos Lucas e Mateus, os discípulos não poderiam carregar justamente as duas marcas mais características de um cínico: o bordão e a bolsa. Se seguirmos Marcos, havia a recomendação de levar o bordão - e essa é a única coisa que combina com o cínico -, mas, ainda assim, o uso de cajados não era distintamente cínico: no ambiente judaico, o porte do bordão tinha uma longuíssima história, associando-se aos patriarcas e, especialmente, ao grande legislador Moisés, bem como seu irmão, Arão. O bordão, para os judeus, era um símbolo de autoridade real, aparecendo em textos messiânicos e escatológicos.

Além das vestes, os estudiosos sustentam que Jesus nutria uma visão cínica de mundo, já que vivia uma vida de simplicidade e integridade num mundo materialista. O cínico concebia a vida em conformidade a natureza, tratando os outros como iguais, o que levou os críticos a associar os textos de Mateus 6: 14-15 e 28-33 e Marcos 12:31 ao pensamento cínico. Há, de fato, algumas semelhanças, mas será que isso sustenta um "Jesus cínico"? A verdade é que Jesus não incentivou os Seus discípulos a buscar a felicidade e a viver conforme a natureza - Ele apenas sugeriu que a natureza revelava coisas importantes sobre Deus. O que Jesus ensinava, diferentemente dos cínicos, era que os discípulos deveriam se dedicar na busca do Reino de Deus e da Sua justiça - as diferentes prioridades de valores entre Cristo e os cínicos demonstram suas profundas diferenças.

Outra dessemelhança entre Jesus e os discípulos e os cínicos está no comportamento social. Não há nada que indique que os seguidores de Cristo praticassem sexo ou defecassem e urinassem em público - Jesus não foi um mero "grosseiro". 

Muitas das declarações de Cristo, de fato, poderiam ter sido desferidas por um cínico (Mateus 6:2, 5, 16; 23:23, 29-30), mas elas representam apenas um único aspecto do ensino do Mestre. Jesus não foi grosseiro nem sugeriu que a fé religiosa não tivesse razão de ser - pelo contrário: Ele estimulava os Seus seguidores a nutrir uma inabalável crença em Deus, já que Ele tudo vê e com tudo se importa. Isso é o extremo oposto da visão do cínico, que criticava a religião por achar que os deuses fossem indiferentes. Cristo proclamava o Reino de Deus e exortava aos Seus discípulos que buscassem no Criador a libertação - Ele desejava ardentemente pela redenção do Seu povo e cria que Deus cumpriria as profecias. Nenhuma dessas esperanças e crenças encontraria repouso na perspectiva cínica.

Os defensores da tese do "Jesus cínico" encontram outros argumentos na arqueologia. Escavações na Palestina revelaram que o grego era bastante difundido no tempo e no lugar onde Jesus viveu e que algumas partes da Galileia eram bastante urbanizadas e mantinham um estilo greco-romano. As escavações em Séforis, por exemplo, desenterraram grandes edificações de estilo greco-romano - tal cidade ficava cerca de 6 quilômetros de Nazaré. Segundo os teóricos do "Jesus cínico", onde havia cultura e língua grega, poderíamos encontrar filósofos gregos. Isso prova que cínicos caminhavam na Galileia dos tempos de Cristo? Não.

Em primeiro lugar, o uso do grego na Galileia da época não indica que essa fosse a primeira língua do povo local, e o fato de existirem centros greco-romanos na região também não significa que o povo judeu fosse desleixado quanto à sua fé histórica e que estivesse disposto a absorver sem restrições a filosofia grega, incluindo o cinismo. A história judaica evidencia justamente o contrário - um século e meio antes do nascimento de Jesus, os judeus, liderados por Judas Macabeu e seus irmãos, lutaram uma violenta guerra contra Antíoco IV e os gregos, com o objetivo de preservar a fé e o estilo de vida judaicos. É possível que os judeus da Galileia dos tempos de Cristo fossem influenciados pelo pensamento grego até certo nível, mas certamente não a ponto de aceitarem ideologias que entrassem em conflito com a fé judaica. E isso também a arqueologia revela.

