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Judas Realmente Pode Ser Chamado de "Traidor"?

Seguidamente Judas Iscariotes é foco de debate. Como uma das figuras de maior destaque nos eventos mais importantes da vida de Cristo, os críticos sentem uma necessidade maior de "defendê-lo" e, assim, desmerecer aquilo que de mais marcante Jesus fez. A defesa de Judas consiste, basicamente, na alegação de sua inocência, considerando-o um servo extremamente exemplar e obediente, entregando Jesus contra a vontade, em favor de um pedido pessoal do Messias. Será que tais alegações possuem alguma evidência sólida?

1 - Questão de tradução:
Os manuscritos do Evangelho de Judas, um apócrifo de 1700 anos de idade, tiveram sua tradução apresentada ao público em 2006, através da Fundação Mecenas. Surpreso ficou o mundo com uma suposta revelação sobre Judas neles apresentada: "Judas foi um herói e não um traidor", segundo os tradutores. Pouco tempo depois dessa revelação, uma equipe de historiadores se manifestou em oposição ao trabalho, dentre eles está Louis Painchaud, professor da Faculdade de Teologia e de Ciências da Religião da Universidade de Laval, no Canadá, que disse: "Desde a publicação do Evangelho de Judas, eu e meus colegas temos feito diversas reuniões para discutir o texto, sua tradução, edição e interpretação" e, ainda: "Percebemos que a reconstrução textual de certas passagens lacunosas estavam equivocadas. E também que havia erros na tradução de outras passagens e que, por fim, a interpretação de certas expressões continha diversos contra-sensos." Um dos principais equívocos está na tradução da palavra daimon, relacionada a Judas e ao seu suposto evangelho. Na tradução, o filósofo e arqueólogo suíço Rodolphe Kasser, o especialista em copta americano Martin Meyer, o professor alemão Gregor Wurst e o historiador americano Bart Ehrman utilizaram a palavra "espírito". "Traduziram daimon como espírito baseando-se na significação da palavra quando é utilizada na literatura platônica. Isso significaria que Judas seria um ser espiritual ou celeste" (e não um traidor), diz Painchaud. "Mas, na realidade, a palavra daimon no contexto da literatura cristã primitiva designa sempre seres inferiores ou diabólicos, ou seja, demônios." O grego dos tempos de Cristo, koiné, era diferente do grego clássico, mais erudito. 
O historiador André Chevitarese, professor de história na Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma sobre a tradução em questão: "Se por um lado temos um Judas com acesso aos mistérios divinos, por outro temos um Judas apontado como um demônio."

Sobre a autenticidade desse apócrifo, com base nos Evangelhos canônicos, basta observar a sua estrutura puramente gnóstica, que entra em atrito com todo o conteúdo bíblico, especialmente o neotestamentário: ele prega que a ignorância, e não o pecado, é o maior mal da vida; prega que o conhecimento salva, não a fé; afirma que Jesus é do reino imortal de Barbelo, não o Filho do Deus Vivo; afirma que Jesus morre para libertar seu espírito desse mundo vil, não para livrar os homens do pecado; não é dito nada sobre a morte de Judas. Considerando a profunda oposição desse apócrifo, que é uma apologia ao movimento herege do gnosticismo, com as cartas de Paulo, que foram escritas antes dos Evangelhos canônicos, e com o número e a antiguidade dos manuscritos do Novo Testamento, além da pouca aceitação dele por parte dos cristãos primitivos, não devemos dar-lhe muito crédito.
Fonte: Revista Aventuras na História, Novembro de 2007, nº 51, Abril, pgs 12-13.

2 - Judas caiu por vontade própria? Judas foi salvo?
O caso de Judas é complicado... Mas penso eu que Cristo resolveu escolher uma pessoa que de antemão demonstrava um caráter falho - não apenas um covarde medroso, como foram quase todos os demais discípulos no último dia de Jesus, mas alguém fria e meticulosamente safado. Nada contra os não-galileus, mas Judas era o único de fora da Galiléia, o que é curioso, uma vez que foi aquele que deveria trair Jesus. Ao escolher um traíra, Cristo já sabia por antecipação o que ele faria quando a coisa apertasse e a oportunidade de sair ganhando falasse mais alto. Judas se arrependeu do que fez, mas se suicidou. Aí entra o impasse relativo ao suicídio - e também não sabemos como se deu o seu arrependimento. De qualquer forma, era impossível que alguém fosse salvo antes da crucificação de Cristo, de modo que ele pode ter ido parar no dito "Mundo dos Mortos", pra onde Cristo foi assim que morreu, segundo análises bastante claras do Novo Testamento (Lc 23:43, At 2:31, 1 Pe 3:19). Segundo meus estudos, parecia haver dois lugares no Mundo dos Mortos, um para os indiscutivelmente condenados e outro para os que tinham vivido antes de Criso, porém esperando a Sua vinda (a Parábola do Rico e do Lázaro, Lucas 16:19-26). Eu prefiro não me posicionar muito quanto a isso, pois é tudo bastante incerto, mas existe a possibilidade de Judas ter sido salvo após o arrependimento (se o suicídio não computar fatalmente), ou ter sido resgatado na ida de Cristo ao Hades, quando pregou para os que lá estavam - mas é igualmente provável que ele tenha sido condenado. Nunca saberemos. - Observação: como Deus é justo, entende-se tranquilamente o que levou Cristo a pregar para os "espíritos em prisão", que nunca haviam tido a oportunidade de aceitá-Lo, mas que isso se restrinja ao mundo pré-cristão, pois hoje "vivemos apenas uma vez, depois disso chega ao Juízo", como consta no livro aos Hebreus.

Natanael Pedro Castoldi

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