As escavações em Séforis revelaram que estruturas grandes, como o anfiteatro, não começaram a ser construídas senão dos anos 20 do Século Primeiro em diante, e o achado do depósito de lixo da cidade indicou que Séforis era totalmente judaica nos dias de Cristo. Para os arqueólogos, tudo o que for datado de antes e 70 d.C. é relevante para o entendimento sobre a vida nos tempos de Jesus, e o que estiver depois, considerando a Guerra Judaica, não. Os resquícios do lixão de antes de 70 d.C. demonstraram a proeminência de costumes judaicos: nenhum osso de porco foi encontrado (coisa difícil de imaginar para uma cidade de grande população não-judaica), enquanto, logo depois de 70 d.C., com o crescimento da população não-judaica, os ossos de porco passaram a representar 30% dos restos animais. Temos aqui uma evidência clara de que nos dias de Cristo Séforis era israelita e observava as leis e os costumes judaicos - naqueles dias havia pouca ou nenhuma presença não-judaica na cidade. Também foram descobertos mais de cem fragmentos de vasos de pedra de antes de 70 d.C. - utilizados nas purificações dos judeus -, o que era coerente com a inexistência de porcos, questão que também muda depois de 70 d.C. Além disso, as moedas cunhadas na Séforis de antes de 70 d.C. não retratam a imagem do imperador romano ou de divindades pagãs - coisa comuns nas moedas daquele tempo. Realidade totalmente diferente daquilo que se encontra do Segundo Século, depois da Revolta Judaica, quando lá se cunhava moedas com a efígie do imperador Trajano e Antinius Pius, e das divindades Tico e Capitolina - durante o reinado de Pius, Séforis teve o nome alterado para Diocesaréia, em homenagem a Zeus e ao imperador romano. Além disso, as edificações pagãs de Séforis também só surgiram depois de 70 d.C. - não há arte e nem estruturas de cidades tipicamente romanas na região nos tempos de Cristo. Séforis, sem sombra de dúvidas, era uma cidade totalmente judaica e, portanto, nenhum cínico saiu de lá para procurar discípulos em Nazaré.

Não é só Séforis que aparece como uma cidade totalmente judaica antes de 70 d.C. Toda a Galileia demonstra ausência de fortes influências gregas no período, o que se vê com a distribuição da cerâmica na região: os judeus nunca compravam cerâmica de não-judeus, embora vendessem para eles, de modo que as cerâmicas judias aparecem em casas de judeus e não-judeus, enquanto as não-judias só aparecem nas casas dos gentios. Tudo isso indica que o povo judeu da Galileia do período era muito escrupuloso quanto à observação das leis de pureza judaica. Tal identidade judaica se revela nos atos dos judeus do período, como as revoltas que ocorreram depois da morte de Herodes, o Grande (4 a.C.), a remoção de Arquelau e o censo romano (6 d.C.), e  a revolta em Jerusalém (66-70 d.C.), indicadores de um profundo ressentimento da parte dos judeus quanto à presença pagã em Israel, o que inclui a Galileia. Concluímos, com isso, que, mesmo havendo alguma presença pagã em alguns lugares da região, os judeus da Galileia procuravam, ardentemente, preservar sua identidade religiosa e cultural. No mais, não há absolutamente nenhuma evidência arqueológica ou literária de uma única alma cínica na Galileia dos tempos de Jesus.

Outra coisa que devemos considerar, é que toda a pregação de Jesus pode encontrar todas as suas raízes nos Antigo Testamento, entrando em plena concordância com o ensino dos Profetas. Não é necessário recorrer ao pensamento grego - ainda mais considerando o conteúdo dos Manuscritos do Mar Morto, redigidos pela ordem dos judeus essênios, com os quais alguns ensinamentos de Cristo encontram diversos paralelos.
Fonte: O Jesus Fabricado, Craig Evans, Cultura Cristã, 2009, pgs 89-110.

3 - O caso de Jesus como guru:
Tal teoria se baseia nos "anos de silêncio", entre os 12 e os 30 anos de Cristo, sugerindo uma viagem do Mestre ao coração da Ásia. Ela foi disseminada pelo "Evangelho de Aquário" e por diversos jornais e revistas. Os adeptos dessa teoria sustentam que a sabedoria de Jesus foi conquistada entre os gurus da Índia. Mesmo sendo atraente, com seu ar de aventura, tal criativa proposta é a mais complicada de todas.

O registro mais famoso sobre tal teoria é de Nicholas Notovich: ele afirmou que, enquanto viajava no Tibete, nos fins do século XIX, recebeu dos lamas a informação de que havia um registro relatando a visita de Jesus a um monastério no Himalaia. A mesma coisa foi relatada por outro viajante no início do século XX. O problema é que ninguém capaz de ler e traduzir tais "registros" os encontrou - não há nenhuma evidência concreta de sua existência e não existe nenhuma cópia deles circulando. Agora se diz que eles foram destruídos. As pessoas se apegam a informações como essas, mas negam a validade do Novo Testamento. Isso é, no mínimo, incoerente.

Primeiramente, não existe evidência histórica ou arqueológica para uma visita de Cristo à Índia ou à China. Além disso, tudo o que Jesus fez e ensinou é incompatível com tal sugestão: aquilo que o Mestre apresentou aos judeus estava em total concordância com as Escrituras judaicas, que Ele citava como fonte de autoridade - não há nenhum sinal da influência do hinduísmo ou do budismo nos ensinamentos de Jesus. Se Ele tivesse estudado com os mestres da Índia ou do Tibete, seria obrigado a sustentar o ensinamento deles e honrar seu guru. A verdade é que aquilo que saiu da boca de Jesus é a antítese do misticismo oriental.

O próprio relato neotestamentário impede uma viagem tão longa. As pessoas de sua cidade natal, Nazaré, o conheciam como "o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão (Marcos 6:3). Por ser bastante conhecido em Sua cidade natal, fica entendido que Cristo viveu e cresceu lá, sem nunca ter se deslocado por muitos anos para terras longínquas. Se assim não fosse, não teríamos como explicar a perplexidade dos amigos de Jesus quando Ele começou a viajar pela Galileia pregando para as multidões e apresentando-Se como um líder religioso - Ele começou a ser tratado com desdém, proveniente da familiaridade, e não com a reverência que receberia caso tivesse recém voltado de uma viagem de estudos no coração da Ásia. 

Todo o guru elogia e honra o seu mestre, mas o suposto "guru Jesus" nunca se referiu ao "seu guru" e nunca citou qualquer escrito religioso, exceto as Escrituras judaicas. Quando Cristo afirma que foi "enviado do Seu Pai no Céu" (João 5:23, 30 e 36), Ele está trabalhando com um conceito desconhecido pelos gurus e odiado pelos rabis. Os gurus, por sua vez, afirmam que os homens tornam-se deuses "auto-realizados" através da ioga e de práticas acéticas, sugestão que nunca brotou dos lábios de Cristo - Ele jamais trabalhou tal ilusão. Jesus não viveu de ascetismo ou conquistou a divindade pela vivência, mas apresentou-Se como o próprio e eterno Deus do Antigo Testamento, o EU SOU, que humilhou-Se a Si mesmo para tornar-Se homem - João 8:24, 58; 13:19; 16:16, 28; 10:30.

Outras diferenças entre Jesus e os gurus:
- Os gurus negam a existência do pecado ou de um padrão de moralidade absoluto. Jesus veio ao mundo como uma luz que expôs a maldade dos homens.
- Os gurus ensinam um ciclo contínuo de morte e encarnação. Eles creem na reencarnação, mas Cristo ensinou a ressurreição.
- Os gurus ensinam um retorno contínuo ao mundo, através de várias vidas, para melhorar o carma. Jesus ensinou o perdão dos pecados pela Graça.
- Para os gurus, o Céu é um estado místico de unidade com o absoluto. Jesus, por Sua vez, ensinou que o Céu é habitar para sempre na casa do Pai, onde há "muitas moradas" (João 14:1-4).
- Os gurus são vegetarianos. Cristo aparece comendo e servindo carne no Novo Testamento.
- Os gurus ensinam que há muitos caminhos que levam a Deus, mas Jesus falou que Ele é o "único caminho" (João 14:6).

Não há nenhuma semelhança entre a proposta de Jesus como guru e o Novo Testamento. É, portanto, um verdadeiro delírio sustentá-la.
Fonte: Em Defesa da Fé Cristã, Dave Hunt, CPAD, 2012, pgs 119-123.

Conclusão:
Ao que parece, a maior motivação dos formuladores de teorias como as anteriormente relatadas, reside na negação da singularidade e da divindade de Cristo. Eles rejeitam a fonte de maior confiança para se apegar à fantasias e suposições, baseadas em textos extremamente questionáveis ou imaginários. Seria muito mais fácil simplesmente trabalhar com aquilo que temos de mais antigo e numeroso sobre Jesus, o próprio Novo Testamento, mas isso acarretaria em conclusões que o inimigo de Deus quer evitar, como a própria compreensão de Jesus como Deus. Céticos do calibre Lew Wallace não conseguiram resistir ao contato com as maravilhas do Evangelho.

Natanael Pedro Castoldi

Leia também:

1 comentários: